A estenose ureterointestinal é uma complicação relativamente frequente após derivações urinárias. A correção laparoscópica raramente é usada, embora seja uma opção terapêutica.
ObjetivoMostrar a técnica cirúrgica, passo a passo, da correção laparoscópica da estenose ureteral/ureterointestinal.
MétodosFoi apresentado um vídeo de uma correção laparoscópica de uma estenose ureteral distal num paciente submetido a cistectomia radical laparoscópica com confeção neobexiga ortotópica.
ResultadosFoi possível a correção laparoscópica da estenose distal do ureter direito, com bons resultados e sem complicações.
ConclusãoA abordagem laparoscópica mostrou‐se eficaz para o tratamento da estenose ureter/anastomose ureterointestinal e deve ser considerada uma boa opção de tratamento.
The ureterointestinal stenosis is a relatively frequent complication after urinary diversions. The laparoscopic approach is rarely used but stay a therapeutic option.
PurposeShow the surgical technique, step by step, of the laparoscopic ureteral/ureterointestinal estenosis correction.
MethodsA vídeo of a distal ureteral stenosis laparoscopic correction, on a patient that undergone laparoscopic radical cystectomy with orthotopic neobladder confection, was presented.
ResultsIt was possible the laparoscopic correction of a distal right ureter estenosis with good results and no complications.
ConclusionThe laparoscopic approach proved effective for treating ureter/ureterointestinal anastomosis stenosis and should be taken as a good option of treatment.
A cistectomia radical constitui atualmente o tratamento gold standard para o tratamento das neoplasia invasivas e recidivantes de alto risco da bexiga1,2. A morbilidade associada a este procedimento cirúrgico major é elevada, e a estenose ureteral, ou da anastomose, entre o ureter e o intestino é uma complicação relativamente frequente3–5. A abordagem endoscópica constitui uma boa forma de tratamento, embora muitas vezes ineficaz. A cirurgia aberta é uma opção com melhor eficácia, mas está associada também a importante morbilidade6. A abordagem laparoscópica não tem sido muito utilizada pelo facto de estes doentes terem história de cirurgia abdominal prévia (cistectomia radical), o que constitui uma contraindicação relativa e por ser considerada de elevada exigência técnica.
ObjetivoEste trabalho teve como principal objetivo mostrar a abordagem laparoscópica como uma opção exequível e válida no tratamento de estenoses ureterais e ureterointestinais após cistectomia.
MetodologiaForam realizados 2 procedimentos de reimplantação ureteral laparoscópica. Os doentes tinham sido previamente submetidos a cistectomia radical laparoscópica, com confeção de neobexiga ortotópica. Ambos os doentes desenvolveram uretero‐hidronefrose direita (fig. 1) cerca de um ano após a cistectomia radical, com necessidade de colocação de nefrostomia percutânea temporariamente. Nos 2 casos foi realizada uma tentativa de tratamento endoscópica (dilatação endoscópica anterógrada), mas sem sucesso, tendo sido proposto aos pacientes a realização de uma correção laparoscópica.
Nesta figura observamos em tomografia a presença de uretero‐hidronefrose direita (A) e a provável localização da estenose (B e C – setas vermelhas). Em D está patente, de forma esquemática, a forma de confeção da neobexiga ortotópica. Em E é visível, de forma esquemática, a provável localização da estenose neste caso clínico particular (setas vermelhas).
Foram utilizadas 5 portas de laparoscopia, 2 de 10mm e 3 de 5mm, conforme ilustrado na figura 2. A técnica cirúrgica utilizada em ambos casos seguiu os seguintes passos:
- 1.
Colocação de portas de laparoscopia.
- 2.
Lise de aderências e identificação do ureter direito.
- 3.
Identificação da zona estenótica (ureter ou anastomose ureterointestinal).
- 4.
Referenciação do ureter da ansa aferente da neobexiga.
- 5.
Excisão da área estenótica e preparação da anastomose.
- 6.
Colocação de cateter ureteral duplo J.
- 7.
Confeção da anastomose (uretero‐ureteral / uretero‐ansa aferente da neobexiga).
- 8.
Revisão sistemática da cavidade abdominal e da hemóstase;
- 9.
Encerramento das portas de laparoscopia.
Foi possível a correção cirúrgica (reimplantação do ureter direito na ansa aferente da neobexiga em um dos pacientes e anastomose uretero‐ureteral no outro caso – vídeo apresentado no Congresso da Associação Portuguesa de Urologia 2015). O tempo de cirurgia foi de 180 minutos no primeiro caso e de 200 minutos no segundo. A duração do internamento foi de 6 dias e as nefrostomias foram removidas em ambos os doentes ao fim do primeiro mês. Os cateteres ureterais duplo J foram removidos por cistoscopia flexível, cerca de 4 semanas após os procedimentos. Não se registaram complicações peri e pós‐cirúrgicas. Na reavaliação ao segundo mês após a cirurgia, os pacientes estavam assintomáticos e sem evidência imagiológica de hidronefrose.
ConclusãoA abordagem laparoscópica mostrou ser uma técnica eficaz e segura para o tratamento das estenoses ureterais, ou da anastomose ureterointestinal, em doentes submetidos a cistectomia radical com neobexiga ortotópica, como derivação urinária. A laparoscopia na resolução deste tipo de complicações deve ser levada em conta como opção de tratamento.
Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animaisOs autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.
Confidencialidade dos dadosOs autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes.
Direito à privacidade e consentimento escritoOs autores declaram ter recebido consentimento escrito dos pacientes e/ ou sujeitos mencionados no artigo. O autor para correspondência deve estar na posse deste documento.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.
Primeiro prémio Vídeo APU2015.