Introdução: A hipodontia constitui uma anomalia dentária de número caracterizada pela ausência dentária congénita até a um máximo de seis dentes. Afeta ambas as dentições, mas é mais frequente na dentição permanente, apresentando uma prevalência variável entre 2,3 a 10,1%. Possui uma etiologia multifatorial, com predominância dos fatores genéticos. Os dentes mais comummente ausentes são os terceiros molares, seguidos dos pré-molares inferiores e incisivos laterais superiores. A reabilitação oral nestes casos constitui geralmente um desafio que requer uma intervenção multidisciplinar. O objetivo deste trabalho visa apresentar um caso clínico de hipodontia e, ainda, alertar os médicos dentistas para a abordagem clínica e interpretação na suspeita de um padrão hereditário.
Caso clínico: O paciente ARPP, do género masculino, caucasiano, com 21 anos de idade, acompanhado pelo Serviço de Ortodontia da FMDUP apresentava um padrão esquelético do tipo II e uma classe dentária I molar e classe II canina. Em exame clínico apresentava várias agenesias que condicionaram o tratamento multidisciplinar implementado, que incluiu o encaminhamento para a consulta de Genética Orofacial (GO) e para a consulta de Dentisteria Operatória (DOP) da FMDUP. Na consulta de GO da história clínica familiar recolhida era relevante a presença de agenesia dos terceiros molares no irmão do probando e de outras agenesias dentárias em primos paternos e maternos. Em exame extra-oral destacou-se a implantação baixa do cabelo na região anterior e a assimetria e rotação posterior bilateral das orelhas. No exame intraoral, além das agenesias, era relevante uma microdontia ligeira generalizada. O diagnóstico clínico provisório estabelecido foi de hipodontia de padrão hereditário não sindrómico. Na consulta de DOP foi realizada a reanatomização dos dentes 13 e 23 em dentes 12 e 22 com recurso a brocas diamantadas (Komet®) para a preparação dentária, resina composta da de cor A2 (Synergy D6®, Colténe) e para o polimento taças de borracha e pasta (Microdont).
Discussão e conclusões: Geralmente, nestas situações clínicas a abordagem médico-dentária efetuada constitui uma opção preconizada e com resultados satisfatórios. O Médico Dentista deverá desempenhar um papel ativo na sua deteção precoce e na avaliação do padrão hereditário associado, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.