Na Europa os problemas de saúde pública relacionados com biotoxinas marinhas têm estado largamente associados ao consumo de bivalves contaminados por microalgas tóxicas, à semelhança de outras zonas temperadas do planeta. No entanto, nos países mediterrâneos novos riscos para a saúde pública têm vindo a tornar-se recorrentes desde o início do século xxi. As alterações climáticas parecem estar a favorecer a ocorrência de biotoxinas que habitualmente apenas afectavam zonas tropicais, em latitudes progressivamente superiores. Nesta revisão pretende-se resumir os principais problemas de biotoxinas emergentes que tem estado a afectar progressivamente o sul da Europa, em que estão envolvidas as palitoxinas, as tetrodotoxinas e as ciguatoxinas.
A presença de palitoxinas levou à inclusão da via respiratória na transferência de biotoxinas para o Homen. Até recentemente apenas a via alimentar era conhecida na Europa. Já ocorreram diversos episódios graves do foro respiratório em Itália e Espanha. As biotoxinas envolvidas são produzidas pela microalga Ostreopsis ovata. Estes problemas surgiram em baías abrigadas, modificadas artificialmente, em períodos do verão em que se atingiram temperaturas elevadas da água do mar, afectando habitantes e veraneantes.
A abertura do Canal do Suez permitiu a migração para o Mediterrâneo oriental do peixebalão Lagocephalus sceleratus oriundo do Mar Vermelho, contaminado com tetrodotoxinas. Já foram capturados por diversas vezes no mar Egeu e já causaram intoxicações em Israel, pelo que terão constituído populações permanentes no Mediterrâneo oriental. Os juvenis podem ser confundidos com outros peixes comerciais e consumidos por engano.
Até 2004, as intoxicações por ciguatera registadas em países europeus derivavam de viagens prévias a zonas de risco como ilhas das Caraíbas ou do Oceano Índico ou Pacífico. Peixe contaminado com toxinas ciguatéricas foi capturado pela primeira vez em 2004 nas Ilhas Canárias. A recorrência do fenómeno mais a norte em meados de 2008, com peixe capturado nas Ilhas Selvagens do Arquipélago da Madeira, e em finais de 2008 com peixe novamente capturado nas Ilhas Canárias, levou ao estabelecimento de limites de captura para certas espécies de peixes. O peixe implicado nas intoxicações mais graves foi o charuteiro (Seriola spp.).
A recente identificação de toxinas ciguatéricas em Seriola fasciata, e o registo progressivo da presença desta espécie desde o Mediterrâneo ocidental até ao Mar Egeu, levantam também preocupações sobre a futura expansão de peixes ciguatéricos no Mediterrâneo. Um caso isolado de uma intoxicação grave por búzios contaminados com tetrodotoxinas também questiona qual a possível extensão futura do problema causado pelas biotoxinas emergentes nesta região.
In Europe, public health problems related to marine biotoxins have been largely related to consumption of bivalve contaminated by toxic microalgae, like in other temperate zones of the planet. However, in Mediterranean countries new public health risks have starting to be recurrent since the first decade of the xxi century. Climate changing seems to be favouring the appearance of biotoxins common only in tropical zones at progressively higher latitudes. In this review the problems that progressively emergent biotoxins have been causing in Southern Europe, including palytoxins, tetrodotoxins and ciguatoxins, will be summarised.
The presence of palytoxins in the Mediterranean sea led to the inclusion of the aerosol exposure route in the transfer of biotoxins to man. Until recently, only food ingestion was a known route. Exposure to marine aerosol was already responsible for a few outbreaks of respiratory symptoms in Italy and Spain. These biotoxins are produced by the microalgae Ostreopsis ovata. These problems occurred in summer time in sheltered bays, affecting inhabitants and tourists.
The opening of the Suez Channel created the appropriate conditions for the establishment in the east Mediterranean Sea of the puffer–fish Lagocephalus sceleratus, originating in the Red Sea, bearing tetrodotoxins. Specimens were captured in the Aegan Sea on several occasion and caused some food poisonings in Israel, having constituted permanent populations in this area. Juvenile specimens might be confused with other edible fish and consumed by mistake.
Until 2004, the registered cases of ciguatera fish poisoning in European countries originated from previous travel to risk areas, such as Caribbean Sea, Indic or Pacific Oceans. Fish contaminated with ciguatera toxins was first captured in 2004 at the Canary Islands. Recurrence of the phenomena further north in 2008, with fish captured at Selvagens Islands (Madeira Arquipelago), and in end of 2008 again in Canary Islands, led to the establishment of size limits for fish harvest. The species implicated in the most severe outbreaks always belonged to Seriola spp (amberjack).
The recent identification of ciguatera toxins in Seriola fasciata, and the progressive presence of this species from the eastern Mediterranean until the Aegean sea, raise concern about the future expansion of ciguateric fish in the Mediterranean. An isolated case of food poisoning after trumpet shell contaminated with tetrodotoxins, also questions what will be the possible future extension of emergent biotoxins in the Mediterranean.