Objetivo. O objetivo deste estudo foi analisar a relação entre indicadores de adiposidade corporal, idade e a aptidão física relacionada à saúde.
Métodos. A amostra foi composta por 43 meninos e 53 meninas. Foram aplicados os seguintes testes: abdominal (ABD), flexão e extensão de cotovelos em suspensão na barra (FEC) e corrida/caminhada (CC). Os indicadores de adiposidade analisados foram: índice de massa corporal (IMC), dobras cutâneas subescapular (SB), tricipital (TR) e perna medial (PM); somatória das dobras (Σ) e percentual de gordura (%G).
Resultados. Os resultados indicaram correlação negativa entre FEC e TR, PM, Σ e %G para meninos e meninas (r = -0,42 a r = -0,52, P ≤ 0,01). Houve correlação positiva entre o teste de ABD e idade para ambos os grupos (r = 0,35, P ≤ 0,05 a r = 0,52, P ≤ 0,01), e negativa do ABD com SB, PM e %G para as meninas (r = -0,28 a r = - 0,29, P ≤ 0,05). Correlação negativa também foi verificada entre CC com TR para os meninos (r = - 0,30, P < 0,05).
Conclusão. A idade parece estar relacionada com um melhor desempenho, e a adiposidade corporal com o menor, principalmente no Teste de FEC, para o qual é necessária a sustentação da própria massa corporal. Assim na interpretação de resultados e estabelecimento de critérios para testes com estas características este fato deve ser considerado.
Objectives. The purpose of this study was to analyze the relationship between adiposity indicators, age and physical fitness related to health.
Methods. The sample involved 43 boys and 53 girls. The tests applied were: the Sit-up (S), Modified Pull-up (MP) and Run/Walk (RW) tests. Fat indicators were: Body Mass Index (BMI), subscapular (SB), triceps (TR), and calf (C) skinfolds; the skinfolds sum (Σ) and percentage of fat mass (%F).
Results. The results indicated negative correlation between MP and TR, MC, Σ and %F for boys and girls (r = -0,42 a r = -0,52, P ≤ 0,01). There was positive correlation among the S test and age for both groups (r = 0,35, P ≤ 0,05 a r = 0,52, P ≤ 0,01), and negative on the S test with SB, MC and %F for the girls (r = -0,28 a r = -0,29, P ≤ 0,05). Negative correlation also was verified between RW with TR for the boys (r = -0,30, P < 0,05).
Conclusion. Age seemed to be related with better performance, and adiposity with weaker performance, mostly in the MP where it is necessary to support their own body mass. Thus, these factors should be considered in the interpretation of results and when establishing criteria for health-related tests with these characteristics.
Introdução
Muitos fatores de risco para a saúde podem estar presentes no período da infância e adolescência1-3. Identificar os fatores associados com a diminuição da prática de atividades físicas e da aptidão física pode auxiliar no desenvolvimento de estratégias governamentais no sentido de prevenir ou retardar o aparecimento de doenças crônicas na fase adulta4-6, contribuindo assim para a manutenção da saúde da população.
Muitos estudos têm buscado desenvolver critérios para a aptidão física relacionada à saúde7,8. Existem indicações de que uma maior aptidão aeróbia apresenta relação inversa com a adiposidade corporal9. E que parâmetros adequados quanto a adiposidade corporal podem diminuir a probabilidade de desenvolvimento de fatores de risco cardiovasculares10, indicando a importância desses componentes para a saúde.
O desempenho em alguns testes de aptidão física parece sofrer influência das características morfológicas de cada indivíduo, sendo que alguns testes poderiam ser mais influenciados do que outros. A idade, estatura e gordura corporal já foram identificadas como as principais preditoras do desempenho em testes de aptidão física em sujeitos de ambos os sexos, na faixa etária de sete a 17 anos, respondendo por valores entre 40 e 70% da variação dos resultados dos testes11. Entretanto, é possível que a idade e diferentes indicadores de adiposidade corporal demonstrem magnitudes diferentes de relação com o resultado dos testes tanto em meninos quanto em meninas.
Se estes fatores realmente influenciam o desempenho em testes de aptidão física, eles devem ser considerados na interpretação dos resultados e no estabelecimento de critérios para a aptidão física relacionada à saúde12, visto que estes visam estabelecer condições adequadas de um determinado componente da aptidão física, o qual poderia ser interpretado de maneira equivocada quando aspectos que o influenciam não são considerados. Logo, o objetivo deste estudo foi investigar a relação entre a idade cronológica, indicadores de adiposidade corporal e testes direcionados a análise da aptidão física relacionada à saúde em meninos e meninas.
Métodos
Delineamento do estudo e aspectos éticos
O presente estudo teve um delineamento transversal e utilizou metodologia correlacional. Anteriormente à realização do estudo, as crianças e seus responsáveis foram informados sobre os propósitos da investigação e os métodos empregados na mesma, assinando um termo de consentimento livre e esclarecido. O estudo foi desenvolvido em conformidade com as instruções contidas na Resolução196/96 do Conselho Nacional de Saúde para Estudos com Seres Humanos, do Ministério da Saúde, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina, conforme Parecer nº 216/08.
Características dos sujeitos
O cálculo do tamanho da amostra13 adotando um valor de α = 0,05 e β = 0,20, baseou-se em uma correlação de r = -0,49 entre o percentual de gordura e o consumo máximo de oxigênio14 e indicou um número mínimo de 30 indivíduos para cada grupo. A amostra foi composta por 96 sujeitos, sendo 53 meninas, com idades de 10 (n = 12), 11 (n = 15), 12 (n = 15), 13 (n = 3), 14 (n = 5), 15 (n =1) e 16 (n =2) anos; e por 43 meninos, com idades de 8 (n =1), 9 (n = 1), 10 (n =6), 11 (n = 13), 12 (n = 4), 13 (n = 6), 14 (n = 5), 15 (n = 3), 16 (n = 3) e 17 (n = 1) anos. Todos pertencentes a uma mesma escola da Rede Pública Estadual de Ensino de Londrina-PR e participantes de um projeto de inclusão social, denominado Projeto Perobal, desenvolvido nas instalações do Centro de Educação Física e Esporte da Universidade Estadual de Londrina (CEFE/UEL), em parceria com o Instituto Ayrton Senna/Unibanco, de São Paulo-SP.
Os pressupostos filosóficos do Projeto Perobal visam a inclusão social de crianças e adolescentes por meio do Programa Educação pelo Esporte. O qual tem como base os Quatro Pilares da Educação, proposto por Jacques Dellors: o desenvolvimento de competências nas suas diferentes atividades - aprender a ser (competências pessoais), aprender a fazer (competências produtivas), aprender a conhecer (competências cognitivas) e aprender a conviver (competências relacionais e sociais).
O projeto tem seu desenvolvimento três vezes por semana, com uma duração média de três horas e trinta minutos por dia. Diversas atividades são desenvolvidas, como aulas de artes cênicas, de cerâmica e informática com uma carga horária semanal de aproximadamente quatro horas e trinta minutos; e um dos aspectos predominantes deste projeto é o desenvolvimento de atividades esportivas (ginástica olímpica, handebol, basquetebol, futsal, voleibol, natação, atletismo etc.) com aproximadamente seis horas semanais destinadas a estas. Ao final das atividades diárias, era oportunizado um lanche a todos os participantes do projeto.
Condição socioeconômica
Na determinação da condição socioeconômica das famílias, foram empregados os "Critérios de Classificação Econômica do Brasil" estabelecidos no ano de 2003 pela Associação Brasileira de Empresas e de Pesquisa15, de acordo com banco de dados de um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOP, 2000). Nesse questionário são considerados fatores como o grau de instrução do chefe de família, a presença e a quantidade de determinados cômodos e bens no domicílio analisado (televisor em cores, videocassete ou DVD, rádio, banheiro, automóvel, máquina de lavar, empregada mensalista, aspirador de pó, geladeira e freezer), e estabelece as seguintes classificações para condição socioeconômica: A1, A2, B1, B2, C, D e E.
Indicadores de adiposidade corporal e maturação biológica
Para a coleta dos dados quanto às variáveis morfológicas foi utilizada uma balança antropométrica com precisão de 0,1 kg, um estadiômetro de madeira com precisão de 0,1cm e um adipômetro da marca Cescorf, com precisão de 0,1mm. As variáveis antropométricas analisadas foram as seguintes: massa corporal (MC) e estatura, seguindo a padronização proposta por Gordon, Chumlea e Roche16. A avaliação das dobras cutâneas subescapular (SB), tricipital (TR) e perna medial (PM), obedeceu a padronização proposta por Harrison et al17. A somatória das três dobras cutâneas (Σ) foi utilizada como indicador de adiposidade, e o percentual de gordura (%G) foi estimado pelas equações propostas por Slaughter et al.18.
O índice de massa corporal (IMC) foi calculado por meio da divisão da massa corporal (kg) pela estatura (m) ao quadrado, expresso em kg/m2. Visando caracterizar a amostra os indivíduos foram classificados pelos critérios da Fitnessgram para o IMC da presente maneira: a) "não atende e está abaixo", b) "atende", c) "não atende e apresenta algum risco" e d) "não atende e apresenta alto risco"19.
Para análise das características dos sujeitos também foram obtidas informações quanto à maturação biológica. A pilosidade axilar foi utilizada como indicador da maturação biológica entre os meninos, classificando-os como pré-púberes, púberes ou pós-púberes. Entre as meninas foi verificada a ocorrência ou não da menarca, conforme procedimentos descritos por Matsudo20.
Testes motores
Os testes de Flexão e Extensão de Cotovelos em Suspensão na Barra (FEC) e Abdominal modificado (ABD) foram expressos em número de repetições (rep) e o Teste cardiorrespiratório de Corrida/Caminhada (CC) com nove minutos de duração para indivíduos com menos de 13 anos independente do sexo e com 12 minutos para aqueles com idades superiores (9/12 min) o qual foi expresso em metros por minuto (m/min). Todos os testes foram realizados de acordo com os procedimentos citados na bateria de testes de Guedes e Guedes21, e aplicados em uma quadra coberta.
Análise estatística
A análise dos dados utilizou estatística descritiva para caracterização da amostra, sendo realizado o Teste de Shapiro-Wilk para verificar a distribuição dos dados. Devido a distribuição não Gaussiana foi utilizado o Teste U de Mann-Whitney para comparação entre os grupos (meninos × meninas). E a correlação entre as variáveis foi averiguada por meio do Coeficiente de Correlação de Spearman. A significância adotada foi de P ≤ 0,05. Para as análises foi utilizado o Software SPSS 15.0 for Windows.
Resultados
Como informação adicional para caracterização dos sujeitos foi verificada a condição socioeconômica das famílias dos escolares. Verificou-se a seguinte proporção de indivíduos em cada extrato: C =1,6%, D = 72,6% e E = 25,8%, indicando uma baixa condição socioeconômica. Em relação à classificação nos critérios da Fitnessgram para o IMC verificou-se a seguinte distribuição entre os rapazes: não atende e está abaixo = 7,0%, atende = 72,1%, não atende e apresenta algum risco = 7,0% e não atende e apresenta alto risco = 14,0%. Entre as meninas a distribuição foi da presente maneira: atendev=v88,7%, não atende e apresenta algum risco = 7,5% e não atende e apresenta alto risco = 3,8%.
Os resultados do presente estudo encontram-se descritos nas tabelas 1, 2 e 3. As características da amostra são apresentadas na tabela 1, os indicadores de adiposidade corporal (IMC, SB, TR, PM, Σ e %G) e o desempenho nos teste motores (FEC, ABD e CC) estão descritos na tabela 2 de acordo com o gênero.
No que se refere aos valores de tendência central da idade, massa corporal, estatura e IMC os meninos apresentaram valores maiores quando comparados com as meninas, porém não houve diferença estatisticamente significativa (P > 0,05) nessas variáveis (tabela 1). Além disso, embora a grande maioria dos valores de tendência central dos indicadores de adiposidade tenham sido superiores para o gênero feminino (tabela 2), houve significância estatística apenas para o percentual de gordura (P ≤ 0,01).
Nos testes motores, todas as análises evidenciaram diferenças estatisticamente significativas, na qual meninos apresentaram resultados superiores em relação aos valores obtidos pelas meninas. A tabela 3 apresenta os valores das correlações entre a idade, indicadores de adiposidade corporal e os resultados dos testes motores para os meninos e meninas.
Os resultados indicam que ocorreu significância estatística nas correlações entre a idade e o teste de ABD para os meninos, sendo ela moderada e positiva. Para as meninas, houve correlação fraca entre a idade e os testes de ABD e CC a idade.
Existiu correlação negativa entre os indicadores de adiposidade corporal e o desempenho nos testes motores. Os dados também sugerem moderada e significativa correlação de TR e %G com o desempenho no teste de FEC. Fraca correlação com a dobra PM e Σ para os meninos foi verificada. Para as meninas, foi constatada uma relação moderada e significativa entre FEC com SB, Σ e %G. Entretanto, para outros indicadores de adiposidade corporal como as dobras TR e PM a correlação foi fraca.
Os indicadores de adiposidade corporal que apresentaram correlação significativa com o teste de ABD foram SB, PM e %G, mas apenas para as meninas, e de fraca magnitude. O único indicador de gordura corporal que apresentou relação significativa com o teste de CC foi a dobra TR e apenas para os meninos, sendo também de fraca magnitude.
Os resultados quanto aos indicadores de maturação biológica demonstraram que, 65,1% dos meninos foram classificados como pré-púberes (idade MD = 11,64; DP = 1,67; MDA = 11,00; MIN = 9; MAX = 16,00 anos), 30,2% como púberes (idade MD = 13,08; DP = 2,50; MDA = 13,00; MIN = 8,00; MAX =17,00 anos) e 4,7% como pós-púberes (idade MD = 15,00; DP = 1,41; MDA = 15,00; MIN = 14,00; MAX = 16,00 anos), sendo verificada fraca correlação entre os estágios maturacionais e o desempenho nos testes de FEC, ABD e CC (respectivamente r = 0,35, P ≤ 0,05; r = 0,36, P ≤ 0,05 e CC r = 0,17, P > 0,05).
Entre as meninas a menarca havia ocorrido em apenas 17% (idade MD = 13,33; DP = 1,66; MDA = 14,00; MIN = 11,00; MAX = 16,00 anos). Em 83% das meninas a menarca ainda não havia ocorrido (idade MD = 11,39; DP = 1,30; MDA = 11,00; MIN = 10,00; MAX = 16,00 anos) não sendo verificada relação entre a ocorrência da menarca e o desempenho nos testes FEC, ABD e CC (respectivamente r = 0,04, P > 0,05; r =0,21, P > 0,05 e CC r =0,06, P > 0,05).
Discussão
No que diz respeito à correlação entre os indicadores de adiposidade utilizados e os resultados nos testes de aptidão física, foram observadas relações de fraca a moderada magnitude em ambos os sexos. Os presentes indicadores de adiposidade foram utilizados por serem preconizados em propostas de critérios para aptidão física relacionada à saúde7,8, por sua utilização em equações para predição do percentual de gordura18, bem como, por serem métodos de fácil aplicação em campo22.
De maneira semelhante ao presente estudo, pesquisas que investigaram a relação entre indicadores de adiposidade e a aptidão cardiorrespiratória14,23-25, bem como com testes de força26 encontraram correlações de fracas a moderadas. Mas parece que aspectos como a idade, estatura e maturação biológica também influenciam a magnitude dessas correlações.
Os resultados do presente estudo no que se refere à gordura corporal revelaram valores superiores entre as meninas, enquanto que, os meninos apresentaram resultados mais elevados nos testes de aptidão física, o que corrobora com outros estudos indicando o dimorfismo sexual. Ferreira e Böhme24 verificaram que meninas apresentaram valores mais elevados de adiposidade corporal enquanto os meninos apresentaram melhores resultados nos testes de Flexão e extensão dos cotovelos em suspensão na barra modificado e no teste de Salto em distância parado. Quando meninos e meninas foram comparados quanto à magnitude da relação entre o desempenho motor e a adiposidade corporal não foram verificadas diferenças significativas. Portanto, as diferenças na adiposidade corporal não explicaram as diferenças de desempenho nos testes entre os sexos.
No presente estudo o grupo dos meninos apresentou melhores resultados no teste de CC e também menor percentual de gordura. No entanto a diferença quanto ao percentual de gordura apesar de significativa foi de apenas 1,33 pontos percentuais, sendo que esta parece não explicar o dimorfismo sexual em relação aos resultados nos testes de aptidão física. O único indicador de adiposidade inversamente relacionado à aptidão cardiorrespiratória foi a dobra cutânea TR, porém com fraca relação. A prática de atividade física de intensidade moderada e vigorosa é indicada como fator relacionado com parâmetros positivos da composição corporal e aptidão cardiorrespiratória27,28, o que torna plausível o fato do condicionamento cardiorrespiratório ser indicado como um fator inversamente relacionado ao risco de aumento da adiposidade corporal9.
Mesmo a amostra do presente estudo praticando atividades esportivas (ginástica olímpica, handebol, basquetebol, futsal, voleibol, natação, atletismo etc.) com uma carga horária de aproximadamente seis horas por semana, foi verificada uma proporção relevante de meninos (21%) e meninas (11,3%) em condição de risco à saúde quanto ao IMC. Este fato pode sugerir a influencia de aspectos comportamentais como os hábitos alimentares, ou mesmo a necessidade de reestruturação das atividades físicas praticadas, analisando aspectos como o tipo de atividade, intensidade e frequência.
A influência dos indicadores de adiposidade corporal pode ter se expressado de forma menos pronunciada no presente estudo, devido ao número reduzido de casos com valores excessivamente altos quanto aos indicadores de adiposidade corporal, principalmente entre as meninas, nas quais apenas 3,8% estavam na condição "Não atende e apresenta alto risco" para o IMC. Além, disso é possível que a adiposidade corporal apresente magnitudes de relação diferentes com os resultados dos testes de acordo com a faixa etária, mas para esta análise seria necessário um número maior de sujeitos para cada faixa etária.
Gutin et al28. utilizando metodologia mais sofisticada indicou moderado relacionamento inverso entre aptidão cardiorrespiratória e composição corporal, corroborando com os resultados apresentados no presente estudo. Sardinha et al.29 e Fernandes et al.22 indicaram que a dobra cutânea tricipital é um bom indicador antropométrico de adiposidade. Além disso, a aptidão cardiorrespiratória é uma variável que parece sofrer influência de inúmeras variáveis externas30, o que por sua vez, pode ter influenciado a magnitude dos resultados encontrados. Portanto, parece aceitável analisar os presentes resultados como indicadores modestos, mas sem desprezar seus significados.
Em estudo realizado por Buresh, Berg e Noble31 com corredores saudáveis foi verificada relação negativa significante entre a velocidade no limiar de lactato e massa corporal. O coeficiente de determinação indicou que aproximadamente 58% da variabilidade pode ser explicada pela massa corporal dos sujeitos. A velocidade no limiar de lactato também apresentou relação negativa significante com a área de superfície corporal, massa gorda, porcentagem de gordura e massa magra, demonstrando as possíveis interferências morfológicas quando se trata do desempenho em corrida de longa distância.
Por outro lado, em estudo realizado por Frainer, Oliveira e Pazin32 com crianças envolvidas em atividades esportivas, tais resultados parecem não se reproduzirem, visto que variáveis como a massa corporal e a soma das dobras cutâneas TR e SB não se correlacionaram com a aptidão aeróbia. Estes resultados sugerem que outras variáveis do desempenho fisiológico ou biomecânico poderiam influenciar nestas questões.
Entre os indicadores de adiposidade, o IMC e a dobra cutânea TR têm apresentado grande utilização33,34 e parecem apresentar resultados similares na identificação do estado nutricional de crianças e adolescentes. Contudo, quando comparado à dobra cutânea TR, o IMC é indicado como uma ferramenta mais simples para a identificação do estado nutricional e menos passível de erros22.Todavia, estes diferentes indicadores de adiposidade parecem não demonstrar a mesma magnitude de associação com os componentes da aptidão física analisados no presente estudo.
De fato, se parâmetros adequados de aptidão física podem contribuir na diminuição de fatores de risco à saúde, tais como os cardiovasculares, em função da elevada ocorrência de obesidade na população pediátrica brasileira, a maior contribuição do presente estudo parece estar alicerçada na relação inversa entre estes diferentes indicadores de adiposidade e o menor desempenho nos diferentes testes. De maneira geral, estes resultados sugerem a importância de se considerar os aspectos morfológicos na interpretação dos resultados destes testes, bem como a importância de se considerar a utilização de ajustes no desenvolvimento de critérios para a aptidão física relacionada à saúde, corroborando com os achados de LLoid et al.12. No entanto, no presente estudo isto se evidencia principalmente nos testes que envolvem a sustentação da própria massa corporal.
O estabelecimento de critérios relacionados à saúde de acordo com o sexo e faixa etária é realizado devido à influência que estas variáveis podem exercer no estabelecimento dos pontos de corte. No entanto, os resultados do presente estudo sugerem influência significativa dos indicadores de adiposidade nos resultados de alguns testes. As implicações práticas são que um indivíduo poderia ser enquadrado com parâmetros inadequados de força/resistência muscular ou algum componente da aptidão física, mas o que poderia estar influenciando estes resultados seria o excesso de adiposidade corporal.
Outro fator a se considerar é que mesmo alguns estudos não encontrando relação significativa da maturação biológica e da idade cronológica com a aptidão aeróbia e indicadores de gordura corporal32 é relevante salientar que os estágios de maturação sexual podem influenciar tanto as condições de adiposidade corporal quanto do desempenho em testes de aptidão física. Não obstante no presente estudo estes fatores não se relacionaram de maneira relevante, mas devem ser consideradas as possíveis limitações dos indicadores utilizados, visto que outros métodos podem fornecer informações mais precisas quanto a real condição desta. Sugere-se que estudos futuros envolvam outras variáveis em seus modelos experimentais, tais como prática habitual de atividades físicas e ingestão alimentar, para elucidar melhor tais fenômenos na população pediátrica brasileira.
Em conclusão, a idade e os indicadores de adiposidade relacionaram-se com magnitudes diferentes com o desempenho nos testes em cada sexo, mas em sentido semelhante. Apesar dos meninos apresentarem maiores resultados nos testes de aptidão física, os indicadores de adiposidade parecem não explicar o dimorfismo sexual, visto que somente o percentual de gordura apresentou diferença entre os sexos. O aumento da idade influenciou de maneira fraca a moderada o maior desempenho.
Entre os indicadores de adiposidade, o único que se relacionou com a aptidão cardiorrespiratória foi a dobra cutânea TR entre os meninos, mas com uma fraca magnitude. A adiposidade corporal influenciou negativamente principalmente no teste de força/resistência muscular, no qual é necessária a sustentação da própria massa corporal. Assim na interpretação dos resultados de testes com estas características ou desenvolvimento de critérios relacionados à saúde para estas variáveis este fato deve ser considerado.
Historia del artículo:
Recibido: el 30 de junio de 2012 Aceptado: el 1 de octubre de 2012
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RESUMEN
Relación entre la edad cronológica, los indicadores de adiposidad corporal y aptitud física relacionada con la salud de niños y niñas
Objetivos. El objetivo de este estudio fue analizar la relación entre indicadores de la adiposidad, la edad y aptitud física relacionada con la salud.
Métodos. La muestra consistió en 43 niños y 53 niñas. Se aplicaron las siguientes pruebas: abdominales (ABD), la flexión y extensión del codo en suspensión en la barra (FEC) y la carrera/caminata (CC). Los indicadores de adiposidad analizados fueron: índice de masa corporal (IMC), pliegue cutáneo subescapular (SB), tríceps (TR) y de la pierna medial (PM), suma de pliegues cutáneos (Σ) y porcentaje de grasa corporal (% GC).
Resultados. Los resultados indicaron una correlación negativa entre la FEC y TR, PM, Σ y G% de los niños y las niñas (r = -0,42 hasta r = -0.52, P ≤ 0,01). Se observó una correlación positiva entre la ABD y edad para ambos grupos (r = 0,35, P ≤ 0,05 hasta r = 0,52, P ≤ 0,01), y negativa de los ABD con SB, PM y G% para las niñas (r = -0,28 hasta r = -0,29, P ≤ 0,05). Se observó también una correlación negativa entre el TR y CC para los niños (r = -0,30, P < 0,05).
Conclusión. La edad parece estar asociada con un mejor desempeño, y la adiposidad corporal con un menor desempeño, especialmente en la prueba de la FEC donde se necesita apoyar su propia masa corporal. Este hecho debe ser considerado en la interpretación de los resultados y en el establecimiento de los criterios para las pruebas con estas características.
Palabras clave:
Índice de masa corporal. Grosor de pliegues cutáneos. Aptitud Física.