O bypass aorto‐bifemoral mantém‐se como uma forma de revascularização na doença aorto‐ilíaca extensa, com excelente durabilidade e uma reduzida taxa de complicações. De entre estas, o falso aneurisma anastomótico ocorre como complicação tardia em 1‐5% dos casos, mais frequente a nível da anastomose femoral, mas podendo envolver também a anastomose proximal1. Os fatores etiológicos de maior relevância são o enfraquecimento da parede arterial, a fadiga das suturas, o stress mecânico sobre as anastomoses e a infeção local2–4. Dados os potenciais riscos de trombose, embolização distal e rotura, está recomendado o tratamento de falsos aneurismas femorais sintomáticos ou com mais de 2,5cm5.
Caso clínicoHomem de 78 anos, com antecedentes de cardiopatia isquémica, fibrilhação auricular sob anticoagulação oral e bypass aortobifemoral em 2007 por doença oclusiva (em outra instituição), recorreu ao serviço de urgência por quadro com 48 horas de evolução de massa pulsátil e expansível inguinal direita, associada a sufusão hemorrágica e sofrimento cutâneo, além de dor e edema do membro.
O estudo por angio‐TC mostrou a presença de falso aneurisma da anastomose femoral direita com 11cm de diâmetro em rotura (figs. 1 e 2), bem como um falso aneurisma de 2cm na anastomose proximal (fig. 3). A artéria femoral superficial direita encontrava‐se ocluída e a artéria femoral profunda apresentava‐se permeável, embora com calcificação parietal extensa. Não eram visíveis sinais imagiológicos de trombose venosa profunda ipsilateral e não foram detetados outros aneurismas periféricos.
Procedeu‐se a ressecção parcial do falso aneurisma femoral e interposição de prótese de PTFE de 8mm em posição protésico‐femoral profunda, descompressão compartimental e drenagem. Não se verificaram aspetos intraoperatórios sugestivos de infeção. O aneurisma anastomótico proximal será objeto de tratamento após o período de convalescença da referida intervenção, provavelmente através de exclusão endovascular.
O eco‐Doppler de controlo após um mês documentou a permeabilidade da reconstrução, sem complicações associadas (fig. 4).
ComentáriosOs autores divulgam um caso invulgar de rotura de um aneurisma anastomótico femoral direito exuberante, submetido a tratamento convencional com sucesso. A embolização distal, trombose e rotura são as complicações de falsos aneurismas anastomóticos femorais que constituem indicação para tratamento urgente, habitualmente através de ressecção do aneurisma e interposição de enxerto protésico (na ausência de infeção evidente). O caso apresentado reforça a necessidade de um programa de vigilância rigoroso dos procedimentos de revascularização, nomeadamente as reconstruções aortobifemorais. Apesar da inexistência de guidelines formais sobre esta matéria, a prática institucional habitual consiste na avaliação clínica e por eco‐Doppler de 6 em 6 meses, durante os 2 primeiros anos de pós‐operatório e anualmente após esse período, complementada por estudo aórtico por angio‐TC quinquenal.
Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animaisOs autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.
Confidencialidade dos dadosOs autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.
Direito à privacidade e consentimento escritoOs autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.