Determinar a motivação subjacente ao tratamento ortodôntico; avaliar a perceção do impacto do tratamento ortodôntico nos pacientes sujeitos ao mesmo; avaliar o grau de satisfação relativamente ao tratamento realizado.
MétodosEstudo observacional, transversal; amostra de conveniência: 111 indivíduos com respostas validadas ao inquérito criado/disponibilizado online entre os dias 15/11/2012 e 15/01/2013 (Google docs; uma resposta por IP); análise de dados efetuada utilizando o IBM® SPSS® Statistics vs.20.0, considerando um nível de significância de 0,05 para todas as situações de inferência estatística.
ResultadosForam obtidas 111 respostas válidas. Foram apontadas como motivação para a realização do tratamento ortodôntico questões de ordem estética (44,14%), encaminhamento por médico dentista (36,04%), problemas de saúde oral (16,22%), opinião de familiares e/ou amigos (2,70%) e outros motivos (0,90%). A idade quando inquiridos e no momento do tratamento, a duração do mesmo e o grau de satisfação com o resultado não diferiram significativamente por género. De uma forma geral, os inquiridos afirmam ter ficado satisfeitos com o resultado do tratamento (n=104) e aqueles cuja autoperceção inicial era de, pelo menos, «satisfeito» apresentaram uma evolução significativa (p<0,001) do grau de satisfação (mediana aumentou de «satisfeito» para «muito satisfeito»).
ConclusãoA estética é o fator preponderante na motivação para a realização do tratamento ortodôntico. Após efetuarem tratamento ortodôntico, os indivíduos relataram uma melhoria significativa no grau de satisfação na perceção do seu sorriso e dos dentes, associando‐se este resultado ao impacto apercebido positivo em 93,69% (IC 95%: 87,34‐97,13%) dos respondentes que se submeteram ao mesmo.
To determine the underlying motivation for orthodontic treatment; to assess the perception of the impact of orthodontic treatment on the patients who undergo the treatment; to assess the level of satisfaction in regard to the treatment given.
MethodsObservational cross‐sectional study. Non‐probabilistic sample: 111 individuals with validated replies to the survey created/placed online between 15/11/2012 and 15/01/2013 (Google docs; one answer per IP); The statistical analysis was performed using IBM® SPSS® Statistics vs.20.0, considering a significance level of 0.05 for all statistic inference situations.
Results111 validated replies were obtained. The motivations given for undergoing the treatment were issues of an aesthetic nature (44.14%), referral by dentist (36.04%), problems of oral health (16.22%), the opinion of family members and/or friends (2.70%) and other motives (0.90%). The age at the time of the survey and at the time of treatment, the duration of the treatment and the level of satisfaction with the results did not differ significantly by gender. In general, the respondents stated that they were satisfied with the results of the treatment and those whose initial perception was at least “satisfied” showed a significant improvement in the level of satisfaction (the median increased from “satisfied” to “very satisfied”).
ConclusionAesthetics is the preponderant factor in the motivation for undergoing orthodontic treatment. After undergoing orthodontic treatment, the individuals showed a significant improvement in the perception of their smile and their teeth, this result being associated with a positive perceived impact on 93.69% (IC95%:87.34%‐97.13%) of the respondents that underwent such a treatment.
De acordo com o relatório elaborado em 1962 pelo comité internacional de experts em saúde dentária da OMS, uma anormalidade deve ser encarada como carecida de tratamento se for desfigurativa, provoque defeito funcional, ou se representar um provável obstáculo para o bem‐estar físico e funcional do paciente1.
Uma deformidade facial caracteriza‐se por um desvio significativo de um ou mais parâmetros aceites pela norma populacional, sendo a magnitude desse desvio um importante fator na decisão de submissão ao tratamento ortodôntico2. Esta problemática constituiu o ponto de partida para o presente estudo, no contexto de uma nova era de autonomia do paciente3 em que o acesso à informação, independentemente da sua fidedignidade, é cada vez mais facilitado.
Apesar do custo do tratamento ortodôntico poder, nalguns casos, representar um obstáculo à sua realização, as expectativas relativamente ao seu resultado não são necessariamente influenciadas pelo seu valor1,3,4. Contudo, e considerando o seu caráter intrinsecamente subjetivo, as expectativas variam com os grupos e subgrupos étnicos5,6 sendo unanimemente aceite que a estética facial parece ser determinante não só na perceção do próprio, mas também na perceção do indivíduo pela sociedade em que se insere ou pretende inserir7.
É com base na subjetividade inerente às expectativas que se verifica a impossibilidade de recorrer a um gold standard na abordagem clínica, uma vez que a grande maioria dos sistemas de classificação apenas considera medidas constantes numa população, em detrimento dos valores de cada indivíduo3,8. O amplo reconhecimento da importância do sorriso e da estética facial motivou o abandono do diagnóstico baseado exclusivamente em tecidos duros9.
São objetivos deste trabalho a determinação da motivação subjacente ao tratamento ortodôntico; a avaliação da perceção do impacto que este teve nos indivíduos submetidos ao mesmo; e a avaliação do grau de satisfação com o seu resultado.
Materiais e métodosEstudo observacional descritivo de natureza transversal, aplicado por meio de um inquérito criado e disponibilizado online (Google docs; uma resposta por IP) no período compreendido entre 15/11/2012 e 15/01/2013, utilizando uma amostra não probabilística.
Os fatores de exclusão foram não ter realizado tratamento ortodôntico/não aceitar o consentimento informado, e os de inclusão ter realizado tratamento ortodôntico/aceitar o consentimento informado.
O questionário abrangia questões acerca do género e da idade à data do questionário, idade quando efetuou o tratamento ortodôntico, duração do tratamento, motivação para submeter ao tratamento ortodôntico, satisfação geral com o tratamento ortodôntico, e a satisfação relativamente ao sorriso e aos dentes separadamente no início e no fim do tratamento (usando uma escala de Likert com 5 pontos: 1 – extremamente insatisfeito; 2 – insatisfeito; 3 – satisfeito; 4 – muito satisfeito; 5 – extremamente satisfeito).
A análise estatística dos dados foi efetuada com recurso ao software IBM® SPSS® Statistics vs.20.0 e, em todas as análises comparativas, foi usado um nível de confiança de 95% (α=0,05).
A comparação da idade na altura do questionário e na altura do tratamento, e da duração do tratamento ortodôntico por género dos indivíduos, foi efetuada recorrendo a testes de Mann‐Whitney (após se verificar uma distribuição não normal das variáveis contínuas pelo teste Kolmogorov‐Smirnov). A correlação entre a idade a duração do tratamento foi avaliada pelo coeficiente de correlação de Spearman (rs).
O teste de qui‐quadrado foi utilizado para investigar a possibilidade de haver diferença no nível de satisfação com o resultado do tratamento ortodôntico por género. A perceção inicial e final da satisfação com o tratamento ortodôntico (sorriso e dentes) foi comparada utilizando testes de Wilcoxon.
Um aumento significativo no grau de satisfação com o tratamento ortodôntico (sorriso e dentes) foi considerado subjetivamente como impacto positivo, e a manutenção ou diminuição como impacto negativo.
ResultadosForam obtidas 111 respostas válidas ao inquérito disponibilizado, sendo as razões de ordem estética como motivo subjacente ao tratamento ortodôntico as mais frequentemente referidas (44,14%) e, em menor extensão, o encaminhamento por médico dentista (36,04%), problemas de saúde oral (16,22%), opinião de familiares e/ou amigos (2,70%) e outros motivos (0,90%).
A idade dos respondentes no momento da resposta ao inquérito variou entre os 16‐55 anos de idade, tendo o tratamento ortodôntico sido realizado entre os 6‐35 anos de idade e a sua duração entre os 5 meses e os 7 anos. Foi observada uma fraca relação significativa, ainda que positiva, entre a idade dos inquiridos e a idade em que o tratamento ortodôntico foi efetuado (rs=0,283, p=0,002), não sendo, no entanto, observada relação entre a idade na qual o tratamento ortodôntico foi efetuado e a duração do mesmo (rs=‐0,070, p=0,464).
Não foi observada uma diferença significativa entre a idade no momento em que respondeu ao inquérito e no momento do tratamento ortodôntico, a duração do tratamento (Tabela 1) e o grau de satisfação com o resultado do tratamento ortodôntico (Tabela 2) por género dos inquiridos. A vasta maioria (93,69%) dos inquiridos afirmou estar, pelo menos, satisfeito com o resultado do tratamento ortodôntico a que se submeteu.
Descrição de variáveis clínicas e sociodemográficas da amostra e comparação por género. Resultados descritos através da mediana (percentil 25 e 75)
Todos | Feminino | Masculino | p* | |
---|---|---|---|---|
n=111 | n=72 | n=39 | ||
Idade (anos) | 24 (22‐25) | 23 (21‐25) | 24 (22‐25) | 0,230 |
Idade no momento do tratamento ortodôntico (anos) | 15 (13‐17) | 15 (13‐17) | 16 (13‐18) | 0,499 |
Duração do tratamento (anos) | 2 (1,5‐3) | 2 (1,5‐3) | 2,5 (2‐3) | 0,567 |
Grau de satisfação com o resultado do tratamento ortodôntico (n=111) e comparação por género. Resultados apresentados sobre a forma de contagem e de percentagem
Todos | Feminino | Masculino | |||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Grau de satisfação | n | % | n | % | n | % | p* |
Extremamente insatisfeito (1) | 1 | 0,90 | 5 | 6,94 | 2 | 5,13 | 0,529 |
Insatisfeito (2) | 6 | 5,41 | |||||
Satisfeito (3) | 23 | 20,72 | 16 | 22,22 | 7 | 17,95 | |
Muito satisfeito (4) | 48 | 43,24 | 33 | 45,83 | 15 | 38,46 | |
Extremamente satisfeito (5) | 33 | 29,73 | 18 | 25,00 | 15 | 38,46 |
Relativamente ao seu sorriso e aos seus dentes, foi observado um impacto positivo com uma significativa melhoria da autoperceção (p<0,001) (Figura 1). Dos 111 respondentes, 104 afirmaram estar, pelo menos, satisfeitos com o resultado do tratamento e aqueles cuja perceção inicial era de, pelo menos, satisfeito apresentaram uma evolução da mediana, que passou de «satisfeito» (Me=3) para «muito satisfeito» (Me=4) (Figura 2). Relativamente aos respondentes que afirmaram estar pelo menos insatisfeitos com o resultado o tratamento, não se observou uma diferença significativa no grau de satisfação antes e após o tratamento ortodôntico (p>0,05) (Figura 2). Desta forma, contabiliza‐se um impacto positivo em 93,69% (IC 95%: 87,34‐97,13%) dos respondentes.
O número de indivíduos do sexo feminino na amostra foi claramente superior aos do sexo masculino, com uma proporção de quase 2:1, facto já descrito em estudo anteriores10,11 e que pode ter como explicação uma maior colaboração das mulheres na resposta ao questionário, um possível maior grau de insatisfação com a aparência da sua dentição1,7, ou uma maior consciência da necessidade de tratamento ortodôntico7 (Tabela 2).
A mediana de idades no momento do tratamento foi de 15 anos e pode ser justificada pelo facto de, neste período do desenvolvimento, a dentição definitiva estar quase ou completamente erupcionada e de o leque de opções para abordagem ao caso clínico ser mais vasto. Além destes motivos, certamente com maior impacto para os médicos dentistas, importa salientar que jovens adolescentes são primariamente influenciados pela aparência na sua própria aceitação e na aceitação social pelos pares9.
Corroborando esta hipótese, e contrariamente a estudos previamente publicados que afirmavam que o tratamento ortodôntico seria sobretudo sugerido pelos pais12,13, os resultados obtidos no presente estudo indicam razões de ordem estética como o fator preponderante na motivação para a realização do tratamento ortodôntico. Sendo suportados pelo facto de o tratamento ortodôntico ser considerado uma forma de melhorar a aparência dentofacial e, consequentemente, a autoconfiança13,14. De facto, a autoperceção da aparência dentária foi, desde sempre, um importante fator de decisão na procura de tratamento ortodôntico15–17. O encaminhamento pelo médico dentista obteve, também, um número significativo de respostas, demonstrando a influência do clínico no paciente e sobre a sua decisão de submissão ao tratamento ortodôntico. Os problemas de saúde oral foram, no entanto, pouco citados, possivelmente por terem sido evocados no encaminhamento pelo médico dentista. A opinião de familiares e/ou amigos e outros motivos apresentaram pouca expressão na motivação subjacente ao tratamento ortodôntico.
Analogamente a estudos já publicados7,10,11,18, não foi verificada qualquer relação entre o grau de satisfação com tratamento e o género.
De uma forma geral, os inquiridos afirmam ter ficado satisfeitos com o resultado do tratamento. Contudo, 7 indivíduos revelaram insatisfação com o resultado do mesmo, facto que reforça a importância da compreensão da motivação subjacente ao tratamento ortodôntico e da gestão das expectativas do paciente.
Quando comparado o grau de satisfação com o resultado do tratamento ortodôntico com o grau de satisfação com os dentes e o sorriso, foi observada uma evolução favorável no grupo cuja autoperceção inicial era de, pelo menos, satisfeito, progredindo de uma mediana de «satisfeito» para «muito satisfeito». No grupo cuja opinião inicial era extremamente insatisfeito/insatisfeito, pelo contrário, a mediana do grau de satisfação (Me=3, i.e., «satisfeito») permaneceu inalterada. Sendo, no entanto, de referir que dos 3 inquiridos insatisfeitos com os dentes e com o sorriso, apenas um manteve a sua insatisfação após o tratamento, o que pode ser interpretado como uma possível autoavaliação negativa.
ConclusõesConsiderando as limitações inerentes ao tipo de estudo efetuado, é possível concluir que as razões de ordem estética são preponderantes na motivação subjacente à submissão ao tratamento ortodôntico.
A idade no momento do tratamento, a duração do mesmo e o grau de satisfação com o resultado são independentes do género.
De uma forma geral, os indivíduos submetidos a tratamento ortodôntico demonstraram uma melhoria significativa da no grau de satisfação na autoperceção do seu sorriso e dos dentes, o que se traduz em impacto positivo em 93,69% (IC 95%: 87,34‐97,13%) dos respondentes que se submeteram ao mesmo.
Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animaisOs autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.
Confidencialidade dos dadosOs autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes.
Direito à privacidade e consentimento escritoOs autores declaram ter recebido consentimento escrito dos pacientes e/ ou sujeitos mencionados no artigo. O autor para correspondência deve estar na posse deste documento.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.