As representaçõessobre as revoluções cubana e sandinista na revista exílica Araucaria de Chile (1978-1990) | Latinoamérica. Revista de Estudios Latinoamericanos

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Os militares buscavam definir a situação do Chile como uma guerra aos inimigos internos –os marxistas e os adeptos da política de Salvador Allende– prolongando por tempo indefinido esse suposto “estado de emergência e crise”, convertendo um governo militar em um regime ditatorial.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0030">6</a> À medida que a repressão avançava, crescia vertiginosamente o número de mortos, desaparecidos, torturados e exilados.Na perspectiva de Loretto Rebolledo González, “jamás en la historia de Chile se había registrado una salida forzada de chilenos tan masiva en tan corto plazo y hacia lugares tan diversos como la iniciada a partir de septiembre de 1973”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0035">7</a> O massivo exílio chileno, predominante entre os anos de 1973 e 1978, resultou, em grande medida, da repressão política da Junta Militar aos militantes e políticos dos partidos da esquerda chilena, sobretudo aqueles que integraram a up e o governo de Salvador Allende. Ademais, o exílio chileno foi marcado por uma grande quantidade de intelectuais, artistas, profissionais e estudantes universitários, aos quais se agregaram, em menor proporção, operários, campesinos e técnicos.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0040">8</a> No que tange aos intelectuais exilados, não podemos deixar de mencionar sua conduta de oposição e resistência política à ditadura pinochetista ao produzirem nessas circunstâncias. Nesse sentido, em estreita relação com todo esse contexto, destacamos a criação de Araucaria de Chile, concebida como espaço de sociabilidade intelectual, de reflexão e de debate a respeito da cultura e da política chilena e latino-americana.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0045">9</a>Araucaria de Chile foi uma revista cultural e política, de clara oposição ao regime militar de Augusto Pinochet, criada em 1977, em Roma, por intelectuais chilenos no exílio.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0050">10</a> A revista, de circulação trimestral e que tinha como sede inicial a cidade de Paris,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0055">11</a> foi lançada oficialmente no primeiro trimestre de 1978. Fundada e dirigida por intelectuais ligados ao Partido Comunista de Chile (pcch), como Volodia Teitelboim, diretor de Araucaria durante seus doze anos de publicação, e Carlos Orellana, secretário de redação da revista,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0060">12</a>Araucaria de Chile veiculou e difundiu em seus textos culturas políticas de esquerda, principalmente a comunista, embora não fosse, oficialmente, porta-voz do pcch e recebesse a colaboração de intelectuais de distintas tendências políticas.Araucaria teve, no total, 48 números, publicados, sem interrupção, a cada três meses, durante doze anos (1978-1990), constituindo, como aponta Carlos Orellana no Índice General da revista, um exemplar representativo da produção cultural dos intelectuais exilados. Cada edição, em formato de livro (13.5cm de largura por 21cm de altura), possuiu cerca de 220 páginas, impressas em papel simples, sendo apenas as capas coloridas, que, em geral, eram elaboradas a partir dos trabalhos de artistas plásticos chilenos, com destaque para as criações de Roberto Matta.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0065">13</a>O Comitê de Redação de Araucaria de Chile, que o integrou permanentemente até sua última publicação em 1990, foi composto pelos seguintes intelectuais chilenos: Luis Bocaz, professor, crítico e ensaísta; Osvaldo Fernández, professor de filosofia; e o jornalista Luis Alberto Mansilla. O economista Alberto Martínez incorporou-se ao Comitê Central de Redação a partir do número 8 de Araucaria de Chile.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0070">14</a> Ao comentar sobre os membros principais da redação da revista Araucaria, Carlos Orellana<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0075">15</a> fez questão de lembrar, ainda, o nome da professora, crítica literária e ensaísta Soledad Bianchi, que em “cuatro años de colaboración fue pieza valiosa en el establecimiento de fructíferos nexos con un amplio abanico de jóvenes escritores, prosistas y poetas, tanto del exilio como del interior [Chile]”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0080">16</a>Orellana, ao referir-se ao corpo editorial da revista, afirmou queel diálogo y la discusión constante y apasionada en el interior de ese grupo nos permitían sentir que habíamos encontrado por fin aquello que tanto y tan fervorosamente anhelábamos desde hacía largo tiempo, años antes de que triunfara la Unidad Popular: el funcionamiento en el campo de la preocupación cultural de una inteligencia colectiva afincada en una visión marxista del mundo, capaz de reunir cualidades que nos parecían esenciales para legitimar una voluntad de ideologia.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0085">17</a>Essa citação evidencia a existência efetiva de uma rede de sociabilidade intelectual<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0090">18</a> ligada a culturas políticas de esquerda, rede esta que poderia se fazer ainda maior, já que Araucaria de Chile veiculou textos de inúmeros colaboradores, dentre os quais renomados escritores chilenos e latino-americanos, como Ariel Dorfman, Antonio Skármeta, Bernardo Subercaseaux, Fernando Alegría, Mario Benedetti, Julio Cortázar, Gabriel García Márquez e Eduardo Galeano.O editorial de lançamento da revista afirmou que o nome Araucaria de Chile foi uma referência a ícones da identidade chilena, como a árvore típica da paisagem do país e os povos araucanos.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0095">19</a> Embora a maioria dos assuntos ressaltassem, de fato, marcas da história do Chile e enfatizassem, sobretudo, problemáticas do país durante a ditadura pinochetista, a re-vista, até em razão da diversidade de colaboradores mencionados, abordou vários temas relativos aos demais países da América Latina. Dentre os assuntos recorrentes em Araucaria de Chile estiveram as experiências revolucionárias em Cuba, em 1959, e na Nicarágua, em 1979.Podemos afirmar, com base em estudos sobre o assunto,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0100">20</a> que a revolução em Cuba no final da década de 1950 foi resultado de uma insatisfação popular com o longo processo de dependência político-econômica do país em relação aos Estados Unidos, desde a ruptura com os laços coloniais com a Espanha em 1898. Com a ascensão de Fulgencio Batista ao comando do Estado cubano, por meio de um golpe, em 1952, e a ditadura instituída desde então, apoiada pelo governo norte-americano, agravou-se uma situação de ausência de liberdade política, de democracia efetiva e de condições dignas de existência para a maioria da população. Sucederamse, então, tentativas políticas de caráter insurrecional contra o regime de Batista, como o assalto ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba, no ano de 1953, e a organização de atividades guerrilheiras em Sierra Maestra, a partir de 1956, até culminar na tomada do poder pelos revolucionários, em janeiro de 1959. Principal opositor de Fulgencio Batista durante todo esse processo e líder da Revolução Cubana, Fidel Castro contou com o apoio de distintos segmentos sociais urbanos e rurais, sobretudo destes últimos, todos insatisfeitos com as condições de atraso econômico e com o autoritarismo governamental amparado por forças imperialistas norte-americanas. Para unir amplos setores da sociedade, “o centro de gravidade da revolução ficava, inicialmente, na libertação nacional”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0105">21</a> Posteriormente, na tentativa de consolidar as premissas da revolução, a concepção de nação arrastou consigo a edificação de uma ordem social inteiramente nova, a socialista.Fernando Martínez Heredia, em sua perspectiva de periodização da Revolução Cubana marcada pela longa duração, que demarca as origens do pensamento social que a levaram a cabo e que trasfere suas consequências para as décadas mais recentes, aponta que, não obstante os êxitos iniciais do processo revolucionário no que tange à conscientização e maior envolvimento político e cultural da sociedade cubana, a partir de 1970, em uma segunda fase, “el pensamiento social sufrió una sujeción a cambios que provocaron la detención de su desarrollo, y un gran empobrecimiento y dogmatización”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0110">22</a> Isso teria sido resultado do endurecimento do controle do Estado em relação à sociedade, na tentativa de manutenção dos preceitos da revolução diante de um cenário de crescimento das críticas ao comando central repressivo do governo, cada vez mais vinculado às diretrizes políticas e econômicas dos soviéticos. Contudo, como veremos, por questões de proximidade ideológica, os colaboradores de Araucaria de Chile ressaltaram positivamente, sem qualquer tipo de crítica, o processo revolucionário em Cuba, de suas origens até a década de 1980.Por sua vez, na Nicarágua, a Revolução Sandinista de 1979 foi resultado de um acúmulo de forças sociais heterogêneas –camponeses, operários, pobres e marginalizados da cidade e do campo, intelectuais e setores progressistas da burguesia– em torno de um objetivo comum: liquidar o governo da família Somoza no país, abrindo caminho para a emancipação da sociedade nicaraguense em face da oligarquia local e do imperialismo dos Estados Unidos.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0115">23</a> De caráter popular e anti-imperialista, o movimento de oposição ao governo de Anastasio Somoza Debayle foi canalizado pelo grupo politicamente mais organizado, a Frente Sandinista de Liberación Nacional (fsln), no sentido de dotá-lo de uma perspectiva revolucionária, o que culminou com a revolução de 1979 e encerrou décadas de ditadura somozista na Nicarágua. Esse movimento revolucionário se inspirou em Augusto César Sandino, líder guerrilheiro que lutou, nos anos 1920 e 1930, contra a ocupação norte-americana no país.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0120">24</a> Assim como em Cuba, os termos do socialismo na Nicarágua foram adotados no transcorrer da “rota de desenvolvimento da questão nacional nicaraguense”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0125">25</a> Em comum com as estratégias revolucionárias postas em prática em Cuba esteve, também, na Nicarágua, a opção pela luta armada.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0130">26</a>Como destacou Matilde Zimmermann, “tanto a Revolução Cubana de 1959 como a Revolução Sandinista de 1979 tiveram um impacto eletrizante, que repercutiu muito além de suas fronteiras”, levando à proliferação de movimentos socialistas e nacionalistas, muitos deles armados, em pontos diversos da América Latina, durante as décadas de 1960, 1970 e 1980.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0135">27</a>Essas duas experiências revolucionárias foram analisadas por alguns colaboradores da revista Araucaria de Chile, dentre eles os já renomados escritores Julio Cortázar, Mario Benedetti, Eduardo Galeano e o diretor do impresso, Volodia Teitelboim. Em função da recorrência desses assuntos, propomos, neste artigo, uma discussão baseada nas representações referentes aos respectivos movimentos revolucionários em Cuba e na Nicarágua pelos intelectuais colaboradores da revista Araucaria de Chile. Buscaremos vincular tais debates políticos à condição de exílio intelectual e ao contexto ditatorial vivido pelo Chile nas décadas de 1970 e 1980, bem como ao editorialismo programático da revista, próximo aos preceitos do pcch. <a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0140">28</a>Perspectivas teórico-metodológicasTorna-se premente, a priori, trabalharmos com conceitos significativos para o estudo em questão, quais sejam, o de cultura política, representação, intelectuais e exílio. Assim, por cultura política, entendemos, com base em Rodrigo Patto Sá Motta,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0145">29</a> um conjunto de valores, tradições, práticas e representações políticas compartilhado por determinado grupo, expressando, dessa forma, identidades coletivas, fornecendo leituras e modos de ver comuns do passado, bem como para projetos futuros, determinando as motivações do ato político. Os valores da cultura política comunista foram mobilizados por Araucaria de Chile, dentre os quais fizeram parte as representações favoráveis às revoluções na América Latina e do Caribe, como a cubana e a sandinista, e o forte teor anti-imperialista dos textos publicados na revista.Importante para o entendimento de uma cultura política e essencial para o artigo em questão, o conceito de representação é compreendido como “um conjunto que inclui ideologia, linguagem, memória, imaginário e iconografia, mobiliz[ando], portanto, mitos, símbolos, discursos, vocabulários e uma rica cultura visual”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0150">30</a> A acepção de Helenice Rodrigues da Silva<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0155">31</a> torna-se útil para complementar o conceito utilizado por Rodrigo Patto Sá Motta e apreendido por nós. Para a autora, “a representação de um objeto corresponde, então, a um conjunto de informações, de opiniões e de crenças referentes a esse objeto”, constituindo modos específicos de conhecimento do real e permitindo, aos indivíduos, agir e comunicar mediante essa forma subjetiva de ver o mundo.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0160">32</a>Devemos destacar também o que entendemos por Intelectuais, ten-do como suporte para a construção do conceito os autores Carlos Altamirano<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0165">33</a> e Jean-François Sirinelli.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0170">34</a> O termo intelectual, de acordo com Sirinelli, traz em si duas acepções de natureza sociocultural, sendo uma mais ampla, marcada pela noção de “mediador” cultural, abrangendo escritores, jornalistas, professores secundários, eruditos etc., e outra mais restrita, amparada na noção de engajamento na vida social.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0175">35</a> Na acepção de Carlos Altamirano,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0180">36</a> os intelectuais são atores do debate público, que transmitem publicamente seu pensamento, podendo atingir desde círculos restritos de letrados até setores mais amplos da sociedade. No entender dos dois auto-res, a condição de intelectual necessita do reconhecimento e legitimidade adquiridos junto a seus pares e à sociedade em geral.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0185">37</a>Acreditamos, assim, que os intelectuais colaboradores da revista Araucaria de Chile foram mediadores culturais, produtores e transmissores de ideias engajados na vida social da América Latina, detentores de posicionamento político, participantes do debate público com capacidade interpretativa da realidade na qual estavam inseridos.Todos os intelectuais que publicaram na revista, em alguma medida, foram tocados pelo contexto das ditaduras militares no Cone Sul e pela condição exílica. Assim, no que se refere ao exílio, a partir da concepção de Ángel Rama,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0190">38</a> concebemo-lo como uma condição que submete àqueles que a sofrem a processos de transculturação, a experiências sociais violentas e a rudes mutações em razão da obrigatoriedade de viver em ambientes culturais e de sociabilidade distintos do seu ambiente de origem. Comungamos também da perspectiva de exílio presente em Edward Said, para quem a dificuldade do exilado não consiste somente em ser forçado a viver longe do seu país, mas, sobretudo, em ter de viver com a lembrança de que se encontra no exílio, situando-se em um estado intermediário no qual não está integrado ao novo ambiente social nem totalmente liberto do seu lugar de origem.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0195">39</a> Concebemos, portanto, a experiência do exílio como vivências de padecimento tanto individuais quanto coletivas, o que, por conseguinte, interfere nas produções intelectuais forjadas sob essa condição.Marcada por esses fatores gerados pelo exílio e criada como reação a eles, compreendemos a revista Araucaria de Chile a partir de três características essenciais: como bem cultural de resistência política; como espaço de socialização de intelectuais que visavam diminuir a sensação de isolamento e solidão provocada pelo exílio; e, por fim, como um meio para a veiculação de ideias e debates acerca de assuntos políticos e culturais distintos. Araucaria de Chile atuou no sentido de organizar-se enquanto oposição política à ditadura de Augusto Pinochet, mas serviu também como meio de expressão das artes visuais e da literatura chilenas, bem como discorreu sobre assuntos políticos diversos.Constituindo fonte/objeto privilegiado para o estudo da História Intelectual, as revistas são comumente dirigidas por um coletivo, e “informan sobre las costumbres intelectuales de un período, sobre las relaciones de fuerza, poder y prestígio en el campo de la cultura”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0200">40</a> Nessa perspectiva, Regina Crespo<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0205">41</a> afirma que as revistas são tradicionalmente o resultado de um projeto coletivo, representando, assim, o ponto de vista de um grupo de intelectuais, sua intervenção ideológica na arena político-cultural. Para Jean-François Sirinelli, elas tornaram-se lugares preciosos para a análise do movimento das ideias, assim como podemos concebê-las como espaços de sociabilidade intelectual.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0210">42</a> As revistas estimularam a construção de redes de sociabilidade na medida em que materializaram em papel os pensamentos de grupos intelectuais e artistas com propostas culturais e políticas comuns.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0215">43</a>Segundo Eduardo Devés-Valdés,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0220">44</a> a real constituição de uma rede de sociabilidade intelectual demanda frequência e densidade em relação à comunicação de seus membros. Entre as formas de contato, comunicação e estreitamento dos laços intelectuais estão as revistas, fundamentais para a compreensão da vida intelectual de um dado período. No entanto, embora as redes de sociabilidade remetam à associação de intelectuais por cumplicidade e afinidade de ideias, elas não excluem a pluralidade de pensamentos dentro dos grupos. Tampouco eliminam as “batalhas internas e externas, tanto políticas quanto culturais”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0225">45</a> No que diz respeito à revista Araucaria de Chile, podemos afirmar que os laços de sociabilidade entre os intelectuais que nela escreveram foram reforçados em eventos organizados para comemorar seu aniversário, por exemplo. Saraus, conferências e atos foram realizados, contando com a presença de membros do comitê editorial, colaboradores e leitores.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0230">46</a>Tentativas de encontros frequentes, os debates e as polêmicas contribuem para a consolidação efetiva de um projeto coletivo em torno dos objetivos editoriais e políticos de uma revista. No caso de Araucaria de Chile, no que concerne às representações sobre as revoluções cubana e sandinista, é possível assinalar que tais perspectivas mostraram-se em perfeita conexão. Passemos, então, às análises dessas representações.Araucaria de Chile e as representações intelectuais sobre Cuba e Nicarágua revolucionáriasEm seu editorial de lançamento, Araucaria de Chile destacou sua missão de colocar-se enquanto um bem cultural de resistência e oposição à ditadura “fascista” de Augusto Pinochet no Chile: “Creemos que hace tiempo –y con impaciencia– se esperaba por muchos chilenos una publicación como la que hoy comienza. La iniciativa corresponde a gente de una clara y permanente línea antifascista”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0235">47</a> Entendemos que, não obstante possuísse esse intento maior de contribuir para o fim da ditadura militar no Chile, a revista, ao dar uma especial atenção às revoluções em Cuba e na Nicarágua, não só evidenciava seu pertencimento à cultura política comunista, como tinha nos dois distintos processos revolucionários exemplos claros de mudanças políticas e mesmo estruturais possíveis para o Chile sob o autoritarismo pinochetista, não descartando, para isso, a necessidade, quiçá, de um movimento armado.As revoluções cubana e sandinista foram dois dos assuntos mais discutidos na revista, com clara posição favorável aos revolucionários, em oposição às ditaduras anteriores de Fulgencio Batista, em Cuba, e dos Somoza, na Nicarágua. Tal posicionamento político não poderia ter sido outro, em virtude do editorialismo programático da revista Araucaria de Chile ser explicitamente ligado a culturas políticas de esquerda, como já afirmamos, em especial a comunista.Em seu número 25, publicada no primeiro trimestre de 1984, a revista Araucaria de Chile dedicou especial atenção aos 25 anos da Revolução Cubana. Da página 83 a 170, entre artigos, ensaios, poesias e entrevista, todas possuíram como temática a experiência revolucionária em Cuba no final da década de 1950, abarcando precisamente os anos de 1958 e 1959, quando o movimento guerrilheiro, liderado por Fidel Castro, ganhou a adesão popular e chegou ao poder. Os desdobramentos e a afirmação do governo revolucionário nos anos posteriores a 1959 foram também acompanhados pela revista nessa edição especial, bem como em outras edições de Araucaria.O tom apologético aos feitos da Revolução Cubana, presente em todos os discursos dessa série especial, iniciou-se no texto de abertura de Carlos Orellana,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0240">48</a> ao mencionar que a revolução tem dado ao povo cubano uma força tal, que quase seria possível “palparla, o respirarla como una presencia similar al olor incomparable de su tierra caliente”. Após suas primeiras palavras em um sentido poético e metafórico, comparando a presença dos benefícios decorrentes da revolução ao clima quente, intenso e acalorado da ilha, Orellana enfatizou que era possível perceber de imediato, ao chegar a Cuba, os conhecidos avanços na saúde e na educação e o espírito forte de sua gente, seu esplendor interno e uma moral civil grandiosa que se esperava ser herdada como bem inaugural do século xxi. Fidel Castro foi logo mencionado por Carlos Orellana, ao afirmar que “su gente es su líder, desde luego, el conductor y consejero de su pueblo, cuyos signos de sabiduría aparecen por todas partes sin que haya que recurrir al mármol o a las efigies innumerables”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0245">49</a>A imagem do líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, foi notável no repertório de representações dos intelectuais colaboradores de Araucaria de Chile a respeito da ilha. O escritor e diretor da revista, Volodia Teitelboim, expressou-se da seguinte maneira sobre a revolução e seu líder:Veinticinco años es el periodo que distancia el primero del segundo acto de esta gran pieza del mundo que simboliza la Revolución Cubana. El personaje individual se mantiene. Es Fidel. Las primeras canas pintan el paso de los años. El personaje colectivo es el pueblo, padres e hijos, que hoy ya son padres de nuevos hijos, con un público renovado, enriquecido por el transcurrir de las generaciones. [...] Una mirada retrospectiva: en la primera escena, desarrollada el 2 de enero de 1959, Fidel, como un héroe del Cid y con lengua fresca, digna de Antonio Machado, comienza diciendo: “Al fin hemos llegado a Santiago! Duro y largo ha sido el camino, pero hemos llegado”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0250">50</a>Percebemos que Volodia Teitelboim destacou o engrandecimento da nação e do povo cubanos com o transcorrer dos anos, da tomada do poder pelos guerrilheiros revolucionários, capitaneados por Fidel Castro, em 1959, até o presente momento de 1984, quando o texto foi publicado. Em seguida, Teitelboim teceu louros a Fidel, comparando-o, pela valentia e liderança, a Rodriguez Díaz de Vivar, o El Cid, um dos maiores cavaleiros da Idade Média na perspectiva da tradição popular espanhola, eternizado como herói na defesa dos reis cristãos contra os muçulmanos. O líder cubano, desta vez enquanto exímio orador, também foi comparado a Antonio Machado, poeta espanhol vinculado ao modernismo e, posteriormente, ao simbolismo europeus da primeira metade do século xx.O ensaio de Volodia Teitelboim enfatizou os discursos de Fidel Castro desde quando seu grupo assumiu o poder em Cuba, logo após a vitória em Sierra Maestra. Sua habilidade com as palavras foi destacada por Teitelboim, bem como seu caráter de coragem e retidão. Tais qualidades do líder revolucionário, enfatizadas por Volodia Teitelboim, teriam sido transferidas também para o povo cubano, em sua perspectiva.A imagem de uma Cuba popular e corajosa, que soube enfrentar seus principais inimigos, as ditaduras nacionais que a exploravam e o imperialismo dos Estados Unidos, foi amplamente veiculada. Assim, para o diretor de Araucaria de Chile, Fidel é “un profesor de la conciencia, un educador del Hombre. [...] Yendo más allá de los filósofos o políticos griegos del Ágora, convirtió la plaza pública en aula para enseñar a un pueblo que no sabía, pero en cuya inteligencia y voluntad de superación tenía ilimitada confianza”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0255">51</a> Foi através de seus pronunciamentos constantes que Fidel Castro ajudou a forjar na população cubana uma “posición ética irreductible”, ancorada nos valores da revolução, o que fez de Cuba uma nação forte, apta para “enfrentar al enemigo de afuera y de adentro”, precisamente os Estados Unidos e os movimentos contrarrevolucionários do país.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0260">52</a>A Cuba revolucionária foi tema também de poemas publicados em Araucaria de Chile, La libertad, de Pablo Neruda, publicado postumamente na revista,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0265">53</a> evidenciou toda a esperança em uma transformação social para a América Latina, a partir do exemplo da revolução em Cuba. Liberdade, dignidade e revolução americana, essas palavras utilizadas pelo poeta Pablo Neruda no poema parecem significar aquilo que Cuba conquistou e que os demais países latino-americanos deveriam também almejar:[...] ahora llegó la hora de las horas:la hora de la aurora desplegaday el que pretenda aniquilar la luzcaerá com la vida cercenada:y cuando digo que llegó la horapienso en la libertad reconquistada:pienso que en Cuba crece una semillamil veces mil amada y esperada:la semilla de nuestra dignidad,por tanto tiempo herida y pisoteada,cae en el surco, y suben las banderasde la revolución americana.Ainda na edição especial de Araucaria de Chile a respeito dos 25 anos da Revolução Cubana, Ramón de Armas e Eduardo Galeano buscaram explicar em seus artigos as origens do sentimento libertador e revolucionário cubano, associando-o aos seus antecedentes históricos. Ambos evocaram a figura de José Martí como aquele que incitou, na sociedade cubana, a consciência de sua soberania em relação à opressão e à exploração sofridas frente aos colonizadores espanhóis e ao incipiente imperialismo dos Estados Unidos. Na afirmação de Ramón de Armas,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0270">54</a> foi Martí o responsável pelo “temprano acercamiento de los objetivos de liberación nacional y los de profunda rectificación social”. Complementando essa perspectiva, Eduardo Galeano<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0275">55</a> expressou que, para Martí, Cuba não poderia criar-se sem revolução. Dessa forma, a revista evocou José Martí como um personagem fundador da aura revolucionária de Cuba, responsável direto pela mudança política ocorrida no país em 1959, em função de seu exemplo na luta contra o colonialismo espanhol e contra o imperialismo dos Estados Unidos.Por fim, nas abordagens da revista Araucaria de Chile sobre a Revolução Cubana, outro assunto que mereceu destaque foi o desenvolvimento da cultura em Cuba após a ascensão dos revolucionários ao poder. Volodia Teitelboim<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0280">56</a> observou que foram criados círculos infantis e milhares de escolas na cidade e no campo.A revista Araucaria fez questão de publicar, na íntegra, uma conferência concedida para uma série de órgãos da imprensa, em dezembro de 1983, pelo então Ministro da Cultura de Cuba, Armando Hart, sobre a política cultural no país. Nessa conferência, o ministro mencionou a criação do Ministerio de Cultura, em 1976, e elencou os progressos obtidos no campo educacional cubano, como a alfabetização em massa da população, a extensão do ensino primário por todo o país, incluindo as áreas rurais mais distantes, e o crescimento sem precedentes da educação universitária. Ele também deu ênfase ao crescimento exponencial da edição de livros no país, bem como a criação de várias instituições culturais, como o Balet Nacional de Cuba, o centro de estudo, pesquisa, edição e promoção da história cubana e latino-americana, Casa de las Américas, que foi fundada poucos meses após o triunfo da revolução, e o Centro de Investigaciones y Desarrollo de la Música Cubana. <a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0285">57</a> Sobre Casa de las Américas, o jornalista e escritor cubano Ciro Bianchi<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0290">58</a> publicou uma crônica, no número 26 de Araucaria de Chile, na qual detalhou as funções desse centro de cultura e sua importância na difusão dos valores culturais da América Latina e do Caribe.Acerca do cinema cubano, Sol Aymara,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0295">59</a> em artigo denominado Breve mirada al cine cubano, sustentou que houve um desenvolvimento significativo da cinematografia do país em razão do apoio decisivo da Revolução e do próprio Fidel Castro, que mostrou interesse particular em desenvolvê-lo, contribuindo para o enriquecimento do cinema latino-americano. O texto mencionou a criação do Instituto Cubano de Arte e Industria Cinematográfica (icaic) pelo governo revolucionário, em 24 de março de 1959, e defendeu a necessidade do cinema enquanto criação estética e luta política. Nesse sentido, torna-se relevante acrescentar que Fidel Castro direcionou, de fato, especial atenção ao cinema, principalmente o documentário, por ter em conta que tal instrumento cultural constituía-se fundamental para a exposição e difusão dos ideais da Revolução Cubana.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0300">60</a>Por sua vez, na Nicarágua, o movimento revolucionário sandinista –cujo período à frente do governo com a fsln, de 1979 a 1990, coincide com o tempo de publicação de Araucaria de Chile no exílio– foi analisado por destacados intelectuais latino-americanos. O importante escritor argentino Julio Cortázar, ao receber da Junta do Governo nicaraguense o prêmio Rubén Dario, discursou para a plateia que o acompanhava na Nicarágua. Em seu discurso, publicado em Araucaria, número 22, ele posicionou-se claramente favorável à revolução popular sandinista, ressaltando o valor social adquirido pela cultura com a ascensão ao governo da fsln.Cortázar ressaltou que a acepção de cultura, na Nicarágua, após a revolução de 1979, adquiriu uma conotação que não existia em países europeus, como os do ocidente, nos quais só a usavam em um sentido elitista, concebendo-a como privilégio de poucos. Em sua visão, o Ministério da Cultura do país e quaisquer das instâncias do governo “han expandido desde un primer momento el concepto de cultura; [...] han empujado la palavra cultura a la calle como si fuera un carrito de helados o de frutas, se la han puesto al pueblo en la mano y en la boca con el gesto simple y cordial del que ofrece un banano”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0305">61</a> Essas palavras, colocadas em um sentido metafórico, indicavam a oposição de Julio Cortázar ao caráter elitista e acadêmico da concepção de cultura. Ele criticou seu acesso limitado a poucos, contrapondo essa perspectiva ao “proceso de liberación, de dignidad, de justicia y de perfeccionamiento intelectual y estético” que as manifestações culturais, como a música, o teatro e a poesia, proporcionaram à sociedade nicaraguense após a revolução.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0310">62</a>Lembremos que Cortázar foi um grande admirador da Revolução Sandinista, atuando junto aos revolucionários no campo cultural, quando, por exemplo, ajudou a fundar o primeiro Museo de Arte Contemporáneo no país e participou do processo de alfabetização da população local. Segundo Adriane Vidal Costa,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0315">63</a> o escritor argentino apoiou intensamente a revolução na Nicarágua por acreditar que o processo revolucionário naquele país aproximava-se daquilo que ele tanto idealizou para as sociedades da América Latina. Por isso, “Cortázar assinalou que iria quantas vezes fosse preciso à Nicarágua para participar de diálogos e reuniões, e ajudar no que fosse possível no plano da cultura”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0320">64</a>O tema da cultura na Nicarágua esteve presente também em outro artigo publicado em Araucaria de Chile, em 1986, escrito pelo professor e crítico chileno Pedro Bravo-Elizondo. Confluindo para a ideia de Julio Cortázar, Bravo-Elizondo<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0325">65</a> ressaltou que, com o triunfo da revolução, artistas formaram associações para proteger seus interesses e os do povo, difundindo os novos valores sandinistas. Segundo o autor chileno, a Asociación Sandinista de Trabajadores de la Cultura, criada em 1980, encarregava-se de resgatar os elementos da cultura popular nicaraguense: a dança, a música, a tradição oral, a comida e os artesanatos. A associação deveria estimular a os jovens a participar de algum ramo artístico, divulgando posteriormente seus trabalhos para suas comunidades de origem.Assim como em relação a Cuba, os editores da revista Araucaria de Chile retomaram personagens históricos de modo a compor as representações sobre a Nicarágua revolucionária. Novamente, um poema do comunista Pablo Neruda foi publicado postumamente na revista, desta vez feito em homenagem a Augusto César Sandino, líder da rebelião armada contra a presença militar dos Estados Unidos na Nicarágua, entre as décadas de 1920 e 1930. Nas palavras do poeta chileno:Fue cuando en tierra nuestrase enterraronlas cruces, se gastaroninválidas, profesionales.Llegó el dólar de dientes agresivosa morder territorio,en la garganta pastoril de América [...]Bajaron, vestidos de blanco,Tirando dólares y tiros.Pero allí surgió un capitánque dijo: “No, aquí no ponestus concesiones, tu botella.” [...]Sandino se quitó las botas,se hundió en los trémulos pantanosse terció la banda mojadade la libertad en la selva,y, tiro a tiro, respondióa los “civilizadores”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0330">66</a>Percebemos neste poema, intitulado Sandino, que Pablo Neruda estabeleceu severas críticas à política imperialista dos Estados Unidos concernente aos países da América Latina e do Caribe. O poeta glorificou a figura mítica de Sandino, realçando sua condição de símbolo da resistência popular à dominação norte-americana. Torna-se necessário destacar que esse poema foi publicado em Araucaria de Chile em 1979, no quarto trimestre, poucos meses após os acontecimentos que levaram ao poder os revolucionários da fsln.Precisamente a respeito da atuação dos Estados Unidos sobre a Nicarágua, durante a década de 1980, esteve a discussão de Mario Benedetti, publicada em forma de artigo na revista Araucaria de Chile, número 24, no quarto trimestre de 1983. O intelectual uruguaio, com certo grau de ironia, afirmou que o porfiado ritual de morte tem tido na Nicarágua três oficiantes fundamentais, quais sejam, os terremotos, a dinastia Somoza e o poderoso vizinho do norte, sendo os dois últimos mais devastadores que os abalos sísmicos.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0335">67</a> Mario Benedetti se referia à cruenta ditadura da oligarquia Somoza, que governou a Nicarágua por mais de 40 anos, destituída do poder pela Revolução Sandinista, bem como aos Estados Unidos, que apoiaram, em muitos momentos, os Somoza, e manifestaram, no início da década de 1980, toda sua hostilidade e oposição ao governo da fsln. É importante destacar que os Estados Unidos financiaram as forças militares contrarrevolucionárias (contras), provocando conflitos armados, sobretudo no campo, entre os defensores da revolução e os contras, conflitos esses que somente se arrefeceram em 1987, por meio de acordos de paz.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0340">68</a> Mario Benedetti alertou, ainda, para uma possível invasão norte-americana na Nicarágua, que não seria a primeira, implicando, para o uruguaio, em uma ruptura com o que ele denominou de pluralismo democrático em curso no país.Em seu texto Defensa de Nicaragua, com um título que já evidenciava seu discurso favorável ao país revolucionário, Eduardo Galeano,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0345">69</a> em um sentido próximo ao texto de seu compatriota Benedetti, condenou o bloqueio comercial imposto aos sandinistas pelos Estados Unidos e por outros países alinhados à política norte-americana, enfatizando a crise econômica que enfrentava a população nicaraguense, em grande parte decorrente dessa condição de isolamento político-econômico. Galeano argumentou que a política externa tão severa ao povo da Nicarágua foi feita de modo a enfraquecer os avanços na educação, na saúde e na comunicação promovidos pela revolução, embora não isentasse totalmente o governo sandinista em relação aos problemas enfrentados pela população do país.Ao referir-se aos que se opunham ao regime da fsln, Eduardo Galeano defendeu que “los opositores honestos, que los hay, tendrían que reconocer, al menos, que en estos siete años”, desde a implantação do governo revolucionário, “la revolución sandinista ha hecho lo posible y lo imposible por echar las bases de justicia y soberanía necesarias para que la democracia no sea un castillo en el aire”, uma formalidade imposta em que reina a hipocrisia e na qual o povo nada tem e nada decide.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0350">70</a> Ele clamou para que países, especialmente os latino-americanos, prestassem “ayudas que amplíen los espacios de libertad de esta joven revolución acosada”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0355">71</a>Por fim, o historiador comunista Vladimir Eichin,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0360">72</a> na Araucaria número 34, afirmou que a realização da perspectiva histórica da Revolução Sandinista, que não poderia ser outra a não ser a construção de um novo regime social, pressupunha a luta permanente frente às contrarrevoluções interna e externa. Para ele, o movimento revolucionário de 1979 na Nicarágua significou a destruição das estruturas de dominação sobre a América Central e sobre o Caribe edificadas por décadas pelos Estados Unidos, inspirando as lutas dos revolucionários anti-imperialistas e dos que buscavam a democratização do Cone Sul, às voltas com as ditaduras militares.Percebemos, então, tentando traçar uma linha que amarre as discussões dos intelectuais mencionados, que as revoluções cubana e sandinista foram representadas positivamente na revista Araucaria de Chile, através de argumentos relacionados ao desenvolvimento e à popularização da cultura após a ascensão dos governos revolucionários; às possibilidades de ampliação da democracia e da justiça social, com a abertura de canais políticos e culturais que possibilitaram maior participação das sociedades cubana e nicaraguense; e, por fim, tais argumentos apresentaram os respectivos processos revolucionários em Cuba e na Nicarágua como modelos para demais países latino-americanos na luta por maior autonomia política e econômica frente aos Estados Unidos e aos governos autoritários, sobretudo as ditaduras militares do Cone Sul, dado o contexto histórico de circulação da revista e a presença de seus colaboradores no exílio. Araucaria veiculou, ainda, textos sobre aqueles que posteriormente foram retomados simbolicamente pelos revolucionários como os precursores da luta anti-imperialista e pela libertação nacional: José Martí, no caso de Cuba, e Augusto César Sandino, para os nicaraguenses.Essas representações mostraram-se de acordo com o editorialismo programático de Araucaria de Chile, revista que, como mencionamos em mais de uma oportunidade, esteve vinculada, inclusive financeiramente, ao Partido Comunista de Chile, veiculando, por conseguinte, culturas políticas de esquerda em suas páginas, especialmente a comunista. Ademais, as discussões acerca da cultura em Cuba e na Nicarágua após as respectivas revoluções, assim como os debates que enalteciam a ruptura com os governos Batista e Somoza Debayle, respectivamente, ambos ditadores que não atendiam aos interesses da população local, foram oportunas, se pensarmos no próprio contexto de autoritarismo político no Chile, bem como no “apagão cultural” vivido pelo país, em função do declínio das atividades culturais chilenas sob o governo de Augusto Pinochet. As evidentes manifestações anti-imperialistas nos textos publicados em Araucaria de Chile revelaram a oposição, por parte da revista, aos Estados Unidos, país aliado das ditaduras instauradas no Cone Sul durante as décadas de 1960, 1970 e 1980, sobretudo a ditadura chilena.Interpretamos que as publicações, em Araucaria, referentes às revoluções em Cuba e na Nicarágua, dois países que optaram pela luta armada na estratégia revolucionária adotada, mantiveram estreita ligação com a política seguida pela direção do pcch à época, a Política de la Rebelión Popular de Masas (prpm). Após intensos debates entre a cúpula do pcch, a facção externa, representada por os membros da direção do partido que viviam no exílio, dentre eles o Secretário-geral da legenda, Luis Corvalán, e o diretor de Araucaria de Chile, Volodia Teitelboim, e a interna, que compreendia aqueles que viviam clandestinamente no Chile, optou-se por adotar, não obstante a resistência inicial dos que viviam no exílio, a luta armada no enfrentamento ao regime de Augusto Pinochet. Quem melhor esclarece os debates internos ao partido comunista chileno e seu consenso pela luta armada é Rolando Álvarez Vallejos, segundo o qual:Desde el punto de vista del debate interno, en 1982 aparentemente amainó la tormenta provocada por las diferencias entre interior y el exterior. [...] Por ello, es posible afirmar que 1982 fue el año de la instalación de la nueva política comunista, llamada de “Rebelión Popular de Masas” desde fines de 1981. Es decir, la prpm era un elemento estratégico, que contiene también elementos táticos, políticos y político-militares.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0365">73</a>Vallejos<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0370">74</a> afirma que esse “radicalismo de masas”, a partir do qual o pcch buscou reunir toda a militância comunista, viveu seu apogeu entre os anos de 1983 e 1986, durante o período conhecido no Chile como Protestas Nacionales, ciclo de mobilizações sociais contra a ditadura pinochetista, estendendo-se até o plebiscito de 1988.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0375">75</a> A Frente Patriótico Manuel Rodríguez (fpmr) foi criada para coadunar e organizar todo o aparato armado do pcch, a fim de se consumar a oposição insurrecional do partido ante à ditadura.De acordo com Luis Corvalán, Secretário-geral do pcch à época, os protestos no Chile contra o regime militar pinochetista “confirmaron la certeza de la política propiciada por el Partido Comunista en el sentido de combatir a la dictadura por todos los medios, tomando el camino de la rebelión”.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0380">76</a> O dirigente comunista prossegue, afirmando queAproximadamente dos mil jóvenes chilenos [...] eligieron el camino de las armas para enfrentar la dictadura y se integraron o incorporaron al Frente Patriótico Manuel Rodríguez. [...] Estos valientes muchachos dedicaron sus sueños de libertad y sus vidas a la lucha militar y paramilitar contra la tiranía creyendo firmemente que era el más efectivo o el único modo de combatirla.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0385">77</a>Assim, pensamos que os discursos, analisados neste artigo, construídos pelos intelectuais colaboradores de Araucaria de Chile e difundidos pela revista, ao ressaltarem duas vitoriosas revoluções armadas latino-americanas, exatamente no período de vigência da prpm, dialogaram, de alguma maneira, com a nova posição tomada pelo pcch em relação à oposição ao governo do general Pinochet. Apesar de a revista não ter sido um periódico oficial do partido comunista chileno, não tendo acompanhado, nesse sentido, toda sua evolução ideológica e suas tomadas de posição –acreditamos, inclusive, que em muitos momentos, pela gama variada de intelectuais que nela escreveram, que Araucaria tenha seguido uma perspectiva política de esquerda mais heterogênea–, pelo menos no que tange ao recorte temático estabelecido para este trabalho, as linhas políticas de intelectuais colaboradores e partido entrecruzaram-se.Concluímos, dessa maneira, para usar expressões propostas por Regina Crespo,<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0390">78</a> que a Araucaria de Chile foi, a um só tempo, uma re-vista “baluarte cultural”, já que publicou trabalhos literários e artísticos diversos, e, em dados momentos, porta-voz de um projeto coletivo de determinado partido, o pcch, ainda que de uma maneira não sistemática e oficiosa.Torna-se importante que façamos uma ressalva no sentido de perceber que Araucaria de Chile foi uma revista produzida sob a condição do exílio, durante a ditadura pinochetista, e que, portanto, embora tenha divulgado, ainda que indiretamente, projetos políticos dentro das esquerdas, sobretudo de acordo com a cultura política comunista, posicionou-se, fundamentalmente e anterior a qualquer defesa de um projeto específico, como um impresso importante de resistência política. Categoricamente, podemos afirmar que o que uniu todos os intelectuais colaboradores de Araucaria de Chile não foram as diretrizes políticas do pcch –visto que talvez a minoria se identificasse integralmente com elas–, mas, sim, o exílio e o interesse no restabelecimento da democracia no Chile e, por extensão, nos demais países do Cone Sul submetidos às ditaduras militares.Feita a ressalva, acreditamos, por fim, que, do ponto de vista do pensamento político dos intelectuais que publicaram em Araucaria de Chile e que foram aqui analisados, em consonância com o pensamento do pcch, as experiências revolucionárias cubana e sandinista tenham servido de modelo recente e próximo –na perspectiva temporal e das condições políticas, guardados os respectivos contextos– para os países latino-americanos que viviam sob governos militares autoritários, como o Chile de Pinochet. Modelo, aqui, no sentido de ser possível a mobilização popular e a realização de transformações sociais e políticas de modo a alcançar maior justiça social e, fundamentalmente, a democracia.Em Araucaria de Chile, o posicionamento favorável aos movimentos revolucionários de esquerda, bem como a oposição às ditaduras militares por parte de colaboradores como Julio Cortázar, Mario Benedetti e Eduardo Galeano, por exemplo, certamente se inseriu em um contexto de Guerra Fria e de forte engajamento dos intelectuais latino-americanos, impulsionando-os para a cena pública, de modo que a intervenção nos assuntos políticos tornou-se praticamente inevitável.Para o caso específico dos chilenos, como apontou Rolando Álvarez Vallejos, a Nicarágua dos sandinistas consistiu em um efetivo exemplo para os comunistas no que diz respeito à possibilidade e esperança de adesão espontânea de jovens militantes no movimento de radicalização política contra Pinochet.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0395">79</a> Podemos lembrar também, ainda de acordo com Vallejos, que muitos militantes comunistas chilenos tiveram formação militar em Cuba, atuando muitos deles, posteriormente, no processo revolucionário nicaraguense.<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0400">80</a> Com base nessas informações, é possível afirmar que as experiências revolucionárias cubana e sandinista serviram, de fato, de inspiração para as teses militaristas desenvolvidas no interior do pcch, corroborando nossa hipótese de que a veiculação, sobretudo ao longo da década de 1980, de representações positivas acerca das revoluções armadas em Cuba e na Nicarágua, pela revista Araucaria de Chile, não se consumou por mera casualidade, dialogando diretamente com a postura combativa insurrecional do partido que a financiava e do qual eram integrantes influentes seu diretor e seu principal editor, respectivamente, Volodia Teitelboim e Carlos Orellana.Assim, como forma de epílogo que ligue essa ideia central defendida por nós, citamos o editorial de lançamento da revista Araucaria de Chile, que, em 1978, afirmava:Bien se sabe que Chile no es una isla ni su tragedia combate un accidente ni un caso de excepción en América Latina. Su situación se conecta a los planes del imperio e integra el contexto de un continente donde grandes manchones ilustran el drama común de sus pueblos y sus intelectuales. Araucaria, siendo criatura de Chile, forma parte del paisaje andino y de la ecología continental. 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Política y sociedad

As representaçõessobre as revoluções cubana e sandinista na revista exílica Araucaria de Chile (1978-1990)

The representations of the Cuban and Sandinista Revolutions in the Exilic Magazine Araucaria de Chile (1978-1990)

Raphael Coelho Neto

Universidade Federal de Minas Gerais (ufmg), Brasil

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Fabiana de Souza Fredrigo<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0020"><span class="elsevierStyleSup">4</span></a> e Pablo Policzer<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0025"><span class="elsevierStyleSup">5</span></a> indicam o gradativo aumento do controle estatal sobre a popula&#231;&#227;o chilena por meio&#44; inicialmente&#44; do fechamento do Congresso Nacional&#59; de decretos-leis que aumentaram o poder pol&#237;tico do executivo&#44; proibindo todas as atividades pol&#237;ticas e sancionando a ilegalidade dos partidos&#59; e da cria&#231;&#227;o da Direcci&#243;n de Inteligencia Nacional &#40;<span class="elsevierStyleSmallCaps">dIna</span>&#41; que&#44; em nome da seguran&#231;a nacional&#44; concentrou as medidas repressivas contra os opositores do governo&#46; Os militares buscavam definir a situa&#231;&#227;o do Chile como uma guerra aos inimigos internos &#8211;os marxistas e os adeptos da pol&#237;tica de Salvador Allende&#8211; prolongando por tempo indefinido esse suposto &#8220;estado de emerg&#234;ncia e crise&#8221;&#44; convertendo um governo militar em um regime ditatorial&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0030"><span class="elsevierStyleSup">6</span></a> &#192; medida que a repress&#227;o avan&#231;ava&#44; crescia vertiginosamente o n&#250;mero de mortos&#44; desaparecidos&#44; torturados e exilados&#46;</p><p id="par0015" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Na perspectiva de Loretto Rebolledo Gonz&#225;lez&#44; &#8220;jam&#225;s en la historia de Chile se hab&#237;a registrado una salida forzada de chilenos tan masiva en tan corto plazo y hacia lugares tan diversos como la iniciada a partir de septiembre de 1973&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0035"><span class="elsevierStyleSup">7</span></a> O massivo ex&#237;lio chileno&#44; predominante entre os anos de 1973 e 1978&#44; resultou&#44; em grande medida&#44; da repress&#227;o pol&#237;tica da Junta Militar aos militantes e pol&#237;ticos dos partidos da esquerda chilena&#44; sobretudo aqueles que integraram a up e o governo de Salvador Allende&#46; Ademais&#44; o ex&#237;lio chileno foi marcado por uma grande quantidade de intelectuais&#44; artistas&#44; profissionais e estudantes universit&#225;rios&#44; aos quais se agregaram&#44; em menor propor&#231;&#227;o&#44; oper&#225;rios&#44; campesinos e t&#233;cnicos&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0040"><span class="elsevierStyleSup">8</span></a> No que tange aos intelectuais exilados&#44; n&#227;o podemos deixar de mencionar sua conduta de oposi&#231;&#227;o e resist&#234;ncia pol&#237;tica &#224; ditadura pinochetista ao produzirem nessas circunst&#226;ncias&#46; Nesse sentido&#44; em estreita rela&#231;&#227;o com todo esse contexto&#44; destacamos a cria&#231;&#227;o de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; concebida como espa&#231;o de sociabilidade intelectual&#44; de reflex&#227;o e de debate a respeito da cultura e da pol&#237;tica chilena e latino-americana&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0045"><span class="elsevierStyleSup">9</span></a></p><p id="par0020" class="elsevierStylePara elsevierViewall"><span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> foi uma revista cultural e pol&#237;tica&#44; de clara oposi&#231;&#227;o ao regime militar de Augusto Pinochet&#44; criada em 1977&#44; em Roma&#44; por intelectuais chilenos no ex&#237;lio&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0050"><span class="elsevierStyleSup">10</span></a> A revista&#44; de circula&#231;&#227;o trimestral e que tinha como sede inicial a cidade de Paris&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0055"><span class="elsevierStyleSup">11</span></a> foi lan&#231;ada oficialmente no primeiro trimestre de 1978&#46; Fundada e dirigida por intelectuais ligados ao Partido Comunista de Chile &#40;<span class="elsevierStyleSmallCaps">pcch</span>&#41;&#44; como Volodia Teitelboim&#44; diretor de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria</span> durante seus doze anos de publica&#231;&#227;o&#44; e Carlos Orellana&#44; secret&#225;rio de reda&#231;&#227;o da revista&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0060"><span class="elsevierStyleSup">12</span></a><span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> veiculou e difundiu em seus textos culturas pol&#237;ticas de esquerda&#44; principalmente a comunista&#44; embora n&#227;o fosse&#44; oficialmente&#44; porta-voz do <span class="elsevierStyleSmallCaps">pcch</span> e recebesse a colabora&#231;&#227;o de intelectuais de distintas tend&#234;ncias pol&#237;ticas&#46;</p><p id="par0025" class="elsevierStylePara elsevierViewall"><span class="elsevierStyleItalic">Araucaria</span> teve&#44; no total&#44; 48 n&#250;meros&#44; publicados&#44; sem interrup&#231;&#227;o&#44; a cada tr&#234;s meses&#44; durante doze anos &#40;1978-1990&#41;&#44; constituindo&#44; como aponta Carlos Orellana no <span class="elsevierStyleItalic">&#205;ndice General</span> da revista&#44; um exemplar representativo da produ&#231;&#227;o cultural dos intelectuais exilados&#46; Cada edi&#231;&#227;o&#44; em formato de livro &#40;13&#46;5<span class="elsevierStyleHsp" style=""></span>cm de largura por 21<span class="elsevierStyleHsp" style=""></span>cm de altura&#41;&#44; possuiu cerca de 220 p&#225;ginas&#44; impressas em papel simples&#44; sendo apenas as capas coloridas&#44; que&#44; em geral&#44; eram elaboradas a partir dos trabalhos de artistas pl&#225;sticos chilenos&#44; com destaque para as cria&#231;&#245;es de Roberto Matta&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0065"><span class="elsevierStyleSup">13</span></a></p><p id="par0030" class="elsevierStylePara elsevierViewall">O Comit&#234; de Reda&#231;&#227;o de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; que o integrou permanentemente at&#233; sua &#250;ltima publica&#231;&#227;o em 1990&#44; foi composto pelos seguintes intelectuais chilenos&#58; Luis Bocaz&#44; professor&#44; cr&#237;tico e ensa&#237;sta&#59; Osvaldo Fern&#225;ndez&#44; professor de filosofia&#59; e o jornalista Luis Alberto Mansilla&#46; O economista Alberto Mart&#237;nez incorporou-se ao Comit&#234; Central de Reda&#231;&#227;o a partir do n&#250;mero 8 de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile&#46;</span><a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0070"><span class="elsevierStyleSup">14</span></a> Ao comentar sobre os membros principais da reda&#231;&#227;o da revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria</span>&#44; Carlos Orellana<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0075"><span class="elsevierStyleSup">15</span></a> fez quest&#227;o de lembrar&#44; ainda&#44; o nome da professora&#44; cr&#237;tica liter&#225;ria e ensa&#237;sta Soledad Bianchi&#44; que em &#8220;cuatro a&#241;os de colaboraci&#243;n fue pieza valiosa en el establecimiento de fruct&#237;feros nexos con un amplio abanico de j&#243;venes escritores&#44; prosistas y poetas&#44; tanto del exilio como del interior &#91;Chile&#93;&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0080"><span class="elsevierStyleSup">16</span></a></p><p id="par0035" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Orellana&#44; ao referir-se ao corpo editorial da revista&#44; afirmou que<span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0005"><p id="spar0015" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">el di&#225;logo y la discusi&#243;n constante y apasionada en el interior de ese grupo nos permit&#237;an sentir que hab&#237;amos encontrado por fin aquello que tanto y tan fervorosamente anhel&#225;bamos desde hac&#237;a largo tiempo&#44; a&#241;os antes de que triunfara la Unidad Popular&#58; el funcionamiento en el campo de la preocupaci&#243;n cultural de una inteligencia colectiva afincada en una visi&#243;n marxista del mundo&#44; capaz de reunir cualidades que nos parec&#237;an esenciales para legitimar una voluntad de ideologia&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0085"><span class="elsevierStyleSup">17</span></a></p></span></p><p id="par0040" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Essa cita&#231;&#227;o evidencia a exist&#234;ncia efetiva de uma rede de sociabilidade intelectual<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0090"><span class="elsevierStyleSup">18</span></a> ligada a culturas pol&#237;ticas de esquerda&#44; rede esta que poderia se fazer ainda maior&#44; j&#225; que <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> veiculou textos de in&#250;meros colaboradores&#44; dentre os quais renomados escritores chilenos e latino-americanos&#44; como Ariel Dorfman&#44; Antonio Sk&#225;rmeta&#44; Bernardo Subercaseaux&#44; Fernando Alegr&#237;a&#44; Mario Benedetti&#44; Julio Cort&#225;zar&#44; Gabriel Garc&#237;a M&#225;rquez e Eduardo Galeano&#46;</p><p id="par0045" class="elsevierStylePara elsevierViewall">O editorial de lan&#231;amento da revista afirmou que o nome <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> foi uma refer&#234;ncia a &#237;cones da identidade chilena&#44; como a &#225;rvore t&#237;pica da paisagem do pa&#237;s e os povos araucanos&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0095"><span class="elsevierStyleSup">19</span></a> Embora a maioria dos assuntos ressaltassem&#44; de fato&#44; marcas da hist&#243;ria do Chile e enfatizassem&#44; sobretudo&#44; problem&#225;ticas do pa&#237;s durante a ditadura pinochetista&#44; a re-vista&#44; at&#233; em raz&#227;o da diversidade de colaboradores mencionados&#44; abordou v&#225;rios temas relativos aos demais pa&#237;ses da Am&#233;rica Latina&#46; Dentre os assuntos recorrentes em <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> estiveram as experi&#234;ncias revolucion&#225;rias em Cuba&#44; em 1959&#44; e na Nicar&#225;gua&#44; em 1979&#46;</p><p id="par0050" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Podemos afirmar&#44; com base em estudos sobre o assunto&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0100"><span class="elsevierStyleSup">20</span></a> que a revolu&#231;&#227;o em Cuba no final da d&#233;cada de 1950 foi resultado de uma insatisfa&#231;&#227;o popular com o longo processo de depend&#234;ncia pol&#237;tico-econ&#244;mica do pa&#237;s em rela&#231;&#227;o aos Estados Unidos&#44; desde a ruptura com os la&#231;os coloniais com a Espanha em 1898&#46; Com a ascens&#227;o de Fulgencio Batista ao comando do Estado cubano&#44; por meio de um golpe&#44; em 1952&#44; e a ditadura institu&#237;da desde ent&#227;o&#44; apoiada pelo governo norte-americano&#44; agravou-se uma situa&#231;&#227;o de aus&#234;ncia de liberdade pol&#237;tica&#44; de democracia efetiva e de condi&#231;&#245;es dignas de exist&#234;ncia para a maioria da popula&#231;&#227;o&#46; Sucederamse&#44; ent&#227;o&#44; tentativas pol&#237;ticas de car&#225;ter insurrecional contra o regime de Batista&#44; como o assalto ao quartel Moncada&#44; em Santiago de Cuba&#44; no ano de 1953&#44; e a organiza&#231;&#227;o de atividades guerrilheiras em <span class="elsevierStyleItalic">Sierra Maestra</span>&#44; a partir de 1956&#44; at&#233; culminar na tomada do poder pelos revolucion&#225;rios&#44; em janeiro de 1959&#46; Principal opositor de Fulgencio Batista durante todo esse processo e l&#237;der da Revolu&#231;&#227;o Cubana&#44; Fidel Castro contou com o apoio de distintos segmentos sociais urbanos e rurais&#44; sobretudo destes &#250;ltimos&#44; todos insatisfeitos com as condi&#231;&#245;es de atraso econ&#244;mico e com o autoritarismo governamental amparado por for&#231;as imperialistas norte-americanas&#46; Para unir amplos setores da sociedade&#44; &#8220;o centro de gravidade da revolu&#231;&#227;o ficava&#44; inicialmente&#44; na liberta&#231;&#227;o nacional&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0105"><span class="elsevierStyleSup">21</span></a> Posteriormente&#44; na tentativa de consolidar as premissas da revolu&#231;&#227;o&#44; a concep&#231;&#227;o de na&#231;&#227;o arrastou consigo a edifica&#231;&#227;o de uma ordem social inteiramente nova&#44; a socialista&#46;</p><p id="par0055" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Fernando Mart&#237;nez Heredia&#44; em sua perspectiva de periodiza&#231;&#227;o da Revolu&#231;&#227;o Cubana marcada pela longa dura&#231;&#227;o&#44; que demarca as origens do pensamento social que a levaram a cabo e que trasfere suas consequ&#234;ncias para as d&#233;cadas mais recentes&#44; aponta que&#44; n&#227;o obstante os &#234;xitos iniciais do processo revolucion&#225;rio no que tange &#224; conscientiza&#231;&#227;o e maior envolvimento pol&#237;tico e cultural da sociedade cubana&#44; a partir de 1970&#44; em uma segunda fase&#44; &#8220;el pensamiento social sufri&#243; una sujeci&#243;n a cambios que provocaron la detenci&#243;n de su desarrollo&#44; y un gran empobrecimiento y dogmatizaci&#243;n&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0110"><span class="elsevierStyleSup">22</span></a> Isso teria sido resultado do endurecimento do controle do Estado em rela&#231;&#227;o &#224; sociedade&#44; na tentativa de manuten&#231;&#227;o dos preceitos da revolu&#231;&#227;o diante de um cen&#225;rio de crescimento das cr&#237;ticas ao comando central repressivo do governo&#44; cada vez mais vinculado &#224;s diretrizes pol&#237;ticas e econ&#244;micas dos sovi&#233;ticos&#46; Contudo&#44; como veremos&#44; por quest&#245;es de proximidade ideol&#243;gica&#44; os colaboradores de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> ressaltaram positivamente&#44; sem qualquer tipo de cr&#237;tica&#44; o processo revolucion&#225;rio em Cuba&#44; de suas origens at&#233; a d&#233;cada de 1980&#46;</p><p id="par0060" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Por sua vez&#44; na Nicar&#225;gua&#44; a Revolu&#231;&#227;o Sandinista de 1979 foi resultado de um ac&#250;mulo de for&#231;as sociais heterog&#234;neas &#8211;camponeses&#44; oper&#225;rios&#44; pobres e marginalizados da cidade e do campo&#44; intelectuais e setores progressistas da burguesia&#8211; em torno de um objetivo comum&#58; liquidar o governo da fam&#237;lia Somoza no pa&#237;s&#44; abrindo caminho para a emancipa&#231;&#227;o da sociedade nicaraguense em face da oligarquia local e do imperialismo dos Estados Unidos&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0115"><span class="elsevierStyleSup">23</span></a> De car&#225;ter popular e anti-imperialista&#44; o movimento de oposi&#231;&#227;o ao governo de Anastasio Somoza Debayle foi canalizado pelo grupo politicamente mais organizado&#44; a Frente Sandinista de Liberaci&#243;n Nacional &#40;<span class="elsevierStyleSmallCaps">fsln</span>&#41;&#44; no sentido de dot&#225;-lo de uma perspectiva revolucion&#225;ria&#44; o que culminou com a revolu&#231;&#227;o de 1979 e encerrou d&#233;cadas de ditadura somozista na Nicar&#225;gua&#46; Esse movimento revolucion&#225;rio se inspirou em Augusto C&#233;sar Sandino&#44; l&#237;der guerrilheiro que lutou&#44; nos anos 1920 e 1930&#44; contra a ocupa&#231;&#227;o norte-americana no pa&#237;s&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0120"><span class="elsevierStyleSup">24</span></a> Assim como em Cuba&#44; os termos do socialismo na Nicar&#225;gua foram adotados no transcorrer da &#8220;rota de desenvolvimento da quest&#227;o nacional nicaraguense&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0125"><span class="elsevierStyleSup">25</span></a> Em comum com as estrat&#233;gias revolucion&#225;rias postas em pr&#225;tica em Cuba esteve&#44; tamb&#233;m&#44; na Nicar&#225;gua&#44; a op&#231;&#227;o pela luta armada&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0130"><span class="elsevierStyleSup">26</span></a></p><p id="par0065" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Como destacou Matilde Zimmermann&#44; &#8220;tanto a Revolu&#231;&#227;o Cubana de 1959 como a Revolu&#231;&#227;o Sandinista de 1979 tiveram um impacto eletrizante&#44; que repercutiu muito al&#233;m de suas fronteiras&#8221;&#44; levando &#224; prolifera&#231;&#227;o de movimentos socialistas e nacionalistas&#44; muitos deles armados&#44; em pontos diversos da Am&#233;rica Latina&#44; durante as d&#233;cadas de 1960&#44; 1970 e 1980&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0135"><span class="elsevierStyleSup">27</span></a></p><p id="par0070" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Essas duas experi&#234;ncias revolucion&#225;rias foram analisadas por alguns colaboradores da revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; dentre eles os j&#225; renomados escritores Julio Cort&#225;zar&#44; Mario Benedetti&#44; Eduardo Galeano e o diretor do impresso&#44; Volodia Teitelboim&#46; Em fun&#231;&#227;o da recorr&#234;ncia desses assuntos&#44; propomos&#44; neste artigo&#44; uma discuss&#227;o baseada nas representa&#231;&#245;es referentes aos respectivos movimentos revolucion&#225;rios em Cuba e na Nicar&#225;gua pelos intelectuais colaboradores da revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#46; Buscaremos vincular tais debates pol&#237;ticos &#224; condi&#231;&#227;o de ex&#237;lio intelectual e ao contexto ditatorial vivido pelo Chile nas d&#233;cadas de 1970 e 1980&#44; bem como ao editorialismo program&#225;tico da revista&#44; pr&#243;ximo aos preceitos do pcch&#46; <a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0140"><span class="elsevierStyleSup">28</span></a></p></span><span id="sec0010" class="elsevierStyleSection elsevierViewall"><span class="elsevierStyleSectionTitle" id="sect0025">P<span class="elsevierStyleSmallCaps">erspectivas te&#243;rico-metodol&#243;gicas</span></span><p id="par0075" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Torna-se premente&#44; <span class="elsevierStyleItalic">a priori</span>&#44; trabalharmos com conceitos significativos para o estudo em quest&#227;o&#44; quais sejam&#44; o de cultura pol&#237;tica&#44; representa&#231;&#227;o&#44; intelectuais e ex&#237;lio&#46; Assim&#44; por <span class="elsevierStyleItalic">cultura pol&#237;tica</span>&#44; entendemos&#44; com base em Rodrigo Patto S&#225; Motta&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0145"><span class="elsevierStyleSup">29</span></a> um conjunto de valores&#44; tradi&#231;&#245;es&#44; pr&#225;ticas e representa&#231;&#245;es pol&#237;ticas compartilhado por determinado grupo&#44; expressando&#44; dessa forma&#44; identidades coletivas&#44; fornecendo leituras e modos de ver comuns do passado&#44; bem como para projetos futuros&#44; determinando as motiva&#231;&#245;es do ato pol&#237;tico&#46; Os valores da cultura pol&#237;tica comunista foram mobilizados por <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; dentre os quais fizeram parte as representa&#231;&#245;es favor&#225;veis &#224;s revolu&#231;&#245;es na Am&#233;rica Latina e do Caribe&#44; como a cubana e a sandinista&#44; e o forte teor anti-imperialista dos textos publicados na revista&#46;</p><p id="par0080" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Importante para o entendimento de uma cultura pol&#237;tica e essencial para o artigo em quest&#227;o&#44; o conceito de <span class="elsevierStyleItalic">representa&#231;&#227;o</span> &#233; compreendido como &#8220;um conjunto que inclui ideologia&#44; linguagem&#44; mem&#243;ria&#44; imagin&#225;rio e iconografia&#44; mobiliz&#91;ando&#93;&#44; portanto&#44; mitos&#44; s&#237;mbolos&#44; discursos&#44; vocabul&#225;rios e uma rica cultura visual&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0150"><span class="elsevierStyleSup">30</span></a> A acep&#231;&#227;o de Helenice Rodrigues da Silva<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0155"><span class="elsevierStyleSup">31</span></a> torna-se &#250;til para complementar o conceito utilizado por Rodrigo Patto S&#225; Motta e apreendido por n&#243;s&#46; Para a autora&#44; &#8220;a representa&#231;&#227;o de um objeto corresponde&#44; ent&#227;o&#44; a um conjunto de informa&#231;&#245;es&#44; de opini&#245;es e de cren&#231;as referentes a esse objeto&#8221;&#44; constituindo modos espec&#237;ficos de conhecimento do real e permitindo&#44; aos indiv&#237;duos&#44; agir e comunicar mediante essa forma subjetiva de ver o mundo&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0160"><span class="elsevierStyleSup">32</span></a></p><p id="par0085" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Devemos destacar tamb&#233;m o que entendemos por <span class="elsevierStyleItalic">Intelectuais</span>&#44; ten-do como suporte para a constru&#231;&#227;o do conceito os autores Carlos Altamirano<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0165"><span class="elsevierStyleSup">33</span></a> e Jean-Fran&#231;ois Sirinelli&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0170"><span class="elsevierStyleSup">34</span></a> O termo <span class="elsevierStyleItalic">intelectual</span>&#44; de acordo com Sirinelli&#44; traz em si duas acep&#231;&#245;es de natureza sociocultural&#44; sendo uma mais ampla&#44; marcada pela no&#231;&#227;o de &#8220;mediador&#8221; cultural&#44; abrangendo escritores&#44; jornalistas&#44; professores secund&#225;rios&#44; eruditos etc&#46;&#44; e outra mais restrita&#44; amparada na no&#231;&#227;o de engajamento na vida social&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0175"><span class="elsevierStyleSup">35</span></a> Na acep&#231;&#227;o de Carlos Altamirano&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0180"><span class="elsevierStyleSup">36</span></a> os intelectuais s&#227;o atores do debate p&#250;blico&#44; que transmitem publicamente seu pensamento&#44; podendo atingir desde c&#237;rculos restritos de letrados at&#233; setores mais amplos da sociedade&#46; No entender dos dois auto-res&#44; a condi&#231;&#227;o de intelectual necessita do reconhecimento e legitimidade adquiridos junto a seus pares e &#224; sociedade em geral&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0185"><span class="elsevierStyleSup">37</span></a></p><p id="par0090" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Acreditamos&#44; assim&#44; que os intelectuais colaboradores da revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> foram mediadores culturais&#44; produtores e transmissores de ideias engajados na vida social da Am&#233;rica Latina&#44; detentores de posicionamento pol&#237;tico&#44; participantes do debate p&#250;blico com capacidade interpretativa da realidade na qual estavam inseridos&#46;</p><p id="par0095" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Todos os intelectuais que publicaram na revista&#44; em alguma medida&#44; foram tocados pelo contexto das ditaduras militares no Cone Sul e pela condi&#231;&#227;o ex&#237;lica&#46; Assim&#44; no que se refere ao ex&#237;lio&#44; a partir da concep&#231;&#227;o de &#193;ngel Rama&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0190"><span class="elsevierStyleSup">38</span></a> concebemo-lo como uma condi&#231;&#227;o que submete &#224;queles que a sofrem a processos de transcultura&#231;&#227;o&#44; a experi&#234;ncias sociais violentas e a rudes muta&#231;&#245;es em raz&#227;o da obrigatoriedade de viver em ambientes culturais e de sociabilidade distintos do seu ambiente de origem&#46; Comungamos tamb&#233;m da perspectiva de ex&#237;lio presente em Edward Said&#44; para quem a dificuldade do exilado n&#227;o consiste somente em ser for&#231;ado a viver longe do seu pa&#237;s&#44; mas&#44; sobretudo&#44; em ter de viver com a lembran&#231;a de que se encontra no ex&#237;lio&#44; situando-se em um estado intermedi&#225;rio no qual n&#227;o est&#225; integrado ao novo ambiente social nem totalmente liberto do seu lugar de origem&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0195"><span class="elsevierStyleSup">39</span></a> Concebemos&#44; portanto&#44; a experi&#234;ncia do ex&#237;lio como viv&#234;ncias de padecimento tanto individuais quanto coletivas&#44; o que&#44; por conseguinte&#44; interfere nas produ&#231;&#245;es intelectuais forjadas sob essa condi&#231;&#227;o&#46;</p><p id="par0100" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Marcada por esses fatores gerados pelo ex&#237;lio e criada como rea&#231;&#227;o a eles&#44; compreendemos a revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> a partir de tr&#234;s caracter&#237;sticas essenciais&#58; como bem cultural de resist&#234;ncia pol&#237;tica&#59; como espa&#231;o de socializa&#231;&#227;o de intelectuais que visavam diminuir a sensa&#231;&#227;o de isolamento e solid&#227;o provocada pelo ex&#237;lio&#59; e&#44; por fim&#44; como um meio para a veicula&#231;&#227;o de ideias e debates acerca de assuntos pol&#237;ticos e culturais distintos&#46; <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> atuou no sentido de organizar-se enquanto oposi&#231;&#227;o pol&#237;tica &#224; ditadura de Augusto Pinochet&#44; mas serviu tamb&#233;m como meio de express&#227;o das artes visuais e da literatura chilenas&#44; bem como discorreu sobre assuntos pol&#237;ticos diversos&#46;</p><p id="par0105" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Constituindo fonte&#47;objeto privilegiado para o estudo da Hist&#243;ria Intelectual&#44; as revistas s&#227;o comumente dirigidas por um coletivo&#44; e &#8220;informan sobre las costumbres intelectuales de un per&#237;odo&#44; sobre las relaciones de fuerza&#44; poder y prest&#237;gio en el campo de la cultura&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0200"><span class="elsevierStyleSup">40</span></a> Nessa perspectiva&#44; Regina Crespo<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0205"><span class="elsevierStyleSup">41</span></a> afirma que as revistas s&#227;o tradicionalmente o resultado de um projeto coletivo&#44; representando&#44; assim&#44; o ponto de vista de um grupo de intelectuais&#44; sua interven&#231;&#227;o ideol&#243;gica na arena pol&#237;tico-cultural&#46; Para Jean-Fran&#231;ois Sirinelli&#44; elas tornaram-se lugares preciosos para a an&#225;lise do movimento das ideias&#44; assim como podemos conceb&#234;-las como espa&#231;os de sociabilidade intelectual&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0210"><span class="elsevierStyleSup">42</span></a> As revistas estimularam a constru&#231;&#227;o de redes de sociabilidade na medida em que materializaram em papel os pensamentos de grupos intelectuais e artistas com propostas culturais e pol&#237;ticas comuns&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0215"><span class="elsevierStyleSup">43</span></a></p><p id="par0110" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Segundo Eduardo Dev&#233;s-Vald&#233;s&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0220"><span class="elsevierStyleSup">44</span></a> a real constitui&#231;&#227;o de uma rede de sociabilidade intelectual demanda frequ&#234;ncia e densidade em rela&#231;&#227;o &#224; comunica&#231;&#227;o de seus membros&#46; Entre as formas de contato&#44; comunica&#231;&#227;o e estreitamento dos la&#231;os intelectuais est&#227;o as revistas&#44; fundamentais para a compreens&#227;o da vida intelectual de um dado per&#237;odo&#46; No entanto&#44; embora as redes de sociabilidade remetam &#224; associa&#231;&#227;o de intelectuais por cumplicidade e afinidade de ideias&#44; elas n&#227;o excluem a pluralidade de pensamentos dentro dos grupos&#46; Tampouco eliminam as &#8220;batalhas internas e externas&#44; tanto pol&#237;ticas quanto culturais&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0225"><span class="elsevierStyleSup">45</span></a> No que diz respeito &#224; revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; podemos afirmar que os la&#231;os de sociabilidade entre os intelectuais que nela escreveram foram refor&#231;ados em eventos organizados para comemorar seu anivers&#225;rio&#44; por exemplo&#46; Saraus&#44; confer&#234;ncias e atos foram realizados&#44; contando com a presen&#231;a de membros do comit&#234; editorial&#44; colaboradores e leitores&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0230"><span class="elsevierStyleSup">46</span></a></p><p id="par0115" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Tentativas de encontros frequentes&#44; os debates e as pol&#234;micas contribuem para a consolida&#231;&#227;o efetiva de um projeto coletivo em torno dos objetivos editoriais e pol&#237;ticos de uma revista&#46; No caso de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; no que concerne &#224;s representa&#231;&#245;es sobre as revolu&#231;&#245;es cubana e sandinista&#44; &#233; poss&#237;vel assinalar que tais perspectivas mostraram-se em perfeita conex&#227;o&#46; Passemos&#44; ent&#227;o&#44; &#224;s an&#225;lises dessas representa&#231;&#245;es&#46;</p></span><span id="sec0015" class="elsevierStyleSection elsevierViewall"><span class="elsevierStyleSectionTitle" id="sect0030">A<span class="elsevierStyleSmallCaps">raucaria de</span> C<span class="elsevierStyleSmallCaps">hile e as representa&#231;&#245;es intelectuais sobre</span> C<span class="elsevierStyleSmallCaps">uba e</span> N<span class="elsevierStyleSmallCaps">icar&#225;gua revolucion&#225;rias</span></span><p id="par0120" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Em seu editorial de lan&#231;amento&#44; <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> destacou sua miss&#227;o de colocar-se enquanto um bem cultural de resist&#234;ncia e oposi&#231;&#227;o &#224; ditadura &#8220;fascista&#8221; de Augusto Pinochet no Chile&#58; &#8220;Creemos que hace tiempo &#8211;y con impaciencia&#8211; se esperaba por muchos chilenos una publicaci&#243;n como la que hoy comienza&#46; La iniciativa corresponde a gente de una clara y permanente l&#237;nea antifascista&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0235"><span class="elsevierStyleSup">47</span></a> Entendemos que&#44; n&#227;o obstante possu&#237;sse esse intento maior de contribuir para o fim da ditadura militar no Chile&#44; a revista&#44; ao dar uma especial aten&#231;&#227;o &#224;s revolu&#231;&#245;es em Cuba e na Nicar&#225;gua&#44; n&#227;o s&#243; evidenciava seu pertencimento &#224; cultura pol&#237;tica comunista&#44; como tinha nos dois distintos processos revolucion&#225;rios exemplos claros de mudan&#231;as pol&#237;ticas e mesmo estruturais poss&#237;veis para o Chile sob o autoritarismo pinochetista&#44; n&#227;o descartando&#44; para isso&#44; a necessidade&#44; qui&#231;&#225;&#44; de um movimento armado&#46;</p><p id="par0125" class="elsevierStylePara elsevierViewall">As revolu&#231;&#245;es cubana e sandinista foram dois dos assuntos mais discutidos na revista&#44; com clara posi&#231;&#227;o favor&#225;vel aos revolucion&#225;rios&#44; em oposi&#231;&#227;o &#224;s ditaduras anteriores de Fulgencio Batista&#44; em Cuba&#44; e dos Somoza&#44; na Nicar&#225;gua&#46; Tal posicionamento pol&#237;tico n&#227;o poderia ter sido outro&#44; em virtude do editorialismo program&#225;tico da revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> ser explicitamente ligado a culturas pol&#237;ticas de esquerda&#44; como j&#225; afirmamos&#44; em especial a comunista&#46;</p><p id="par0130" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Em seu n&#250;mero 25&#44; publicada no primeiro trimestre de 1984&#44; a revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> dedicou especial aten&#231;&#227;o aos 25 anos da Revolu&#231;&#227;o Cubana&#46; Da p&#225;gina 83 a 170&#44; entre artigos&#44; ensaios&#44; poesias e entrevista&#44; todas possu&#237;ram como tem&#225;tica a experi&#234;ncia revolucion&#225;ria em Cuba no final da d&#233;cada de 1950&#44; abarcando precisamente os anos de 1958 e 1959&#44; quando o movimento guerrilheiro&#44; liderado por Fidel Castro&#44; ganhou a ades&#227;o popular e chegou ao poder&#46; Os desdobramentos e a afirma&#231;&#227;o do governo revolucion&#225;rio nos anos posteriores a 1959 foram tamb&#233;m acompanhados pela revista nessa edi&#231;&#227;o especial&#44; bem como em outras edi&#231;&#245;es de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria</span>&#46;</p><p id="par0135" class="elsevierStylePara elsevierViewall">O tom apolog&#233;tico aos feitos da Revolu&#231;&#227;o Cubana&#44; presente em todos os discursos dessa s&#233;rie especial&#44; iniciou-se no texto de abertura de Carlos Orellana&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0240"><span class="elsevierStyleSup">48</span></a> ao mencionar que a revolu&#231;&#227;o tem dado ao povo cubano uma for&#231;a tal&#44; que quase seria poss&#237;vel &#8220;palparla&#44; o respirarla como una presencia similar al olor incomparable de su tierra caliente&#8221;&#46; Ap&#243;s suas primeiras palavras em um sentido po&#233;tico e metaf&#243;rico&#44; comparando a presen&#231;a dos benef&#237;cios decorrentes da revolu&#231;&#227;o ao clima quente&#44; intenso e acalorado da ilha&#44; Orellana enfatizou que era poss&#237;vel perceber de imediato&#44; ao chegar a Cuba&#44; os conhecidos avan&#231;os na sa&#250;de e na educa&#231;&#227;o e o esp&#237;rito forte de sua gente&#44; seu esplendor interno e uma moral civil grandiosa que se esperava ser herdada como bem inaugural do s&#233;culo xx<span class="elsevierStyleSmallCaps">i</span>&#46; Fidel Castro foi logo mencionado por Carlos Orellana&#44; ao afirmar que &#8220;su gente es su l&#237;der&#44; desde luego&#44; el conductor y consejero de su pueblo&#44; cuyos signos de sabidur&#237;a aparecen por todas partes sin que haya que recurrir al m&#225;rmol o a las efigies innumerables&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0245"><span class="elsevierStyleSup">49</span></a></p><p id="par0140" class="elsevierStylePara elsevierViewall">A imagem do l&#237;der da Revolu&#231;&#227;o Cubana&#44; Fidel Castro&#44; foi not&#225;vel no repert&#243;rio de representa&#231;&#245;es dos intelectuais colaboradores de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> a respeito da ilha&#46; O escritor e diretor da revista&#44; Volodia Teitelboim&#44; expressou-se da seguinte maneira sobre a revolu&#231;&#227;o e seu l&#237;der&#58;<span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0010"><p id="spar0020" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">Veinticinco a&#241;os es el periodo que distancia el primero del segundo acto de esta gran pieza del mundo que simboliza la Revoluci&#243;n Cubana&#46; El personaje individual se mantiene&#46; Es Fidel&#46; Las primeras canas pintan el paso de los a&#241;os&#46; El personaje colectivo es el pueblo&#44; padres e hijos&#44; que hoy ya son padres de nuevos hijos&#44; con un p&#250;blico renovado&#44; enriquecido por el transcurrir de las generaciones&#46; &#91;&#46;&#46;&#46;&#93; Una mirada retrospectiva&#58; en la primera escena&#44; desarrollada el 2 de enero de 1959&#44; Fidel&#44; como un h&#233;roe del Cid y con lengua fresca&#44; digna de Antonio Machado&#44; comienza diciendo&#58; &#8220;Al fin hemos llegado a Santiago&#33; Duro y largo ha sido el camino&#44; pero hemos llegado&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0250"><span class="elsevierStyleSup">50</span></a></p></span></p><p id="par0145" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Percebemos que Volodia Teitelboim destacou o engrandecimento da na&#231;&#227;o e do povo cubanos com o transcorrer dos anos&#44; da tomada do poder pelos guerrilheiros revolucion&#225;rios&#44; capitaneados por Fidel Castro&#44; em 1959&#44; at&#233; o presente momento de 1984&#44; quando o texto foi publicado&#46; Em seguida&#44; Teitelboim teceu louros a Fidel&#44; comparando-o&#44; pela valentia e lideran&#231;a&#44; a Rodriguez D&#237;az de Vivar&#44; o <span class="elsevierStyleItalic">El Cid</span>&#44; um dos maiores cavaleiros da Idade M&#233;dia na perspectiva da tradi&#231;&#227;o popular espanhola&#44; eternizado como her&#243;i na defesa dos reis crist&#227;os contra os mu&#231;ulmanos&#46; O l&#237;der cubano&#44; desta vez enquanto ex&#237;mio orador&#44; tamb&#233;m foi comparado a Antonio Machado&#44; poeta espanhol vinculado ao modernismo e&#44; posteriormente&#44; ao simbolismo europeus da primeira metade do s&#233;culo xx&#46;</p><p id="par0150" class="elsevierStylePara elsevierViewall">O ensaio de Volodia Teitelboim enfatizou os discursos de Fidel Castro desde quando seu grupo assumiu o poder em Cuba&#44; logo ap&#243;s a vit&#243;ria em <span class="elsevierStyleItalic">Sierra Maestra</span>&#46; Sua habilidade com as palavras foi destacada por Teitelboim&#44; bem como seu car&#225;ter de coragem e retid&#227;o&#46; Tais qualidades do l&#237;der revolucion&#225;rio&#44; enfatizadas por Volodia Teitelboim&#44; teriam sido transferidas tamb&#233;m para o povo cubano&#44; em sua perspectiva&#46;</p><p id="par0155" class="elsevierStylePara elsevierViewall">A imagem de uma Cuba popular e corajosa&#44; que soube enfrentar seus principais inimigos&#44; as ditaduras nacionais que a exploravam e o imperialismo dos Estados Unidos&#44; foi amplamente veiculada&#46; Assim&#44; para o diretor de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; Fidel &#233; &#8220;un profesor de la conciencia&#44; un educador del Hombre&#46; &#91;&#46;&#46;&#46;&#93; Yendo m&#225;s all&#225; de los fil&#243;sofos o pol&#237;ticos griegos del &#193;gora&#44; convirti&#243; la plaza p&#250;blica en aula para ense&#241;ar a un pueblo que no sab&#237;a&#44; pero en cuya inteligencia y voluntad de superaci&#243;n ten&#237;a ilimitada confianza&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0255"><span class="elsevierStyleSup">51</span></a> Foi atrav&#233;s de seus pronunciamentos constantes que Fidel Castro ajudou a forjar na popula&#231;&#227;o cubana uma &#8220;posici&#243;n &#233;tica irreductible&#8221;&#44; ancorada nos valores da revolu&#231;&#227;o&#44; o que fez de Cuba uma na&#231;&#227;o forte&#44; apta para &#8220;enfrentar al enemigo de afuera y de adentro&#8221;&#44; precisamente os Estados Unidos e os movimentos contrarrevolucion&#225;rios do pa&#237;s&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0260"><span class="elsevierStyleSup">52</span></a></p><p id="par0160" class="elsevierStylePara elsevierViewall">A Cuba revolucion&#225;ria foi tema tamb&#233;m de poemas publicados em <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile&#44; La libertad</span>&#44; de Pablo Neruda&#44; publicado postumamente na revista&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0265"><span class="elsevierStyleSup">53</span></a> evidenciou toda a esperan&#231;a em uma transforma&#231;&#227;o social para a Am&#233;rica Latina&#44; a partir do exemplo da revolu&#231;&#227;o em Cuba&#46; Liberdade&#44; dignidade e revolu&#231;&#227;o americana&#44; essas palavras utilizadas pelo poeta Pablo Neruda no poema parecem significar aquilo que Cuba conquistou e que os demais pa&#237;ses latino-americanos deveriam tamb&#233;m almejar&#58;<span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0015"><p id="spar0025" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">&#91;&#46;&#46;&#46;&#93; ahora lleg&#243; la hora de las horas&#58;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0020"><p id="spar0030" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">la hora de la aurora desplegada</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0025"><p id="spar0035" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">y el que pretenda aniquilar la luz</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0030"><p id="spar0040" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">caer&#225; com la vida cercenada&#58;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0035"><p id="spar0045" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">y cuando digo que lleg&#243; la hora</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0040"><p id="spar0050" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">pienso en la libertad reconquistada&#58;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0045"><p id="spar0055" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">pienso que en Cuba crece una semilla</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0050"><p id="spar0060" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">mil veces mil amada y esperada&#58;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0055"><p id="spar0065" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">la semilla de nuestra dignidad&#44;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0060"><p id="spar0070" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">por tanto tiempo herida y pisoteada&#44;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0065"><p id="spar0075" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">cae en el surco&#44; y suben las banderas</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0070"><p id="spar0080" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">de la revoluci&#243;n americana&#46;</p></span></p><p id="par0165" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Ainda na edi&#231;&#227;o especial de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> a respeito dos 25 anos da Revolu&#231;&#227;o Cubana&#44; Ram&#243;n de Armas e Eduardo Galeano buscaram explicar em seus artigos as origens do sentimento libertador e revolucion&#225;rio cubano&#44; associando-o aos seus antecedentes hist&#243;ricos&#46; Ambos evocaram a figura de Jos&#233; Mart&#237; como aquele que incitou&#44; na sociedade cubana&#44; a consci&#234;ncia de sua soberania em rela&#231;&#227;o &#224; opress&#227;o e &#224; explora&#231;&#227;o sofridas frente aos colonizadores espanh&#243;is e ao incipiente imperialismo dos Estados Unidos&#46; Na afirma&#231;&#227;o de Ram&#243;n de Armas&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0270"><span class="elsevierStyleSup">54</span></a> foi Mart&#237; o respons&#225;vel pelo &#8220;temprano acercamiento de los objetivos de liberaci&#243;n nacional y los de profunda rectificaci&#243;n social&#8221;&#46; Complementando essa perspectiva&#44; Eduardo Galeano<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0275"><span class="elsevierStyleSup">55</span></a> expressou que&#44; para Mart&#237;&#44; Cuba n&#227;o poderia criar-se sem revolu&#231;&#227;o&#46; Dessa forma&#44; a revista evocou Jos&#233; Mart&#237; como um personagem fundador da aura revolucion&#225;ria de Cuba&#44; respons&#225;vel direto pela mudan&#231;a pol&#237;tica ocorrida no pa&#237;s em 1959&#44; em fun&#231;&#227;o de seu exemplo na luta contra o colonialismo espanhol e contra o imperialismo dos Estados Unidos&#46;</p><p id="par0170" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Por fim&#44; nas abordagens da revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> sobre a Revolu&#231;&#227;o Cubana&#44; outro assunto que mereceu destaque foi o desenvolvimento da cultura em Cuba ap&#243;s a ascens&#227;o dos revolucion&#225;rios ao poder&#46; Volodia Teitelboim<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0280"><span class="elsevierStyleSup">56</span></a> observou que foram criados c&#237;rculos infantis e milhares de escolas na cidade e no campo&#46;</p><p id="par0175" class="elsevierStylePara elsevierViewall">A revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria</span> fez quest&#227;o de publicar&#44; na &#237;ntegra&#44; uma confer&#234;ncia concedida para uma s&#233;rie de &#243;rg&#227;os da imprensa&#44; em dezembro de 1983&#44; pelo ent&#227;o Ministro da Cultura de Cuba&#44; Armando Hart&#44; sobre a pol&#237;tica cultural no pa&#237;s&#46; Nessa confer&#234;ncia&#44; o ministro mencionou a cria&#231;&#227;o do Ministerio de Cultura&#44; em 1976&#44; e elencou os progressos obtidos no campo educacional cubano&#44; como a alfabetiza&#231;&#227;o em massa da popula&#231;&#227;o&#44; a extens&#227;o do ensino prim&#225;rio por todo o pa&#237;s&#44; incluindo as &#225;reas rurais mais distantes&#44; e o crescimento sem precedentes da educa&#231;&#227;o universit&#225;ria&#46; Ele tamb&#233;m deu &#234;nfase ao crescimento exponencial da edi&#231;&#227;o de livros no pa&#237;s&#44; bem como a cria&#231;&#227;o de v&#225;rias institui&#231;&#245;es culturais&#44; como o Balet Nacional de Cuba&#44; o centro de estudo&#44; pesquisa&#44; edi&#231;&#227;o e promo&#231;&#227;o da hist&#243;ria cubana e latino-americana&#44; <span class="elsevierStyleItalic">Casa de las Am&#233;ricas</span>&#44; que foi fundada poucos meses ap&#243;s o triunfo da revolu&#231;&#227;o&#44; e o <span class="elsevierStyleItalic">Centro de Investigaciones y Desarrollo de la M&#250;sica Cubana</span>&#46; <a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0285"><span class="elsevierStyleSup">57</span></a> Sobre <span class="elsevierStyleItalic">Casa de las Am&#233;ricas</span>&#44; o jornalista e escritor cubano Ciro Bianchi<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0290"><span class="elsevierStyleSup">58</span></a> publicou uma cr&#244;nica&#44; no n&#250;mero 26 de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; na qual detalhou as fun&#231;&#245;es desse centro de cultura e sua import&#226;ncia na difus&#227;o dos valores culturais da Am&#233;rica Latina e do Caribe&#46;</p><p id="par0180" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Acerca do cinema cubano&#44; Sol Aymara&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0295"><span class="elsevierStyleSup">59</span></a> em artigo denominado <span class="elsevierStyleItalic">Breve mirada al cine cubano</span>&#44; sustentou que houve um desenvolvimento significativo da cinematografia do pa&#237;s em raz&#227;o do apoio decisivo da Revolu&#231;&#227;o e do pr&#243;prio Fidel Castro&#44; que mostrou interesse particular em desenvolv&#234;-lo&#44; contribuindo para o enriquecimento do cinema latino-americano&#46; O texto mencionou a cria&#231;&#227;o do Instituto Cubano de Arte e Industria Cinematogr&#225;fica &#40;<span class="elsevierStyleSmallCaps">icaic</span>&#41; pelo governo revolucion&#225;rio&#44; em 24 de mar&#231;o de 1959&#44; e defendeu a necessidade do cinema enquanto cria&#231;&#227;o est&#233;tica e luta pol&#237;tica&#46; Nesse sentido&#44; torna-se relevante acrescentar que Fidel Castro direcionou&#44; de fato&#44; especial aten&#231;&#227;o ao cinema&#44; principalmente o document&#225;rio&#44; por ter em conta que tal instrumento cultural constitu&#237;a-se fundamental para a exposi&#231;&#227;o e difus&#227;o dos ideais da Revolu&#231;&#227;o Cubana&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0300"><span class="elsevierStyleSup">60</span></a></p><p id="par0185" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Por sua vez&#44; na Nicar&#225;gua&#44; o movimento revolucion&#225;rio sandinista &#8211;cujo per&#237;odo &#224; frente do governo com a fsln&#44; de 1979 a 1990&#44; coincide com o tempo de publica&#231;&#227;o de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> no ex&#237;lio&#8211; foi analisado por destacados intelectuais latino-americanos&#46; O importante escritor argentino Julio Cort&#225;zar&#44; ao receber da Junta do Governo nicaraguense o pr&#234;mio <span class="elsevierStyleItalic">Rub&#233;n Dario</span>&#44; discursou para a plateia que o acompanhava na Nicar&#225;gua&#46; Em seu discurso&#44; publicado em <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria</span>&#44; n&#250;mero 22&#44; ele posicionou-se claramente favor&#225;vel &#224; revolu&#231;&#227;o popular sandinista&#44; ressaltando o valor social adquirido pela cultura com a ascens&#227;o ao governo da <span class="elsevierStyleSmallCaps">fsln</span>&#46;</p><p id="par0190" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Cort&#225;zar ressaltou que a acep&#231;&#227;o de cultura&#44; na Nicar&#225;gua&#44; ap&#243;s a revolu&#231;&#227;o de 1979&#44; adquiriu uma conota&#231;&#227;o que n&#227;o existia em pa&#237;ses europeus&#44; como os do ocidente&#44; nos quais s&#243; a usavam em um sentido elitista&#44; concebendo-a como privil&#233;gio de poucos&#46; Em sua vis&#227;o&#44; o Minist&#233;rio da Cultura do pa&#237;s e quaisquer das inst&#226;ncias do governo &#8220;han expandido desde un primer momento el concepto de cultura&#59; &#91;&#46;&#46;&#46;&#93; han empujado la palavra <span class="elsevierStyleItalic">cultura</span> a la calle como si fuera un carrito de helados o de frutas&#44; se la han puesto al pueblo en la mano y en la boca con el gesto simple y cordial del que ofrece un banano&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0305"><span class="elsevierStyleSup">61</span></a> Essas palavras&#44; colocadas em um sentido metaf&#243;rico&#44; indicavam a oposi&#231;&#227;o de Julio Cort&#225;zar ao car&#225;ter elitista e acad&#234;mico da concep&#231;&#227;o de cultura&#46; Ele criticou seu acesso limitado a poucos&#44; contrapondo essa perspectiva ao &#8220;proceso de liberaci&#243;n&#44; de dignidad&#44; de justicia y de perfeccionamiento intelectual y est&#233;tico&#8221; que as manifesta&#231;&#245;es culturais&#44; como a m&#250;sica&#44; o teatro e a poesia&#44; proporcionaram &#224; sociedade nicaraguense ap&#243;s a revolu&#231;&#227;o&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0310"><span class="elsevierStyleSup">62</span></a></p><p id="par0195" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Lembremos que Cort&#225;zar foi um grande admirador da Revolu&#231;&#227;o Sandinista&#44; atuando junto aos revolucion&#225;rios no campo cultural&#44; quando&#44; por exemplo&#44; ajudou a fundar o primeiro <span class="elsevierStyleItalic">Museo de Arte Contempor&#225;neo</span> no pa&#237;s e participou do processo de alfabetiza&#231;&#227;o da popula&#231;&#227;o local&#46; Segundo Adriane Vidal Costa&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0315"><span class="elsevierStyleSup">63</span></a> o escritor argentino apoiou intensamente a revolu&#231;&#227;o na Nicar&#225;gua por acreditar que o processo revolucion&#225;rio naquele pa&#237;s aproximava-se daquilo que ele tanto idealizou para as sociedades da Am&#233;rica Latina&#46; Por isso&#44; &#8220;Cort&#225;zar assinalou que iria quantas vezes fosse preciso &#224; Nicar&#225;gua para participar de di&#225;logos e reuni&#245;es&#44; e ajudar no que fosse poss&#237;vel no plano da cultura&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0320"><span class="elsevierStyleSup">64</span></a></p><p id="par0200" class="elsevierStylePara elsevierViewall">O tema da cultura na Nicar&#225;gua esteve presente tamb&#233;m em outro artigo publicado em <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; em 1986&#44; escrito pelo professor e cr&#237;tico chileno Pedro Bravo-Elizondo&#46; Confluindo para a ideia de Julio Cort&#225;zar&#44; Bravo-Elizondo<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0325"><span class="elsevierStyleSup">65</span></a> ressaltou que&#44; com o triunfo da revolu&#231;&#227;o&#44; artistas formaram associa&#231;&#245;es para proteger seus interesses e os do povo&#44; difundindo os novos valores sandinistas&#46; Segundo o autor chileno&#44; a Asociaci&#243;n Sandinista de Trabajadores de la Cultura&#44; criada em 1980&#44; encarregava-se de resgatar os elementos da cultura popular nicaraguense&#58; a dan&#231;a&#44; a m&#250;sica&#44; a tradi&#231;&#227;o oral&#44; a comida e os artesanatos&#46; A associa&#231;&#227;o deveria estimular a os jovens a participar de algum ramo art&#237;stico&#44; divulgando posteriormente seus trabalhos para suas comunidades de origem&#46;</p><p id="par0205" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Assim como em rela&#231;&#227;o a Cuba&#44; os editores da revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> retomaram personagens hist&#243;ricos de modo a compor as representa&#231;&#245;es sobre a Nicar&#225;gua revolucion&#225;ria&#46; Novamente&#44; um poema do comunista Pablo Neruda foi publicado postumamente na revista&#44; desta vez feito em homenagem a Augusto C&#233;sar Sandino&#44; l&#237;der da rebeli&#227;o armada contra a presen&#231;a militar dos Estados Unidos na Nicar&#225;gua&#44; entre as d&#233;cadas de 1920 e 1930&#46; Nas palavras do poeta chileno&#58;<span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0075"><p id="spar0085" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">Fue cuando en tierra nuestra</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0080"><p id="spar0090" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">se enterraron</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0085"><p id="spar0095" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">las cruces&#44; se gastaron</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0090"><p id="spar0100" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">inv&#225;lidas&#44; profesionales&#46;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0095"><p id="spar0105" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">Lleg&#243; el d&#243;lar de dientes agresivos</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0100"><p id="spar0110" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">a morder territorio&#44;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0105"><p id="spar0115" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">en la garganta pastoril de Am&#233;rica &#91;&#46;&#46;&#46;&#93;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0110"><p id="spar0120" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">Bajaron&#44; vestidos de blanco&#44;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0115"><p id="spar0125" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">Tirando d&#243;lares y tiros&#46;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0120"><p id="spar0130" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">Pero all&#237; surgi&#243; un capit&#225;n</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0125"><p id="spar0135" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">que dijo&#58; &#8220;No&#44; aqu&#237; no pones</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0130"><p id="spar0140" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">tus concesiones&#44; tu botella&#46;&#8221; &#91;&#46;&#46;&#46;&#93;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0135"><p id="spar0145" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">Sandino se quit&#243; las botas&#44;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0140"><p id="spar0150" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">se hundi&#243; en los tr&#233;mulos pantanos</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0145"><p id="spar0155" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">se terci&#243; la banda mojada</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0150"><p id="spar0160" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">de la libertad en la selva&#44;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0155"><p id="spar0165" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">y&#44; tiro a tiro&#44; respondi&#243;</p></span><span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0160"><p id="spar0170" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">a los &#8220;civilizadores&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0330"><span class="elsevierStyleSup">66</span></a></p></span></p><p id="par0210" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Percebemos neste poema&#44; intitulado <span class="elsevierStyleItalic">Sandino</span>&#44; que Pablo Neruda estabeleceu severas cr&#237;ticas &#224; pol&#237;tica imperialista dos Estados Unidos concernente aos pa&#237;ses da Am&#233;rica Latina e do Caribe&#46; O poeta glorificou a figura m&#237;tica de Sandino&#44; real&#231;ando sua condi&#231;&#227;o de s&#237;mbolo da resist&#234;ncia popular &#224; domina&#231;&#227;o norte-americana&#46; Torna-se necess&#225;rio destacar que esse poema foi publicado em <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> em 1979&#44; no quarto trimestre&#44; poucos meses ap&#243;s os acontecimentos que levaram ao poder os revolucion&#225;rios da <span class="elsevierStyleSmallCaps">fsln</span>&#46;</p><p id="par0215" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Precisamente a respeito da atua&#231;&#227;o dos Estados Unidos sobre a Nicar&#225;gua&#44; durante a d&#233;cada de 1980&#44; esteve a discuss&#227;o de Mario Benedetti&#44; publicada em forma de artigo na revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; n&#250;mero 24&#44; no quarto trimestre de 1983&#46; O intelectual uruguaio&#44; com certo grau de ironia&#44; afirmou que o porfiado ritual de morte tem tido na Nicar&#225;gua tr&#234;s oficiantes fundamentais&#44; quais sejam&#44; os terremotos&#44; a dinastia Somoza e o poderoso vizinho do norte&#44; sendo os dois &#250;ltimos mais devastadores que os abalos s&#237;smicos&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0335"><span class="elsevierStyleSup">67</span></a> Mario Benedetti se referia &#224; cruenta ditadura da oligarquia Somoza&#44; que governou a Nicar&#225;gua por mais de 40 anos&#44; destitu&#237;da do poder pela Revolu&#231;&#227;o Sandinista&#44; bem como aos Estados Unidos&#44; que apoiaram&#44; em muitos momentos&#44; os Somoza&#44; e manifestaram&#44; no in&#237;cio da d&#233;cada de 1980&#44; toda sua hostilidade e oposi&#231;&#227;o ao governo da fsln&#46; &#201; importante destacar que os Estados Unidos financiaram as for&#231;as militares contrarrevolucion&#225;rias &#40;contras&#41;&#44; provocando conflitos armados&#44; sobretudo no campo&#44; entre os defensores da revolu&#231;&#227;o e os contras&#44; conflitos esses que somente se arrefeceram em 1987&#44; por meio de acordos de paz&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0340"><span class="elsevierStyleSup">68</span></a> Mario Benedetti alertou&#44; ainda&#44; para uma poss&#237;vel invas&#227;o norte-americana na Nicar&#225;gua&#44; que n&#227;o seria a primeira&#44; implicando&#44; para o uruguaio&#44; em uma ruptura com o que ele denominou de pluralismo democr&#225;tico em curso no pa&#237;s&#46;</p><p id="par0220" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Em seu texto <span class="elsevierStyleItalic">Defensa de Nicaragua</span>&#44; com um t&#237;tulo que j&#225; evidenciava seu discurso favor&#225;vel ao pa&#237;s revolucion&#225;rio&#44; Eduardo Galeano&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0345"><span class="elsevierStyleSup">69</span></a> em um sentido pr&#243;ximo ao texto de seu compatriota Benedetti&#44; condenou o bloqueio comercial imposto aos sandinistas pelos Estados Unidos e por outros pa&#237;ses alinhados &#224; pol&#237;tica norte-americana&#44; enfatizando a crise econ&#244;mica que enfrentava a popula&#231;&#227;o nicaraguense&#44; em grande parte decorrente dessa condi&#231;&#227;o de isolamento pol&#237;tico-econ&#244;mico&#46; Galeano argumentou que a pol&#237;tica externa t&#227;o severa ao povo da Nicar&#225;gua foi feita de modo a enfraquecer os avan&#231;os na educa&#231;&#227;o&#44; na sa&#250;de e na comunica&#231;&#227;o promovidos pela revolu&#231;&#227;o&#44; embora n&#227;o isentasse totalmente o governo sandinista em rela&#231;&#227;o aos problemas enfrentados pela popula&#231;&#227;o do pa&#237;s&#46;</p><p id="par0225" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Ao referir-se aos que se opunham ao regime da fsln&#44; Eduardo Galeano defendeu que &#8220;los opositores honestos&#44; que los hay&#44; tendr&#237;an que reconocer&#44; al menos&#44; que en estos siete a&#241;os&#8221;&#44; desde a implanta&#231;&#227;o do governo revolucion&#225;rio&#44; &#8220;la revoluci&#243;n sandinista ha hecho lo posible y lo imposible por echar las bases de justicia y soberan&#237;a necesarias para que la democracia no sea un castillo en el aire&#8221;&#44; uma formalidade imposta em que reina a hipocrisia e na qual o povo nada tem e nada decide&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0350"><span class="elsevierStyleSup">70</span></a> Ele clamou para que pa&#237;ses&#44; especialmente os latino-americanos&#44; prestassem &#8220;ayudas que ampl&#237;en los espacios de libertad de esta joven revoluci&#243;n acosada&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0355"><span class="elsevierStyleSup">71</span></a></p><p id="par0230" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Por fim&#44; o historiador comunista Vladimir Eichin&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0360"><span class="elsevierStyleSup">72</span></a> na <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria</span> n&#250;mero 34&#44; afirmou que a realiza&#231;&#227;o da perspectiva hist&#243;rica da Revolu&#231;&#227;o Sandinista&#44; que n&#227;o poderia ser outra a n&#227;o ser a constru&#231;&#227;o de um novo regime social&#44; pressupunha a luta permanente frente &#224;s contrarrevolu&#231;&#245;es interna e externa&#46; Para ele&#44; o movimento revolucion&#225;rio de 1979 na Nicar&#225;gua significou a destrui&#231;&#227;o das estruturas de domina&#231;&#227;o sobre a Am&#233;rica Central e sobre o Caribe edificadas por d&#233;cadas pelos Estados Unidos&#44; inspirando as lutas dos revolucion&#225;rios anti-imperialistas e dos que buscavam a democratiza&#231;&#227;o do Cone Sul&#44; &#224;s voltas com as ditaduras militares&#46;</p><p id="par0235" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Percebemos&#44; ent&#227;o&#44; tentando tra&#231;ar uma linha que amarre as discuss&#245;es dos intelectuais mencionados&#44; que as revolu&#231;&#245;es cubana e sandinista foram representadas positivamente na revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; atrav&#233;s de argumentos relacionados ao desenvolvimento e &#224; populariza&#231;&#227;o da cultura ap&#243;s a ascens&#227;o dos governos revolucion&#225;rios&#59; &#224;s possibilidades de amplia&#231;&#227;o da democracia e da justi&#231;a social&#44; com a abertura de canais pol&#237;ticos e culturais que possibilitaram maior participa&#231;&#227;o das sociedades cubana e nicaraguense&#59; e&#44; por fim&#44; tais argumentos apresentaram os respectivos processos revolucion&#225;rios em Cuba e na Nicar&#225;gua como modelos para demais pa&#237;ses latino-americanos na luta por maior autonomia pol&#237;tica e econ&#244;mica frente aos Estados Unidos e aos governos autorit&#225;rios&#44; sobretudo as ditaduras militares do Cone Sul&#44; dado o contexto hist&#243;rico de circula&#231;&#227;o da revista e a presen&#231;a de seus colaboradores no ex&#237;lio&#46; <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria</span> veiculou&#44; ainda&#44; textos sobre aqueles que posteriormente foram retomados simbolicamente pelos revolucion&#225;rios como os precursores da luta anti-imperialista e pela liberta&#231;&#227;o nacional&#58; Jos&#233; Mart&#237;&#44; no caso de Cuba&#44; e Augusto C&#233;sar Sandino&#44; para os nicaraguenses&#46;</p><p id="par0240" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Essas representa&#231;&#245;es mostraram-se de acordo com o editorialismo program&#225;tico de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; revista que&#44; como mencionamos em mais de uma oportunidade&#44; esteve vinculada&#44; inclusive financeiramente&#44; ao Partido Comunista de Chile&#44; veiculando&#44; por conseguinte&#44; culturas pol&#237;ticas de esquerda em suas p&#225;ginas&#44; especialmente a comunista&#46; Ademais&#44; as discuss&#245;es acerca da cultura em Cuba e na Nicar&#225;gua ap&#243;s as respectivas revolu&#231;&#245;es&#44; assim como os debates que enalteciam a ruptura com os governos Batista e Somoza Debayle&#44; respectivamente&#44; ambos ditadores que n&#227;o atendiam aos interesses da popula&#231;&#227;o local&#44; foram oportunas&#44; se pensarmos no pr&#243;prio contexto de autoritarismo pol&#237;tico no Chile&#44; bem como no &#8220;apag&#227;o cultural&#8221; vivido pelo pa&#237;s&#44; em fun&#231;&#227;o do decl&#237;nio das atividades culturais chilenas sob o governo de Augusto Pinochet&#46; As evidentes manifesta&#231;&#245;es anti-imperialistas nos textos publicados em <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> revelaram a oposi&#231;&#227;o&#44; por parte da revista&#44; aos Estados Unidos&#44; pa&#237;s aliado das ditaduras instauradas no Cone Sul durante as d&#233;cadas de 1960&#44; 1970 e 1980&#44; sobretudo a ditadura chilena&#46;</p><p id="par0245" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Interpretamos que as publica&#231;&#245;es&#44; em <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria</span>&#44; referentes &#224;s revolu&#231;&#245;es em Cuba e na Nicar&#225;gua&#44; dois pa&#237;ses que optaram pela luta armada na estrat&#233;gia revolucion&#225;ria adotada&#44; mantiveram estreita liga&#231;&#227;o com a pol&#237;tica seguida pela dire&#231;&#227;o do pcch &#224; &#233;poca&#44; a Pol&#237;tica de la Rebeli&#243;n Popular de Masas &#40;<span class="elsevierStyleSmallCaps">prpm</span>&#41;<span class="elsevierStyleItalic">&#46;</span> Ap&#243;s intensos debates entre a c&#250;pula do <span class="elsevierStyleSmallCaps">pcch</span>&#44; a fac&#231;&#227;o externa&#44; representada por os membros da dire&#231;&#227;o do partido que viviam no ex&#237;lio&#44; dentre eles o Secret&#225;rio-geral da legenda&#44; Luis Corval&#225;n&#44; e o diretor de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; Volodia Teitelboim&#44; e a interna&#44; que compreendia aqueles que viviam clandestinamente no Chile&#44; optou-se por adotar&#44; n&#227;o obstante a resist&#234;ncia inicial dos que viviam no ex&#237;lio&#44; a luta armada no enfrentamento ao regime de Augusto Pinochet&#46; Quem melhor esclarece os debates internos ao partido comunista chileno e seu consenso pela luta armada &#233; Rolando &#193;lvarez Vallejos&#44; segundo o qual&#58;<span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0165"><p id="spar0175" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">Desde el punto de vista del debate interno&#44; en 1982 aparentemente amain&#243; la tormenta provocada por las diferencias entre interior y el exterior&#46; &#91;&#46;&#46;&#46;&#93; Por ello&#44; es posible afirmar que 1982 fue el a&#241;o de la instalaci&#243;n de la nueva pol&#237;tica comunista&#44; llamada de &#8220;Rebeli&#243;n Popular de Masas&#8221; desde fines de 1981&#46; Es decir&#44; la prpm era un elemento estrat&#233;gico&#44; que contiene tambi&#233;n elementos t&#225;ticos&#44; pol&#237;ticos y pol&#237;tico-militares&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0365"><span class="elsevierStyleSup">73</span></a></p></span></p><p id="par0250" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Vallejos<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0370"><span class="elsevierStyleSup">74</span></a> afirma que esse &#8220;radicalismo de masas&#8221;&#44; a partir do qual o pcch buscou reunir toda a milit&#226;ncia comunista&#44; viveu seu apogeu entre os anos de 1983 e 1986&#44; durante o per&#237;odo conhecido no Chile como <span class="elsevierStyleItalic">Protestas Nacionales</span>&#44; ciclo de mobiliza&#231;&#245;es sociais contra a ditadura pinochetista&#44; estendendo-se at&#233; o plebiscito de 1988&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0375"><span class="elsevierStyleSup">75</span></a> A Frente Patri&#243;tico Manuel Rodr&#237;guez &#40;<span class="elsevierStyleSmallCaps">fpmr</span>&#41; foi criada para coadunar e organizar todo o aparato armado do <span class="elsevierStyleSmallCaps">pcch</span>&#44; a fim de se consumar a oposi&#231;&#227;o insurrecional do partido ante &#224; ditadura&#46;</p><p id="par0255" class="elsevierStylePara elsevierViewall">De acordo com Luis Corval&#225;n&#44; Secret&#225;rio-geral do pcch &#224; &#233;poca&#44; os protestos no Chile contra o regime militar pinochetista &#8220;confirmaron la certeza de la pol&#237;tica propiciada por el Partido Comunista en el sentido de combatir a la dictadura por todos los medios&#44; tomando el camino de la rebeli&#243;n&#8221;&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0380"><span class="elsevierStyleSup">76</span></a> O dirigente comunista prossegue&#44; afirmando que<span class="elsevierStyleDisplayedQuote" id="dsq0170"><p id="spar0180" class="elsevierStyleSimplePara elsevierViewall">Aproximadamente dos mil j&#243;venes chilenos &#91;&#46;&#46;&#46;&#93; eligieron el camino de las armas para enfrentar la dictadura y se integraron o incorporaron al Frente Patri&#243;tico Manuel Rodr&#237;guez&#46; &#91;&#46;&#46;&#46;&#93; Estos valientes muchachos dedicaron sus sue&#241;os de libertad y sus vidas a la lucha militar y paramilitar contra la tiran&#237;a creyendo firmemente que era el m&#225;s efectivo o el &#250;nico modo de combatirla&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0385"><span class="elsevierStyleSup">77</span></a></p></span></p><p id="par0260" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Assim&#44; pensamos que os discursos&#44; analisados neste artigo&#44; constru&#237;dos pelos intelectuais colaboradores de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> e difundidos pela revista&#44; ao ressaltarem duas vitoriosas revolu&#231;&#245;es armadas latino-americanas&#44; exatamente no per&#237;odo de vig&#234;ncia da prpm&#44; dialogaram&#44; de alguma maneira&#44; com a nova posi&#231;&#227;o tomada pelo pcch em rela&#231;&#227;o &#224; oposi&#231;&#227;o ao governo do general Pinochet&#46; Apesar de a revista n&#227;o ter sido um peri&#243;dico oficial do partido comunista chileno&#44; n&#227;o tendo acompanhado&#44; nesse sentido&#44; toda sua evolu&#231;&#227;o ideol&#243;gica e suas tomadas de posi&#231;&#227;o &#8211;acreditamos&#44; inclusive&#44; que em muitos momentos&#44; pela gama variada de intelectuais que nela escreveram&#44; que <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria</span> tenha seguido uma perspectiva pol&#237;tica de esquerda mais heterog&#234;nea&#8211;&#44; pelo menos no que tange ao recorte tem&#225;tico estabelecido para este trabalho&#44; as linhas pol&#237;ticas de intelectuais colaboradores e partido entrecruzaram-se&#46;</p><p id="par0265" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Conclu&#237;mos&#44; dessa maneira&#44; para usar express&#245;es propostas por Regina Crespo&#44;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0390"><span class="elsevierStyleSup">78</span></a> que a <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> foi&#44; a um s&#243; tempo&#44; uma re-vista &#8220;baluarte cultural&#8221;&#44; j&#225; que publicou trabalhos liter&#225;rios e art&#237;sticos diversos&#44; e&#44; em dados momentos&#44; porta-voz de um projeto coletivo de determinado partido&#44; o pcch&#44; ainda que de uma maneira n&#227;o sistem&#225;tica e oficiosa&#46;</p><p id="par0270" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Torna-se importante que fa&#231;amos uma ressalva no sentido de perceber que <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> foi uma revista produzida sob a condi&#231;&#227;o do ex&#237;lio&#44; durante a ditadura pinochetista&#44; e que&#44; portanto&#44; embora tenha divulgado&#44; ainda que indiretamente&#44; projetos pol&#237;ticos dentro das esquerdas&#44; sobretudo de acordo com a cultura pol&#237;tica comunista&#44; posicionou-se&#44; fundamentalmente e anterior a qualquer defesa de um projeto espec&#237;fico&#44; como um impresso importante de resist&#234;ncia pol&#237;tica&#46; Categoricamente&#44; podemos afirmar que o que uniu todos os intelectuais colaboradores de <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> n&#227;o foram as diretrizes pol&#237;ticas do pcch &#8211;visto que talvez a minoria se identificasse integralmente com elas&#8211;&#44; mas&#44; sim&#44; o ex&#237;lio e o interesse no restabelecimento da democracia no Chile e&#44; por extens&#227;o&#44; nos demais pa&#237;ses do Cone Sul submetidos &#224;s ditaduras militares&#46;</p><p id="par0275" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Feita a ressalva&#44; acreditamos&#44; por fim&#44; que&#44; do ponto de vista do pensamento pol&#237;tico dos intelectuais que publicaram em <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span> e que foram aqui analisados&#44; em conson&#226;ncia com o pensamento do pcch&#44; as experi&#234;ncias revolucion&#225;rias cubana e sandinista tenham servido de modelo recente e pr&#243;ximo &#8211;na perspectiva temporal e das condi&#231;&#245;es pol&#237;ticas&#44; guardados os respectivos contextos&#8211; para os pa&#237;ses latino-americanos que viviam sob governos militares autorit&#225;rios&#44; como o Chile de Pinochet&#46; Modelo&#44; aqui&#44; no sentido de ser poss&#237;vel a mobiliza&#231;&#227;o popular e a realiza&#231;&#227;o de transforma&#231;&#245;es sociais e pol&#237;ticas de modo a alcan&#231;ar maior justi&#231;a social e&#44; fundamentalmente&#44; a democracia&#46;</p><p id="par0280" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Em <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; o posicionamento favor&#225;vel aos movimentos revolucion&#225;rios de esquerda&#44; bem como a oposi&#231;&#227;o &#224;s ditaduras militares por parte de colaboradores como Julio Cort&#225;zar&#44; Mario Benedetti e Eduardo Galeano&#44; por exemplo&#44; certamente se inseriu em um contexto de Guerra Fria e de forte engajamento dos intelectuais latino-americanos&#44; impulsionando-os para a cena p&#250;blica&#44; de modo que a interven&#231;&#227;o nos assuntos pol&#237;ticos tornou-se praticamente inevit&#225;vel&#46;</p><p id="par0285" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Para o caso espec&#237;fico dos chilenos&#44; como apontou Rolando &#193;lvarez Vallejos&#44; a Nicar&#225;gua dos sandinistas consistiu em um efetivo exemplo para os comunistas no que diz respeito &#224; possibilidade e esperan&#231;a de ades&#227;o espont&#226;nea de jovens militantes no movimento de radicaliza&#231;&#227;o pol&#237;tica contra Pinochet&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0395"><span class="elsevierStyleSup">79</span></a> Podemos lembrar tamb&#233;m&#44; ainda de acordo com Vallejos&#44; que muitos militantes comunistas chilenos tiveram forma&#231;&#227;o militar em Cuba&#44; atuando muitos deles&#44; posteriormente&#44; no processo revolucion&#225;rio nicaraguense&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0400"><span class="elsevierStyleSup">80</span></a> Com base nessas informa&#231;&#245;es&#44; &#233; poss&#237;vel afirmar que as experi&#234;ncias revolucion&#225;rias cubana e sandinista serviram&#44; de fato&#44; de inspira&#231;&#227;o para as teses militaristas desenvolvidas no interior do pcch&#44; corroborando nossa hip&#243;tese de que a veicula&#231;&#227;o&#44; sobretudo ao longo da d&#233;cada de 1980&#44; de representa&#231;&#245;es positivas acerca das revolu&#231;&#245;es armadas em Cuba e na Nicar&#225;gua&#44; pela revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; n&#227;o se consumou por mera casualidade&#44; dialogando diretamente com a postura combativa insurrecional do partido que a financiava e do qual eram integrantes influentes seu diretor e seu principal editor&#44; respectivamente&#44; Volodia Teitelboim e Carlos Orellana&#46;</p><p id="par0290" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Assim&#44; como forma de ep&#237;logo que ligue essa ideia central defendida por n&#243;s&#44; citamos o editorial de lan&#231;amento da revista <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria de Chile</span>&#44; que&#44; em 1978&#44; afirmava&#58;</p><p id="par0295" class="elsevierStylePara elsevierViewall">Bien se sabe que Chile no es una isla ni su tragedia combate un accidente ni un caso de excepci&#243;n en Am&#233;rica Latina&#46; Su situaci&#243;n se conecta a los planes del imperio e integra el contexto de un continente donde grandes manchones ilustran el drama com&#250;n de sus pueblos y sus intelectuales&#46; <span class="elsevierStyleItalic">Araucaria</span>&#44; siendo criatura de Chile&#44; forma parte del paisaje andino y de la ecolog&#237;a continental&#46; Mantendr&#225; abierta su puerta para recibir&#44; como a un hermano&#44; el pensamiento revolucionario creador de Am&#233;rica Latina&#46;<a class="elsevierStyleCrossRef" href="#fn0405"><span class="elsevierStyleSup">81</span></a></p></span></span>"
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Información del artículo

ISSN: 16658574
Idioma original: Español

DOI:10.1016/j.larev.2015.12.007

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