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Vol. 52. Issue 4.
Pages 193-199 (October - December 2011)
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Vol. 52. Issue 4.
Pages 193-199 (October - December 2011)
Investigação
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Medicamentos pediátricos e cáries dentárias – Perceções e atitudes de um grupo de tutores pediátricos em Vila Nova de Gaia
Pediatric medicine and tooth decay – perceptions and attitudes among caregivers in Vila Nova de Gaia
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Filipa Leitea, Cristiana Leiteb, André Correiac,
Corresponding author
acorreia@fmd.up.pt

Autor para correspondencia.
, M.a Elvira Pintod
a Pediatria, Hospital S. Teotónio, Viseu, Portugal
b Medicina Geral e Familiar, Centro de Saúde Barão do Corvo, Vila Nova de Gaia, Portugal
c Faculdade de Medicina Dentária, Universidade do Porto, Porto, Portugal
d Medicina Geral e Familiar, Centro de Saúde Barão do Corvo, Vila Nova de Gaia, Portugal
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Tabela 1. Questionário (Parte 1).
Tabela 2. Questionário (Parte 2).
Tabela 3. Grau de parentesco dos tutores das crianças que recorreram à consulta de Saúde Infantil e Juvenil do Centro de Saúde Barão do Corvo.
Tabela 4. Frequência relativa das crianças que já tomaram uma das classes terapêuticas apresentadas.
Tabela 5. Frequência relativa da forma de apresentação dos medicamentos pediátricos mais indicada.
Tabela 6. Frequência relativa de respostas positivas às questões 6 a 16.
Tabela 7. Relação entre o sabor amargo dos medicamentos e a reclamação das crianças.
Tabela 8. Relação entre «adoçar os medicamentos» e a orientação do Médico de Família, Pediatra ou Médico Dentista.
Tabela 9. Relação entre «adoçar os medicamentos» e o conhecimento da associação medicamentos líquidos pediátricos e cárie dentária.
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Resumo

A grande maioria dos medicamentos líquidos desenvolvidos para a Pediatria tem na sua composição algum tipo de açúcar, de forma a tornar a sua ingestão mais agradável, o que lhes confere um potencial cariogénico agravado nesta faixa etária. O objetivo desta investigação foi estudar, de uma forma descritiva, as perceções e atitudes dos responsáveis das crianças face ao potencial cariogénico de medicamentos líquidos pediátricos.

Efetuou-se uma análise descritiva às respostas obtidas num questionário realizado aleatoriamente a 65 cuidadores de crianças entre 0-12 anos de idade que recorreram à Consulta de Saúde Infantil e Juvenil do Centro de Saúde Barão do Corvo, em Vila Nova de Gaia, em novembro e dezembro de 2008.

Os resultados revelaram que as classes terapêuticas mais citadas são os analgésicos/antipiréticos (96,9%), seguidos dos antibióticos (81,5%), a maioria na forma de xarope. Aproximadamente 54% dos responsáveis das crianças relacionou o uso de medicamentos pediátricos com o desenvolvimento de cárie dentária. Apesar disso, 85% não efetuam a higiene oral das crianças após a toma do medicamento. A maioria dos Médicos de Família, Pediatras ou Médicos Dentistas (88%) não orienta os responsáveis para a correta higiene oral das crianças após a toma de xaropes pediátricos.

Dentro das limitações do estudo, pode-se concluir que é necessário efetuar ações de promoção e educação para a saúde sobre esta temática junto dos responsáveis das crianças e dos Profissionais de Saúde, de forma a que conheçam o potencial cariogénico dos medicamentos e promovam uma correta higiene oral após a sua ingestão.

Palavras-chave:
Pediatria
Odontopediatria
Preparações farmacêuticas
Cárie dentária
Abstract

Most liquid medications developed for Pediatrics have in its composition sugar, in order to promote its ingestion. However this represents a high risk factor for tooth decay in these ages. The purpose of this research was to evaluate, in a descriptive study, the perceptions and attitudes of the children caregivers against the cariogenic potential of pediatric liquid medications.

A questionnaire was distributed to 65 children caregivers (children with ages of 0-12 years old) who have used the ‘Child Health’ Consultation of the Primary Health Center ‘Barão do Corvo’, in Vila Nova de Gaia, between November and December, 2008. A descriptive analysis was performed on the results obtained.

The results revealed that the therapeutic classes most often cited are: analgesics / antipyretics (96.9%) and antibiotics (81.5%), mostly in the form of syrup. Most of the children caregivers (54%) know the relation between the use of pediatric liquid medication and the development of dental caries in children. Nevertheless, 85% do not perform a correct oral hygiene of the children after this intake. The majority of family doctors, pediatricians or dentists (88%) do not instruct the caregivers for a correct children's oral hygiene after syrups intake.

Within the limitations of the study, it can be concluded that it is necessary to promote oral-health education on this issue among children caregivers and health professionals, so they know the cariogenic potential of this pediatric liquid medications, and may promote a proper oral hygiene after its intake.

Keywords:
Pediatrics
Pediatric dentistry
Pharmaceutical preparations
Dental caries
Full Text
Introdução

A cárie dentária é a doença crónica mais frequente da infância, representando um grande problema para a Saúde Pública Mundial1–5. Esta resulta sobretudo da interação entre o hospedeiro, as bactérias da cavidade oral e uma alimentação rica em açúcares, principalmente doces e refrigerantes1–8. Contudo, para além da alimentação, importa também considerar os medicamentos infantis como um veículo importante de fornecimento de sacarose para a cavidade oral4,5,9–15.

O uso de medicamentos faz parte do quotidiano de muitas crianças com doença crónica ou doenças agudas recorrentes. A grande maioria dos medicamentos, sobretudo líquidos, desenvolvidos para a Pediatria tem na sua composição algum tipo de açúcar, de forma a tornar a sua ingestão mais agradável, o que lhes confere um potencial cariogénico agravado neste grupo etário4,12–15.

Eusébio et al.16 verificaram que dos medicamentos líquidos administrados por via oral na população infantil, autorizados e comercializados em Portugal, em 2009, cerca de 27,41% continham açúcar, 46,32% edulcorantes, 25,19% açúcar e edulcorante e apenas 0,74% não tinham qualquer agente adoçante na sua constituição. Maguire e Rugg-Gunn10 verificaram que 39% dos medicamentos de uso pediátrico pelas crianças do Norte de Inglaterra continham açúcar. No Brasil, Neiva et al.17 verificaram que, entre dez antibióticos, sete continham sacarose como agente adoçante. Nik-Hussein et al.18 e Costa et al.19 verificaram que para além da sacarose ser o açúcar mais frequentemente encontrado, a sua percentagem nas medicações variava de 11,2% a 62,46%.

Além desta cariogenicidade, estes medicamentos apresentam também um potencial erosivo elevado pois permitem uma rápida descida do pH da boca durante períodos prolongados de tempo, devido às várias tomas diárias dos medicamentos, pelo que urge a substituição da sacarose por açúcares não acidogénicos11,20,21.

Em geral, os responsáveis das crianças desconhecem os açúcares presentes em muitos alimentos e bebidas. O mesmo se verifica com os medicamentos líquidos infantis. Mesmo quando reconhecem a existência do açúcar, não identificam o tipo utilizado para adoçar as formulações pediátricas, a sua concentração e os cuidados de higiene oral que devem efetuar após a sua ingestão22,23. Todos estes factos podem induzir comportamentos que contribuem para o desenvolvimento da doença cárie14.

Para além dos responsáveis das crianças também os Pediatras desempenham um papel fundamental na educação para a saúde oral das crianças, não só pela promoção e pela intervenção preventiva que podem desempenhar3, mas também porque são eles os responsáveis pela maioria das medicações anteriormente referidas. Contudo, muitos Pediatras desconhecem a relação entre o uso de medicamentos açucarados e a cárie24 e erosão dentária25, e não instruem os responsáveis das crianças sobre as medidas de higiene oral a efetuar após a ingestão destes medicamentos25,26.

Considerando que os responsáveis das crianças estão envolvidos na administração e nos cuidados relacionados com o uso de medicamentos infantis, o objetivo deste estudo foi avaliar, numa análise descritiva, as perceções e atitudes dos responsáveis das crianças face ao potencial cariogénico de medicamentos líquidos pediátricos.

Métodos

Foi constituída uma amostra aleatória de 65 tutores de crianças entre 0-12 anos de idade que recorreram à consulta de Saúde Infantil e Juvenil, do Centro de Saúde Barão do Corvo, em Vila Nova de Gaia, durante o período de novembro e dezembro de 2008. A cada um destes responsáveis foi efetuado um questionário (tabelas 1 e 2) para avaliar as suas perceções e atitudes relativas à associação medicamentos pediátricos e cáries dentárias. Todos os responsáveis foram entrevistados por um único examinador, numa sala privada, no final da consulta de Saúde Infantil e Juvenil. Cada questionário incluía 20 perguntas abertas e fechadas referentes a medicamentos pediátricos, relação com a cárie dentária, e hábitos de higiene oral.

Tabela 1.

Questionário (Parte 1).

Tabela 2.

Questionário (Parte 2).

Sobre os resultados obtidos nos questionários efetuou-se uma análise descritiva apresentando a frequência relativa (em unidades) das respostas (válidas), bem como o intervalo de confiança a 95%.

Apesar da limitação relacionada com o tamanho da amostra, foi também efetuada uma análise estatística (teste do chi-quadrado, programa SPSS Statistics v.19.0) de forma a tentar relacionar as respostas com algumas das questões efetuadas.

Resultados

Foram inquiridos 65 responsáveis de crianças, 79% dos quais correspondiam a mães (tabela 3). Relativamente às crianças desta amostra, a maioria pertencia ao género feminino (66%) e apresentava entre 1 e 6 anos de idade (fig. 1).

Tabela 3.

Grau de parentesco dos tutores das crianças que recorreram à consulta de Saúde Infantil e Juvenil do Centro de Saúde Barão do Corvo.

 
Mãe  51  79 
Pai 
Avó 
Tia 
Pais 
Total  65  100 
Figura 1.

Género e distribuição etária da amostra (frequência relativa).

(0.12MB).

Entre as classes terapêuticas mais citadas destacam-se os analgésicos/antipiréticos (97%), os antibióticos (82%), seguidos dos antitússicos (72%) e anti-histamínicos (74%) (tabela 4), a maioria sob a forma de xarope (tabela 5).

Tabela 4.

Frequência relativa das crianças que já tomaram uma das classes terapêuticas apresentadas.

  Já tomou
  n%  IC 95% 
Antibiótico  53 (82)  [72; 91] 
Antialérgico / antihistamínico  48 (74)  [63; 84] 
Antipirético/analgésico  63 (97)  [93; 100] 
Antitússico  47 (72)  [61; 83] 

IC: intervalo de confiança a 95% para o resultado da proporção obtido com a amostra.

Tabela 5.

Frequência relativa da forma de apresentação dos medicamentos pediátricos mais indicada.

  n (%) [Forma de apresentação]  IC 95% 
Analgésico / antipirético  44 (68%) [xarope]  [56; 79] 
Antibiótico  40 (62%) [xarope]  [50; 73] 
Antitússico  42 (65%) [xarope]  [53; 76] 
Antihistamínico  25 (39%) [gotas]  [27; 50] 

IC: intervalo de confiança a 95% para o resultado da proporção obtido com a amostra.

Relativamente ao sabor, 64% das crianças não refere dificuldade de aceitação dos medicamentos líquidos e apenas 6% dos cuidadores adoça os medicamentos para facilitar a sua toma. Contudo, 46% das crianças reclamam do sabor dos medicamentos (tabelas 6 e 7). Estes medicamentos foram considerados doces por 52%, ácidos por 29% e amargos por 46%, do total da amostra (tabela 6).

Tabela 6.

Frequência relativa de respostas positivas às questões 6 a 16.

QUESTÕES  n (%)  [IC 95%] 
6. A criança tem dificuldade em aceitar o medicamento, em relação ao sabor?  21 (34)  [23; 46] 
7. O seu filho costuma reclamar do sabor dos medicamentos?  29 (46)  [34; 58] 
8. Adoça os medicamentos para que a criança aceite melhor?  4 (6)  [0; 12] 
9. Costuma dar água à criança após ingestão de medicamentos líquidos?  27 (43)  [31; 55] 
10. Acha que algum tipo de medicamento poderá estar envolvido com o desenvolvimento de cárie dentária?  28 (44)  [32; 56] 
11. Realiza a escovagem dos dentes ou outro método de higiene oral da criança após utilização de medicamentos quando ela está acordada?  7 (11)  [4; 19] 
12. Realiza a escovagem dos dentes ou outro método de higiene oral da criança após utilização de medicamentos quando ela está a dormir?  2 (3)  [0; 8] 
13. Na sua opinião considera os medicamentos líquidos infantis muito doces?  33 (52)  [40; 65] 
14. Na sua opinião considera os medicamentos líquidos infantis muito ácidos?  18 (29)  [18; 40] 
15. Na sua opinião considera os medicamentos líquidos infantis muito amargos?  29 (46)  [34; 58] 
16. Já foi orientado por Médico de Família, Pediatra ou por Médico Dentista para realizar a higiene oral da criança após utilização de medicamentos?  8 (12)  [4; 20] 

IC: intervalo de confiança a 95% para o resultado da proporção obtido com a amostra. % - percentagem válida de respostas

Tabela 7.

Relação entre o sabor amargo dos medicamentos e a reclamação das crianças.

  Crianças reclamam do sabor
  Sim  Não  Total 
Medicamentos infantis amargos?
Sim
18  11  29 
% do total  28,6%  17,5%  46% 
Não
11  23  34 
% do total  17,5%  36,5%  54% 
Total
29  34  63 
% do total  46%  54%  100% 

Teste qui-quadrado: p = 0,018 (rejeita-se a hipótese nula, i.e., há uma relação entre as crianças reclamarem do sabor dos medicamentos, e os medicamentos serem amargos)

Apesar de 44% dos responsáveis das crianças relacionarem o uso de medicamentos pediátricos com o desenvolvimento de cárie dentária, apenas 3 a 11% realizam a higiene oral das crianças após a toma do medicamento, com ela a dormir ou acordada, respetivamente. Apenas 12% refere ter sido orientado pelo Médico de Família, Pediatra ou Médico Dentista para a correta higiene oral após a toma de xaropes pediátricos (tabelas 6–9).

Tabela 8.

Relação entre «adoçar os medicamentos» e a orientação do Médico de Família, Pediatra ou Médico Dentista.

  Orientação do Médico de Família, Pediatra ou Médico Dentista
  Sim  Não  Total 
Adoça os medicamentos para que a criança os aceite melhor?
Sim
% do total  3%  3%  6% 
Não
53  59 
% do total  10%  84%  94% 
Total
55  63 
% do total  13%  87%  100% 

Teste exato de Fisher: p = 0,075 (não se rejeita a hipótese nula, i.e., não haver relação entre as permissas).

Tabela 9.

Relação entre «adoçar os medicamentos» e o conhecimento da associação medicamentos líquidos pediátricos e cárie dentária.

  Associação Medicamento vs Cárie Dentária
  Sim  Não  Total 
Adoça os medicamentos para que a criança os aceite melhor?
Sim
% do total  3%  3%  6% 
Não
33  26  59 
% do total  52%  41%  94% 
Total
55  63 
% do total  55%  44%  100% 

Teste exato de Fisher: p = 1,0 (não se rejeita a hipótese nula, i.e., não haver relação entre as permissas).

Discussão

De acordo com o estudo de Almeida et al.27 (referência da prevalência de cárie dentária em Portugal, apresentado no sítio da Organização Mundial de Saúde dedicado à Saúde Oral em Portugal28), a prevalência de cáries dentárias nas crianças de 6 e 12 anos era, em 1999, de 46,9 e 52,9%, respetivamente, pelo que os objetivos definidos neste estudo de avaliar as perceções e atitudes dos responsáveis das crianças face ao potencial cariogénico de medicamentos líquidos pediátricos nos parecem ser relevantes.

O Pediatra desempenha um papel fundamental no acompanhamento do desenvolvimento da criança, e no controlo do seu estado de saúde. A criança poderá necessitar de tomar medicamentos líquidos pediátricos, nomeadamente antibióticos, anti-inflamatórios, antipiréticos e antitússicos, principalmente em situações de doença aguda. Contudo, muitos destes medicamentos têm sacarose na sua constituição10–14,16,18,20, pelo que podem contribuir para o aumento do risco de cárie dentária, em face dos períodos de toma do medicamento. Pela análise dos nossos resultados verificamos que os antibióticos e os analgésicos/antipiréticos são as classes terapêuticas mais tomadas pelas crianças que visitam o Centro de Saúde.

Apenas 52% dos tutores das crianças considera os medicamentos doces, o que é contrário ao objetivo da adição da sacarose aos medicamentos líquidos pediátricos. Por outro lado, 46% considera os medicamentos amargos, daí o facto de 46% das crianças reclamarem do sabor do medicamento (tabela 7).

Apesar destes dados, apenas 6% dos pais adoçam os medicamentos com o objetivo de facilitar a sua toma, pelo que não se verifica um aumento dos fatores de risco para a cárie dentária. Este facto não tem uma relação estatisticamente significativa com o conhecimento dos pais sobre o risco de cárie dentária associado aos medicamentos líquidos infantis, ou com a orientação sobre os métodos de higiene oral dada pelos Médicos de Família, Pediatras ou Médicos Dentistas (tabelas 8 e 9).

De acordo com Rodrigues29, a maioria dos responsáveis revela uma preocupação com a higiene oral das crianças, sobretudo à limitação do consumo de doces fora das refeições, e ao ensino da escovagem manual em casa.

No nosso estudo encontramos alguns dados que parecem revelar uma preocupação dos responsáveis das crianças com o risco de cárie dentária. Apesar de aproximadamente metade das crianças reclamar do sabor dos medicamentos, em especial daqueles que os tutores consideram amargos, apenas 6% dos responsáveis adoçam os medicamentos para facilitar a sua toma.

Desta forma, procuramos analisar a relação entre este os dados positivos obtidos na «’Questão 8 – Adoça os medicamentos para que a criança aceite melhor?», «Questão 10 – Acha que algum tipo de medicamento poderá estar envolvido com o desenvolvimento de cárie dentária» e «Questão 16 – Já foi orientado pelo Médico de Família, Pediatra ou por Médico Dentista para realizar a higiene oral da criança após utilização de medicamentos?», sem contudo termos encontrados dados estatisticamente significativos.

Apesar de 44% dos responsáveis das crianças terem conhecimento da existência de uma relação entre o consumo de medicamentos líquidos pediátricos e o desenvolvimento da cárie dentária, uma grande parte dos mesmos (89-97%) não efetua a higiene oral das crianças após a ingestão, o que é indicador dos baixos níveis de educação para a saúde oral dos responsáveis das crianças relativamente a esta problemática dos medicamentos líquidos pediátricos, e pode contribuir para um aumento do risco de cárie dentária, especialmente considerando que muitos destes medicamentos são tomados à noite.

Quando inquiridos acerca da orientação dos Médicos de Família, Pediatras, ou dos Médicos Dentistas, relativamente à higiene oral a efetuar após a ingestão dos medicamentos líquidos pediátricos, apenas 12% responde positivamente. Apesar de desempenharem um papel fundamental na educação para a saúde dos responsáveis e das crianças, os Médicos de Medicina Geral e Familiar, os Pediatras e os Médicos Dentistas não transmitem recomendações de higiene oral pós-consumo de medicamentos açucarados, o que é coincidente com os resultados obtidos por outros autores24–26.

Conclusões

Dentro das limitações do estudo, sobretudo relacionadas com o tamanho da amostra utilizada, pode-se concluir que é necessário efetuar ações de promoção e educação para a saúde, relacionadas com este tema dos medicamentos líquidos pediátricos açucarados, junto dos responsáveis das crianças, dos Médicos de Medicina Geral e Familiar, dos Pediatras e dos Médicos Dentistas. Todos estes profissionais de saúde devem conhecer o potencial cariogénico dos medicamentos, procurar prescrever medicamentos livres de sacarose, encorajar os pais a utilizarem a medicação prescrita e orientar para a escovagem dos dentes com dentífrico fluoretado após a utilização destes fármacos.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

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