Introdução: Os dentes supranumerários representam um distúrbio do desenvolvimento que ocorre durante o período da Odontogénese. Dentro desta alteração, os mesiodens são o tipo mais comum, culminando frequentemente em complicações como atraso, não erupção, dilaceração ou mau posicionamento dos incisivos centrais, apinhamento, diastema, erupção para a cavidade nasal ou acompanhados de patologia quística. Apesar do quisto dentígero representar o quisto odontogénico de desenvolvimento mais comum, apenas 5% estão associados a dentes supranumerários, sendo a associação com um mesiodens incluso um achado relativamente raro.
Caso clínico: Uma criança de 11 anos, do género masculino, leucodérmica, foi encaminhada para a consulta de Cirurgia Oral da FMDUL devido à não erupção do 21 e presença concomitante do 61. Ausência de sintomatologia ao exame objetivo. A TC realizada previamente demonstra a existência de dois mesiodens, um dos quais invertido, uma imagem radiolúcida bem definida, com bordos radiopacos, envolvendo um dos supranumerários e impactação do 21. Após diagnóstico diferencial estabeleceu‐se um diagnóstico clínico de quisto dentígero. A cirurgia consistiu na extração dos mesiodens, enucleação da lesão quística e envio para análise histopatológica, a qual confirmou o diagnóstico clínico inicial. A recuperação ocorreu sem complicações e o paciente será mantido sobre follow‐up, esperando‐se a erupção espontânea do 21 ou eventualmente a necessidade de realização de tração ortodôntica.
Discussão e conclusões: A etiologia dos dentes supranumerários permanece desconhecida, sendo a teoria mais aceite o seu desenvolvimento a partir de alterações no crescimento e de uma hiperatividade da lâmina dentária. Uma vez que apenas 25% dos dentes supranumerários erupcionam, há que manter um elevado índice de suspeição, já que podem culminar em inúmeras complicações. Apesar do desenvolvimento de um quisto dentígero associado a um supranumerário ser incomum, este pode destruir as estruturas ósseas adjacentes e causar uma eventual fratura patológica. O diagnóstico diferencial é fundamental e a existência de malignidade deve ser descartada, isto porque o desenvolvimento de um ameloblastoma, carcinoma de células escamosas ou carcinoma mucoepidermóide a partir de um quisto dentígero já foi documentado. A extração dos supranumerários e a enucleação e curetagem do quisto dentígero devem ser realizadas conjuntamente com um follow‐up para prevenir a recorrência.