Este artigo11 Este artigo é produto dos resultados parciais do meu projeto de pesquisa, intitulado, até o momento, “Exílio, intelectuais e política nas revistas Literatura Chilena en el Exilio/Literatura Chilena, Creación y Crítica e Araucaria de Chile (1977-1989)”.
This article main goal is to analyse the representations of the Cuban and Sandinista revolutions on the exilic magazine Araucaria de Chile, during its publication period, from 1978 to 1990. The magazine was created by Chilean intellectuals exiled during Augusto Pinochet's dictatorship, most of them associated to the Communist Party of Chile. The Araucaria de Chile magazine reserved a considerable space to political analysis of both Latin-American revolution, giving them a positive tone and having them as a model for an attempt to revert the dictatorial order in Chile.Palavras-Chave: Araucaria de Chile, Ditadura Chilena, Exílio intelectual, Revolução cubana, Revolução sandinista.
Ogolpe militar do dia 11 de setembro de 1973, no Chile, destituiu do poder o então presidente Salvador Allende, eleito em 1970 pela Unidad Popular (up), coalizão política composta por partidos de esquerda que propunham a “via chilena para o socialismo”.2 De acordo com Priscila Carlos Brandão Antunes, o poder executivo, paulatinamente, concentrou-se em Augusto Pinochet, a ponto deste, até o final do regime militar, personificar um dos governos mais autoritários da América Latina nesse contexto.3
Assim como Priscila Antunes, Fabiana de Souza Fredrigo4 e Pablo Policzer5 indicam o gradativo aumento do controle estatal sobre a população chilena por meio, inicialmente, do fechamento do Congresso Nacional; de decretos-leis que aumentaram o poder político do executivo, proibindo todas as atividades políticas e sancionando a ilegalidade dos partidos; e da criação da Dirección de Inteligencia Nacional (dIna) que, em nome da segurança nacional, concentrou as medidas repressivas contra os opositores do governo. Os militares buscavam definir a situação do Chile como uma guerra aos inimigos internos –os marxistas e os adeptos da política de Salvador Allende– prolongando por tempo indefinido esse suposto “estado de emergência e crise”, convertendo um governo militar em um regime ditatorial.6 À medida que a repressão avançava, crescia vertiginosamente o número de mortos, desaparecidos, torturados e exilados.
Na perspectiva de Loretto Rebolledo González, “jamás en la historia de Chile se había registrado una salida forzada de chilenos tan masiva en tan corto plazo y hacia lugares tan diversos como la iniciada a partir de septiembre de 1973”.7 O massivo exílio chileno, predominante entre os anos de 1973 e 1978, resultou, em grande medida, da repressão política da Junta Militar aos militantes e políticos dos partidos da esquerda chilena, sobretudo aqueles que integraram a up e o governo de Salvador Allende. Ademais, o exílio chileno foi marcado por uma grande quantidade de intelectuais, artistas, profissionais e estudantes universitários, aos quais se agregaram, em menor proporção, operários, campesinos e técnicos.8 No que tange aos intelectuais exilados, não podemos deixar de mencionar sua conduta de oposição e resistência política à ditadura pinochetista ao produzirem nessas circunstâncias. Nesse sentido, em estreita relação com todo esse contexto, destacamos a criação de Araucaria de Chile, concebida como espaço de sociabilidade intelectual, de reflexão e de debate a respeito da cultura e da política chilena e latino-americana.9
Araucaria de Chile foi uma revista cultural e política, de clara oposição ao regime militar de Augusto Pinochet, criada em 1977, em Roma, por intelectuais chilenos no exílio.10 A revista, de circulação trimestral e que tinha como sede inicial a cidade de Paris,11 foi lançada oficialmente no primeiro trimestre de 1978. Fundada e dirigida por intelectuais ligados ao Partido Comunista de Chile (pcch), como Volodia Teitelboim, diretor de Araucaria durante seus doze anos de publicação, e Carlos Orellana, secretário de redação da revista,12Araucaria de Chile veiculou e difundiu em seus textos culturas políticas de esquerda, principalmente a comunista, embora não fosse, oficialmente, porta-voz do pcch e recebesse a colaboração de intelectuais de distintas tendências políticas.
Araucaria teve, no total, 48 números, publicados, sem interrupção, a cada três meses, durante doze anos (1978-1990), constituindo, como aponta Carlos Orellana no Índice General da revista, um exemplar representativo da produção cultural dos intelectuais exilados. Cada edição, em formato de livro (13.5cm de largura por 21cm de altura), possuiu cerca de 220 páginas, impressas em papel simples, sendo apenas as capas coloridas, que, em geral, eram elaboradas a partir dos trabalhos de artistas plásticos chilenos, com destaque para as criações de Roberto Matta.13
O Comitê de Redação de Araucaria de Chile, que o integrou permanentemente até sua última publicação em 1990, foi composto pelos seguintes intelectuais chilenos: Luis Bocaz, professor, crítico e ensaísta; Osvaldo Fernández, professor de filosofia; e o jornalista Luis Alberto Mansilla. O economista Alberto Martínez incorporou-se ao Comitê Central de Redação a partir do número 8 de Araucaria de Chile.14 Ao comentar sobre os membros principais da redação da revista Araucaria, Carlos Orellana15 fez questão de lembrar, ainda, o nome da professora, crítica literária e ensaísta Soledad Bianchi, que em “cuatro años de colaboración fue pieza valiosa en el establecimiento de fructíferos nexos con un amplio abanico de jóvenes escritores, prosistas y poetas, tanto del exilio como del interior [Chile]”.16
Orellana, ao referir-se ao corpo editorial da revista, afirmou que el diálogo y la discusión constante y apasionada en el interior de ese grupo nos permitían sentir que habíamos encontrado por fin aquello que tanto y tan fervorosamente anhelábamos desde hacía largo tiempo, años antes de que triunfara la Unidad Popular: el funcionamiento en el campo de la preocupación cultural de una inteligencia colectiva afincada en una visión marxista del mundo, capaz de reunir cualidades que nos parecían esenciales para legitimar una voluntad de ideologia.17
Essa citação evidencia a existência efetiva de uma rede de sociabilidade intelectual18 ligada a culturas políticas de esquerda, rede esta que poderia se fazer ainda maior, já que Araucaria de Chile veiculou textos de inúmeros colaboradores, dentre os quais renomados escritores chilenos e latino-americanos, como Ariel Dorfman, Antonio Skármeta, Bernardo Subercaseaux, Fernando Alegría, Mario Benedetti, Julio Cortázar, Gabriel García Márquez e Eduardo Galeano.
O editorial de lançamento da revista afirmou que o nome Araucaria de Chile foi uma referência a ícones da identidade chilena, como a árvore típica da paisagem do país e os povos araucanos.19 Embora a maioria dos assuntos ressaltassem, de fato, marcas da história do Chile e enfatizassem, sobretudo, problemáticas do país durante a ditadura pinochetista, a re-vista, até em razão da diversidade de colaboradores mencionados, abordou vários temas relativos aos demais países da América Latina. Dentre os assuntos recorrentes em Araucaria de Chile estiveram as experiências revolucionárias em Cuba, em 1959, e na Nicarágua, em 1979.
Podemos afirmar, com base em estudos sobre o assunto,20 que a revolução em Cuba no final da década de 1950 foi resultado de uma insatisfação popular com o longo processo de dependência político-econômica do país em relação aos Estados Unidos, desde a ruptura com os laços coloniais com a Espanha em 1898. Com a ascensão de Fulgencio Batista ao comando do Estado cubano, por meio de um golpe, em 1952, e a ditadura instituída desde então, apoiada pelo governo norte-americano, agravou-se uma situação de ausência de liberdade política, de democracia efetiva e de condições dignas de existência para a maioria da população. Sucederamse, então, tentativas políticas de caráter insurrecional contra o regime de Batista, como o assalto ao quartel Moncada, em Santiago de Cuba, no ano de 1953, e a organização de atividades guerrilheiras em Sierra Maestra, a partir de 1956, até culminar na tomada do poder pelos revolucionários, em janeiro de 1959. Principal opositor de Fulgencio Batista durante todo esse processo e líder da Revolução Cubana, Fidel Castro contou com o apoio de distintos segmentos sociais urbanos e rurais, sobretudo destes últimos, todos insatisfeitos com as condições de atraso econômico e com o autoritarismo governamental amparado por forças imperialistas norte-americanas. Para unir amplos setores da sociedade, “o centro de gravidade da revolução ficava, inicialmente, na libertação nacional”.21 Posteriormente, na tentativa de consolidar as premissas da revolução, a concepção de nação arrastou consigo a edificação de uma ordem social inteiramente nova, a socialista.
Fernando Martínez Heredia, em sua perspectiva de periodização da Revolução Cubana marcada pela longa duração, que demarca as origens do pensamento social que a levaram a cabo e que trasfere suas consequências para as décadas mais recentes, aponta que, não obstante os êxitos iniciais do processo revolucionário no que tange à conscientização e maior envolvimento político e cultural da sociedade cubana, a partir de 1970, em uma segunda fase, “el pensamiento social sufrió una sujeción a cambios que provocaron la detención de su desarrollo, y un gran empobrecimiento y dogmatización”.22 Isso teria sido resultado do endurecimento do controle do Estado em relação à sociedade, na tentativa de manutenção dos preceitos da revolução diante de um cenário de crescimento das críticas ao comando central repressivo do governo, cada vez mais vinculado às diretrizes políticas e econômicas dos soviéticos. Contudo, como veremos, por questões de proximidade ideológica, os colaboradores de Araucaria de Chile ressaltaram positivamente, sem qualquer tipo de crítica, o processo revolucionário em Cuba, de suas origens até a década de 1980.
Por sua vez, na Nicarágua, a Revolução Sandinista de 1979 foi resultado de um acúmulo de forças sociais heterogêneas –camponeses, operários, pobres e marginalizados da cidade e do campo, intelectuais e setores progressistas da burguesia– em torno de um objetivo comum: liquidar o governo da família Somoza no país, abrindo caminho para a emancipação da sociedade nicaraguense em face da oligarquia local e do imperialismo dos Estados Unidos.23 De caráter popular e anti-imperialista, o movimento de oposição ao governo de Anastasio Somoza Debayle foi canalizado pelo grupo politicamente mais organizado, a Frente Sandinista de Liberación Nacional (fsln), no sentido de dotá-lo de uma perspectiva revolucionária, o que culminou com a revolução de 1979 e encerrou décadas de ditadura somozista na Nicarágua. Esse movimento revolucionário se inspirou em Augusto César Sandino, líder guerrilheiro que lutou, nos anos 1920 e 1930, contra a ocupação norte-americana no país.24 Assim como em Cuba, os termos do socialismo na Nicarágua foram adotados no transcorrer da “rota de desenvolvimento da questão nacional nicaraguense”.25 Em comum com as estratégias revolucionárias postas em prática em Cuba esteve, também, na Nicarágua, a opção pela luta armada.26
Como destacou Matilde Zimmermann, “tanto a Revolução Cubana de 1959 como a Revolução Sandinista de 1979 tiveram um impacto eletrizante, que repercutiu muito além de suas fronteiras”, levando à proliferação de movimentos socialistas e nacionalistas, muitos deles armados, em pontos diversos da América Latina, durante as décadas de 1960, 1970 e 1980.27
Essas duas experiências revolucionárias foram analisadas por alguns colaboradores da revista Araucaria de Chile, dentre eles os já renomados escritores Julio Cortázar, Mario Benedetti, Eduardo Galeano e o diretor do impresso, Volodia Teitelboim. Em função da recorrência desses assuntos, propomos, neste artigo, uma discussão baseada nas representações referentes aos respectivos movimentos revolucionários em Cuba e na Nicarágua pelos intelectuais colaboradores da revista Araucaria de Chile. Buscaremos vincular tais debates políticos à condição de exílio intelectual e ao contexto ditatorial vivido pelo Chile nas décadas de 1970 e 1980, bem como ao editorialismo programático da revista, próximo aos preceitos do pcch. 28
Perspectivas teórico-metodológicasTorna-se premente, a priori, trabalharmos com conceitos significativos para o estudo em questão, quais sejam, o de cultura política, representação, intelectuais e exílio. Assim, por cultura política, entendemos, com base em Rodrigo Patto Sá Motta,29 um conjunto de valores, tradições, práticas e representações políticas compartilhado por determinado grupo, expressando, dessa forma, identidades coletivas, fornecendo leituras e modos de ver comuns do passado, bem como para projetos futuros, determinando as motivações do ato político. Os valores da cultura política comunista foram mobilizados por Araucaria de Chile, dentre os quais fizeram parte as representações favoráveis às revoluções na América Latina e do Caribe, como a cubana e a sandinista, e o forte teor anti-imperialista dos textos publicados na revista.
Importante para o entendimento de uma cultura política e essencial para o artigo em questão, o conceito de representação é compreendido como “um conjunto que inclui ideologia, linguagem, memória, imaginário e iconografia, mobiliz[ando], portanto, mitos, símbolos, discursos, vocabulários e uma rica cultura visual”.30 A acepção de Helenice Rodrigues da Silva31 torna-se útil para complementar o conceito utilizado por Rodrigo Patto Sá Motta e apreendido por nós. Para a autora, “a representação de um objeto corresponde, então, a um conjunto de informações, de opiniões e de crenças referentes a esse objeto”, constituindo modos específicos de conhecimento do real e permitindo, aos indivíduos, agir e comunicar mediante essa forma subjetiva de ver o mundo.32
Devemos destacar também o que entendemos por Intelectuais, ten-do como suporte para a construção do conceito os autores Carlos Altamirano33 e Jean-François Sirinelli.34 O termo intelectual, de acordo com Sirinelli, traz em si duas acepções de natureza sociocultural, sendo uma mais ampla, marcada pela noção de “mediador” cultural, abrangendo escritores, jornalistas, professores secundários, eruditos etc., e outra mais restrita, amparada na noção de engajamento na vida social.35 Na acepção de Carlos Altamirano,36 os intelectuais são atores do debate público, que transmitem publicamente seu pensamento, podendo atingir desde círculos restritos de letrados até setores mais amplos da sociedade. No entender dos dois auto-res, a condição de intelectual necessita do reconhecimento e legitimidade adquiridos junto a seus pares e à sociedade em geral.37
Acreditamos, assim, que os intelectuais colaboradores da revista Araucaria de Chile foram mediadores culturais, produtores e transmissores de ideias engajados na vida social da América Latina, detentores de posicionamento político, participantes do debate público com capacidade interpretativa da realidade na qual estavam inseridos.
Todos os intelectuais que publicaram na revista, em alguma medida, foram tocados pelo contexto das ditaduras militares no Cone Sul e pela condição exílica. Assim, no que se refere ao exílio, a partir da concepção de Ángel Rama,38 concebemo-lo como uma condição que submete àqueles que a sofrem a processos de transculturação, a experiências sociais violentas e a rudes mutações em razão da obrigatoriedade de viver em ambientes culturais e de sociabilidade distintos do seu ambiente de origem. Comungamos também da perspectiva de exílio presente em Edward Said, para quem a dificuldade do exilado não consiste somente em ser forçado a viver longe do seu país, mas, sobretudo, em ter de viver com a lembrança de que se encontra no exílio, situando-se em um estado intermediário no qual não está integrado ao novo ambiente social nem totalmente liberto do seu lugar de origem.39 Concebemos, portanto, a experiência do exílio como vivências de padecimento tanto individuais quanto coletivas, o que, por conseguinte, interfere nas produções intelectuais forjadas sob essa condição.
Marcada por esses fatores gerados pelo exílio e criada como reação a eles, compreendemos a revista Araucaria de Chile a partir de três características essenciais: como bem cultural de resistência política; como espaço de socialização de intelectuais que visavam diminuir a sensação de isolamento e solidão provocada pelo exílio; e, por fim, como um meio para a veiculação de ideias e debates acerca de assuntos políticos e culturais distintos. Araucaria de Chile atuou no sentido de organizar-se enquanto oposição política à ditadura de Augusto Pinochet, mas serviu também como meio de expressão das artes visuais e da literatura chilenas, bem como discorreu sobre assuntos políticos diversos.
Constituindo fonte/objeto privilegiado para o estudo da História Intelectual, as revistas são comumente dirigidas por um coletivo, e “informan sobre las costumbres intelectuales de un período, sobre las relaciones de fuerza, poder y prestígio en el campo de la cultura”.40 Nessa perspectiva, Regina Crespo41 afirma que as revistas são tradicionalmente o resultado de um projeto coletivo, representando, assim, o ponto de vista de um grupo de intelectuais, sua intervenção ideológica na arena político-cultural. Para Jean-François Sirinelli, elas tornaram-se lugares preciosos para a análise do movimento das ideias, assim como podemos concebê-las como espaços de sociabilidade intelectual.42 As revistas estimularam a construção de redes de sociabilidade na medida em que materializaram em papel os pensamentos de grupos intelectuais e artistas com propostas culturais e políticas comuns.43
Segundo Eduardo Devés-Valdés,44 a real constituição de uma rede de sociabilidade intelectual demanda frequência e densidade em relação à comunicação de seus membros. Entre as formas de contato, comunicação e estreitamento dos laços intelectuais estão as revistas, fundamentais para a compreensão da vida intelectual de um dado período. No entanto, embora as redes de sociabilidade remetam à associação de intelectuais por cumplicidade e afinidade de ideias, elas não excluem a pluralidade de pensamentos dentro dos grupos. Tampouco eliminam as “batalhas internas e externas, tanto políticas quanto culturais”.45 No que diz respeito à revista Araucaria de Chile, podemos afirmar que os laços de sociabilidade entre os intelectuais que nela escreveram foram reforçados em eventos organizados para comemorar seu aniversário, por exemplo. Saraus, conferências e atos foram realizados, contando com a presença de membros do comitê editorial, colaboradores e leitores.46
Tentativas de encontros frequentes, os debates e as polêmicas contribuem para a consolidação efetiva de um projeto coletivo em torno dos objetivos editoriais e políticos de uma revista. No caso de Araucaria de Chile, no que concerne às representações sobre as revoluções cubana e sandinista, é possível assinalar que tais perspectivas mostraram-se em perfeita conexão. Passemos, então, às análises dessas representações.
Araucaria de Chile e as representações intelectuais sobre Cuba e Nicarágua revolucionáriasEm seu editorial de lançamento, Araucaria de Chile destacou sua missão de colocar-se enquanto um bem cultural de resistência e oposição à ditadura “fascista” de Augusto Pinochet no Chile: “Creemos que hace tiempo –y con impaciencia– se esperaba por muchos chilenos una publicación como la que hoy comienza. La iniciativa corresponde a gente de una clara y permanente línea antifascista”.47 Entendemos que, não obstante possuísse esse intento maior de contribuir para o fim da ditadura militar no Chile, a revista, ao dar uma especial atenção às revoluções em Cuba e na Nicarágua, não só evidenciava seu pertencimento à cultura política comunista, como tinha nos dois distintos processos revolucionários exemplos claros de mudanças políticas e mesmo estruturais possíveis para o Chile sob o autoritarismo pinochetista, não descartando, para isso, a necessidade, quiçá, de um movimento armado.
As revoluções cubana e sandinista foram dois dos assuntos mais discutidos na revista, com clara posição favorável aos revolucionários, em oposição às ditaduras anteriores de Fulgencio Batista, em Cuba, e dos Somoza, na Nicarágua. Tal posicionamento político não poderia ter sido outro, em virtude do editorialismo programático da revista Araucaria de Chile ser explicitamente ligado a culturas políticas de esquerda, como já afirmamos, em especial a comunista.
Em seu número 25, publicada no primeiro trimestre de 1984, a revista Araucaria de Chile dedicou especial atenção aos 25 anos da Revolução Cubana. Da página 83 a 170, entre artigos, ensaios, poesias e entrevista, todas possuíram como temática a experiência revolucionária em Cuba no final da década de 1950, abarcando precisamente os anos de 1958 e 1959, quando o movimento guerrilheiro, liderado por Fidel Castro, ganhou a adesão popular e chegou ao poder. Os desdobramentos e a afirmação do governo revolucionário nos anos posteriores a 1959 foram também acompanhados pela revista nessa edição especial, bem como em outras edições de Araucaria.
O tom apologético aos feitos da Revolução Cubana, presente em todos os discursos dessa série especial, iniciou-se no texto de abertura de Carlos Orellana,48 ao mencionar que a revolução tem dado ao povo cubano uma força tal, que quase seria possível “palparla, o respirarla como una presencia similar al olor incomparable de su tierra caliente”. Após suas primeiras palavras em um sentido poético e metafórico, comparando a presença dos benefícios decorrentes da revolução ao clima quente, intenso e acalorado da ilha, Orellana enfatizou que era possível perceber de imediato, ao chegar a Cuba, os conhecidos avanços na saúde e na educação e o espírito forte de sua gente, seu esplendor interno e uma moral civil grandiosa que se esperava ser herdada como bem inaugural do século xxi. Fidel Castro foi logo mencionado por Carlos Orellana, ao afirmar que “su gente es su líder, desde luego, el conductor y consejero de su pueblo, cuyos signos de sabiduría aparecen por todas partes sin que haya que recurrir al mármol o a las efigies innumerables”.49
A imagem do líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, foi notável no repertório de representações dos intelectuais colaboradores de Araucaria de Chile a respeito da ilha. O escritor e diretor da revista, Volodia Teitelboim, expressou-se da seguinte maneira sobre a revolução e seu líder: Veinticinco años es el periodo que distancia el primero del segundo acto de esta gran pieza del mundo que simboliza la Revolución Cubana. El personaje individual se mantiene. Es Fidel. Las primeras canas pintan el paso de los años. El personaje colectivo es el pueblo, padres e hijos, que hoy ya son padres de nuevos hijos, con un público renovado, enriquecido por el transcurrir de las generaciones. [...] Una mirada retrospectiva: en la primera escena, desarrollada el 2 de enero de 1959, Fidel, como un héroe del Cid y con lengua fresca, digna de Antonio Machado, comienza diciendo: “Al fin hemos llegado a Santiago! Duro y largo ha sido el camino, pero hemos llegado”.50
Percebemos que Volodia Teitelboim destacou o engrandecimento da nação e do povo cubanos com o transcorrer dos anos, da tomada do poder pelos guerrilheiros revolucionários, capitaneados por Fidel Castro, em 1959, até o presente momento de 1984, quando o texto foi publicado. Em seguida, Teitelboim teceu louros a Fidel, comparando-o, pela valentia e liderança, a Rodriguez Díaz de Vivar, o El Cid, um dos maiores cavaleiros da Idade Média na perspectiva da tradição popular espanhola, eternizado como herói na defesa dos reis cristãos contra os muçulmanos. O líder cubano, desta vez enquanto exímio orador, também foi comparado a Antonio Machado, poeta espanhol vinculado ao modernismo e, posteriormente, ao simbolismo europeus da primeira metade do século xx.
O ensaio de Volodia Teitelboim enfatizou os discursos de Fidel Castro desde quando seu grupo assumiu o poder em Cuba, logo após a vitória em Sierra Maestra. Sua habilidade com as palavras foi destacada por Teitelboim, bem como seu caráter de coragem e retidão. Tais qualidades do líder revolucionário, enfatizadas por Volodia Teitelboim, teriam sido transferidas também para o povo cubano, em sua perspectiva.
A imagem de uma Cuba popular e corajosa, que soube enfrentar seus principais inimigos, as ditaduras nacionais que a exploravam e o imperialismo dos Estados Unidos, foi amplamente veiculada. Assim, para o diretor de Araucaria de Chile, Fidel é “un profesor de la conciencia, un educador del Hombre. [...] Yendo más allá de los filósofos o políticos griegos del Ágora, convirtió la plaza pública en aula para enseñar a un pueblo que no sabía, pero en cuya inteligencia y voluntad de superación tenía ilimitada confianza”.51 Foi através de seus pronunciamentos constantes que Fidel Castro ajudou a forjar na população cubana uma “posición ética irreductible”, ancorada nos valores da revolução, o que fez de Cuba uma nação forte, apta para “enfrentar al enemigo de afuera y de adentro”, precisamente os Estados Unidos e os movimentos contrarrevolucionários do país.52
A Cuba revolucionária foi tema também de poemas publicados em Araucaria de Chile, La libertad, de Pablo Neruda, publicado postumamente na revista,53 evidenciou toda a esperança em uma transformação social para a América Latina, a partir do exemplo da revolução em Cuba. Liberdade, dignidade e revolução americana, essas palavras utilizadas pelo poeta Pablo Neruda no poema parecem significar aquilo que Cuba conquistou e que os demais países latino-americanos deveriam também almejar: [...] ahora llegó la hora de las horas: la hora de la aurora desplegada y el que pretenda aniquilar la luz caerá com la vida cercenada: y cuando digo que llegó la hora pienso en la libertad reconquistada: pienso que en Cuba crece una semilla mil veces mil amada y esperada: la semilla de nuestra dignidad, por tanto tiempo herida y pisoteada, cae en el surco, y suben las banderas de la revolución americana.
Ainda na edição especial de Araucaria de Chile a respeito dos 25 anos da Revolução Cubana, Ramón de Armas e Eduardo Galeano buscaram explicar em seus artigos as origens do sentimento libertador e revolucionário cubano, associando-o aos seus antecedentes históricos. Ambos evocaram a figura de José Martí como aquele que incitou, na sociedade cubana, a consciência de sua soberania em relação à opressão e à exploração sofridas frente aos colonizadores espanhóis e ao incipiente imperialismo dos Estados Unidos. Na afirmação de Ramón de Armas,54 foi Martí o responsável pelo “temprano acercamiento de los objetivos de liberación nacional y los de profunda rectificación social”. Complementando essa perspectiva, Eduardo Galeano55 expressou que, para Martí, Cuba não poderia criar-se sem revolução. Dessa forma, a revista evocou José Martí como um personagem fundador da aura revolucionária de Cuba, responsável direto pela mudança política ocorrida no país em 1959, em função de seu exemplo na luta contra o colonialismo espanhol e contra o imperialismo dos Estados Unidos.
Por fim, nas abordagens da revista Araucaria de Chile sobre a Revolução Cubana, outro assunto que mereceu destaque foi o desenvolvimento da cultura em Cuba após a ascensão dos revolucionários ao poder. Volodia Teitelboim56 observou que foram criados círculos infantis e milhares de escolas na cidade e no campo.
A revista Araucaria fez questão de publicar, na íntegra, uma conferência concedida para uma série de órgãos da imprensa, em dezembro de 1983, pelo então Ministro da Cultura de Cuba, Armando Hart, sobre a política cultural no país. Nessa conferência, o ministro mencionou a criação do Ministerio de Cultura, em 1976, e elencou os progressos obtidos no campo educacional cubano, como a alfabetização em massa da população, a extensão do ensino primário por todo o país, incluindo as áreas rurais mais distantes, e o crescimento sem precedentes da educação universitária. Ele também deu ênfase ao crescimento exponencial da edição de livros no país, bem como a criação de várias instituições culturais, como o Balet Nacional de Cuba, o centro de estudo, pesquisa, edição e promoção da história cubana e latino-americana, Casa de las Américas, que foi fundada poucos meses após o triunfo da revolução, e o Centro de Investigaciones y Desarrollo de la Música Cubana. 57 Sobre Casa de las Américas, o jornalista e escritor cubano Ciro Bianchi58 publicou uma crônica, no número 26 de Araucaria de Chile, na qual detalhou as funções desse centro de cultura e sua importância na difusão dos valores culturais da América Latina e do Caribe.
Acerca do cinema cubano, Sol Aymara,59 em artigo denominado Breve mirada al cine cubano, sustentou que houve um desenvolvimento significativo da cinematografia do país em razão do apoio decisivo da Revolução e do próprio Fidel Castro, que mostrou interesse particular em desenvolvê-lo, contribuindo para o enriquecimento do cinema latino-americano. O texto mencionou a criação do Instituto Cubano de Arte e Industria Cinematográfica (icaic) pelo governo revolucionário, em 24 de março de 1959, e defendeu a necessidade do cinema enquanto criação estética e luta política. Nesse sentido, torna-se relevante acrescentar que Fidel Castro direcionou, de fato, especial atenção ao cinema, principalmente o documentário, por ter em conta que tal instrumento cultural constituía-se fundamental para a exposição e difusão dos ideais da Revolução Cubana.60
Por sua vez, na Nicarágua, o movimento revolucionário sandinista –cujo período à frente do governo com a fsln, de 1979 a 1990, coincide com o tempo de publicação de Araucaria de Chile no exílio– foi analisado por destacados intelectuais latino-americanos. O importante escritor argentino Julio Cortázar, ao receber da Junta do Governo nicaraguense o prêmio Rubén Dario, discursou para a plateia que o acompanhava na Nicarágua. Em seu discurso, publicado em Araucaria, número 22, ele posicionou-se claramente favorável à revolução popular sandinista, ressaltando o valor social adquirido pela cultura com a ascensão ao governo da fsln.
Cortázar ressaltou que a acepção de cultura, na Nicarágua, após a revolução de 1979, adquiriu uma conotação que não existia em países europeus, como os do ocidente, nos quais só a usavam em um sentido elitista, concebendo-a como privilégio de poucos. Em sua visão, o Ministério da Cultura do país e quaisquer das instâncias do governo “han expandido desde un primer momento el concepto de cultura; [...] han empujado la palavra cultura a la calle como si fuera un carrito de helados o de frutas, se la han puesto al pueblo en la mano y en la boca con el gesto simple y cordial del que ofrece un banano”.61 Essas palavras, colocadas em um sentido metafórico, indicavam a oposição de Julio Cortázar ao caráter elitista e acadêmico da concepção de cultura. Ele criticou seu acesso limitado a poucos, contrapondo essa perspectiva ao “proceso de liberación, de dignidad, de justicia y de perfeccionamiento intelectual y estético” que as manifestações culturais, como a música, o teatro e a poesia, proporcionaram à sociedade nicaraguense após a revolução.62
Lembremos que Cortázar foi um grande admirador da Revolução Sandinista, atuando junto aos revolucionários no campo cultural, quando, por exemplo, ajudou a fundar o primeiro Museo de Arte Contemporáneo no país e participou do processo de alfabetização da população local. Segundo Adriane Vidal Costa,63 o escritor argentino apoiou intensamente a revolução na Nicarágua por acreditar que o processo revolucionário naquele país aproximava-se daquilo que ele tanto idealizou para as sociedades da América Latina. Por isso, “Cortázar assinalou que iria quantas vezes fosse preciso à Nicarágua para participar de diálogos e reuniões, e ajudar no que fosse possível no plano da cultura”.64
O tema da cultura na Nicarágua esteve presente também em outro artigo publicado em Araucaria de Chile, em 1986, escrito pelo professor e crítico chileno Pedro Bravo-Elizondo. Confluindo para a ideia de Julio Cortázar, Bravo-Elizondo65 ressaltou que, com o triunfo da revolução, artistas formaram associações para proteger seus interesses e os do povo, difundindo os novos valores sandinistas. Segundo o autor chileno, a Asociación Sandinista de Trabajadores de la Cultura, criada em 1980, encarregava-se de resgatar os elementos da cultura popular nicaraguense: a dança, a música, a tradição oral, a comida e os artesanatos. A associação deveria estimular a os jovens a participar de algum ramo artístico, divulgando posteriormente seus trabalhos para suas comunidades de origem.
Assim como em relação a Cuba, os editores da revista Araucaria de Chile retomaram personagens históricos de modo a compor as representações sobre a Nicarágua revolucionária. Novamente, um poema do comunista Pablo Neruda foi publicado postumamente na revista, desta vez feito em homenagem a Augusto César Sandino, líder da rebelião armada contra a presença militar dos Estados Unidos na Nicarágua, entre as décadas de 1920 e 1930. Nas palavras do poeta chileno: Fue cuando en tierra nuestra se enterraron las cruces, se gastaron inválidas, profesionales. Llegó el dólar de dientes agresivos a morder territorio, en la garganta pastoril de América [...] Bajaron, vestidos de blanco, Tirando dólares y tiros. Pero allí surgió un capitán que dijo: “No, aquí no pones tus concesiones, tu botella.” [...] Sandino se quitó las botas, se hundió en los trémulos pantanos se terció la banda mojada de la libertad en la selva, y, tiro a tiro, respondió a los “civilizadores”.66
Percebemos neste poema, intitulado Sandino, que Pablo Neruda estabeleceu severas críticas à política imperialista dos Estados Unidos concernente aos países da América Latina e do Caribe. O poeta glorificou a figura mítica de Sandino, realçando sua condição de símbolo da resistência popular à dominação norte-americana. Torna-se necessário destacar que esse poema foi publicado em Araucaria de Chile em 1979, no quarto trimestre, poucos meses após os acontecimentos que levaram ao poder os revolucionários da fsln.
Precisamente a respeito da atuação dos Estados Unidos sobre a Nicarágua, durante a década de 1980, esteve a discussão de Mario Benedetti, publicada em forma de artigo na revista Araucaria de Chile, número 24, no quarto trimestre de 1983. O intelectual uruguaio, com certo grau de ironia, afirmou que o porfiado ritual de morte tem tido na Nicarágua três oficiantes fundamentais, quais sejam, os terremotos, a dinastia Somoza e o poderoso vizinho do norte, sendo os dois últimos mais devastadores que os abalos sísmicos.67 Mario Benedetti se referia à cruenta ditadura da oligarquia Somoza, que governou a Nicarágua por mais de 40 anos, destituída do poder pela Revolução Sandinista, bem como aos Estados Unidos, que apoiaram, em muitos momentos, os Somoza, e manifestaram, no início da década de 1980, toda sua hostilidade e oposição ao governo da fsln. É importante destacar que os Estados Unidos financiaram as forças militares contrarrevolucionárias (contras), provocando conflitos armados, sobretudo no campo, entre os defensores da revolução e os contras, conflitos esses que somente se arrefeceram em 1987, por meio de acordos de paz.68 Mario Benedetti alertou, ainda, para uma possível invasão norte-americana na Nicarágua, que não seria a primeira, implicando, para o uruguaio, em uma ruptura com o que ele denominou de pluralismo democrático em curso no país.
Em seu texto Defensa de Nicaragua, com um título que já evidenciava seu discurso favorável ao país revolucionário, Eduardo Galeano,69 em um sentido próximo ao texto de seu compatriota Benedetti, condenou o bloqueio comercial imposto aos sandinistas pelos Estados Unidos e por outros países alinhados à política norte-americana, enfatizando a crise econômica que enfrentava a população nicaraguense, em grande parte decorrente dessa condição de isolamento político-econômico. Galeano argumentou que a política externa tão severa ao povo da Nicarágua foi feita de modo a enfraquecer os avanços na educação, na saúde e na comunicação promovidos pela revolução, embora não isentasse totalmente o governo sandinista em relação aos problemas enfrentados pela população do país.
Ao referir-se aos que se opunham ao regime da fsln, Eduardo Galeano defendeu que “los opositores honestos, que los hay, tendrían que reconocer, al menos, que en estos siete años”, desde a implantação do governo revolucionário, “la revolución sandinista ha hecho lo posible y lo imposible por echar las bases de justicia y soberanía necesarias para que la democracia no sea un castillo en el aire”, uma formalidade imposta em que reina a hipocrisia e na qual o povo nada tem e nada decide.70 Ele clamou para que países, especialmente os latino-americanos, prestassem “ayudas que amplíen los espacios de libertad de esta joven revolución acosada”.71
Por fim, o historiador comunista Vladimir Eichin,72 na Araucaria número 34, afirmou que a realização da perspectiva histórica da Revolução Sandinista, que não poderia ser outra a não ser a construção de um novo regime social, pressupunha a luta permanente frente às contrarrevoluções interna e externa. Para ele, o movimento revolucionário de 1979 na Nicarágua significou a destruição das estruturas de dominação sobre a América Central e sobre o Caribe edificadas por décadas pelos Estados Unidos, inspirando as lutas dos revolucionários anti-imperialistas e dos que buscavam a democratização do Cone Sul, às voltas com as ditaduras militares.
Percebemos, então, tentando traçar uma linha que amarre as discussões dos intelectuais mencionados, que as revoluções cubana e sandinista foram representadas positivamente na revista Araucaria de Chile, através de argumentos relacionados ao desenvolvimento e à popularização da cultura após a ascensão dos governos revolucionários; às possibilidades de ampliação da democracia e da justiça social, com a abertura de canais políticos e culturais que possibilitaram maior participação das sociedades cubana e nicaraguense; e, por fim, tais argumentos apresentaram os respectivos processos revolucionários em Cuba e na Nicarágua como modelos para demais países latino-americanos na luta por maior autonomia política e econômica frente aos Estados Unidos e aos governos autoritários, sobretudo as ditaduras militares do Cone Sul, dado o contexto histórico de circulação da revista e a presença de seus colaboradores no exílio. Araucaria veiculou, ainda, textos sobre aqueles que posteriormente foram retomados simbolicamente pelos revolucionários como os precursores da luta anti-imperialista e pela libertação nacional: José Martí, no caso de Cuba, e Augusto César Sandino, para os nicaraguenses.
Essas representações mostraram-se de acordo com o editorialismo programático de Araucaria de Chile, revista que, como mencionamos em mais de uma oportunidade, esteve vinculada, inclusive financeiramente, ao Partido Comunista de Chile, veiculando, por conseguinte, culturas políticas de esquerda em suas páginas, especialmente a comunista. Ademais, as discussões acerca da cultura em Cuba e na Nicarágua após as respectivas revoluções, assim como os debates que enalteciam a ruptura com os governos Batista e Somoza Debayle, respectivamente, ambos ditadores que não atendiam aos interesses da população local, foram oportunas, se pensarmos no próprio contexto de autoritarismo político no Chile, bem como no “apagão cultural” vivido pelo país, em função do declínio das atividades culturais chilenas sob o governo de Augusto Pinochet. As evidentes manifestações anti-imperialistas nos textos publicados em Araucaria de Chile revelaram a oposição, por parte da revista, aos Estados Unidos, país aliado das ditaduras instauradas no Cone Sul durante as décadas de 1960, 1970 e 1980, sobretudo a ditadura chilena.
Interpretamos que as publicações, em Araucaria, referentes às revoluções em Cuba e na Nicarágua, dois países que optaram pela luta armada na estratégia revolucionária adotada, mantiveram estreita ligação com a política seguida pela direção do pcch à época, a Política de la Rebelión Popular de Masas (prpm). Após intensos debates entre a cúpula do pcch, a facção externa, representada por os membros da direção do partido que viviam no exílio, dentre eles o Secretário-geral da legenda, Luis Corvalán, e o diretor de Araucaria de Chile, Volodia Teitelboim, e a interna, que compreendia aqueles que viviam clandestinamente no Chile, optou-se por adotar, não obstante a resistência inicial dos que viviam no exílio, a luta armada no enfrentamento ao regime de Augusto Pinochet. Quem melhor esclarece os debates internos ao partido comunista chileno e seu consenso pela luta armada é Rolando Álvarez Vallejos, segundo o qual: Desde el punto de vista del debate interno, en 1982 aparentemente amainó la tormenta provocada por las diferencias entre interior y el exterior. [...] Por ello, es posible afirmar que 1982 fue el año de la instalación de la nueva política comunista, llamada de “Rebelión Popular de Masas” desde fines de 1981. Es decir, la prpm era un elemento estratégico, que contiene también elementos táticos, políticos y político-militares.73
Vallejos74 afirma que esse “radicalismo de masas”, a partir do qual o pcch buscou reunir toda a militância comunista, viveu seu apogeu entre os anos de 1983 e 1986, durante o período conhecido no Chile como Protestas Nacionales, ciclo de mobilizações sociais contra a ditadura pinochetista, estendendo-se até o plebiscito de 1988.75 A Frente Patriótico Manuel Rodríguez (fpmr) foi criada para coadunar e organizar todo o aparato armado do pcch, a fim de se consumar a oposição insurrecional do partido ante à ditadura.
De acordo com Luis Corvalán, Secretário-geral do pcch à época, os protestos no Chile contra o regime militar pinochetista “confirmaron la certeza de la política propiciada por el Partido Comunista en el sentido de combatir a la dictadura por todos los medios, tomando el camino de la rebelión”.76 O dirigente comunista prossegue, afirmando que Aproximadamente dos mil jóvenes chilenos [...] eligieron el camino de las armas para enfrentar la dictadura y se integraron o incorporaron al Frente Patriótico Manuel Rodríguez. [...] Estos valientes muchachos dedicaron sus sueños de libertad y sus vidas a la lucha militar y paramilitar contra la tiranía creyendo firmemente que era el más efectivo o el único modo de combatirla.77
Assim, pensamos que os discursos, analisados neste artigo, construídos pelos intelectuais colaboradores de Araucaria de Chile e difundidos pela revista, ao ressaltarem duas vitoriosas revoluções armadas latino-americanas, exatamente no período de vigência da prpm, dialogaram, de alguma maneira, com a nova posição tomada pelo pcch em relação à oposição ao governo do general Pinochet. Apesar de a revista não ter sido um periódico oficial do partido comunista chileno, não tendo acompanhado, nesse sentido, toda sua evolução ideológica e suas tomadas de posição –acreditamos, inclusive, que em muitos momentos, pela gama variada de intelectuais que nela escreveram, que Araucaria tenha seguido uma perspectiva política de esquerda mais heterogênea–, pelo menos no que tange ao recorte temático estabelecido para este trabalho, as linhas políticas de intelectuais colaboradores e partido entrecruzaram-se.
Concluímos, dessa maneira, para usar expressões propostas por Regina Crespo,78 que a Araucaria de Chile foi, a um só tempo, uma re-vista “baluarte cultural”, já que publicou trabalhos literários e artísticos diversos, e, em dados momentos, porta-voz de um projeto coletivo de determinado partido, o pcch, ainda que de uma maneira não sistemática e oficiosa.
Torna-se importante que façamos uma ressalva no sentido de perceber que Araucaria de Chile foi uma revista produzida sob a condição do exílio, durante a ditadura pinochetista, e que, portanto, embora tenha divulgado, ainda que indiretamente, projetos políticos dentro das esquerdas, sobretudo de acordo com a cultura política comunista, posicionou-se, fundamentalmente e anterior a qualquer defesa de um projeto específico, como um impresso importante de resistência política. Categoricamente, podemos afirmar que o que uniu todos os intelectuais colaboradores de Araucaria de Chile não foram as diretrizes políticas do pcch –visto que talvez a minoria se identificasse integralmente com elas–, mas, sim, o exílio e o interesse no restabelecimento da democracia no Chile e, por extensão, nos demais países do Cone Sul submetidos às ditaduras militares.
Feita a ressalva, acreditamos, por fim, que, do ponto de vista do pensamento político dos intelectuais que publicaram em Araucaria de Chile e que foram aqui analisados, em consonância com o pensamento do pcch, as experiências revolucionárias cubana e sandinista tenham servido de modelo recente e próximo –na perspectiva temporal e das condições políticas, guardados os respectivos contextos– para os países latino-americanos que viviam sob governos militares autoritários, como o Chile de Pinochet. Modelo, aqui, no sentido de ser possível a mobilização popular e a realização de transformações sociais e políticas de modo a alcançar maior justiça social e, fundamentalmente, a democracia.
Em Araucaria de Chile, o posicionamento favorável aos movimentos revolucionários de esquerda, bem como a oposição às ditaduras militares por parte de colaboradores como Julio Cortázar, Mario Benedetti e Eduardo Galeano, por exemplo, certamente se inseriu em um contexto de Guerra Fria e de forte engajamento dos intelectuais latino-americanos, impulsionando-os para a cena pública, de modo que a intervenção nos assuntos políticos tornou-se praticamente inevitável.
Para o caso específico dos chilenos, como apontou Rolando Álvarez Vallejos, a Nicarágua dos sandinistas consistiu em um efetivo exemplo para os comunistas no que diz respeito à possibilidade e esperança de adesão espontânea de jovens militantes no movimento de radicalização política contra Pinochet.79 Podemos lembrar também, ainda de acordo com Vallejos, que muitos militantes comunistas chilenos tiveram formação militar em Cuba, atuando muitos deles, posteriormente, no processo revolucionário nicaraguense.80 Com base nessas informações, é possível afirmar que as experiências revolucionárias cubana e sandinista serviram, de fato, de inspiração para as teses militaristas desenvolvidas no interior do pcch, corroborando nossa hipótese de que a veiculação, sobretudo ao longo da década de 1980, de representações positivas acerca das revoluções armadas em Cuba e na Nicarágua, pela revista Araucaria de Chile, não se consumou por mera casualidade, dialogando diretamente com a postura combativa insurrecional do partido que a financiava e do qual eram integrantes influentes seu diretor e seu principal editor, respectivamente, Volodia Teitelboim e Carlos Orellana.
Assim, como forma de epílogo que ligue essa ideia central defendida por nós, citamos o editorial de lançamento da revista Araucaria de Chile, que, em 1978, afirmava:
Bien se sabe que Chile no es una isla ni su tragedia combate un accidente ni un caso de excepción en América Latina. Su situación se conecta a los planes del imperio e integra el contexto de un continente donde grandes manchones ilustran el drama común de sus pueblos y sus intelectuales. Araucaria, siendo criatura de Chile, forma parte del paisaje andino y de la ecología continental. Mantendrá abierta su puerta para recibir, como a un hermano, el pensamiento revolucionario creador de América Latina.81
Este artigo é produto dos resultados parciais do meu projeto de pesquisa, intitulado, até o momento, “Exílio, intelectuais e política nas revistas Literatura Chilena en el Exilio/Literatura Chilena, Creación y Crítica e Araucaria de Chile (1977-1989)”.
Os seguintes partidos compunham a up: Partido Comunista (pc), Partido Socialista (ps), Acción Popular Independente (api), Partido de los Radicales (pr), Movimento de Acción Popular Unificado (mapu) e Partido Social Demócrata (psd). Sobre o governo da up no Chile, ver Alberto Aggio, Democracia e socialismo: a experiência chilena, 2 ed., São Paulo, Annablume, 2002; Sergio Bitar, Transição, socialismo e democracia: Chile com Allende, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980; e Julio Pinto Vallejos [coord.], Cuando hicimos historia: la experiencia de la Unidad Popular, Santiago, lom Ediciones, 2005.
Priscila Carlos Brandão Antunes, Serviços secretos e democracia no cone sul: premissas para uma convivência legítima, eficiente e profissional, Niterói, Impetus, 2010, 302 pp.
Fabiana de Souza Fredrigo, Ditadura e resistência no Chile: da democracia desejada à transição possível (1973-1989), Franca, unesp, 1998, 196 pp.
Pablo Policzer, “A polícia e a política de informações no Chile durante o governo Pinochet”, em Estudos Históricos, Rio de Janeiro, núm. 22, 1998, pp. 325-356.
Manuel Antonio Garretón apud Loretto Rebolledo González, “Vivir con miedo, morir en el terror: Chile (1973-1990)”, en Ecuador Debates, Quito, diciembre de 2003, p. 92.
Loretto Rebolledo González, “Exilios y retornos chilenos”, en Revista Anales, Santiago, Séptima Serie, núm. 3, julio de 2012, p. 178.
A respeito do exílio intelectual chileno, ver o precursor trabalho sobre a revista Araucaria de Chile, no Brasil, de Êça Pereira da Silva, Araucaria de Chile: a intelectualidade chilena no exílio (1978-1990), 166f, Dissertação (Mestrado), Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2009.
Na reunião em que se decidiu pela fundação de Araucaria de Chile, estiveram presentes os comunistas Volodia Teitelboim, que viria a ser o diretor da revista, Carlos Orellana e o professor e poeta chileno Sergio Muñoz Riveros, além do poeta Omar Lara e do escritor Hector Pinochet, também chilenos. A reunião se deu em Roma por parecer, no primeiro momento, o melhor local, em termos de distância e deslocamento, para intelectuais exilados em distintos países europeus. Mais informações, ver Carlos Orellana, Bitácora personal de una historia colectiva, Araucaria de Chile: Índice General (1978-1989), Santiago de Chile, Ediciones del Litoral, 1994, pp. 9-32.
Araucaria de Chile foi fundada em Roma, mas a sede da sua redação foi, inicialmente, Paris, por três razões: a possibilidade de se instalar em uma seção cedida pelo jornal L¿Humanité, porta-voz do Partido Comunista da França; por viver exilado na capital francesa o escritor, redator e membro do Partido Comunista de Chile (pcch), Carlos Orellana, nomeado secretário de redação da revista; e, por fim, por funcionar na cidade o comitê de cultura do pcch, que poderia acompanhar a produção da re-vista e dar o apoio material necessário. Posteriormente, Araucaria estabeleceu-se em Madrid por uma questão pragmática de execução e distribuição da revista, já que ela havia sido impressa na capital da Espanha desde seus primeiros dias, pela editora Ediciones Michay. Mais informações, ver Pereira da Silva, op. cit.
Volodia Teitelboim nasceu em março de 1916 na cidade de Curicó, centro-sul do Chile. Mudou-se para Santiago em 1932 para estudar Direito na Universidad de Chile. Ingressou, no mesmo ano, na Juventud Comunista Chilena. Teve destacada participação na literatura chilena, como escritor e crítico literário, e na política de seu país, tendo sido senador pelo pcch, de 1965 até o golpe militar de 1973, e exercido o cargo de Secretário-geral do pcch, de 1989 a 1994. Por sua vez, Carlos Orellana nasceu na Guatemala, em 1928. Mudou-se para o Chile com sua família em 1940. Estudou na Universidad de Chile e titulou-se como professor de castelhano pelo Instituto Pedagógico dessa universidade. Iniciou sua militância na Juventud Comunista de Chile, em 1948, tornando-se membro, posteriormente, do Comitê de Cultura do pcch. Profissionalmente, Orellana destacou-se como editor, trabalhando em editoras como a Ediciones Michay, que publicava a revista Araucaria de Chile. Informações em http://www.memoriachilena.cl, acesso em 15/08/2013, e Pereira da Silva, op. cit.
Carlos Orellana, “Bitácora personal de una historia colectiva”, en Araucaria de Chile: Índice General (1978-1989), Santiago de Chile, Ediciones del Litoral, 1994, pp. 9-32.
Os mencionados membros do comitê de redação da revista Araucaria de Chile tinham em comum a docência em universidades chilenas e francesas. Todos exerceram funções de destaque no ambiente acadêmico, à exceção de Luis Alberto Mansilla, que marcou sua trajetória intelectual no campo do jornalismo cultural. Alberto Martínez, além de professor da Universidade de Reims, na França, foi diretor da Dirección de Industria y Comercio (dirinco), durante o governo da up. Mais informações sobre os integrantes do comitê de redação da revista Araucaria, ver Carlos Orellana, op. cit., pp. 9-32.,
Dentre a farta bibliografia sobre a Revolução Cubana, citamos: Florestan Fernandes, Da guerrilha ao socialismo: a revolução cubana, São Paulo, 1979, 231 pp.; Alain Touraine, Palavra e Sangue: política e sociedade na América Latina, São Paulo, unicamp, 1988, 598 pp.; Luis Fernando Ayerbe, A Revolução Cubana, São Paulo, unesp 2004, 133 pp.
Fernando Martínez Heredia, “Pensamiento social y política de la Revolución”, en Criterios, 2007, p. 18. En: http://www.criterios.es/pdf/martinezherediapensocial.pdf, acesso em 30/10/2015.
Lygia Rodrigues, “O Sandinismo e a Revolução Nacional e Democrática na Nicarágua”, em Eliane Garcindo Dayrell e Zilda Grícoli Iokoi, América Latina Contemporânea: desafios e perspectivas, Rio de Janeiro, Expressão e Cultura, 1996, pp. 361-375.
Adriane Vidal Costa, “Nicarágua na encruzilhada: Cortázar, Vargas Llosa e a experiência sandinista”, em Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 22, núm. 44, julho-dezembro, 2009, p. 480.
Sobre a Revolução Sandinista, destacamos os seguintes estudos: Lygia Rodrigues, “O Sandinismo e a Revolução Nacional e Democrática na Nicarágua”, em Eliane G. Dayrell; Zilda G. Iokoi [orgs.], América Latina Contemporânea: desafios e perspectivas, Rio de Janeiro, Expressão e Cultura, 1996, pp. 361-375; Matilde Zimmermann, A Revolução Nicaragüense, São Paulo, unesp, 2006, 156 pp.; Adriane Vidal Costa, “Nicarágua na encruzilhada: Cortázar, Vargas Llosa e a experiência sandinista”, em Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 22, núm. 44, pp. 479-503, julho-dezembro, 2009.
Entendemos por editorialismo programático a linha editorial militante de determinado impresso de caráter cultural, ligado a projetos políticos específicos. Sobre essa questão, ver Fernanda Beigel, “Las revistas culturales como documentos de la historia latinoamericana”, em Utopía y Praxis Latinoamericana, año 8, núm. 20, marzo de 2003, pp. 105-115.
Rodrigo Patto Sá Motta, “Desafios e possibilidades na apropriação de cultura política pela historiografia”, em Rodrigo Patto Sá Motta [org.], Culturas Políticas na História: novos estudos, Belo Horizonte, Argvmentvm, 2009, pp. 13-38.
Helenice Rodrigues da Silva, “A História como a representação do passado: a nova abordagem da historiografia francesa”, em Ciro Flamarion Cardoso e Jurandir Malerba [org.], Representações: contribuições a um debate transdisciplinar, Campinas, Papirus, 2000, pp. 81-99.
Sobre o conceito de representação, ver também Roger Chartier, A história cultural entre práticas e representações, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1990, 244 pp.
Carlos Altamirano, Intelectuales: notas de investigación, Bogotá, Grupo Editorial Norma, 2006, 139 pp.; Carlos Altamirano, “Introducción general”, en Carlos Altamirano [org.], Historia de los intelectuales en América Latina: la ciudad letrada, de la conquista al modernismo, Buenos Aires, Katz Editores, 2008, 587 pp.
Jean-François Sirinelli, “Os intelectuais”, em René Rémond [org.], Por uma história política, Rio de Janeiro, fgv, 2003, pp. 231-269.
Carlos Altamirano, “Introducción general”, em Carlos Altamirano [org.], Historia de los intelectuales en América Latina: La ciudad letrada, de la conquista al modernismo, Buenos Aires, Katz Editores, 2008, p. 9.
A esse respeito, ver o conceito de capital cultural e simbólico em Pierre Bourdieu, Campo de poder, campo intelectual: itinerário de um conceito, Montressor, 2002, 127 pp.
Ángel Rama, “La riesgosa navegación del escritor exilado”, em Nueva Sociedad, Buenos Aires, núm. 35, marzo-abril de 1978, pp. 95-105.
Edward W. Said, Representações do intelectual: as Conferências Reith de 1993, São Paulo, Companhia das Letras, 2005, pp. 56-57.
Beatriz Sarlo, “Intelectuales y revistas: razones de una práctica”, en America, Cahiers du crical, París, Sorbonne la Nouvelle, núm. 9-10, 1992, p. 15.
Regina Crespo, “Las revistas y suplementos culturales como objetos de investigación”, en Coloquio Internacional de Historia y Ciencias Sociales, Colima, Universidad de Colima, 2010, publicación en cd-rom, pp. 1-15.
Eduardo Déves-Valdés, Redes intelectuales en América Latina: hacia la constitución de una comunidad intelectual, Santiago, Universidad de Santiago de Chile, 2007, p. 30.
Mateus Fávaro Reis, Políticas da leitura, leituras da política: uma história comparada sobre os debates político-culturais em Marcha e Ercilla (Uruguai e Chile, 1932-1974), Tese (Doutorado), Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2012, 426 f, p. 21.
Carlos Orellana, “25 años de la Revolución Cubana”, en Araucaria de Chile, Madrid, núm. 25, 1984, pp. 83 y 84.
Volodia Teitelboim, “La vuelta a Santiago”, en Araucaria de Chile, núm. 25, Madrid, 1984, pp. 91 y 92.
Ramón de Armas, “El apoyo chileno a la Revolución Cubana de 1895”, en Araucaria de Chile, núm. 25, Madrid, 1984, p. 168.
Armando Hart, “La cultura como exigencia popular”, en Araucaria de Chile, núm. 25, Madrid, 1984, pp. 99-109.
Ciro Bianchi, “Veinticinco años de Casa de las Americas”, em Araucaria de Chile,núm. 26, Madrid, 1984, p. 212.
Sobre o Instituto Cubano de Arte e Industria Cinematográficos (icaic) e a política cultural em Cuba de 1959 a 1991, ver Mariana Martins Villaça, Cinema Cubano: revolução e política cultural, São Paulo, Alameda, 2010, 440 pp.
Julio Cortázar, “Decir la palabra ‘cultura’ en Nicaragua”, en Araucaria de Chile, núm. 22, Madrid, 1983, pp. 48 y 49.
Pedro Bravo-Elizondo, “La Asociación Sandinista de Trabajadores de la Cultura”, en Araucaria de Chile, núm. 36, Madrid, 1986, p. 147.
Mario Benedetti, “Nicaragua: un porfiado ritual de agresiones, de Willian Walker a Ronald Regan”, en Araucaria de Chile, núm. 24, Madrid, 1983, p. 39.
Vladimir Eichin, “La Revolución Sandinista en el debate ideológico internacional”, en Araucaria de Chile, núm. 34, Madrid, 1986, pp. 55-70.
Rolando Álvarez Vallejos, “‘Aún temos patria, ciudadanos’: el partido comunista de Chile y la salida no pactada de la dictadura (1980-1988)”, en Verónica Valdivia, Rolando Álvarez Vallejos [orgs.], Su revolución contra nuestra revolución: la pugna marxista-gremialista en los ochenta, Santiago, lom Ediciones, 2008, p. 38.
O plebiscito realizado em 5 de outubro de 1988, no Chile, previsto pela Constituição chilena de 1980, no qual se deveria decidir pela permanência ou não de Pinochet por um novo período de 8 anos, deu vitória ao NO e iniciou no país o processo de transição para a democracia. Eleições foram convocadas para o ano seguinte, e Patricio Aylwin, candidato da oposição unida, Concertación de Partidos por la Democracia, as venceu, tornando-se o primeiro presidente chileno eleito após o golpe de 1973, assumindo a presidência do país em março de 1990. Para maiores informações sobre o plebiscito de 1988, as eleições de 1989 e o processo de redemocratização no Chile, consultar Manuel Antonio Garretón, “A redemocratização no Chile: transição, inauguração e evolução”, em Lua Nova, São Paulo, núm. 27, 1992, pp. 59-92.