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Inicio Acta Urológica Portuguesa Eficácia da vibroestimulação peniana após lesão vertebromedular
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Vol. 33. Núm. 1.
Páginas 16-21 (abril 2016)
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Eficácia da vibroestimulação peniana após lesão vertebromedular
Effectiveness of penile vibratory stimulation after spinal cord injury
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Sandra de Oliveiraa,
Autor para correspondencia
sandra.oliveira1985@hotmail.com

Autor para correspondência.
, António Azenhaa, Ana Paula Sousab, João Páscoa Pinheiroa, Ana Teresa Almeida Santosb
a Serviço de Medicina Física e de Reabilitação, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
b Serviço de Medicina da Reprodução, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; Centro de Neurociências e Biologia Celular, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
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Tabela 1. Caracterização clínica dos indivíduos
Tabela 2. Espermogramas dos indivíduos
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Resumo
Objetivo

A infertilidade masculina é uma consequência frequente da lesão medular, resultando da disfunção ejaculatória e/ou das alterações da qualidade do sémen. A vibroestimulação peniana é um método utilizado na colheita de sémen. Este trabalho pretende divulgar a utilização deste método em lesionados medulares, avaliar as intercorrências que possam surgir e averiguar se o ejaculado obtido é adequado para fertilização.

Material e métodos

A vibroestimulação foi aplicada a 3 lesionados medulares. Posteriormente, realizámos a avaliação dos parâmetros espermáticos.

Resultados

A vibroestimulação foi eficaz em todos os doentes, na maioria das sessões realizadas. Os ejaculados apresentam um valor normal em termos de concentração de espermatozoides, no entanto com mobilidade progressiva e morfologia variável, comparando com os parâmetros de referência.

Conclusão

A vibroestimulação é eficaz na indução de ejaculação dos lesionados medulares. Apesar da grande variabilidade existente entre os indivíduos, o material obtido é adequado para fertilização através de técnicas de reprodução assistida.

Palavras‐chave:
Lesão vertebromedular
Ejaculação
Qualidade seminal
Abstract
Aims

Spinal cord injury in males is frequently associated with infertility, due to ejaculatory dysfunction and/or semen properties alterations. Penile vibratory stimulation can be used as a semen collecting method. The aim of this work is to disclose the use of this method in spinal cord injured male patients, evaluate its possible complications and clarify if the ejaculated semen is prone to fertilization.

Material and Methods

Vibratory stimulation was used in three spinal cord injured patients to collect semen and, after that procedure, the evaluation of sperm parameters was performed.

Results

Vibratory stimulation was efficient in all the subjects, in the majority of the sessions. The ejaculates present normal sperm concentration, but variable sperm progressive motility and morphology, when comparing with the standard criteria.

Conclusion

Penile vibratory stimulation is an efficient procedure to induce ejaculation in spinal cord injured patients. Despite the considerable variability between the subjects, the ejaculates met the required quality to allow fertilization trough assisted reproductive technologies.

Keywords:
Spinal Cord Injury
Ejaculation
Semen quality
Texto completo
Introdução

A disfunção sexual é uma das maiores preocupações dos lesionados medulares jovens, sendo a infertilidade uma importante complicação no homem1–3, afetando cerca de 90% destes indivíduos4. De acordo com o «National Spinal Cord Injury Statistical Center», existem cerca de 12 mil novos casos de lesão vertebromedular (LVM) por ano5,6, e destes, 80% ocorrem em homens com idade compreendida entre 16‐45 anos7. Em Portugal, surgem cerca de 200 novos casos anuais em homens em idade reprodutiva (idade média de 32,6 anos)1.

O potencial reprodutivo nestes indivíduos está prejudicado pelas consequências da lesão, das quais se destacam a disfunção erétil, as alterações da quantidade e qualidade do sémen e/ou a ausência de ejaculação anterógrada1,7,8. No entanto, gestações bem‐sucedidas têm sido relatadas após recurso a técnicas de ejaculação e de procriação medicamente assistida, nomeadamente a inseminação intravaginal, inseminação intrauterina e fertilização in vitro, com ou sem injeção intracitoplasmática de espermatozoides2.

A ereção e ejaculação são mediadas por 2 centros medulares (sob controlo de centros supramedulares). O centro sagrado (sistema nervoso parassimpático e somático) permite a obtenção de uma ejaculação e ereção reflexa, após estimulação local dos órgãos genitais externos, sendo os impulsos transmitidos para a espinhal medula pelo nervo pudendo. O centro dorsolombar (sistema nervoso simpático) permite a ejaculação e ereção psicogénica, após estímulos visuais, olfativos ou auditivos, transmitidos pelos nervos hipogástricos3,6.

O mecanismo da ejaculação compreende 2 fases, a emissão e a expulsão3. A emissão caracteriza‐se por uma série de contrações da próstata, canais deferentes e vesiculas seminais, com acumulação de esperma na uretra prostática. Esta fase é dependente do centro dorsolombar (D10‐L2). A expulsão ocorre devido às contrações rítmicas dos músculos perineais e uretrais, com relaxamento do esfíncter estriado da uretra e encerramento do colo vesical, provocando a expulsão do líquido seminal acumulado previamente. Esta fase é controlada pelo centro sagrado (S2‐S4).

A disfunção ejaculatória é uma consequência frequente da LVM, estando a sua gravidade correlacionada com o nível e extensão da lesão1,6. Estudos apontam que apenas 5‐10% dos lesionados mantêm a capacidade de ejacular, no entanto, na maioria das vezes, o esperma é de má qualidade (quer em termos de concentração quer da mobilidade espermática)5,7,9. Alguns fatores referidos para esta baixa qualidade são os desequilíbrios hormonais (modificações no eixo hipotálamo‐hipófise e hiperprolactinemia podem levar à alteração da espermatogénese), fibrose intersticial testicular, elevação da temperatura escrotal (podendo levar à diminuição da quantidade e mobilidade dos espermatozoides), traumatismos das vias urinárias (devido às algaliações), estase seminal com aumento das citosinas e radicais livres, infeções geniturinárias e medicação (nitrofuranos). No entanto, o papel destes fatores permanece controverso1,4,7.

Na literatura são referidos vários métodos de colheita de sémen, nomeadamente a vibroestimulação peniana (VEP), a eletroejaculação, a aspiração do canal deferente e epidídimo, ou ainda a biópsia testicular3,5,9.

A VEP é referida como sendo o tratamento de primeira linha na disfunção ejaculatória, atingindo uma taxa de sucesso de 16‐96% nas colheitas5,7,9. A estimulação mecânica produzida pelo vibrador desencadeia o ato reflexo, induzindo a ejaculação. Trata‐se de um método simples, fácil de aplicar, bem tolerado, seguro, confiável e de baixo custo e, em comparação com os outros métodos, produz um maior número de espermatozoides móveis7,9. O volume do ejaculado obtido, a vitalidade e a viabilidade dos espermatozoides são influenciados pelos parâmetros da técnica, nomeadamente frequência, amplitude, duração, local e horário de estimulação7. Atualmente existem 2 dispositivos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA), o FertiCare Personal® e o Viberect®7.

Este trabalho tem como objetivo divulgar a utilização da VEP em homens com disfunção ejaculatória após LVM, avaliar as intercorrências que possam surgir com este método e averiguar se a qualidade seminal é adequada para fertilização.

Material e métodosVibroestimulação peniana

Em todos os doentes deste trabalho, a VEP foi precedida de abstinência sexual de 24 horas. Realizou‐se um esvaziamento vesical imediatamente antes de cada sessão, seguido de higiene genitoperineal. Quinze minutos antes da aplicação da vibração (FertiCare Personal®, 100Hz de frequência e 2,5mm de amplitude), administraram‐se aos doentes 10mg de nifedipina oral. O vibroestimulador foi aplicado no dorso ou freio da glande, durante 2‐3 minutos. A duração máxima de cada ciclo foi de 3 minutos, com intervalo de um minuto entre eles, máximo de 3 ciclos por sessão. A colheita de líquido espermático fez‐se para frasco de boca larga esterilizado. Não se pesquisou a presença de ejaculação retrógrada. Todas as sessões foram vigiadas com monitorização cardiovascular.

Espermograma

Procedeu‐se à análise dos ejaculados obtidos segundo os critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS, 201010). Após liquefação das amostras à temperatura ambiente, foram examinados parâmetros macroscópicos (volume) e microscópicos (quantidade, concentração, mobilidade e morfologia dos espermatozoides).

Descrição dos casos clínicosIndivíduo 1

Homem de 30 anos, com paraplegia classificada segundo a American Spinal Injury Association Impairment Scale (AIS)11 em AIS A, nível neurológico D6, após LVM por fratura de D7 em 1994. Foi observado pela medicina física e de reabilitação (MFR) em janeiro de 1999 (caracterização clínica na tabela 1). O doente referia conseguir ereções fugazes (inferiores a 2 minutos) e pouco intensas. Apresentava infeções urinárias ocasionais (cerca de 2 por ano), tratadas conforme antibiograma. Não referia outras patologias dos vários órgãos e sistemas, estando medicado com oxibutinina 5mg id, diazepam 5mg bid e baclofeno 25mg bid. A 16/01/1999 iniciou programa de indução de ejaculação por VEP, em 2 sessões mensais. Durante os 5 primeiros meses realizou 9 sessões, sem qualquer modificação prévia da sua medicação habitual. Nos 4 meses seguintes realizou 7 sessões precedidas de 24 horas de suspensão de toda a sua medicação, exceto numa delas por esquecimento do doente.

Tabela 1.

Caracterização clínica dos indivíduos

  Indivíduo 1  Indivíduo 2  Indivíduo 3 
FM nos MS (MRC)  Grau 5  Grau 5  Grau 5 
FM nos MI (MRC)  Grau 0  Grau 0  Grau 0 
Espasticidade (EAM)  Grau 3 nos extensores dos MI  Grau 1 nos flexores dos joelhos e flexores plantares  Grau 1 nos flexores dos joelhos 
Reflexos miotáticos  Hiperreflexia patelar e aquiliana  Hiperreflexia patelar e aquiliana  Abolidos nos MI 
Reflexos bulbocavernoso, cremasteriano e anais  Presentes  Presentes  Presentes 
Treino vesical  Autoalgaliações intermitentes (4/4 horas)  Algaliação contínua em drenagem livre  Algaliação contínua em drenagem livre 
Treino intestinal  Laxantes de volume em dias alternados  Senosídeo 24mg e supositório de bisacodilo 10mg em dias alternados  Sem treino instituído 

EAM: escala de Ashworth modificada; FM: força muscular; MI: membros inferiores; MS: membros superiores; MRC: Medical Research Council.

Indivíduo 2

Homem de 33 anos, com paraplegia AIS A, nível neurológico D2, após LVM por fratura de D2 em janeiro de 2007. Foi observado pela MFR em outubro de 2014 (caracterização clínica na tabela 1). Referia conseguir ereções fugazes (inferiores a 5 minutos) e pouco intensas. Mencionou episódios de infeções urinárias pouco frequentes, tratadas segundo antibiograma. Sem medicação habitual além do treino intestinal. A 21/10/2014 iniciou programa de indução de ejaculação VEP. O indivíduo foi sujeito a 2 sessões, intervaladas de 2 semanas.

Indivíduo 3

Homem de 38 anos, com paraplegia AIS B, nível neurológico D11, após LVM por fratura de D12 em agosto de 1991. Foi observado pela MFR em janeiro de 2015 (caracterização clínica na tabela 1). Referia ereções reflexas, pouco intensas (inferiores a 15 minutos) e infeções urinárias (cerca de 6 por ano), tratadas segundo antibiograma. Sem medicação habitual. A 13/01/2015 iniciou programa de indução de ejaculação por VEP, tendo realizado uma sessão semanal durante 3 semanas.

ResultadosIndivíduo 1

Nas primeiras 9 sessões de VEP (sem modificação da terapêutica habitual) a ejaculação ocorreu em jato apenas em 3 destas sessões, precedida de ereção e acompanhada de sinais premonitórios somáticos (contração tónica‐clónica dos músculos abdominais e dos flexores dos joelhos). A estimulação foi infrutífera em 6 sessões. Nas últimas 7 sessões, todas as que foram precedidas da suspensão da medicação (6 sessões), a ejaculação ocorreu em jato, com um tempo médio de estimulação de 2 minutos, precedida de ereção e acompanhada de sinais premonitórios somáticos. Houve apenas uma sessão não seguida de ejaculação, coincidindo com a não suspensão prévia dos fármacos.

Indivíduo 2

Nas 2 sessões de VEP, a ejaculação ocorreu em babagem e em jato, com um tempo médio de estimulação de 2 minutos, não precedida de ereção e acompanhada de sinais premonitórios somáticos (contração tónica‐clónica dos músculos abdominais). Verificámos um ligeiro aumento dos valores de tensão arterial durante a ejaculação (130/90mmHg).

Indivíduo 3

Em todas as sessões de VEP a ejaculação ocorreu em babagem, com um tempo médio de estimulação de 2 minutos, não precedida de ereção e acompanhada de sinais premonitórios somáticos (contração tónica‐clónica dos músculos abdominais, dos flexores dos joelhos e dos abdutores da anca). Verificámos um ligeiro aumento dos valores de tensão arterial durante a ejaculação (141/85mmHg).

Espermogramas

Os resultados dos espermogramas realizados da primeira colheita (tabela 2) mostram que os ejaculados dos 3 indivíduos apresentam um valor normal em termos de concentração em espermatozoides. O volume do ejaculado é muito variável quando comparamos os 3 valores: o indivíduo 1 apresenta um volume normal; o indivíduo 3 apresenta um volume baixo, embora maior que o do indivíduo 2, que apresenta um valor de ejaculado extremamente baixo. Por influência do volume, a quantidade em espermatozoides no ejaculado apresenta um valor normal para os indivíduos 1 e 3, mas ligeiramente inferior no indivíduo 2. A percentagem de espermatozoides com mobilidade progressiva apresenta um valor normal para os indivíduos 1 e 2 e ligeiramente inferior para o indivíduo 3. Relativamente à morfologia dos espermatozoides, os indivíduos 1 e 2 apresentam um valor considerado normal, enquanto no indivíduo 3 apenas 1% dos espermatozoides são morfologicamente normais.

Tabela 2.

Espermogramas dos indivíduos

Parâmetros dos espermatozoides  Indivíduo 1  Indivíduo 2  Indivíduo 3  Critérios OMS10 
Volume do ejaculado  1,75ml  <0,1ml  0,8ml  1,5ml a 5ml 
Concentração  310x106/ml  240x106/ml  80x106/ml  15x106/ml 
Quantidade  542,5x106  24x106  64x106  39x106 
Mobilidade progressiva  50%  40%  27%  32% 
Morfologia  12%  8%  1%  4% 

OMS: Organização Mundial de Saúde.

Os espermogramas das colheitas posteriores, em relação à concentração, quantidade e mobilidade progressiva, apresentavam valores semelhantes.

Discussão

Ao longo das últimas décadas, a anejaculação em doentes com LVM tem permanecido um grande problema. A taxa de ejaculação durante a masturbação ou o coito, sem a ajuda de medicamentos ou dispositivos, ainda é muito baixa (cerca de 11,8% em lesões completas e 33,2% em lesões incompletas)3.

A eficácia da VEP depende do nível e extensão da lesão. Alguns autores referem que a ejaculação ocorre mais facilmente em doentes com lesões incompletas (52,8%) em comparação com lesões completas (47,4%)3. Neste trabalho, 2 dos paraplégicos (1 e 2) apresentavam uma lesão completa e um deles (3) uma incompleta; no entanto, a VEP foi eficaz na obtenção de esperma nos 3 casos. Em relação ao indivíduo 1, pensamos que a ejaculação durante as primeiras sessões foi prejudicada pela medicação que o paraplégico fazia (baclofeno, diazepam e oxibutinina). Este aspeto é reforçado pela verificação de que, nas posteriores tentativas, apenas uma não foi seguida de ejaculação, coincidindo esta com a não suspensão prévia da referida medicação.

A literatura refere também que a VEP é mais eficaz em doentes com o centro dorso lombossagrado íntegro (lesões acima de D10), havendo uma taxa de sucesso de apenas 15% em doentes com lesão abaixo desse nível2,6,12. Neste trabalho, apenas o indivíduo 3 apresentava uma lesão com nível inferior a D10; no entanto, esta técnica foi eficaz, o que pode ser explicado pelo fato de se tratar de uma lesão incompleta. O sucesso da VEP é superior em lesionados medulares com preservação dos reflexos bulbocavernoso, cremasteriano e anais (94% nos homens com nível de lesão entre D1 e D6, e 67% com um nível entre D7 e D12)6. A presença destes reflexos é compatível com lesões incompletas ou lesões completas com integridade do centro sagrado, favorecendo o sucesso da VEP. Todos os indivíduos deste estudo tinham estes reflexos presentes.

Durante a aplicação do método, a ejaculação pode ser precedida e acompanhada de alguns sinais premonitórios, como a contração tónica‐clónica dos músculos abdominais, dos flexores dos joelhos e abdutores da anca13. A VEP pode ainda causar abrasão/edema do pénis1,5 ou desencadear uma disreflexia autonómica (em lesões acima de D6), sendo alguns sinais o surgimento de cefaleias, aumento da tensão arterial, sensação de constrição torácica e dificuldade respiratória7,13. A profilaxia deverá ser feita com a administração de 10‐40mg de nifedipina ou captopril oral ou sublingual, 15 minutos antes do procedimento6,7,12. Neste estudo, além da ligeira elevação da tensão arterial nos indivíduos 2 e 3, não surgiram outros efeitos secundários.

Habitualmente, os homens com LVM apresentam volumes de ejaculado dentro dos parâmetros normais, uma morfologia variável, mas a percentagem de espermatozoides móveis é baixa (cerca de 20%), prejudicando a capacidade de fertilização1,2,8. Tendo em conta as amostras analisadas, o indivíduo 1 é considerado normozoospérmico (parâmetros de concentração, mobilidade e morfologia dos espermatozoides normais); o indivíduo 2, embora com um volume muito pequeno, também é normozoospérmico; e o indivíduo 3 apresenta astenozoospermia ligeira (mobilidade abaixo do normal) e teratozoospermia (valor de morfologia anormal). Os resultados obtidos estão de acordo com o descrito na literatura, que refere que, apesar de apresentarem concentrações de espermatozoides normais, muitos indivíduos apresentam astenozoospermia4 ou astenoteratozoospermia14,15. No entanto, apesar de alguns dos parâmetros seminais se encontrarem alterados, tendo em conta as amostras analisadas, a quantidade de espermatozoides móveis obtidas nos 3 indivíduos possibilita que se recorra a técnicas de reprodução assistida para a obtenção de gravidez, tal como descrito por outros autores15–17. De facto, os indivíduos 1 e 2 poderiam beneficiar de inseminação intrauterina desde que confirmado ausência de fator tubo‐peritoneal na parceira, ou fecundação in vitro na presença deste. No caso do indivíduo 3, dado os valores da mobilidade e da morfologia estarem alterados, poderia recorrer‐se a uma injeção intracitoplasmática de um espermatozoide (ICSI).

A utilização sucessiva da VEP pode alterar a qualidade do sémen, diminuindo a concentração espermática e melhorando a mobilidade dos espermatozoides. Neste trabalho, as amostras obtidas nos 3 indivíduos não apresentaram alterações significativas destes parâmetros. Este resultado está de acordo com o estudo realizado por Sønksen et al.18, em que os autores concluíram que a VEP realizada semanalmente durante um ano não melhorou a má qualidade do sémen.

Conclusão

A VEP é um método com elevada taxa de êxito na indução da ejaculação em doentes com LVM. Visto tratar‐se de um procedimento com baixo custo, com poucos efeitos secundários e de natureza não invasiva, deverá ser o método de primeira linha na recolha de esperma em lesionados medulares. A medicação com antispásticos e ansiolíticos poderá interferir negativamente na indução de ejaculação por VEP, recomendando‐se a sua suspensão antes do procedimento.

Apesar de existir uma grande variabilidade entre os indivíduos, é possível obter‐se, com o método de VEP, uma elevada quantidade de espermatozoides móveis, possibilitando a obtenção de gravidez através de técnicas de reprodução assistida.

Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animais

Os autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.

Confidencialidade dos dados

Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes.

Direito à privacidade e consentimento escrito

Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

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