A saúde e a sua promoção estão intimamente relacionadas com o nível de educação ou de alfabetização dos indivíduos. Nas farmácias da comunidade, é habitual utilizar-se, na educação dos doentes, informação escrita na forma de folheto informativo. Esta ferramenta confere autonomia aos seus utilizadores, em função das competências individuais de literacia. A literacia em saúde é a capacidade individual de obter, processar e interpretar informações sobre saúde e serviços de saúde, com o objectivo de tomar decisões informadas. A medição do nível de dificuldade na leitura e compreensão de textos em língua inglesa tem sido estudada desde 1920, tendo sido propostas as primeiras fórmulas para classificar o nível mínimo de escolaridade que um texto exige para a sua leitura e compreensão, sendo estas designadas por fórmulas de legibilidade ou ‘lecturabilidade’.
Material e métodosO principal objectivo deste trabalho foi a experimentacao de formulas de ‘lecturabilidade’, para a analise da complexidade de leitura e interpretação de folhetos informativos, cujo uso é generalizado nas Farmácias Portuguesas.
Foram aplicadas a uma amostra de 4 folhetos as fórmulas SMOG e Índice Flesh-Kincaid, estimando-se assim o número de anos de escolaridade necessários para a compreensão adequada desses textos. Dois tradutores técnicos independentes traduziram os folhetos para o Inglês, obtendo-se uma versão de consenso para cada folheto. As retroversões foram avaliadas para confirmar a justaposição das traduções com os textos originais. A utilização simultânea das duas fórmulas de ‘lecturabilidade’ permitiu estudar o grau de validade convergente e a fiabilidade dos resultados.
ResultadosO valor médio para o SMOG foi 11,13 (DP=0,81), enquanto a média Flesch-Kincaid foi igual a 8,32 (DP=0,90). Estes resultados correspondem a um nível de escolaridade mínima em Portugal de cerca de 10 anos. A correlação Spearman entre as escalas foi de 0,948 (p=0,51), convergência que sustenta a validade dos resultados.
Para o conjunto de folhetos informativos analisados, a educação formal mínima necessária para ler e compreender o seu conteúdo foi de 9 anos completos de escolaridade. Uma percentagem significativa da população que utiliza as farmácias como uma fonte acessível e credível de informação em saúde, em particular os doentes crónicos e os idosos, possui níveis de escolaridade normalmente mais baixos que o 9° ano. Deste modo, os actuais folhetos informativos podem não ser totalmente compreendidos pelos seus destinatários. Embora constituindo uma ferramenta importante para as decisões relacionadas com a saúde, os folhetos actuais podem não apresentar a utilidade que inicialmente se poderia antecipar.
ConclusõesAs fórmulas de legibilidade ou ‘lecturabilidade’ são ferramentas importantes para a avaliação e ajuste de peças de informação escrita aos seus potenciais utilizadores, funcionando como alternativas exequíveis aos testes clássicos de literacia na população, e contribuindo para o sucesso das estratégias de educação para a saúde. Seria desejável desenvolver e validar ferramentas para o estudo da ‘lecturabilidade’ no nosso próprio idioma.
Health and its promotion are closely related to the level of education or literacy of individuals. In community pharmacies, it is expected in patient education to make use of written information through patient leaflets. This tool gives autonomy to its users, based on the individual literacy skills. Health literacy is one's ability to obtain, process and interpret information about health and health services in order to make informed decisions. How to measure the level of difficulty in reading and understanding texts written in English has been studied since 1920, when the first formula to rank the minimum level of schooling that is required by a text to be read and understood were proposed and designated by readability formulas.
Material and methodsThe main objective of this study was to experiment readability formulas, for analyzing the complexity of reading and interpreting information leaflets commonly used in Portuguese pharmacies.
Two formulas, the SMOG and the Flesh-Kincaid Index, were applied to a sample of 4 patient leaflets, estimating the number of years of schooling required for the proper understanding of these texts. Two independent accredited translators translated the brochures into English, resulting in a consensus version for each leaflet. The Portuguese retroversions were evaluated to confirm the proximity of the translations with the original texts. The simultaneous use of two formulas informed the degree of concurrent validity and reliability of the results.
ResultsThe average value for the SMOG was 11.13 (SD=0.81), while the average Flesch-Kincaid was equal to 8.32 (SD=0.90). These results correspond to a minimum level of education in Portugal around 10 years. The correlation coefficient between scales was 0.948 (p=0.51), convergence that supports results validity.
For this set of patient leaflets, the minimum formal education required to read and understand its content was 9 complete years of schooling. A significant proportion of the population using pharmacies as a credible and accessible source of health information, particularly the chronically ill and elderly, present levels of education usually lower than the 9th grade. This way, the current patient leaflets might not be fully understood by its recipients. The current leaflets, as a tool for health related decisions, may not have the utility that one would initially anticipate.
ConclusionsReadability formulas are important tools for the evaluation and adjustment of written information to the potential users, working as feasible alternatives to classical tests of literacy in the population, and contributing to the success of health education strategies. It would be desirable to develop and validate readability tools in our own language.