Durante o primeiro ano de mandato como Presidente da SPACV aproveitei esta pagina para manifestar preocupação e alertar para vários aspectos da vida diária da prática de Angiologia e Cirurgia Vascular, sempre com grande enfoque nos aspectos relacionados com a Formação dos futuros Cirurgiões.
São reflexões gerais sem qualquer intenção de particularização de situações concretas nem qualquer intenção de crítica. São opiniões pessoais, portanto discutíveis cuja intenção é promover debate. Infelizmente este objectivo não tem sido conseguido.
Pretendem, que numa era de alta diferenciação tecnológica quase sempre aceite com enorme facilidade e de um modo por vezes quase acrítico, se debatam também outros princípios basilares da nossa actividade como a humanização das relações inter pares e médico doente, as bases da construção do pensamento científico e o modo como se deve hoje fazer ciência, entra outros.
Traduzem uma linha de pensamento construída ao longo dos anos, assente por um lado na experiência de colaboração diária e activa na formação e na avaliação de inúmeros Internos e por outro lado na participação interessada em vários órgãos de direcção relacionados com essa mesma formação como o Internato Médico do Hospital, o Colégio da Especialidade da Ordem dos Médicos e as Sociedades Médicas de caracter científico.
Na Angiologia e Cirurgia Vascular é absolutamente fundamental que o futuro cirurgião tenha uma capacidade técnica inatacável. Deve executar correctamente todas as técnicas cirúrgicas gerais básicas, dominar na perfeição as técnicas endovasculares e as cirúrgicas, específicas da especialidade. Em duas palavras deve SABER OPERAR. Tenho como verdade que este objectivo é plenamente conseguido durante o Internato, para a grande maioria dos nossos Internos. Em Portugal formamos Cirurgiões Vasculares que sabem operar.
Sendo primordial este aspecto não é suficiente. A correcta opção entre várias técnicas disponíveis, a definição do timming da cirurgia, a definição de prioridades em resumo a definição de uma estratégia e de uma táctica cirúrgica é fundamental. A importância de saber COMO OPERAR e principalmente QUANDO OPERAR é inquestionável e divide o bom do mau cirurgião. Se durante a formação for possível que sejam aprendidos estes dois aspectos estaremos a cumprir de modo excelente a nossa missão de ensinar. Formaremos Cirurgiões capazes de autonomamente praticarem uma muito boa CIRURGIA VASCULAR.
A excelência virá com o tempo de maturação e sedimentação de conhecimentos e ideias e apenas será atingida por alguns capazes de decidir bem o considero ser mais difícil na nossa vida de cirurgiões: QUANDO NÃO OPERAR.
Tenho como axioma que a missão de Formar é a mais importante das actividades médicas e só será integralmente cumprida quando o formando atingir níveis de desempenho superiores ao do formador. Os que nos seguem devem ser melhores do que nós fomos.