Introdução: A correção ortodôntica só poderá manter‐se adequada se existir um equilíbrio miofuncional orofacial1‐4. A relação profissional entre o Terapeuta da Fala e o Ortodontista, é dinâmica, complexa e necessária na procura de equilíbrio entre forma‐função3,5,6. Ao promover‐se a estabilidade miofuncional do sistema estomatognático, a possibilidade da ocorrência de recidivas ortodônticas pode diminuir 2,3,7‐10.
Objetivo: Descrever a perspetiva dos Ortodontistas sobre a atuação interdisciplinar com o Terapeuta da Fala nos casos ortodônticos com alterações miofuncionais orofaciais.
Materiais e métodos: Foi realizado um estudo quantitativo, do tipo exploratório‐descritivo, com caráter transversal, através de um questionário online. A população do estudo reportou‐se aos médicos dentistas e estomatologistas que exercem Ortodontia em Portugal. Recorreu‐se a uma técnica de amostragem probabilística ‐aleatória simples‐ obtendo‐se um total de 57 respostas(n=57). Foi aplicado o teste de Qui‐quadrado de independência ou o teste de Fisher, conforme apropriado. Foi utilizado o nível de significância de 5%(p=0,05).
Resultados: 98,2% (n=56) dos Ortodontistas afirmam conhecer a atuação do Terapeuta da Fala no acompanhamento de casos ortodônticos. As áreas classificadas como ‘mais pertinentes’ foram a ‘fala’ (94,7%) e a ‘deglutição’ (92,9%). A ‘mastigação’ (85,7%) e a ‘respiração’ (73,3%) foram classificadas como ‘menos pertinentes’. Apurou‐se que 87,5% (n=49) referencia para o Terapeuta da Fala, embora a maioria (63,3%) o faça ‘raramente’ (menos de 30% total dos casos). Quanto ao ‘momento de referenciação’ para Terapia da Fala, ocorre em 36,7% ‘durante o tratamento ortodôntico’, sendo as ‘alterações da fala’ (65,3%) e da deglutição (57,1%) os motivos de referenciação mais frequentes. Verificou‐se uma associação estatisticamente significativa entre a ‘referenciação’ e os ‘anos de prática profissional’ (p=0,048). Verificou‐se também associação com significado estatístico entre a ‘referenciação’ e o ‘número médio de casos ortodônticos que o ortodontista atende por semana’, tendo‐se constatado que os Ortodontistas com maior casuística são os que referenciam com mais frequência (p=0,001). Quanto ao ‘grau de satisfação’ perante os resultados obtidos após intervenção do Terapeuta da Fala, 71,4% qualificou‐os como ‘satisfatórios’. A atuação conjunta entre o Terapeuta da Fala e Ortodontista é considerada ‘relevante’ por 46,9% da amostra, contudo, não se verifica ainda uma atuação conjunta efetiva entre estes profissionais: a maioria (32,7%) procura ‘às vezes’ informação do paciente junto do Terapeuta da Fala e discute ‘às vezes’ (38,8%) as possibilidades de intervenção, no entanto, o momento de intervenção ortodôntica é discutido em conjunto ‘raramente’ (30,6%), assim como o momento da alta ortodôntica (32,7%).
Conclusões: Não se verifica uma dinâmica efetiva entre Terapeuta da Fala e Ortodontista. Considera‐se necessário divulgar e clarificar a atuação do terapeuta da fala junto dos profissionais de Ortodontia.
Implicações clínicas: A divulgação dos resultados permitirá um melhor reconhecimento das práticas interdisciplinares entre o Ortodontista e Terapeuta da Fala, podendo contribuir para a definição de um modelo de trabalho mais efetivo com vista a uma maior estabilidade da correção ortodôntica.