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Vol. 29. Núm. 1.
Páginas 1-2 (enero - abril 2014)
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Hormônio anti‐Mülleriano: cuidados na interpretação dos resultados
Anti‐Müllerian hormone: caution in interpreting the results
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Leopoldo de Oliveira Tso
Editor da Revista Reprodução & Climatério
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A concentração sérica de hormônio anti‐Mülleriano (AMH), produzido pelas células da granulosa dos folículos pré‐antrais e antrais pequenos,1 não sofre influência da secreção pulsátil de gonadotrofinas e, portanto, apresenta pequena variação inter e intraciclos e em vigência de uso de contraceptivos hormonais, o que não acontece com outros testes hormonais, como o hormônio folículo estimulante (FSH) de terceiro dia e a inibina B.2,3 Alguns clínicos estão tão convencidos da superioridade do AMH frente aos outros marcadores clássicos de reserva ovariana que passaram a adotar esse teste como principal forma de avaliá‐la, de prever a resposta folicular à estimulação da ovulação e, mais corajosamente, correlacioná‐lo com os desfechos e o prognóstico de sucesso dos tratamentos de reprodução assistida, sem levar em consideração as características da população de interesse.

Muitos estudos e testes clínicos foram feitos com diferentes kits disponíveis comercialmente desenvolvidos por dois laboratórios: Diagnostics Systems Laboratories (DSL) e Immunotech.4 Embora os resultados obtidos por esses kits se correlacionem, suas curvas‐padrão não são paralelas, além de não haver fator de conversão universal aplicável, o que torna difícil a comparação de resultados, principalmente nos valores extremos das curvas.5

Beckman Coulter, um grupo com vasta experiência no desenvolvimento e na venda de ensaios laboratoriais, adquiriu os dois laboratórios e desenvolveu um novo kit para ensaio de AMH, o Beckman Coulter Generation II (Gen II). Parece, contudo, que o problema ainda não está solucionado, pois o novo kit apresentou valores mais baixos de AMH do que o esperado, além de instabilidade durante o armazenamento. Isso fez com que a empresa reavaliasse o produto. Segundo a nova metodologia há necessidade de uso de um tampão aniônico para resolver o problema.6

Esses achados, relatados por diversos pesquisadores, sugerem fortemente que a metodologia empregada para dosar o AMH sérico ainda é inconsistente e, portanto, seus resultados devem ser interpretados com cautela.4,7

Dificuldades à parte, o método apresenta vantagens importantes. Além das já mencionadas no início deste artigo, a dosagem do AMH tem sua melhor indicação no rastreamento da reserva ovariana e no aconselhamento de mulheres com alto risco de apresentar diminuição da reserva ovariana, como, por exemplo, acima de 37 anos, seguimento após ooforoplastia ou que apresentam FSH basal > 10mUI/mL. De maneira geral, dosagens baixas de AMH (<1ng/mL DSL Elisa) têm sido associadas, apesar de não necessariamente predizer, com prognóstico ruim dos ciclos de fertilização in vitro (FIV): resposta pobre à estimulação da ovulação (≤4 oócitos coletados), qualidade embrionária ruim e baixa taxa de gestação.8,9

Valores preditivos negativo (VPN) e positivo (VPP) são características de um teste de rastreamento que variam de acordo com a prevalência da doença na população estudada.10 No caso em questão, VPP é a probabilidade de uma mulher com AMH alterado (baixo) realmente apresentar reserva ovariana pobre (ROP). E VPN é a probabilidade de a mulher com dosagem de AMH normal (por exemplo: 2,5ng/mL DSL Elisa) ter reserva ovariana normal.

As características mais importantes de um teste de rastreamento de reserva ovariana são os valores preditivos, e não a sensibilidade e especificidade. Embora o valor preditivo seja determinado pela sensibilidade e especificidade, também é dependente da prevalência de ROP na população. Esse princípio é fundamental na seleção de mulheres a serem rastreadas.10 Se a prevalência de ROP for baixa (por exemplo, em mulheres <34 anos), o VPP (a probabilidade de uma mulher com AMH baixo realmente ter DRO) também será baixo, mesmo que a sensibilidade e a especificidade sejam altas, e da mesma forma o contrário. Portanto, fica fácil entender que a melhor indicação do AMH ocorre no rastreamento de reserva ovariana em mulheres com alto risco de apresentar reserva ovariana pobre.

Concluindo este editorial, o AMH é marcador muito útil de reserva ovariana, contudo seu emprego e sua interpretação merecem cautela. Na prática clínica, atenção no momento de discutir prognóstico com as pacientes baseado nos valores desse teste. Tenha em mente que o método de avaliação do AMH pode variar entre os diversos laboratórios de análises clínicas, que ainda não foram estabelecidos valores de normalidade do teste para a população brasileira com os diferentes kits disponíveis e, finalmente, que a melhor indicação do teste é para avaliação dereserva ovariana em população específica.

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