Sialolitos são calcificações que se desenvolvem nas glândulas salivares maiores ou nos seus ductos acometendo principalmente a glândula submandibular. O objetivo deste trabalho é contribuir para o estudo dos sialolitos através do relato de um caso de sialolitíase submandibular que foi abordado cirurgicamente com preservação da glândula respetiva.
Sialoliths are calcified masses that develop in salivary glands in their ducts affecting mainly the submandibular gland. The objective of this article is to contribute to the study of sialolithiasis through a case report treated by surgery preserving the submandibular gland.
Sialólitos são definidos como calcificações que se desenvolvem nas glândulas salivares maiores ou nos seus ductos1. Quando obstruem a secreção salivar desenvolve-se a sialolitíase associada a edema e dor, e em alguns casos, à infeção glandular2.
Ocorre principalmente na glândula submandibular (80% - 90%), seguida da glândula parótida (5 – 20%), e da sublingual (1 – 2%), raramente afetando as glândulas salivares menores3. As glândulas submandibulares são mais afetadas por terem uma secreção mais alcalina, viscosa e mais rica em cálcio. Embora possam ocorrer em qualquer idade, são mais comuns em jovens e adultos de meia idade e do sexo masculino1.
Sialolitos localizados nos 2/3 anteriores do ducto de Wharton são facilmente palpados intraoralmente e detetados na radiografia oclusal4. Mas, nem sempre é possível a visualização do cálculo através de radiografia convencional, o que está relacionado com o grau de mineralização. Nestes casos preconiza-se o uso da ultrassonografia que é mais precisa na identificação do cálculo e diagnóstico da condição mórbida que compromete a glândula envolvida5 ou a sialografia de grande utilidade na localização6. A última não é porém indicada em casos de infeção ou quando o sialolito é muito pequeno devido ao risco de deslocação no interior do ducto7. A espreção digital também pode ajudar a estabelecer o diagnóstico8.
O uso de calor externo, calor interno e bochechos com suco de limão podem deslocar sialolitos submandibulares proporcionando a expulsão espontânea. Os sialolitos que não são expelidos espontaneamente necessitam de intervenção cirúrgica por via intraoral8. Para Ferreira et al. (2001)9, a terapêutica utilizada, cirúrgica ou fisioterápica, depende do tamanho do sialolito e do comprometimento funcional.
Caso clínicoPaciente do gênero masculino, leucoderma, 34 anos de idade, fumador, compareceu na clínica odontológica da UNIFESO encaminhado pelo otorrinolaringologista. Na anamnese, o paciente relatou que sentia dor há oito meses na região submandibular esquerda e que havia percebido um aumento de volume nesta região.
Após minucioso exame clínico, constatou-se abaulamento no lado esquerdo do pavimento da boca (fig. 1). O exame radiográfico oclusal da mandíbula revelou imagem radiopaca de sialolito em glândula salivar submandibular esquerda (fig. 2). A ultrassonografia mostrou uma lesão focal ecogénica sugestiva de sialolito na mesma região indicada pela radiografia oclusal medindo 11mm (fig. 3). O cálculo foi removido integralmente por via intraoral (figs. 4 e 5).
Os sialolitos são lesões comuns das glândulas salivares caracterizados pela obstrução da secreção salivar por um cálculo. São devidos à deposição de sais de cálcio ao redor de um nódulo central de material orgânico, possuindo uma coloração geralmente amarelada. O cálculo salivar quando localizado num ducto tem forma oval ou esférica, podendo causar obstrução salivar. Quando intraglandulares, os cálculos são aglomerados irregulares, requerendo de uma abordagem cirúrgica mais radical8,10. O tamanho do cálculo salivar pode ser inferior milímetro até alguns centímetros de comprimento. A maioria dos cálculos tem tamanho inferior a 10 milímetros e apenas 7% ultrapassam os 15 milímetros. Estes cálculos salivares glandulares gigantes são relativamente raros11. Neste caso clínico, o sialolito apresentava forma cilíndrica com aproximadamente 11 milímetros de diâmetro.
A sialolitíase é a doença mais comum das glândulas salivares e afeta 12 em cada 1000 indivíduos adultos12. Alguns autores (1-5) afirmam haver incidência maior no sexo masculino ao passo que outros13 afirmam não haver predileção de género.
A sintomatologia da sialolitíase é variada, dependendo do tamanho do cálculo. Quando estes são pequenos, o fluxo salivar é normal, não causando sinais e sintomas; se maiores, pode-se observar aumento repentino das glândulas, principalmente durante as refeições, acompanhado de dor. Os tecidos que recobrem a glândula aparecem edemaciados, sensíveis à palpação, principalmente no local onde está localizado o cálculo1. No presente caso, o paciente relatou dor persistente e aumento de volume associado a um sialolito relativamente grande, semelhante ao descrito por Neville et al. (2004)1.
A fisioterapia com calor tem sido indicada no tratamento conservador, bem como os bochechos com soluções cítricas. Outras formas de tratamento são a hidratação, o calor local, a massagem da glândula e o uso de sialogogos para estimular a produção de saliva, o que pode gerar a eliminação espontânea do cálculo, se ele for de pequeno tamanho14,15. A escolha do tratamento está muito relacionada com a localização do sialolito. Para aqueles próximos ao óstio, o cateterismo e a dilatação de conduto facilitam e permitem a sua remoção; os localizados na metade anterior do ducto necessitam intervenção cirúrgica; e os que estão na porção posterior do ducto ou são intraglandulares obrigam geralmente à remoção total da glândula envolvida16,17. No presente caso clínico, a radiografia oclusal e a ultrassonografia revelaram a localização do sialolito na metade anterior do ducto, por isso preferiu-se a abordagem cirúrgica local com preservação do ducto e da glândula.
ConclusãoConclui-se que uma cuidadosa e minuciosa avaliação clínica sustentada por bons exames de imagem são fundamentais para o diagnóstico correto e a solução terapêutica.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.