Verificar o efeito da poluição do ar sobre o peso ao nascer numa cidade de médio porte paulista.
MétodosEstudo transversal, com dados relativos a todos os nascidos vivos de mães residentes no Município de São José dos Campos nos anos de 2005 a 2009. Foram obtidos dados do Departamento de Informações e Informática do Sistema Único de Saúde. Os dados dos poluentes do ar (PM, SO e O), as médias diárias de suas concentrações, foram fornecidos pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Aplicou‐se a regressão linear e a logística para a análise dos dados, realizadas nos programas Excel e STATA v.7.
ResultadosA exposição materna aos poluentes do ar não se associou ao nascimento de crianças com baixo peso, com exceção do SO no último mês de gestação (OR=1,25; IC95% 1,00‐1,56). Além disso, a exposição materna ao PM e SO no último mês levou à diminuição do peso ao nascer (0,28g e 3,15g, respectivamente) para cada 1mcg/m3 de aumento da concentração desses poluentes, porém sem significância estatística.
ConclusõesEste estudo não permitiu identificar associação estatística entre os níveis de concentração dos poluentes atmosféricos e o peso ao nascer, com exceção da exposição SO no último mês de gestação.
To investigate the effect of air pollution on birth weight in a medium‐sized town in the State of São Paulo, Southeast Brazil.
MethodsCross‐sectional study using data of live births to mothers residing in São José dos Campos from 2005 to 2009. Data was obtained from the Department of Information
and Computing of the Brazilian Unified Health System. Air pollutant data (PM, SO and O) and daily averages of their concentrations were obtained from the Environmental Sanitation & Technology Company. Statistical analysis was performed by linear and logistic regressions using the Excel and STATA v.7 software programs.
ResultsMaternal exposure to air pollutants was not associated with low birth weight, with the exception of exposure to SO within the last month of pregnancy (OR=1,25; IC95% 1,00‐1,56). Maternal exposure to PM
and SO during the last month of pregnancy led to lower weight at birth (0.28 g and 3.15 g, respectively) for each 1mg/m3 increase in the concentration of these pollutants, but without statistical significance.
ConclusionsThis study failed to identify a statistically significant association between the levels of air pollutants and birth weight, with the exception of exposure to SO within the last month of pregnancy.
A poluição do ar representa hoje um dos maiores proble‐ mas de Saúde Pública, afetando a saúde dos seres huma‐ nos, animais e das plantas. O rápido avanço tecnológico do mundo moderno trouxe consigo um aumento na quantida‐ de e na variedade de poluentes eliminados na atmosfera, prejudicando a qualidade de vida em nosso planeta.1 Os principais poluentes atmosféricos nas cidades são o material particulado (PM10), o ozônio (O3), o dióxido de enxofre (SO2), o monóxido de carbono (CO) e os óxidos de nitrogê- nio (NO2).
A exposição aos poluentes do ar vem se mostrando asso‐ ciada a vários efeitos deletérios sobre a saúde da popu‐ lação, mesmo em níveis considerados seguros pela legislação ambiental.1,2 Quando é medida a concentração dos poluentes atmosféricos de uma determinada localidade, identifica‐se que as maiores concentrações produzem efeitos adversos à saúde, como o aumento no número de internações hospita‐ lares, o aumento da mortalidade e a diminuição da expec‐ tativa de vida.3 Os efeitos da poluição do ar sobre desfechos relacionados com a gravidez também têm sido considera‐ dos em alguns estudos.4–6 Entre esses desfechos está o baixo peso ao nascer (BPN),7,8 definido como o nascido vivo com peso menor que 2500g.9 Os mecanismos biológicos envolvi‐ dos no comprometimento do crescimento fetal associado à poluição ambiental parecem relacionados às alterações placentárias, com alterações anatomopatológicas e morfo‐ métricas,10 infarto placentário11 e vilosite crônica.12 Pesquisa realizada por Perera et al em gestantes dominicanas e afro‐ americanas entre 18 e 35 anos de idade residentes há pelo menos um ano em Nova York, não fumantes, sem diabetes, hipertensão arterial e soronegativas para o vírus da imuno‐deficiência humana indicou que, na população estudada, o feto e o recém‐nascido são mais suscetíveis que os adultos às substâncias tóxicas ambientais.13
O peso ao nascer é um importante determinante da mor‐ bimortalidade neonatal e da mortalidade pós‐neonatal,14 sendo assim de grande importância para a saúde públi‐ ca. Dessa forma, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o BPN como o fator isolado mais importante na sobrevivência infantil. Crianças com baixo peso ao nascer apresentam risco de mortalidade significativamente superior ao de crianças nascidas com peso ≥2.500 g.15 O BPN está presente em 15,5% de todos os nascimentos ocorridos no mundo. No entanto, o problema não ocorre de maneira uniforme entre as diversas localidades, mas se relaciona à situação socioeconômica que as mesmas apresentam. A maior porcentagem de crianças com esse agravo concentra‐ se em duas regiões do mundo, Ásia e África, com respectivamente 27% e 22% de todos os nascidos vivos com baixo peso.16 Em países desenvolvidos, de modo geral a proporção de BPN situa‐se entre 4% e 6%.17 Em 2008, o Brasil apresen‐ tou uma proporção de 8,3% e o município de São José dos Campos de 9,1%.18
O BPN tem sido alvo de vários estudos epidemiológi‐ cos4,7,8,15 com o objetivo de identificar os seus fatores de risco, na tentativa de elaborar intervenções que possam reduzir estes fatores e prevenir sua ocorrência. A importân‐ cia do BPN para a Saúde Pública é determinada não apenas pelos riscos subsequentes de mortalidade e morbidade, mas também pela frequência com que o mesmo ocorre. Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo avaliar o efeito da poluição do ar sobre o peso ao nascer de recém‐ nascidos de mães residentes no Município de São José dos Campos, nos anos de 2005 a 2009.
MétodoTrata‐se de estudo transversal, com dados relativos a todos os nascidos de mães residentes no Município de São José dos Campos nos anos de 2005 a 2009 que tiveram sua ficha de declaração de nascido vivo preenchida.
São José dos Campos situa‐se a 80km de São Paulo, entre as serras do Mar e Mantiqueira, e conta com população de aproximados 700 mil habitantes. Sua altitude é de 600m acima do nível do mar e geograficamente está na latitude 23°11’ sul e 45° 53’ longitude oeste. Conta com cerca de estabelecimentos industriais destacando‐se monta‐ doras de automóveis, indústrias farmacêutica e aeronáuti‐ ca e refinaria de petróleo.
As informações sobre os nascidos vivos foram obtidas por meio de consulta à base de dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) por meio da Declaração de Nascido Vivo (DN)¸disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), no ende‐ reço eletrônico (http://www.datasus.gov.br). Incluíram‐se os recém‐nascidos à termo, com peso entre 1000g e 4500g, de gestação única, com idade materna entre 20 e 34 anos, sete ou mais consultas de pré‐natal e escolaridade materna de 8 ou mais anos de estudo concluído. Esses critérios foram adotados para se eliminar situações de maior vulnerabili‐ dade como o recém‐nascido pré‐termo e o peso abaixo de 1.000g, para os quais outros fatores de risco poderiam ser mais relevantes do que a poluição atmosférica.
Os poluentes estudados foram o PM10, SO2 e O3, que são quantificados diariamente pela estação medidora da Com- panhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) de São José dos Campos. No Brasil os padrões de qualida- de do ar foram estabelecidos pela Resolução CONAMA n° 3/199019 (tabela 1), no entanto, no estado de São Paulo houve a publicação do Decreto Estadual n° 59113 de 23/04/2013,20 estabelecendo novos padrões de qualida- de do ar (tabela 2). As medidas diárias dos poluentes foram disponibilizadas no endereço eletrônico (www.cetesb. sp.gov.br) e, a partir desses valores, foram calculadas as médias das concentrações referentes ao 3° trimestre, dos últimos dois meses e do último mês de gestação. A análise dos dados foi primeiramente descritiva e, para examinar a associação entre exposição materna à poluição do ar e o BPN, foram utilizadas a regressão linear (univariada e multivariada) e a logística (univariada e multivariada). Na regressão linear, a variável desfecho, peso ao nascer em gramas, foi analisada de forma contínua, enquanto que, na regressão logística, o peso ao nascer foi dicotomizado (peso<2500g e peso ≥2500g).
Padróes nacionais de qualidade do ar (Resolucáo CONAMA no. 3, de 28/06/1990)
Qualidade índice | MP10 (Ug/m3) | O3 (Ug/m3) | CO (ppm) | NO2 (ug/m3) | SO2 (ug/m3) |
---|---|---|---|---|---|
Boa 0‐50 | 0‐50 | 0‐80 | 0‐4,5 | 0‐100 | 0‐80 |
Regular 51‐100 | 50‐150 | 80‐160 | 4,5‐9 | 100‐320 | 80‐365 |
Inadequada 101‐199 | 150‐250 | 160‐200 | 9‐15 | 320‐1.130 | 365‐800 |
Má 200‐299 | 250‐420 | 200‐800 | 15‐30 | 1.130‐2.260 | 800‐1.600 |
Péssima >299 | >420 | >800 | >30 | >2.260 | >1.600 |
Fonte: Companhia Ambiental do Estado de São Paulo.19 Para cada poluente medido é calculado um índice. Através do índice obtido ar recebe uma qualificação, que é uma espécie de nota, feita conforme apresentado na tabela acima.
Criterios para episodios agudos de poluicáo do ar (Decreto Estadual no. 59.113, de 23/04/2013)
Parámetros | Atencáo | Alerta | Emergéncia |
---|---|---|---|
Partículas inaláveis finas (ug/m3) 24h | 125 | 210 | 250 |
Partículas inaláveis (ug/m3) 24h | 250 | 420 | 500 |
Dióxido de enxofre (ug/m3) 24h | 800 | 1.600 | 2.100 |
Dióxido de nitrogénio (ug/m3) 1h | 1.130 | 2.260 | 3.000 |
Monóxido de carbono (ppm) 8h | 15 | 30 | 40 |
Ozónio (ug/m3) 8h | 200 | 400 | 600 |
Fonte: Companhia Ambiental do Estado de Sáo Paulo.20
Com relação à exposição materna aos poluentes, na regressão linear foram consideradas a média do 3° trimes‐ tre e mensal (dos meses do 3° trimestre) da concentração de cada poluente no respectivo trimestre de gestação, enquanto, na regressão logística, tais médias foram reco‐ dificadas em quartis. A escolha do período de três meses para a estimativa da exposição da mãe à poluição do ar se baseou no fato de que muitos estudos,4,6–8,21 que avaliam os desfechos da gravidez, utilizam o trimestre de gestação como unidade de mensuração, principalmente o terceiro trimestre. Do ponto de vista fisiológico, durante a gravidez, a velocidade do ganho de peso fetal apresenta um período de crescimento máximo que ocorre entre 28a e a 37a semana de gestação.22
As análises univariadas linear e logística examinaram, primeiramente, a relação do peso e do baixo peso ao nas‐ cer, respectivamente, com a exposição materna aos diver‐ sos poluentes com o objetivo de estimar o efeito bruto, ou seja, sem ajustes, dessa exposição no peso da criança. Além disso, o modelo logístico univariado foi utilizado para verificar a relação do desfecho com cada variável presente na Declaração de Nascido Vivo (DNV; variáveis: estado civil materno, tipo de parto e sexo do recém-nascido), de maneira a identificar possíveis fatores de confusão. Neste caso, a análise estatística baseou-se no cálculo do OR para se estimar o risco de recém-nascido com baixo peso ao nas- cer associado a cada variável. Em todas as análises foram construídos intervalos de 95% de confiança e adotado nível de significância de 5% (α=5%).
A partir dos resultados deste modelo logístico univariado, foram selecionadas as variáveis para os modelos multivaria‐ dos, com a finalidade de se fazer o controle de confusão. Primeiramente o modelo multivariado (linear e logístico) foi considerado sem o poluente, ou seja, a exposição de interesse. As variáveis independentes entraram uma a uma, tanto na regressão linear quanto na logística, utilizando‐se como critério da ordem de entrada o menor valor do “p”, contanto que este fosse menor que 0,25. Caso as variáveis apresentassem p<0,001, o critério da entrada das variáveis partiu do maior valor do OR observado na análise logística univariada. E ainda, para verificação da importância de cada variável para o modelo e sua permanência neste, uti‐ lizou‐se a razão de verossimilhança (likelihood‐ratio test), permanecendo no final da análise apenas as variáveis com p<0,05. Apenas após obter o modelo completo, os poluen‐tes foram incluídos individualmente e testou‐se sua asso‐ ciação com o peso ao nascimento e o baixo peso ao nascer. A análise estatística foi realizada no STATA v.7.
O projeto deste estudo foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Taubaté CEP/UNITAU no 363/11.
ResultadosDo total de 45.412 nascidos vivos do período entre 2005 e 2009, foram estudados 21.591 nascimentos, considerando‐ se os critérios de inclusão apresentados na metodologia. Destes incluídos, observou‐se que 13.149 (61,2%) eram fil‐ hos de mães que possuíam parceiro, 14.575 (67,5%) nas‐ ceram de parto tipo cesáreo e 11.012 (51%) eram do sexo masculino (tabela 3). A frequência de BPN sobre o total de nascidos vivos com peso entre 1000g e 4500g foi de 647 (3,0%). Quanto à média e à mediana do peso ao nascer, os valores foram, respectivamente, 3.237 g e 3.225g.
Distribuicáo dos nascidos vivos de máes residentes em Sáo José dos Campos‐SP no período entre 2005 e 2009, segundo estado civil materno, tipo de parto e sexo do recém‐nascido
Variáveis | n (n Total=21.591) | % |
---|---|---|
Estado civil materno | ||
Com parceiro | 13.149 | 61,2 |
Sem parceiro | 8.325 | 38,8 |
Parto | ||
Vaginal | 7.010 | 32,5 |
Cesáreo | 14.575 | 67,5 |
Sexo do recém‐nascido | ||
Masculino | 11.012 | 51,0 |
Feminino | 10.578 | 49,0 |
Sem registros: seis casos para a variável parto e um caso para sexo do recém‐nascido.
A tabela 4 mostra a prevalência e a chance de baixo peso ao nascer (BPN) dos nascidos vivos no município de São José dos Campos‐SP segundo estado civil materno, tipo de par‐ to e sexo do recém‐nascido. A chance de a criança nascer com peso abaixo de 2500g foi maior nas mães sem parceiro (OR=1,26; IC95% 1,08‐1,48) e nos recém‐nascidos do sexo feminino (OR=1,65; IC95% 1,41‐1,94). Já para o parto cesá‐ reo, não se observou significância estatística (p=0,979).
Prevaléncia e odds ratio (OR) com respectivos intervalos de 95% de confianca (IC95%) de baixo peso ao nascer (BPN) dos nascidos vivos no município de Sáo José dos Campos‐SP de máes residentes nesta cidade no período entre 2005 e 2009, segundo estado civil materno, tipo de parto e sexo do recém‐nascido
Variáveis | Prevaléncia de BPN | OR | (IC95%) | P |
---|---|---|---|---|
Estado civil materno | ||||
Com parceiro | 2,77 | 1,00 | – | 0,003 |
Sem parceiro | 3,48 | 1,26 | (1,08‐1,48) | |
Parto | ||||
Vaginal | 3,05 | 1,00 | – | 0,979 |
Cesáreo | 3,05 | 0,99 | (0,84‐1,18) | |
Sexo | ||||
Masculino | 2,33 | 1,00 | – | < 0,001 |
Feminino | 3,80 | 1,65 | (1,41‐1,94) |
A tabela 5 apresenta a análise descritiva dos níveis diá‐ rios dos poluentes atmosféricos. As médias dos poluentes estão dentro dos padrões aceitáveis de qualidade do ar, estabelecidos na resolução CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente). No entanto, os poluentes PM e O tiveram seus valores máximos diários maiores do que os valores aceitáveis, respectivamente, 171 e 209 μg/m3, enquadrando‐se na classificação “inadequada” e “má”, respectivamente. Esses resultados são preocupantes e merecem atenção.
Análise descritiva dos níveis diarios de poluicáo do ar no municipio de Sao José dos Campos entre 2005 e 2009
Poluentes | Média (DP) | Mínimo | 5% | 25% | 50% | 75% | 95% | Máximo |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
PM10 (ug/m3) | 24,89 (15,28) | 6 | 10 | 15 | 21 | 30 | 53 | 171 |
SO2 (Ug/m3) | 3,28 (2,10) | 0 | 1 | 2 | 3 | 4 | 8 | 17 |
O3 (ug/m3) | 80,35 (32,13) | 5 | 34 | 57 | 78 | 98 | 140 | 209 |
A exposição materna a cada poluente foi analisada em quartis e realizada regressão logística múltipla segundo os últimos três meses de gestação. Nesta análise, houve o ajuste para as seguintes variáveis: estado civil mater‐ no e sexo do recém‐nascido. Nenhum poluente apresentou resultado estatisticamente significante, com exceção do SO2 no último mês, indicando que a exposição materna nes‐ se período se associa à 1,25 vezes mais chance de recém‐ nascido de baixo peso (OR 1,25; IC 95% 1,00‐1,56) para o 2° quartil da concentração do poluente.
A tabela 6 mostra a razão de chances e seu intervalo de confiança para a presença de baixo peso ao nascer de acordo com os quartis de concentração dos poluentes atmosféricos para o último trimestre, último bimestre e último mês de gestação, na população analisada. Durante o último mês gestacional, a exposição aos três poluentes atmosféricos indicou maior chance de ocorrência de baixo peso ao nascer, mas sem significância estatística. Com o aumento da concentração dos poluentes, representada em quartis, não se observou aumento da chance de ocorrência do desfecho.
Odds ratio (OR), intervalos de confianca a 95% (IC95%) para baixo peso ao nascer (BPN) de acordó com os quartis de concentracáo dos poluentes atmosféricos para o último trimestre, último bimestre e último mes de gestacáo, no municipio de Sáo José dos Campos entre 2005 e 2009 (regressáo logística múltipla)
Poluentes | Quartil | Último trimestre OR (IC95%) | Último bimestre OR (IC95%) | Último mes OR (IC95%) |
---|---|---|---|---|
PM10 | 1¿ | 1 | 1 | 1 |
2¿ | 1,02 (0,82‐1,27) | 0,98 (0,79‐1,22) | 1,14 (0,92‐1,42) | |
3¿ | 1,02 (0,82‐1,27) | 1,00 (0,81‐1,25) | 1,15 (0,92‐1,43) | |
4¿ | 0,86 (0,68‐1,07) | 0,88 (0,70‐1,00) | 0,98 (0,78‐1,23) | |
SO2 | 1¿ | 1 | 1 | 1 |
2¿ | 1,07 (0,86‐1,33) | 0,89 (0,72‐1,11) | 1,25 (1,00‐1,56) | |
3¿ | 1,04 (0,83‐1,29) | 0,96 (0,77‐1,20) | 1,15 (0,92‐1,44) | |
4¿ | 0,91 (0,72‐1,14) | 0,92 (0,74‐1,15) | 1,08 (0,86‐1,35) | |
O3 | 1¿ | 1 | 1 | 1 |
2¿ | 0,80 (0,64‐1,00) | 1,03 (0,83‐1,29) | 1,04 (0,84‐1,30) | |
3¿ | 0,86 (0,69‐1,07) | 1,06 (0,85‐1,31) | 1,02 (0,82‐1,27) | |
4¿ | 0,87 (0,70‐1,07) | 0,96 (0,77‐1,20) | 1,03 (0,83‐1,29) |
Modelo ajustado para as variáveis estado civil materno e sexo do recém‐nascido.
Já a tabela 7 indica os coeficientes de regressão linear para o peso ao nascer segundo as médias do último mês, último bimestre e último trimestre da concentração dos poluentes atmosféricos correspondentes para o último trimestre, último bimestre e último mês de gestação, ajustados para estado civil materno e sexo do recém‐nascido. Pode‐se verificar que, no último mês, a exposição materna ao PM10 e ao SO2 levou a uma diminuição da média do peso ao nascer: houve decréscimo do peso de 3,8g e 38,6gpara um aumento na exposição média materna de, respectivamente, 10mg/m3 do PM10 e do SO2. A exposição ao O3 também parece indicar essa diminuição da média do peso ao nascer no último bimestre e trimestre de gestação. No entanto, nenhum resultado amostrou significância estatística.
Coeficientes de regressáo com seus respectivos desvios‐padróes (DP) e intervalos de confianca de 95%, segundo as médias do último mes, último bimestre e último trimestre da concentracáo dos poluentes atmosféricos correspondentes para o último trimestre, último bimestre e último mes de gestacáo, no município de Sáo José dos Campos entre 2005 e 2009 (regressáo linear múltipla)
Poluentes | Coeficientes (DP) | IC95% |
---|---|---|
PM10 | ||
Último mês | ‐0,38 (0,3) | ‐0,98 a 0,22 |
Último bimestre | ‐0,05 (0,3) | ‐0,72 a 0,61 |
Último trimestre | 0,10 (0,4) | ‐0,62 a 0,83 |
O3 | ||
Último mês | 0,05 (0,2) | ‐0,37 a 0,47 |
Último bimestre | ‐0,05 (0,3) | ‐0,59 a 0,49 |
Último trimestre | ‐0,44 (0,3) | ‐1,07 a 0,20 |
SO2 | ||
Último mês | ‐3,86 (2,6) | ‐8,92 a 1,20 |
Último bimestre | 0,90 (2,9) | ‐4,81 a 6,61 |
Último trimestre | 3,34 (3,2) | ‐2,88 a 9,56 |
Modelo ajustado para as variáveis sexo do recém‐nascido e estado civil da mãe.
O baixo peso ao nascer esteve associado ao estado civil materno e ao sexo do recém‐nascido. Apesar do predomínio de nascimentos do sexo masculino, a prevalência de baixo peso foi maior nas crianças do sexo feminino. Gouveia et al7 também identificaram um maior risco para peso ao nascer abaixo de 2500g em recém‐nascidos femininos (OR=1,22; IC 95%: 1,20‐1,24). Esta tendência da distribuição do peso ao nascer da população masculina para valores maiores em comparação à feminina também foi observada em outros estudos como o de Areno23 e Tanaka.24
No estudo encontrou‐se associação significativa com o peso ao nascer e o estado civil materno, ou seja, mães vivendo sem o parceiro mostram risco maior de terem filhos com baixo peso ao nascer. Estes resultados são consistentes com os encontrados por Monteiro et al,25 para a cidade de São Paulo, em que calcularam que o risco relativo de BPN aumentava 2,19 para mães vivendo sem parceiro em relação a mães com parceiro.
Com relação ao tipo de parto, o cesáreo aparece com menor chance de ocorrência de peso insuficiente; no entanto, não se encontrou resultado estatisticamente sig‐ nificante no presente estudo. Antonio et al26 observaram, em seu estudo, resultados semelhantes e supôs que, como o menor ganho de peso pode estar relacionado com um pior nível socioeconômico, as mulheres pertencentes a este estrato são comumente usuárias do Sistema Único de Saúde, o que impõe limitações para a ocorrência de partos cesáreos, justificando uma menor chance de peso insufi‐ ciente (2500g a 2999g) entre os partos cesáreos . Segundo Carniel et al,27 há uma maior ocorrência de cesarianas entre grupos de baixo risco obstétrico e de mulheres com melhores condições sociais, sugerindo que os critérios para indicação desse procedimento não são exclusivamen‐ te técnicos.
Não se encontrou significância estatística nas análises realizadas com os poluentes atmosféricos, porém, foi observado na análise logística múltipla que a exposição materna ao SO2 durante o último mês gestacional apresenta um maior risco para o nascimento de uma criança com baixo peso. No estudo de Reis,28 verificou‐se uma frequência de 9,1% de BPN e risco desse desfecho diante da exposição ao SO2, PM10 e O3 no 2° e 3° trimestres de gestação, mesmo quando os níveis das concentrações dos poluentes se encontravam abaixo dos padrões estabelecidos para a qualidade do ar, ou seja, com “nota” que representa boa qualidade do ar (tabela 1). Romão et al29 também identificaram, em população com 6% de prevalência de BPN, associação desse desfecho com a exposição materna ao PM10 (4° quartil) no 3° trimestre de gestação.
Pôde‐se observar que o SO2 e PM10 não mostraram associação com o peso do RN, o que pode decorrer da baixa frequência de recém‐nascidos com baixo peso ao nascer (3%), somando‐se a isso as médias das concentrações dos poluentes não atingiram valores muito altos, apesar dos valores máximos serem inadequados segundo os padrões da qualidade do ar.
Com relação às limitações deste estudo, vale comentar que, diferentemente dos dados de exposição relativos ao recém‐nascido, à mãe, ao parto e pré‐natal, que se obtém indivíduo a indivíduo, ou seja, de forma direta, os dados referentes à exposição aos poluentes do ar são obtidos por medida indireta, por meio da concentração dos poluentes do ar no ambiente, o que pode dificultar a consolidação de dados mais consistentes como os individuais. Outra limitação a ser apontada refere‐se à obtenção de dados secundários do DATASUS, fonte valiosa de dados, porém sem o controle direto do pesquisador como se tem com a coleta de dados de fontes primárias.
Apesar dos resultados não serem estatisticamente significantes e da dificuldade em isolar o efeito de cada poluente, devido à alta correlação entre eles, observou‐se que o SO2 pode levar ao baixo peso ao nascer, no último mês de exposição materna
FinanciamentoFundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAESP), Processo 2011/08741‐4, destinado à bolsa de ini‐ ciação científica.
Conflitos de interesseOs autores declaram não haver conflitos de interesse.