A noção de aborrecimento sexual constitui um constructo potencialmente útil e interessante a explorar no campo da sexualidade humana.
ObjetivoA presente investigação teve como objetivo proceder à validação da versão portuguesa da Escala de Aborrecimento Sexual (SBS), instrumento que avalia o aborrecimento sexual em homens e mulheres.
Material e métodosRecorreu‐se a um total de 298 participantes de ambos os sexos, os quais preencheram o questionário com a tradução para português da SBS.
ResultadosForam demonstradas as principais propriedades psicométricas da validação da SBS.
DiscussãoA estrutura da versão portuguesa da SBS revelou ser unidimensional e foram eliminados 3 itens devido a baixas saturações. Obtiveram‐se valores bons a nível de consistência interna, de validade convergente, e de validade concorrente.
ConclusõesAs boas propriedades psicométricas encontradas justificam a recomendação de utilização da adaptação da SBS para a população portuguesa.
The notion of sexual boredom is a potentially useful and interesting construct in the field of human sexuality.
ObjectiveThe aim of the present study was to validate the Portuguese version of the Sexual Boredom Scale (SBS), a scale that assesses sexual boredom among men and women.
Material and methodsA total of 298 participants completed the Portuguese version of the SBS.
ResultsThe main psychometric properties of the Portuguese version of the SBS were assessed.
DiscussionThe Portuguese version of the SBS revealed a unidimensional factor structure and three items were eliminated due to low loadings. Good values were obtained in terms of internal consistency, convergent validity, divergent validity and concurrent validity.
ConclusionsThe use of the Portuguese adaptation of the SBS is justified since it has sound psychometric properties.
O aborrecimento sexual, uma área específica de aborrecimento, é um constructo ainda pouco estudado e pouco compreendido quer ao nível da investigação quer ao nível da avaliação e intervenção clínica. Contudo, os estudos empíricos que introduziram esta variável no seu desenho têm demonstrado de forma geralmente consistente que o aborrecimento sexual é um preditor significativo do interesse sexual1 e da infidelidade conjugal2. No presente trabalho pretendemos contribuir para o processo de validação da única escala existente que avalia este constructo, a Escala de Aborrecimento Sexual (Sexual Boredom Scale – SBS3) numa amostra da população portuguesa.
O conceito de aborrecimento tem recebido pouca atenção por parte da investigação científica4. Contudo, quer a experiência de aborrecimento situacional, definida como a insatisfação com a atividade em que a pessoa está envolvida5, induzida pelo resultado do confronto entre o que se deseja e o que se tem disponível, quer a propensão para o aborrecimento6 têm sido associadas a resultados negativos em diferentes áreas: a profissional7, a académica8 e na saúde mental, com níveis altos de aborrecimento ou de propensão para o aborrecimento a demonstrarem fortes associações com depressão e hostilidade9, perturbações do comportamento alimentar10 e adoção de comportamentos de risco tais como a utilização de substâncias aditivas11. Ao nível da intimidade, o aborrecimento geral tem sido apontado como um dos fatores associados à rutura e separação dos casais12, atividades sexuais de risco13 e a adição sexual14.
O presente trabalho incide sobre um tipo específico de aborrecimento, o aborrecimento sexual. O aborrecimento sexual situacional, associado à propensão para o aborrecimento, é caracterizado pela aversão a experiências repetidas e por um estado de excitação baixa ou insatisfação face a uma situação percecionada como de estimulação inadequada. Os estudos conduzidos através de autorrelato junto de amostras de estudantes adultos demonstraram que as pessoas aborrecidas sexualmente passam por estados emocionais negativos, tais como depressão, insatisfação com a vida, com a sexualidade, fantasiam mais e procuram maior novidade sexual com o objetivo de aumentar os seus níveis de excitação sexual e têm atitudes mais liberais face à sexualidade3. O aborrecimento sexual tem sido conceptualizado e estudado como sendo uma característica predominantemente masculina. Esta posição tem sido fortemente criticada por investigadores e teóricos da linha da psicologia discursiva15 uma vez que assenta numa visão do género como categoria natural.
Numa análise diferencial entre géneros demonstraram que os estudantes do sexo masculino apresentam níveis significativamente mais altos de aborrecimento3 e que os homens com uma utilização parafílica de materiais sexualmente explícitos também apresentam níveis mais altos de aborrecimento sexual que os homens que não apresentam utilização parafílica de materiais sexualmente explícitos16. Ao nível da intimidade, o aborrecimento sexual tem sido associado à infidelidade conjugal17 e mais especificamente à infidelidade sexual e ao interesse sexual responsivo diminuído nos homens18. Apesar das críticas à utilização de medidas de autorrelato no estudo da sexualidade humana e do aborrecimento sexual em particular, devido à sua limitada capacidade de apreender as dinâmicas individuais assim como os significados individuais interiorizados do conceito, num estudo desenvolvido com recurso a metodologia mista em que se utilizou a SBS os autores salientaram que a utilização deste instrumento viabiliza uma avaliação descritiva e baseada na frequência que permite o mapeamento das semelhanças e diferenças de respostas em grupos de participantes, o que é uma importante vantagem para a utilização no contexto de investigação19.
A SBS3 é uma escala de 18 itens que avalia a tendência para sentir aborrecimento com a vida sexual. Os estudos originais de desenvolvimento da SBS foram efetuados com 3 amostras distintas de estudantes: uma amostra de jovens estudantes universitários em situação de coabitação com o(a) companheiro(a) atual, uma amostra de estudantes universitários com atividade sexual e uma amostra de adultos a frequentar formação profissional de adultos, sendo que em todas as amostras a média de idades foi inferior a 30 anos de idade. Os resultados obtidos indicaram que a SBS é uma medida com bons indicadores de validade de constructo (fatorial, convergente e divergente) e de fiabilidade (consistência interna por alfa de Cronbach>0,90).
O presente trabalho refere‐se ao processo de adaptação da SBS na população portuguesa. Uma vez que é a única escala existente que avalia a tendência para vivenciar aborrecimento com os aspetos sexuais da vida sexual, esta posiciona‐se na literatura científica como uma medida de referência para estudos que visem integrar quer o impacto desta variável quer os fatores que a afetam. O seu estudo é potencialmente importante para a avaliação e promoção da saúde individual e relacional. Dado que em Portugal não são frequentes os casos de medidas no campo da sexualidade validados com sucesso (e. g., IIEF‐520), a escolha da SBS pareceu‐nos uma boa opção para fomentar o desenvolvimento da investigação em sexualidade humana.
ObjetivosA nível internacional, particularmente em Portugal, existe a necessidade de proceder à validação de instrumentos psicométricos relativos ao campo da sexualidade humana que demonstrem cumprir critérios métricos rigorosos. O objetivo do presente artigo consistiu em proceder à validação portuguesa da SBS, replicando alguns dos procedimentos métricos utilizados na construção desta escala. Desta forma, pretende‐se fundamentar empiricamente a utilização desta escala a nível de investigação e de prática clínica em Portugal.
Material e métodosParticipantesA amostra normativa de conveniência da população geral foi constituída por 298 participantes (média=30,57 anos; desvio‐padrão=9,57 anos; amplitude=18‐63 anos) residentes em meio urbano. Desse total de participantes 51% eram mulheres e 49% eram homens. Em relação ao estado civil, 56,4% eram solteiros, 26,5% eram casados/em união de facto, 4,8% eram divorciados/separados e 12,3% tinham outro estado civil (e. g., viúvo) ou não responderam. Relativamente à escolaridade, 3,7% tinham o ensino básico, 17,6% o ensino secundário, 77,1% o ensino superior e 1,6% não responderam. Em termos de números de parceiros sexuais atuais, 92,6% afirmaram ter apenas um parceiro sexual, 1,6% afirmaram ter mais de um parceiro sexual e 5,8% não responderam. No que diz respeito à frequência de atividade sexual, 22,9% referiram 1‐2 vezes por mês, 61,7% referiram 1‐3 vezes por semana, 10,6% referiram 4‐6 vezes por semana, 1,1% mais de 7 vezes por semana e 3,7% não responderam.
InstrumentosA SBS3,21 é uma medida com 18 itens que avalia o aborrecimento sexual, i. e., a tendência de determinada pessoa em sentir‐se aborrecida com os diversos aspetos da sua vida sexual. A SBS original revelou ser composta por 2 dimensões, compostas cada uma por 9 itens: monotonia sexual (que se refere à vivência da sexualidade como rotina e tédio) e estimulação sexual (que se refere à necessidade de níveis de excitação e novidade sexual). Os itens que constituem a SBS foram originalmente formulados em formato ordinal de 7 pontos (de 1=Discordo totalmente a 7=Concordo totalmente), mas também têm sido utilizados com o formato ordinal de 5 pontos (de 1=Discordo totalmente a 5=Concordo totalmente). A SBS pode ser utilizada com homens e mulheres, tendo sido originalmente desenvolvida a partir de diversas amostras de estudantes universitários e posteriormente validada na população comunitária (Meyerson & Tryon, 2003). A SBS tem demonstrado possuir boas propriedades psicométricas a nível de validade e fiabilidade. Valores mais altos na pontuação da escala correspondem a níveis mais altos de aborrecimento sexual.
A Nova Escala de Satisfação Sexual (New Sexual Satisfaction Scale – NSSS22,23) é uma escala de 20 itens com uma estrutura fatorial bidimensional constituída por uma subescala de Centração no Eu (itens 1‐10) e uma subescala de Centração no Parceiro e na Atividade Sexual (itens 11‐20). Os itens que constituem a NSSS são ordinais de 5 pontos (de 1=Nada Satisfeito a 5=Totalmente Satisfeito). As pontuações de cada dimensão são obtidas pela soma das pontuações dos itens individuais dessa dimensão e a pontuação total da NSSS é obtida pela soma das pontuações de todos itens. A NSSS pode ser utilizada com homens e mulheres, tendo sido desenvolvida a partir de amostras comunitárias, amostras clínicas e amostras de estudantes universitários. A NSSS tem demonstrado possuir boas propriedades psicométricas a nível de validade e fiabilidade. Valores mais altos na pontuação da escala correspondem a níveis altos de satisfação sexual. A versão portuguesa da NSSS24 foi utilizada na presente investigação para efetuar a validade convergente, tendo a consistência interna por alfa de Cronbach obtida sido 0,96.
A Escala de Busca de Sensações Sexuais (Sexual Sensation Seeking Scale – SSSS25,26) é uma escala unidimensional com 10 itens concebida para avaliar a busca de sensações sexuais – definida como a necessidade de ter experiências sexuais novas e variadas, e de correr riscos físicos e sociais com o objetivo de aumentar as sensações sexuais. Os itens que constituem a SSSS são ordinais de 4 pontos (de 1=Discordo totalmente a 4=Concordo totalmente). A SSSS pode ser utilizada com homens e mulheres, adultos ou adolescentes, tendo sido desenvolvida a partir de amostras comunitárias, amostras clínicas e amostras escolares/universitárias. A SSSS tem demonstrado possuir boas propriedades psicométricas a nível de validade e fiabilidade. Valores mais altos na pontuação da escala correspondem a níveis altos de busca de sensações sexuais. A SSSS foi utilizada na presente investigação para efetuar a validade divergente, tendo a consistência interna por alfa de Cronbach obtida sido 0,74.
Foi construído adicionalmente um questionário sociodemográfico através do qual se pretendeu recolher informação acerca de cada participante, nomeadamente: idade, sexo, nacionalidade, escolaridade, profissão, estado civil, duração do relacionamento atual, número de parceiros sexuais, frequência de atividade sexual (codificada como item ordinal de 5 pontos) e satisfação com vida sexual (codificada como item ordinal de 5 pontos).
ProcedimentosFoi contatado o primeiro autor da SBS, nomeadamente John Watt, no sentido de obter permissão para se efetuar a validação portuguesa. Inicialmente foi feita uma tradução do instrumento com a colaboração de um tradutor‐especialista. Os itens foram traduzidos literalmente sempre que o seu significado em português o permitisse, mas quando tal não era possível optou‐se por uma tradução menos literal que captasse o sentido do item original27. Foram de seguida feitas algumas aplicações experimentais, empregando‐se para tal um contexto de grupo de foco e um contexto individual. A partir destas aplicações evidenciou‐se a necessidade de proceder a algumas pequenas correções adicionais à tradução de forma a facilitar a leitura por parte dos participantes com níveis de escolaridade mais baixos, tendo‐se chegado assim à versão final da escala.
Através do termo de consentimento informado que precedia o questionário, todos os participantes foram informados que o objetivo era fazer a validação da SBS para a população portuguesa, que apenas os investigadores teriam acesso às respostas dos instrumentos de avaliação e que a participação era voluntária. Informou‐se ainda que esta pesquisa tinha um carácter académico e que os investigadores não estariam interessados em resultados individuais, mas sim na análise estatística que abrangeria todas as respostas recolhidas. Recrutaram‐se os participantes constituintes da amostra normativa de conveniência da população geral em instituições de ensino superior (Instituto Universitário da Maia, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias), que incluíram alunos e funcionários. Após a recolha dos dados procedeu‐se à seleção dos questionários que cumpriam os critérios da investigação, tendo sido excluídos os que não os cumpriam. Os critérios mínimos estabelecidos na inclusão dos participantes na presente investigação foram ter nacionalidade portuguesa, ser maior de idade (18 ou mais anos de idade) e ter um relacionamento sexual há pelo menos 3 meses.
Os dados obtidos foram inseridos e tratados no software IBM SPSS v2228. Após a inserção dos dados foi recolhida uma amostra de cerca de 30% dos questionários inseridos na base de dados de forma a avaliar a qualidade de inserção, que veio a ser considerada boa dada a quase inexistência de erros de inserção. No tratamento estatístico dos dados recorreu‐se a diversas técnicas estatísticas, nomeadamente: análise de componentes principais (ACP), coeficiente alfa de Cronbach e correlações de Pearson, além de estatísticas descritivas como médias e desvios‐padrão29.
ResultadosO passo inicial da validação da SBS foi a ACP29 dos itens da SBS. Os resultados da ACP em termos de Scree Plot, Eigenvalue, teste de Kaiser‐Meyer‐Olkin (KMO=0,93) e teste de Bartlett (χ2=2.025,30; p ≤0,001) indicaram a presença de apenas um fator e não dos 2 identificados na SBS original3. Portanto, optou‐se pela prossecução da adaptação da SBS em Portugal como uma medida unidimensional. O nível carga fatorial 0,30 foi utilizado como critério de eventual exclusão de itens, tendo‐se constatado que 3 itens (nomeadamente os itens 5, 8 e 15) não cumpriram esse patamar mínimo de peso fatorial e foram excluídos das análises estatísticas subsequentes (ver tabela 1).
Análise de componentes principais
Itens | Fator |
---|---|
1. Muitas vezes é‐me difícil manter o interesse sexual durante um relacionamento | 0,60 |
2. Não conseguiria obter suficiente prazer sexual tendo apenas um relacionamento | 0,80 |
3. Fico insatisfeito(a) a nível sexual se permanecer num relacionamento com a mesma pessoa durante muito tempo | 0,70 |
4. Eu preferiria um relacionamento sexual de curta duração do que um a longo prazo | 0,76 |
5. Não preciso de muita variedade num relacionamento para eu me manter sexualmente satisfeito(a) a nível sexual (R) (E) | |
6. Por vezes pregunto‐se me conseguiria manter‐me sexualmente fiel num relacionamento a longo prazo ou monogâmico | 0,70 |
7. Prefiro relacionamentos sexuais que sejam estimulantes e imprevisíveis | 0,31 |
8. Não conseguiria manter‐me num relacionamento sexualmente entediante (E) | |
9. Sinto frustraçao quando estou num relacionamento sexual de longa duração | 0,84 |
10. O sexo frequentemente torna‐se desinteressante e uma rotina previsível | 0,68 |
11. É natural que o sexo sempre com a mesma pessoa se torne desinteressante | 0,84 |
12. O sexo torna‐se desinteressante num relacionamento de longa duração | 0,85 |
13. Sinto‐me frequentemente aborrecido(a) por manter relaçães sexuais com a mesma pessoa | 0,88 |
14. Sinto‐me farto(a) de ter sexo sempre das mesmas maneiras | 0,52 |
15. Manter o meu interesse sexual num relacionamento nunca é difícil (R) (E) | |
16. Seria muito difícil para mim encontrar um relacionamento que se mantenha suficientemente excitante a nível sexual | 0,77 |
17. Num relacionamento sexual tenho mais interesse na excitação e na estimulaçã o do que na segurança e no compromisso | 0,64 |
18. Sexo com a mesma pessoa tende a tornar‐se aborrecido ao longo do tempo | 0,90 |
Eigenvalue | 8,19 |
Variância | 45,52% |
Nota. Cargas fatoriais ausentes se inferiores a 0,30; (E): itens elimindos na versao portuguesa; (R): itens reversíveis.
O passo seguinte consistiu em calcular a consistência interna através de alfa de Cronbach, média das correlações inter‐itens e amplitude de correlações item‐total corrigidas (ver tabela 2).
Alfa de Cronbach, média das correlações inter‐itens e amplitude das correlações item‐total corrigidas
Alfa | MCII | ACITC | |
---|---|---|---|
SBS | 0,93 | 0,49 | 0,30‐0,86 |
ACITC: amplitude das correlações item‐total corrigidas; Alfa: Alfa de Cronbach; MCII: média das correlações inter‐itens; SBS: Escala de Aborrecimento Sexual.
A validade convergente da SBS com a SSSS demonstrou uma correlação positiva estatisticamente significativa, enquanto a validade divergente com a NSSS demonstrou uma correlação negativa estatisticamente significativa. A validade concorrente com a variável número de parceiros sexuais demonstrou uma correlação positiva estatisticamente significativa (ver tabela 3).
DiscussãoO objetivo da presente investigação consistiu em proceder à adaptação portuguesa da SBS. O primeiro passo na validação do FSFI foi a ACP, que tem demonstrado ser uma técnica robusta mesmo quando utilizada em variáveis ordinais sem uma distribuição normal estrita. Os valores por nós obtidos em termos de Scree Plot, teste KMO e teste de Bartlett indicaram a presença de apenas um fator, e não dos 2 descritos na versão original da SBS. Vale a pena salientar que os próprios autores da SBS identificaram inicialmente 3 fatores com itens que saturavam cruzadamente, pelo que optaram por forçar a extração de apenas 2. Na nossa versão portuguesa unidimensional da SBS foi necessário proceder à exclusão de 3 itens que não atingiram valores aceitáveis de carga fatorial.
No que diz respeito à fiabilidade através do alfa de Cronbach, verificou‐se que obtivemos um valor ligeiramente superior ao que foi reportado pelos autores da escala original, considerado muito bom devido a estar claramente acima do valor mínimo recomendado (i. e., 0,70)30. Em termos da correlação média inter‐itens a SBS obteve um valor adequado, apesar de perto do limite superior do intervalo que é considerado aceitável (i. e., 0,15‐0,50)31. Relativamente à amplitude de correlações item‐total corrigidas obtiveram‐se bons resultados dado que os nossos valores foram sempre iguais ou superiores ao valor recomendado (i. e., 0,30)30.
Em termos da validade convergente da SBS com a SSSS evidenciou‐se a correlação moderada que seria expectável dado que teoricamente a um aumento da busca de sensações sexuais estaria concomitante associado um aumento do aborrecimento sexual. Relativamente à validade divergente obteve‐se também um bom resultado dado ter‐se comprovado a correlação negativa esperada com a NSSS devido aos constructos medidos serem conceptualmente opostos (i.e., seria de esperar que um alto nível de aborrecimento sexual estivesse associado a um baixo nível de satisfação sexual). No que diz respeito à validade concorrente com a variável número de parceiros sexuais, obtivemos a correlação moderada esperada dado que a um alto nível de aborrecimento sexual está frequentemente associado a um aumento da procura de parceiros sexuais32,33.
Em termos dos resultados obtidos pela presente investigação devemos salientar algumas limitações. O facto de termos utilizado uma amostra de conveniência exclusivamente urbana e com um nível de escolaridade predominantemente superior originará alguma falta de representatividade comparativamente à população geral portuguesa. Em termos dos procedimentos técnicos de análise das propriedades psicométricas da SBS, futuramente poder‐se‐á continuar o processo através de outros procedimentos complementares (e. g., estabilidade temporal, validação cruzada).
ConclusõesÉ possível concluir que processo de validação da SBS para a população portuguesa se revelou, de uma forma geral, satisfatório. Os investigadores e especialistas na área da sexualidade humana têm agora à sua disposição um instrumento de autorresposta breve devidamente validado para avaliar o constructo de aborrecimento sexual em homens e mulheres portugueses.
Responsabilidades éticasProteção de pessoas e animaisOs autores declaram que os procedimentos seguidos estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica e Ética e de acordo com os da Associação Médica Mundial e da Declaração de Helsinki.
Confidencialidade dos dadosOs autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes.
Direito à privacidade e consentimento escritoOs autores declaram ter recebido consentimento escrito dos pacientes e/ou sujeitos mencionados no artigo. O autor para correspondência deve estar na posse deste documento.
FinanciamentoA presente investigação foi parcialmente financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) de Portugal.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.