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Inicio Revista Andaluza de Medicina del Deporte Dermatoglifos como indicadores biológicos del rendimiento deportivo
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Vol. 4. Núm. 1.
Páginas 38-46 (enero 2010)
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Dermatoglifos como indicadores biológicos del rendimiento deportivo
Dermatoglyphics as biological markers of sports performance
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F. B.. del Vecchioa, A.. Gonçalvesb
a Escola Superior de Educação Física, Universidade Federal de Pelotas. Brasil.
b Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas. Campinas. São Paulo. Brasil.
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Tablas (10)
Tabela 1. Valores de herdabilidade para diferentes variáveis que compõem a aptidão física relacionada ao desempenho esportivo
Tabela 2. Distribuição de frequência percentual dos padrões digitais entre desportistas russos e brasileiros de diferentes modalidades
Tabela 3. Valores do ΣIIPD, segundo nacionalidade e modalidades esportivas estudadas
Tabela 4. Valores de contagem total de linhas digitais, segundo nacionalidade e modalidades esportivas estudadas
Tabela 5. Contagem de linhas digitais, por lado corporal, segundo nacionalidade e sexo
Tabela 6. Valores da contagem ab em diferentes grupos populacionais
Tabela 7. Valores da contagem A'd entre brasileiros de ambos os sexos
Tabela 8. Valores do ângulo atd em diferentes populações
Tabela 9. Características de variáveis de destaque eleitas, em função da modalidade esportiva
Tabela 10. Dermatóglifos digitais e nível de manifestação de características funcionais
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Figuras (1)
La influencia del potencial genético en el perfeccionamiento de la aptitud física y en la manifestación de esfuerzos corporales ha ganado espacio en la educación física y en el deporte. Entre los indicadores biológicos de rendimiento, los dermatoglifos aún no han sido muy utilizados, pero están llamando la atención de un modo creciente. Consisten en las impresiones dermo-papilares dígito palmares, o sea, en el conjunto de exteriorizaciones de las papilas dérmicas de los dedos, palmas de las manos y plantas de los pies, genéticamente determinadas e inmutables a lo largo de la vida. En relación con el ámbito deportivo, se observa una distribución preferencial de los patrones digitales (arcos, presillas y verticilos) según modalidades, grados variables del cómputo total de líneas a partir del tipo de deporte, con tendencia a una exhibición de valores menores en competidores de actividades cíclicas cuando se comparan las modalidades de potencia y fuerza. El cómputo de líneas ab disminuye a medida que se avanza en el nivel deportivo: los atletas de elite exhiben ángulos atd inferiores a los valores poblacionales, así como los índices de ulnaridad y combinado. Al final se registran los estudios que consideran el análisis multivariado en el proceso de investigación de los dermatoglifos y rendimiento deportivo. De esta manera se cumplió el objetivo de esta revisión de examinar críticamente los resultados relacionados con los dermatoglifos a partir de la presentación de la distribución de frecuencias de diferentes variables, de su relación con el rendimiento y con la orientación del talento deportivo.
Influence of genetic potential to improve physical aptitude and manifestation of physical effort has gained space in physical education and sport. Dermatoglyphics is still scarcely explored among biological indicators of performance, although they are becoming more and more known. They consist of dermopapillary palmar-digital impressions, for instance, of the set of dermal papillae of fingers, palms, soles, genetically established and changeless over the life. Preferential frequency distribuitions are observed in digital patterns (arches, loops, whorls) according to different modalities, as well as varied grade on total ridge count. This trended to be lower in persons involved in cyclic activities in comparison with competitors of strength modalities. Ab line count lessens in progression with sport level, elite athletics show atd angles lower than population values, as well as ulnar and combined indexes. Lastly, multivariate analysis to investigate the relations between dermatoglyphics and sport performance is considered. Thus, it was accomplished the aim of this review of doing a critical analysis of articles referents to dermatoglyphics from frequency distribution of its variables, from the relationship of this variables and sports performance and talent orientation.
Keywords:
Dermatoglyphics
Physical Education and training
Genetics
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RESUMO

Dermatóglifos como indicadores biológicos de rendimiento deportivo

A influência do potencial genético no aprimoramento da aptidão física e na manifestação de esforços corporais tem ganhado espaço na Educação Física e no Esporte. Dentre os indicadores biológicos de rendimento, os dermatóglifos ainda se encontram pouco explorados, mas estão se destacando de modo crescente. Consistem nas impressões dermo-papilares dígito-palmares, ou seja, no conjunto de exteriorizações das papilas dérmicas dos dedos, palmas das mãos e plantas dos pés, geneticamente determinadas e imutáveis ao longo da vida. Em referência ao âmbito esportivo, observa-se distribuição preferencial dos padrões digitais (arcos, presilhas e verticilos) segundo diferentes modalidades, gradientes variados da contagem total de linhas a partir do tipo de esporte, com tendência de pessoas envolvidas em atividades cíclicas e de resistência exibirem-na em menor quantidade quando comparadas a competidores de modalidades de potência e força. A contagem de linhas ab diminui conforme se avança no nível esportivo; atletas de elite exibem ângulos atd inferiores aos valores populacionais, assim como os índices de ulnaridade e combinado.

Por fim, registram-se os estudos que consideraram a análise multivariada no processo de investigação dos dermatóglifos e rendimento esportivo. Desse modo, cumpriu-se o objetivo da presente revisão de analisar de forma crítica os achados referentes aos dermatóglifos a partir da distribuição de frequência de diferentes variáveis, da relação das mesmas com o desempenho e com a orientação do talento esportivo.

Palavras-chave: Dermatóglifos. Educação Física e treinamento. Genética.


Introdução

A participação dos indicadores biológicos de rendimento (IBR) no aprimoramento da aptidão física e na manifestação de esforços corporais tem ganhado espaço na Educação Física e no Esporte1. Isto se deu, principalmente, por pesquisas observarem que praticantes com resultados superiores no cenário desportivo apresentam alterações em vias meta-bólicas específicas2. Até o ano de 2005, mais de 140 genes autossômicos, quatro relacionados ao cromossomo X e 16 mitocondriais foram associados ao desempenho físico3. Em 2009 estes números se elevaram para 214, 7 e 18, respectivamente4.

Em referência ao processo de detecção de talentos esportivos, sabese que o componente biológico é dos que devem ser considerados para recrutamento de pessoas que irão se vincular a este tipo de prática5. Na República Democrática Alemã, nação com processo sistematizado de detecção, seleção e promoção de talentos, para cada 10.000 jovens recrutados inicialmente, 800 passavam por fases eliminatórias, entre 130-150 para o segmento intermediário, de 20 a 30 no estágio principal e 2 a 3 chegavam aos jogos olímpicos e campeonatos mundiais, com apenas um deles conquistando algum tipo de medalha6.

Destarte, a identificação de padrões funcionais específicos e de modificações nas estruturas de sínteses protéicas, auxiliaria profissionais da Educação Física e Esportes (EF&E) a determinarem, detectarem e selecionarem indivíduos, segundo suas características de maior relevância para as oportunidades de atuação competitiva7,8. Dentre os IBR, os dermatóglifos ainda se encontram pouco explorados, mas estão se destacando de modo crescente9.

Estes consistem nas impressões dermo-papilares dígito-palmares, ou seja, no conjunto de exteriorizações das papilas dérmicas dos dedos, palmas das mãos e plantas dos pés. Estas papilas são semi-microscópicas e correspondem às aberturas das glândulas sudoríparas, que se alinham segundo critérios biológicos altamente específicos10.

A herdabilidade (h2) é um dos modos de se estudar os dermatóglifos; ela se configura como valor estatístico que expressa, em percentual, a proporção da variação fenotípica de determinada variável biológica, em dada população, que é atribuível ao componente genético entre indivíduos11. Habitualmente é calculada a partir de comparação de freqüências diferenciais da característica estudada em pares de gêmeos12. A h2 dos dermatóglifos vai de moderada a elevada (de 50 a 100%), em função da variável considerada13, situações assemelhadas às que ocorrem com outras características nitidamente hereditárias poligênicas, como estatura e cor de cabelos. Por exemplo, a correlação entre monozigóticos, na contagem total de linhas digitais (TRC - total ridge count) é superior a 0,9514. Para a soma absoluta das corrugações (ARC - absolute ridge count), a qual considera os valores das duas contagens dos verticilos, uma de cada trirrádio15, evidências recentes têm demonstrando semelhança: indica-se h2 de 90 a 95% e atuação destacada de genes específicos em sua determinação16, o que reforça o componente genético na composição das corrugações dermopapilares.

As primeiras investigações envolvendo as configurações dermo-papilares foram veiculadas entre 1888 e 1891; no entanto, padronizações de nomenclaturas, formas e dimensões firmaram-se em 196717. De modo amplo, o interesse e frequência de seu uso se mantêm intensos na atualidade, contando-se com softwares de coleta e análise automatizadas18, e informações novas quanto às conformações dígito-palmares das pessoas19-21. A sua aplicação é ampla na antropologia física22,23, clínica médica24,25, genética26-28 e até no melhor entendimento de doenças crônicodegenerativas29-31.

Como são características inatas e não modificáveis, nas Ciências do Esporte contribuiriam como IBR. O entendimento de como se relacionam com diferentes elementos da aptidão física pode favorecer o processo de identificar, selecionar e orientar talentos para diferentes modalidades. Desse modo, não se teriam os esportes (por exemplo, voleibol, corridas curtas no atletismo, lutas, etc) como ponto de partida para a busca de pessoas com maiores possibilidades de êxito. Conhecendo melhor os indivíduos e seus IBR9,32, o encaminhamento dos mesmos para a prática de diferentes grupos de modalidades, segundo suas predisposições, poderia ser mais eficiente e exitosa.

Desse modo, o objetivo da presente revisão é centralizar e analisar de forma crítica os achados referentes aos dermatóglifos, considerando: a) distribuição de frequência de suas diferentes variáveis, b) valores de referência populacionais e de esportistas, c) a relação das mesmas com o desempenho físico, d) a orientação do talento esportivo e e) as técnicas de análises dos dados.

Dermatóglifos e Ciências do Esporte

Com exceção da composição corporal e potência de membros superiores, os valores da h2 são elevados para diferentes componentes da aptidão física33 (tabela 1). Destacam-se: a) altura do salto vertical para a potência muscular do segmento inferior, b) tempo no teste de corrida de vai-e-vem duplo com distância de 9,1 m para agilidade (Shuttle run test), c) preensão em dinamômetro manual com referência à força isométrica, d) consumo máximo de oxigênio teste aeróbio (VO2max em mlO2·kg-1 ·min-1) e e) potência (w) produzida com teste de 30 segundos de esforço máximo em cicloergômetro (Wingate test). Portanto, o passo seguinte tem consistido em explorar associações entre os IBR dígito-palmares e as variáveis de aptidão física de pessoas com desempenho esportivo excepcional, como se constata nos sub-itens a seguir.

Os dermatóglifos na Rússia, China e Brasil

No primeiro Congresso Mundial de Ciências do Esporte do Comitê Olímpico Internacional39, destacou-se o fato de os dermatóglifos serem marcadores biológicos imutáveis, com coletas e análises factíveis, práticas e economicamente viáveis para grandes populações. Sistematicamente, trabalhos têm sido desenvolvidos com grupos de competidores de destaque internacional, como chineses e russos40,41.

Da antiga URSS, conta-se com sistematizações e resultados de inspeções dos 15.000 melhores atletas, entre 1972 e 1986, pelo Laboratório de Antropologia, Morfologia e Genética Esportiva do Instituto de Pesquisa Científica de Cultura Física e Esportes42. Na China, a partir de 1980, sua incorporação ficou a cargo do Comitê Nacional do Incentivo à Ciência Natural, o qual orientou a aplicação dos dermatóglifos nas Ciências do Esporte com a análise de mais de 3.000 praticantes, sendo que mais de 800 eram da elite competitiva39,40.

Apesar de estas informações serem de período de vinte anos (1970 a 1990), a investigação com os dermatóglifos ainda acontece com êxito em ambos os países e, no Brasil, tem aumentado a partir de, pelo menos, três frentes de trabalho consolidadas, a saber:

1) Laboratório de Biociências da Motricidade Humana, da Universidade Castelo Branco do Rio de Janeiro43;

2) Grupo de Estudos em Genética da Faculdade de Educação Física da UniFMU44 e

3) Grupo de Saúde Coletiva, Epidemiologia e Atividade Física, da Facul-dade de Educação Física da Unicamp45-47.

Variáveis dermatoglíficas mais estudadas nas Ciências do Esporte

O elemento central das análises é o trirrádio, caracterizado pelo centro da junção do encontro de três sistemas de corrugações aproximadamente paralelas, cada qual contando com disposição curvilínea, formando entre si ângulos de 120 graus (fig. 1). Nas polpas dos dedos, a ausência dele classifica o padrão como arco (abreviado como As, quando simples e At, em tenda, que exibe falso trirrádio), a presença de um, como presilha (Lu e Lr dizem respeito, respectivamente, aos dois subtipos de presilhas, ulnar e radial) e, de dois, como verticilos simples e duplos (respectivamente, Ws e Wd). Francis Galton, em 1892, indicou existir maior freqüência de determinados padrões em detrimento a outros, e que, entre europeus, apresentam o seguinte gradiente: L > W > A.

Fig. 1. Padrões digitais mais comuns: 1. Arco simples; 2. Arco em tenda; 3. Presilha; 4. Verticilo simples; 5. Verticilo duplo. Na terceira imagem, o trirrário é delimitado por um círculo.

A aplicação destes indicadores na província chinesa de Guangdong em crianças e jovens exitosos em diversas modalidades, revelou a distribuição: W > Lu > A > Lr. Os esportistas mais proeminentes detinham maior quantidade de arcos que a média da população e, de modo geral, pessoas bem sucedidas com atletismo, futebol e basquetebol exibem mais verticilos duplos (Wd)48.

A prevalência de arcos é de 4% a 5%; porém atletas chineses de elite exibem percentual próximo a 2% e, acerca dos Wd, relatam-se valores entre 8% e 10%40. No entanto, vale lembrar que estudos de base populacional já assinalaram distribuição superior deste padrão entre orientais, quando comparados a ocidentais10.

Uma das possibilidades de explicação da relação entre verticilos e êxito esportivo reside no fato de que esta configuração parece estar associada aos cromossomos sexuais, dado que: a) homens possuem-lhe maior quantidade que mulheres e b) maior concentração de testosterona está vinculada com sua presença recorrente49. Assim, com quantidade superior de hormônios masculinos, indivíduos com predominância de verticilos teriam aptidão privilegiada para estímulos de força e potência e para adaptações positivas a partir do treinamento físico.

A tabela 2 apresenta a distribuição de frequência percentual dos padrões digitais em grupos de desportistas de diferentes modalidades. Como pode se observar, via de regra, é respeitado o gradiente arco < presilha < verticilo. Por outro lado, praticantes de diferentes lutas exibem frequência superiores de verticilos em relação aos demais competidores. Entre russos de elite, praticantes de modalidades cíclicas (atletismo, patinação e ciclismo), os verticilos são menos comuns do que em lutadores, e tais atletas portam percentual superior de presilhas. Esta mesma característica é compartilhada por competidores brasileiros de esportes distintos, provavelmente devido às limitações dos estudos em recrutarem atletas com resultados internacionais de destaque nas modalidades.

Em decorrência do tipo de padrão digital, estrutura-se a intensidade dos padrões, a qual diz respeito às contagens de trirrádios distribuídos em dois segmentos específicos20,59: nas palmas das mãos e nas polpas dos dedos. Nestas últimas, constituem o índice de intensidade de padrões digitais (IIPD) de cada mão e respectivo somatório (que tem como sigla ΣIIPD, e também é conhecido, na nomenclatura russa, como D10). No ΣIIPD, arcos simples têm valor de zero, arco em tenda e presilhas, um e verticilos dois60.

O ΣIIPD está inversamente relacionado à quantidade de gordura corporal e ao componente endomórfico da somatotipologia61. Em geral, os melhores competidores de modalidades complexas (lutas corporais e jogos desportivos coletivos) e levantamento de peso olímpico exibem os maiores valores; os que se distinguem pela velocidade, com orientação cíclica e curta duração, são os que apresentam quantidade inferior50. Em estudos no Brasil e na Rússia, excluindo a contagem total de linhas digitais e as frequências dos padrões, esta é a variável mais estudada (tabela 3).

Nos aspectos digitais quantitativos, o TRC é o que detém maior possibilidade de comparações, dado que a maioria dos estudos brasileiros e russos no âmbito esportivo só utiliza esta contagem de linhas. Entre russos, há tendência dos envolvidos em modalidades cíclicas e de resistência exibirem TRC menor que competidores de modalidades de potência e força (tabela 4).

Variáveis dermatoglíficas pouco exploradas nas Ciências do Esporte

Nas polpas, antes da quantificação do TRC, identificam-se as contagens das linhas das mãos direita e esquerda (respectivamente RRC - rigth ridge count e LRC - left ridge count) e o TRC. A tabela 5 apresenta os valores de RRC, LRC, de atletas e não atletas, segundo nacionalidade e sexo. Esportistas de elite do judô e basquetebol apresentam RRC inferior ao de russos e brasileiros não-atletas, mas superior ao de estadunidenses. Já para o sexo feminino, há valores menores para as atletas quando comparadas aos demais grupos.

Nas palmas, os trirrádios são localizados próximos às articulações metacarpo-falângicas, nominalmente a, b, c e d, o primeiro deles abaixo do dedo II, e o último, inferiormente ao V. As características quantitativas das palmas têm sido pouco analisadas, destacando-se número de linhas ab (tabela 6) e A'd (tabela 7). Os estudos existentes versam sobre aspectos médico-clínicos, pois ambas exibem correlações intrafamiliares acentuadas, sugerindo dependência de padrão poligênico de herança69.

Na perspectiva esportiva, em referência à contagem ab, observase que atletas de judô do sexo feminino exibem valores inferiores aos de referência da população brasileira, ao passo que o masculino, superiores a estes e aos de outros grupos populacionais. Ao considerarem os melhores chineses lutadores de Sanshou, foram registradas cifras da ordem de 37±4,4, e com a diminuição do nível esportivo tendem a aumentar72. Acerca da contagem A'd, no hemicorpo destro atletas apresentam número superior a não atletas, mas no lado esquerdo os valores de referência são intermediários aos de atletas de ambos os sexos.

Nas palmas das mãos se localiza, também, o trirrádio axial (antes conhecido como terminal e, então, abreviado por 't'), situado próximo à prega de flexão do punho, na área palmar adjacente à articulação rádiocárpica73. O mesmo varia conforme os anos avançam74,75, é sexualmente dismórfico70 e, em amostra representativa da população do sudeste, assinalaram-se as diferenças entre sexos65, com as médias entre 42 e 45 graus (tabela 8).

Particularidades acerca do ângulo atd já foram encontradas em asiáticos envolvidos com atletismo, futebol e basquetebol, sendo mais agudo entre desportistas de elite40,48. Quanto menor seu valor, maior associação com agilidade: chineses de alto nível têm média de 37° a 39°, ao passo que as chinesas, entre 39 e 40°72, quantidades bem menores que as registradas entre basquetebolistas45 e judocas brasileiros46.

Duas variáveis são decorrentes do posicionamento do trirrário t: índices de ulnaridade (IU) e combinado (IC)76. Para o IU, amostra representativa do sudeste do Brasil registrou valores significantemente diferentes para a mão direita entre homens e mulheres (respectivamente 0,836±0,08 e 0,84±0,085), mas não entre os lados corporais para o mesmo sexo65. Em jogadores de basquetebol de alto nível (membros da seleção brasileira), os valores do IU são significantemente inferiores, tanto na mão direita (0,74±0,10), quanto na esquerda (0,75±0,09), em relação ao grupo controle45. Dados de outra investigação corroboram com estes achados: judocas brasileiros de nível internacional46, do sexo masculino (mão direita = 0,72±0,08 e mão esquerda = 0,71±0,13) e feminino (mão direita = 0,78±0,07 e mão esquerda = 0,79±0,01), exibem IU menores do que os obtidos pelos estudos de base populacional65.

Relações com a orientação do talento esportivo

Como produto de esforços internacionais, a tabela 9 apresenta diferentes variáveis dermatoglíficas que podem discriminar atletas de destaque, em função das modalidades esportivas.

Achados de investigadores russos, destacadamente de Nikitjuk61 e seus orientandos, demonstram que há interações entre: a) equilíbrio estático, baixo TRC e pouca quantidade de arcos; b) elevado TRC, VO2max acima da média e qualidades de velocidade e força; assim como c) número de presilhas e verticilos, respectivamente com memória visual e cinestésica-corporal52.

Neste contexto, pontua-se que as práticas caracterizadas por grande demanda de velocidade, potência e períodos breves de esforços privilegiam competidores com número reduzido de trirrádios digitais (IIPD), freqüência elevada de arcos e presilhas e diminuição de verticilos e, consequentemente, TRC baixo50. Por outro lado, contagem de linhas digitais abundante, escassez de arcos, quantidade alta de trirrádios digitais (ΣIIPD) e de verticilos (especialmente os duplos), associam-se com modalidades coletivas e conjugadas de força e coordenação42.

A tabela 10 sumariza a interação entre TRC, ΣIIPD, funcionalidades físicas e motoras eleitas. Da observação conjunta destas duas variáveis decorrentes das análises dos dermatóglifos, identifica-se a inserção do esportista em determinadas classes, as quais apresentam características funcionais deficientes e potencializadas. Assim, pessoas com ΣIIPD próximo a 11 e TRC por volta de 126 expressarão bons rendimentos em testes de força, ao passo que aquelas com valores mais elevados de ambos, respectivamente 13 e 134, terão resistência e coordenação como pontos positivos.

Ao se avaliarem os dermatóglifos de crianças e adolescentes, profissionais ligados à EF&E cogitariam de orientar os mesmos para a escolha de diferentes grupos de modalidades esportivas, nas quais as chances de êxito poderiam ser maiores (tabela 9). Jovens com elevada quantidade de verticilos duplos, ângulo atd entre 35 e 39° e índices de ulnaridade e combinado com valores pequenos, teoricamente, poderiam ter sucesso em jogos desportivos coletivos. Aqueles com grande freqüência de arcos e presilhas apresentariam desempenho superior no levantamento olímpico e outras modalidades de força-potência (arremesso de peso, lançamentos de disco, dardo e martelo, por exemplo).

No entanto, tais informações precisam ser consumidas com cautela. Destacam-se algumas limitações razoáveis:

1) Estes dados decorrem de esportistas da Rússia e China, países de população com distribuições dígito-palmares diferentes das do nosso69;

2) Geralmente são consideradas apenas as variáveis digitais TRC e ΣIIPD, ainda que estudos brasileiros9,45,46 e chineses39 prévios apontaram a relevância de variáveis palmares, destacadamente os índices de ulnaridade e combinado e o ângulo atd;

3) Não foram submetidas a testes estatísticos multivariados, mas tratase apenas de diferenças entre atletas de elite, segundo modalidades.

Técnicas multivariadas e múltiplas de análise dos dermatóglifos nas Ciências do Esporte

Tendo em vista a origem multifatorial do êxito esportivo1,3, o qual decorre da interação de diversos componentes atuando sinergicamente8,9, há de serem empregadas técnicas estatísticas que considerem os efeitos e interações de diversas variáveis simultaneamente e, para isto, pesquisas têm utilizado a análise multivariada.

Na EF&E vem sendo cada vez mais aplicada, tanto de modo amplo80, quanto nos estudos com variáveis genéticas81. Considerando-se os IBR como objeto de estudo não parece ser diferente, a exemplo da aplicação dos componentes principais da análise fatorial82-84. Inobstante, as indicações de Gonçalves e Gonçalves85 para com a necessidade da adoção destes procedimentos, já na década de 90, parecem estar sendo ignoradas. Grande parte da produção do conhecimento quanto aos dermatóglifos fez uso da estatística descritiva, apresentando exclusivamente a distribuição de frequência dos padrões digitais48,50,63-79 e, eventualmente, conduziu análise bivariada entre componentes da aptidão física (potência aeróbia) e IBR86.

Por outro lado, número restrito de investigações com delineamentos mais elegantes empregou técnicas multivariadas de análise. Entre hindus, envolveram-se 50 jogadores profissionais de basquetebol, de nível nacional e aplicou-se análise fatorial para identificar quais variáveis eram relevantes para serem estudadas. Naquela realidade foi pontuado que as características constitucionais dos atletas eram definidas por quatro grupos de fatores, e se destacaram as corrugações do dedo IV e o ΣIIPD, respectivamente, como as mais representativas87.

Outra investigação, agora desenvolvida no Grupo de Saúde Coletiva, Epidemiologia e Atividade Física, no interior da Faculdade de Educação Física, na Unicamp, contou com 100 basquetebolistas, de quatro níveis diferentes, a saber: a) membros da seleção brasileira; b) representantes do campeonato nacional; c) jogadores da etapa paulista; d) praticantes de finais de semana, e e) 25 indivíduos não envolvidos com o esporte. Os do primeiro grupo diferiram dos demais na TRC, contagem ab e A'd45. Considerando o conjunto das informações, por meio de técnica multivariada denominada Discriminação Gráfica de Fisher, observou-se que, a priori, os índices de ulnaridade (<0,75) e o Combinado (<0,09) são aqueles que, inicialmente, seriam tomados como IBR na identificação dos talentos esportivos9. A divergência destes resultados com outras pesquisas pode residir no aprimoramento da seleção amostral e, também, na estrutura do plano estatístico, pois se contou com procedimentos robustos e elaborados.

Desse modo, para se investigar a contribuição dos IBR nos componentes da aptidão física, realizam-se testes de correlação bivariada (produto-momento de Pearson) e, então, os pares com r igual ou superior a 0,70 participam dos procedimentos estatísticos subsequentes. Neste contexto, pode-se optar por técnicas multivariadas e/ou múltiplas.

Em referência às técnicas multivariadas, encontram-se as exploratórias, como a análise fatorial e os componentes principais, que têm a função de reduzir o espaço paramétrico e identificam, em quantidade relativamente grande de variáveis, as que melhor representam o conjunto88. Há, ainda, a regressão múltipla, a qual busca explicar a contribuição simultânea de diversas variáveis independentes (por exemplo, TRC, ΣIIPD, ângulo atd, IU e IC) na manifestação de uma única dependente (velocidade, potência aeróbia ou força isométrica de preensão manual). Dentre as multivariadas múltiplas, localiza-se a correlação canônica, que investiga o relacionamento de dois conjuntos de variáveis89, neste caso, os IBR, como variáveis independentes e os diversos componentes da aptidão física como dependentes46.

Desse modo, as preocupações quanto à multifatorialidade do êxito esportivo, a interação de diversos componentes atuando simultaneamente no resultado competitivo e as preocupações quanto à abordagem da detecção de talentos contemplam-se com os ajustes multivariados e múltiplos90.

Conclusões e recomendações

Conclui-se que as variáveis digitais: contagem total de linhas e somatório de trirrádios, e as palmares: ângulo atd e índices de ulnaridade e combinado, parecem ter distribuição diferenciada em atletas de alto nível de várias modalidades esportivas, em função da orientação dos esforços físicos, se de resistência, força ou potência. Esses dois índices pal-mares, quando analisados a partir da perspectiva multivariada, mostraram-se discriminantes entre atletas de elite e não-elite no basquetebol.

Considerando que: a) atletas de modalidades de velocidade, potência e períodos breves de esforços exibem número reduzido de trirrádios digitais, freqüência elevada de arcos e presilhas e baixo número de verticilos e da contagem total de linhas digitais e b) que as coletivas e conjugadas de força e coordenação têm competidores com contagem de linhas digitais abundante, escassez de arcos, quantidade alta de trirrádios digitais (ΣIIPD) e de verticilos (especialmente os duplos), os dermatóglifos podem contribuir no processo de detecção e promoção de talentos esportivos.

Indica-se, portanto, que os dermatóglifos continuem a ser utilizados no âmbito da Educação Física e Esportes ao redor do mundo. Os estudos e subseqüentes inferências precisam superar a característica descritiva e de associação bivariada, e passarem a ser pautados em técnicas multivariadas e múltiplas de análises, considerando variáveis digitais (destacadamente TRC e ΣIIPD), palmares (ângulo atd, índices de ulnaridade e combinado) e os critérios internacionais de padronização. Por fim, registra-se que a indiferença ou o antagonismo por parte de alguns investigadores, para com a adoção do uso dos dermatóglifos em seus procedimentos, não contemplam apenas razões operacionais e ideológicas, mas podem refletir desconhecimento técnico ou, até mesmo, a busca e fomento pelo fascínio tecnológico85.


Contacto:

A. Gonçalves.

Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas. Rua: Luverci Pereira de Souza, 1131. Cidade Universitária, Campinas. 13083-730 São Paulo. Brasil.

E-mail:
aguinaldogon@uol.com.br

Historia del artículo:

Recibido el 16 de abril de 2010

Aceptado el 9 de junio de 2010

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