A hiperplasia nodular focal (HNF) é o tumor benigno hepático não vascular mais comum1. Ocorre em ambos os sexos, sendo mais frequente no sexo feminino dos 20 aos 50 anos de idade1. A maioria dos casos é assintomática, sendo identificada de forma acidental em exames de imagem2. A apresentação múltipla é extremamente rara e põe problemas de diagnóstico, pela dificuldade em caracterizar cada uma das lesões3. Habitualmente, as lesões permanecem estáveis em número e dimensão, mas em raros casos verifica‐se progressão da doença3.
Os autores apresentam o caso de uma mulher de 40 anos, com evidência de múltiplos nódulos hepáticos em ecografia de rotina. Antecedentes de toma de contracetivos orais nos últimos 15 anos e sem hábitos alcoólicos. Apresentava‐se assintomática e sem alterações ao exame objetivo. Analiticamente, evidenciava GGT ‐ 87U/L (valor de referência: <38U/L), aminotransferases, fosfatase alcalina, bilirrubinemia, albumina e tempo de protrombina normais, serologias do VHB e VHC e estudo da autoimunidade negativos, assim como CEA e alfa‐fetoproteína normais. Realizou TC que revelou hepatomegalia com múltiplas formações nodulares hipervasculares dispersas pelos 2 lobos, as 2 de maiores dimensões (6,7 e 6cm) com uma pequena área hipodensa central (fig. 1). Para melhor caracterização dos vários nódulos realizou RM, que mostrou lesões com comportamento sugestivo de HNF, e cintigrafia com Tc99m, na qual todas as lesões tiveram comportamento sugestivo de HNF com exceção de uma (segmento VI/VII) (fig. 2). Contudo, a biopsia deste nódulo mostrando uma lesão constituída por hepatócitos morfologicamente normais reforçou a hipótese de este ter a mesma etiologia (fig. 3).
Biopsia hepática (nódulo do segmento VI/VII) guiada por TC – lesão constituída por hepatócitos morfologicamente normais, formando nódulos regenerativos separados por septos conjuntivos espessos (A) contendo vasos (arteriais e venosos) (B), reação ductular marginal (C) e infiltrado inflamatório mononuclear (D) (HE x40‐100).
Posteriormente, a doente realizou RM com contraste hepatoespecífico (Primovist®), que evidenciou múltiplas formações nodulares, a maior com 6,1cm, que na fase hepatobiliar apresentam acentuada retenção do contraste, facto que corrobora a sua natureza hepatocitária (fig. 4).
A doente mantém‐se assintomática, com GGT ‐ 70U/L e restantes provas hepáticas normais, e todos os nódulos mostram estabilidade morfológica e dimensional em exames sequenciais. Foi suspenso o contracetivo oral e realizou laqueação tubar. Realizou posteriormente uma angio‐TC cerebral que não evidenciou lesões vasculares.
Com este caso pretende‐se salientar a dificuldade diagnóstica da HNF face a uma apresentação clínica com lesões múltiplas, levantando dúvidas quanto à natureza de algumas delas e a utilidade do uso de contraste hepatoespecífico para o seu esclarecimento, nomeadamente no diagnóstico diferencial com o carcinoma hepatocelular.
Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animaisOs autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.
Confidencialidade dos dadosOs autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes.
Direito à privacidade e consentimento escritoOs autores declaram ter recebido consentimento escrito dos pacientes e/ou sujeitos mencionados no artigo. O autor para correspondência deve estar na posse deste documento.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.