A motivação dos professores é essencial para o sucesso das políticas educativas. Ao estudar-se a motivação docente é necessário examinar características da escola e do professor. Devido à importância deste tema, torna-se fulcral analisar as investigações efetuadas sobre o mesmo, levando em conta variáveis organizacionais, dado que a escola é uma organização, mas também o capital psicológico positivo e a satisfação no trabalho. Assim, recorreu-se a um estudo bibliométrico utilizando-se a base de dados Web of Science (WoS), onde se definiu o período de pesquisa para os anos 2000–2013 e se consideraram unicamente os trabalhos pertencentes à área da psicologia. No total, 33 documentos cumpriram os critérios de inclusão, verificando-se que: (a) 2012 foi o ano com mais publicações; (b) a satisfação no trabalho foi o construto mais estudado com a motivação docente; (c) a categoria psicologia educacional registou mais documentos; e (d) o inglês foi a língua dominante nestes trabalhos. Os Estados Unidos da América e o Canadá obtiveram os valores mais elevados nos indicadores bibliométricos número de documentos (Ndoc) e número de investigadores (Nres), apresentando Israel uma produtividade (Prod) superior à dos restantes países. Estes resultados são discutidos, bem como as principais implicações dos mesmos.
Teachers’ motivation is essential to the success of educational policies. When studying this concept, it is necessary to examine school and teacher characteristics. Due to the relevance of this theme, it becomes crucial to analyze the body of research conducted about it, taking into account organizational variables —as schools are organizations— but also psychological capital and work satisfaction. Therefore, a bibliometric study was conducted using Web of Science (WoS) database, having defined the search period for the years 2000–2013 and only considering works that belong to the psychology field. 33 documents in total fulfilled the inclusion criteria, where it was verified that: (a) 2012 was the year with most publications; (b) work satisfaction was the concept which was most frequently studied, along with teacher motivation; (c) the educational psychology category had the most documents; and (d) English was the dominant language in these works. The United States of America and Canada obtained the highest values in the following bibliometric indicators: number of documents (Ndoc) and number of researchers (Nres), and Israel had a higher level of productivity (Prod) than the other countries. The results and their implications are discussed.
A motivação profissional é um dos pilares da investigação em psicologia (Baron, 1991; Gomes & Borba, 2011; Latham & Pinder, 2005). De acordo com Gomes e Borba (2011), a motivação está presente em todos os contextos de trabalho e também na educação. Nesta área, uma das problemáticas mais relevantes é a motivação docente (Jepson & Forrest, 2006; Jesus & Lens, 2005; Jugovic, Marusic, Ivanec & Vidovic, 2012).
Jesus (2003) verificou, através de uma revisão da literatura, que nos anos 80 (século xx) se registou um incremento de estudos sobre este tema. Todavia, não existem quaisquer investigações que sintetizem os resultados desses trabalhos, nem um quadro teórico que permita analisar os aspetos característicos deste campo (Jugovic et al., 2012), situações que salientam a necessidade de atribuir um maior relevo a este assunto. No entanto, a motivação dos professores é da maior importância, pelas implicações práticas decorrentes (Atkinson, 2000; Jepson & Forrest, 2006; Jesus & Lens, 2005; Jugovic et al., 2012; Klassen, Aldhafri, Hannok & Betts, 2011; Malmberg, 2006; Watt & Richardson, 2008). Os docentes têm um papel fundamental na motivação dos seus alunos, especialmente ao nível da qualidade do ensino, da performance escolar e do desenvolvimento de sentimentos de competência (Atkinson, 2000; Jesus & Lens, 2005; Jepson & Forrest, 2006; Lin, Shi, Wag, Zhang & Hui, 2012; Malmberg, 2006; Watt & Richardson, 2008). Nos últimos anos desenvolveram-se, a título de exemplo, estudos sobre a motivação dos professores universitários através da criação do Espaço Europeu de Ensino Superior (EEES) e da avaliação destes profissionais (e.g., Ariza, Quevedo-Blasco & Buela-Casal, 2014; Ariza, Quevedo-Blasco, Ramiro & Bermúdez, 2013; Bol-Arreba, Sáiz-Manzanares & Pérez-Mateos, 2013), entre outros fatores, bem como em distintos níveis educacionais (e.g., Ferragut & Fierro, 2012; Inglés et al., 2012). Por outro lado, os professores são os grandes responsáveis pela implementação de reformas educativas, podendo contribuir para melhorias no âmbito pedagógico e institucional (Jesus & Lens, 2005; Lin et al., 2012). Por sua vez, os países emergentes, como forma de criar uma política de aposta na educação, têm dado maior ênfase à motivação dos seus docentes (Jugovic et al., 2012).
Contudo, estes profissionais são frequentemente afetados por vários problemas. Jepson e Forrest (2006) notaram que os níveis de stresse dos docentes são cada vez mais elevados, o que tem causado muita preocupação entre os líderes educativos (Jesus & Lens, 2005; Masari, Muntele & Curelaru, 2013; Roness & Smith, 2010). Outros problemas, tais como: (a) excesso de trabalho; (b) pouco reconhecimento da profissão; (c) reduzidas condições de trabalho; (d) baixos ordenados; (e) diminutas oportunidades de promoção, e (f) comportamentos dos alunos, também prejudicam as tarefas dos professores ((Jepson & Forrest, 2006; Roness & Smith, 2010). A soma destes fatores contribui para uma diminuição da motivação, sendo o desejo de abandonar a profissão um indicador desses reduzidos níveis motivacionais. Numa investigação de Jesus (1996) observou-se que mais de 50% dos docentes queria abandonar as suas funções. Em 2011, Jesus et al. verificaram que essa situação não apresentava melhorias, quer em Portugal, quer no Brasil. Kilinç, Watt e Richardson (2012) e Roness e Smith (2010) defendem que entre os 3–5 anos de trabalho existe um aumento significativo nos níveis de turnover dos professores. Outro indicador que aponta para uma baixa motivação docente é a diminuição das taxas de recrutamento e retenção, uma vez que existem cada vez menos candidatos a ingressar na profissão e o abandono da mesma (i.e., turnover) é cada vez mais frequente (Watt & Richardson, 2008).
À luz destes elementos, verifica-se que é crucial analisar as investigações sobre a temática em causa. Estas têm incidido sobretudo no estudo de variáveis individuais, relativas ao próprio professor. Porém, pretende-se também identificar estudos em que tenham sido analisadas variáveis organizacionais, pois estas podem ser tão importantes como as primeiras (Pinder, 1998). Para a concretização deste objetivo selecionou-se um conjunto de variáveis, incluindo as variáveis organizacionais: (a) avaliação de desempenho; (b) clima organizacional; (c) cultura organizacional; (d) justiça organizacional, e (e) saúde organizacional. Em particular, a avaliação de desempenho é um processo importante para as organizações educativas, embora seja encarada com resistência pelos docentes (Baron, 1991; Jesus, 2007). Segundo Schneider, Ehrhart e Macey (2013), o clima e a cultura organizacional traduzem as experiências vivenciadas pelos colaboradores, possibilitando a compreensão do funcionamento das instituições, neste caso das escolas. Por seu turno, a justiça organizacional é decisiva para analisar a forma como os sujeitos são tratados em sede laboral (Cohen-Charash & Spector, 2001). A saúde organizacional assume-se como vital em contextos em que as condições de trabalho são reduzidas, como por exemplo nos estabelecimentos de ensino (Bennis, 2002; Roness & Smith, 2010). Além das variáveis organizacionais supracitadas, selecionou-se igualmente a satisfação no trabalho —atitude laboral— e o capital psicológico positivo, variável individual. A satisfação no trabalho torna-se relevante para entender a perceção que um indivíduo possui do seu meio profissional e o prazer que retira deste (Judge & Kammeyer-Mueller, 2012). Por último, o capital psicológico positivo, que diz respeito às “forças” do sujeito, influencia a performance, mas também as atitudes laborais positivas (Avey, Reichard, Luthans & Mhatre, 2011).
Os estudos bibliométricos têm assumido grande importância ao analisar as publicações efetuadas na área da psicologia (Navarrete-Cortes, Fernández-López, López-Baena, Quevedo-Blasco & Buela-Casal, 2010), procurando avaliar a sua frequência e qualidade, bem como examinar possíveis temas emergentes (Quevedo-Blasco, 2013; Quevedo-Blasco & López-López, 2009, 2011).
Atendendo aos factos supracitados e à necessidade de examinar a literatura sobre motivação docente, nomeadamente os estudos que relacionem este construto com variáveis organizacionais, individuais e atitudes laborais, o presente estudo bibliométrico teve como objetivo: (a) verificar o número de trabalhos que abordam a motivação docente e os três tipos de variáveis definidos; (b) observar qual dos construtos possui mais estudos com a motivação docente; (c) analisar os anos onde ocorreram mais publicações; (d) aferir qual a área da psicologia onde estes estudos são mais comuns; (e) investigar o tipo de publicação, artigo ou revisão, mais frequente; (f) examinar as línguas predominantes nas publicações; e (g) avaliar a distribuição geográfica dos documentos selecionados. Foram igualmente avaliados alguns indicadores bibliométricos, tais como o número de documentos (Ndoc), o número de investigadores (Nres), o índice de produtividade (Prod) e a taxa média de variação interanual (TMVI) para o número de documentos (Ndoc) e investigadores (Nres).
MétodoUnidade de análiseFoi efetuada uma pesquisa de artigos e revisões que abordavam a relação entre a motivação docente e: (a) variáveis organizacionais (avaliação de desempenho, clima organizacional, cultura organizacional, justiça organizacional e saúde organizacional); (b) a variável individual capital psicológico positivo; e (c) a atitude laboral satisfação no trabalho. Estes documentos deviam constar na base de dados Web of Science (WoS) e a sua publicação devia ter ocorrido entre 2000–2013. Por outro lado, tal como se observa na tabela 1, só foram levados em conta os trabalhos que pertenciam às categorias da psicologia preconizadas pelo Journal of Citation Reports (JCR).
Categorias da psicologia pertencentes ao Journal of Citation Reports (JCR)
Categoria da Psicologia |
Psicologia |
Aplicada, Psicologia |
Biológica, Psicologia |
Clínica, Psicologia |
Desenvolvimento, Psicologia |
Educacional, Psicologia |
Experimental, Psicologia |
Matemática, Psicologia |
Psicanálise, Psicologia |
Social, Psicologia |
Multidisciplinar, Psicologia |
Tabela criada pelo autor.
Utilizou-se a base de dados eletrónica Web of Science (WoS) detida pela empresa Thomson Reuters.
Desenho e procedimentoEsta investigação apresentou uma índole descritiva baseada numa análise documental. Para a redação do presente artigo foram adotadas as recomendações de Hartley (2012).
Tal como supramencionado, o objetivo deste estudo era identificar documentos que relacionassem a motivação docente e variáveis individuais, organizacionais e atitudes laborais. Estes deviam obedecer a um conjunto de critérios de inclusão, nomeadamente: (a) ter sido publicados entre os anos 2000–2013; (b) integrar a base de dados Social Sciences Citation Index (SSCI) que está incorporada na WoS; (c) pertencer às categorias da psicologia do JCR; e (d) ser designado como “artigo” ou “revisão”. Além disso, como alguns dos conceitos definidos, clima e cultura organizacional, possuem tipologias específicas (Schneider et al., 2013) e outros, tais como a satisfação no trabalho, capital psicológico positivo e justiça organizacional (Avey et al., 2011; Cohen-Charash & Spector, 2001; Colquitt, Conlon, Wesson, Porter & Ng, 2001; Fortin, 2008; Judge & Kammeyer-Mueller, 2012), apresentam dimensões distintas, decidiu-se que essas tipologias e dimensões não deviam ser alvo de pesquisa individual, dando-se ênfase aos conceitos como um todo. Outros artigos aos quais se teve acesso na pesquisa realizada sobre o tema não foram considerados nesta análise, pois pretendia-se restringi-la aos estudos publicados em revistas indexadas naquela que é considerada, na atualidade, a base de dados mais relevante pela comunidade científica.
A seleção dos trabalhos publicados entre 2000–2013 foi efetuada em Janeiro de 2014. Na tabela 2 encontram-se as palavras-chave empregues, salientando-se que para cada uma delas foram igualmente aplicados os respetivos indicadores boleanos.
Palavras-chave empregues na pesquisa bibliográfica
Conceito | Palavra-chave |
---|---|
Motivação docente | Teacher e motivation |
Avaliação de desempenho | Performance appraisal, performance evaluation e performance assessment |
Capital psicológico positivo | Psychological capital, positive psychological capital e psycap |
Clima organizacional | Organizational climate e school climate |
Cultura organizacional | Organizational culture e school culture |
Justiça organizacional | Organizational justice e school justice |
Satisfação no trabalho | Job satisfaction e work satisfaction |
Saúde organizacional | Organization health, organizational health e school health |
As palavras-chave adotadas foram inseridas no campo “pesquisa básica”, procurando-se analisar os artigos e revisões que tinham no seu título ou tópico os termos definidos. A avaliação dos documentos foi feita por dois investigadores independentes, tendo-se verificado uma concordância de 96%.
Do processo de levantamento bibliográfico resultaram 211 trabalhos. A maioria dizia respeito ao conceito de satisfação no trabalho (n=91; 43.13%), seguindo-se a avaliação de desempenho (n=32; 15.17%) e a cultura organizacional (n=30; 14.22%). No polo oposto, situaram-se a saúde organizacional (n=7; 3.32%) e o capital psicológico positivo (n=3; 1.42%). O clima organizacional (n=27; 12.79%) e a justiça organizacional (n=21; 9.95%), por sua vez, ocuparam posições intermédias. Após a aplicação dos critérios de inclusão supracitados, a amostra final de estudos incluiu 33 artigos.
Relativamente aos indicadores bibliométricos utilizados, estes encontram-se definidos na tabela 3.
Indicadores bibliométricos utilizados
Indicador | Definição |
---|---|
Ndoc (número de documentos) | Número de documentos, artigos ou revisões, oriundos de cada país. Quando um trabalho é da autoria de investigadores de diferentes países, a publicação é tida em consideração para cada um deles |
Nres (número de investigadores e/ou autores) | Número total de investigadores ou autores de cada país. Cada investigador/autor é alocado ao seu país, não se levando em conta o local onde a publicação teve origem |
Prod (produtividade) | Quociente entre o número de documentos (Ndoc) e o número de investigadores/autores (Nres). Permite realizar comparações relativamente à atividade científica de diferentes países |
TMVI (taxa média de variação interanual) | Possibilita conhecer os estudos efetuados sobre um tema, considerando o número de documentos produzidos (Ndoc) e o número de investigadores (Nres) envolvidos nesses trabalhos. Desta forma, é calculada a média dos documentos publicados ao longo de um determinado espaço de tempo, neste caso 14 anos (2000–2013), bem como dos investigadores que deles são autores |
A explicação destes conceitos baseou-se em Navarrete-Cortes, Quevedo-Blasco, Chaichio-Moreno, Ríos e Buela-Casal (2009), e Quevedo-Blasco, Zych e Buela-Casal (2014).
Por fim, foi utilizado o software Microsoft Excel 2013 para criar a base de dados referente aos documentos selecionados, bem como para efetuar a sua análise.
ResultadosApós a pesquisa, observou-se que 33 documentos cumpriam os critérios de inclusão determinados.
Os trabalhos reunidos foram, na sua totalidade, do tipo “artigo” (n=33; 100%). Na figura 1 é possível analisar, em formato de percentagem, a distribuição das publicações pelos anos selecionados.
Relativamente aos construtos que possuem maior e menor número de trabalhos em conjunto com a motivação docente, é possível verificar que a satisfação no trabalho é aquele que possui mais artigos (n=17; 51.52%). Os conceitos avaliação de desempenho, capital psicológico positivo e saúde organizacional encontram-se no sentido oposto (tabela 4), registando uma publicação cada (n=1; 3.03%).
Divisão de artigos por construto
Construto | Artigos*, n (%) |
---|---|
Satisfação no trabalho | 17 (51.52) |
Clima organizacional | 5 (15.15) |
Cultura organizacional | 4 (12.12) |
Justiça organizacional | 4 (12.12) |
Avaliação de desempenho | 1 (3.03) |
Capital psicológico positivo | 1 (3.03) |
Saúde organizacional | 1 (3.03) |
Na tabela 5 constam os dados sobre a categoria da psicologia onde as publicações foram realizadas, destacando-se a psicologia educacional (n=18; 54.55%).
Categorias da psicologia com artigos publicados
Categorias da psicologia | Artigos, n (%) |
---|---|
Educacional, Psicologia | 18 (54.55) |
Aplicada, Psicologia | 10 (30.3) |
Multidisciplinar, Psicologia | 3 (9.09) |
Social, Psicologia | 2 (6.06) |
Biológica, Psicologia | 0 |
Clínica, Psicologia | 0 |
Desenvolvimento, Psicologia | 0 |
Experimental, Psicologia | 0 |
Matemática, Psicologia | 0 |
Psicanálise, Psicologia | 0 |
Psicologia | 0 |
Quanto à língua em que foram escritos os artigos (tabela 6), observou-se que a maior parte (n=25; 75.76%) se encontrava em inglês, sendo o neerlandês a língua com menor representatividade (n=1; 3.03%).
No caso da localização geográfica dos estudos realizados, existiu um domínio do continente europeu (n=22; 66.67%). Essa informação encontra-se na tabela 7.
Localização geográfica dos artigos
Localização geográfica | Artigos, n (%) |
---|---|
Europa | 22 (66.67) |
América do Norte | 10 (30.3) |
América do Sul e Caraíbas | 1 (3.03) |
África | 0 |
Ásia | 0 |
Austrália e Oceânia | 0 |
Do somatório da percentagem de publicações, averiguou-se que os artigos publicados na América do Norte e Europa totalizam 96.97%.
Os indicadores bibliométricos número de documentos (Ndoc), número de investigadores (Nres) e produtividade (Prod), para cada país, estão descritos na tabela 8.
Resultados dos indicadores bibliométricos
País | Ndoc | Nres | Prod (Ndoc/Nres) |
---|---|---|---|
Canadá | 8 | 20 | 0.4 |
Estados Unidos da América | 7 | 15 | 0.466 |
China | 4 | 8 | 0.5 |
Austrália | 3 | 8 | 0.375 |
Alemanha | 2 | 6 | 0.333 |
Holanda | 2 | 8 | 0.25 |
Inglaterra | 2 | 4 | 0.5 |
Israel | 2 | 3 | 0.666 |
Noruega | 2 | 4 | 0.5 |
Bélgica | 1 | 1 | 1 |
Chile | 1 | 1 | 1 |
Coreia do Sul | 1 | 1 | 1 |
Espanha | 1 | 2 | 0.5 |
França | 1 | 1 | 1 |
Grécia | 1 | 2 | 0.5 |
Indonésia | 1 | 1 | 1 |
Itália | 1 | 3 | 0.333 |
Luxemburgo | 1 | 2 | 0.5 |
Malásia | 1 | 1 | 1 |
Omã | 1 | 1 | 1 |
Portugal | 1 | 1 | 1 |
Tailândia | 1 | 5 | 0.2 |
Turquia | 1 | 2 | 0.5 |
Total* | 44 | 98 | 0.449 |
Ndoc: número de documentos; Nres: número de investigadores; Prod (produtividade): número de documentos (Ndoc) / número de investigadores (Nres).
Podemos aferir que o Canadá e os Estados Unidos da América são os países com maior número de documentos (Ndoc) e investigadores (Nres). Por outro lado, o índice de produtividade (Prod) é mais elevado em Israel. Em último lugar, calculou-se a taxa média de variação interanual (TMVI) para o número de documentos (Ndoc) e investigadores (Nres), auferindo-se o mesmo valor para ambos os indicadores, 0.154.
DiscussãoA relevância da indexação e análise das revistas científicas que constam na WoS, detida pela Thomson Reuters, é atualmente objeto de interesse no âmbito da investigação. Daí que, por exemplo, sejam comuns os estudos sobre a internacionalização das revistas (e.g., Olivas-Ávila, Musi-Lechuga, Quevedo-Blasco & Luna-Hernández, 2012) ou que avaliem a expansão da base de dados em causa (Purnell & Quevedo-Blasco, 2013). Além disso, também é frequente a existência de estudos bibliométricos que explorem temas emergentes (Quevedo-Blasco, 2013) e que examinem a investigação já efetuada sobre um determinado tema num período temporal específico (e.g., Quevedo-Blasco et al., 2014).
O presente estudo bibliométrico procurou aferir as publicações efetuadas entre 2000–2013 sobre a motivação docente e variáveis organizacionais (avaliação de desempenho, clima organizacional, cultura organizacional, justiça organizacional e saúde organizacional), individuais (capital psicológico positivo) e atitudes laborais (satisfação no trabalho). Na opinião de Pinder (1998), estes aspetos são importantes quando se pretende analisar a motivação laboral. Por outro lado, a abordagem deste tema torna-se fundamental, porque os docentes são uma pedra basilar no sistema de ensino (Atkinson, 2000; Jepson & Forrest, 2006; Jesus & Lens, 2005; Jugovic et al., 2012; Lin et al., 2012; Malmberg, 2006; Watt & Richardson, 2008). Porém, estes profissionais apresentam elevados níveis de stresse e uma motivação profissional reduzida, o que resulta, frequentemente, em situações de absentismo e/ou turnover.
Depois da seleção dos documentos que cumpriam os critérios de inclusão definidos, procedeu-se à sua análise, onde se concluiu que 2012 registou um maior número de publicações, não se observando quaisquer trabalhos publicados em 2004. A psicologia educacional foi a categoria onde a maioria dos documentos foram editados, o que vai ao encontro das premissas de Jesus e Lens (2005), que caracterizam este tema como vital para a educação, quer pela sua influência na motivação dos alunos, quer pela sua relevância na qualidade do ensino ministrado. Por sua vez, a satisfação no trabalho foi o conceito mais investigado em conjunto com a motivação docente, aspeto que pode ser explicado pelo interesse que vários investigadores atribuem a esse tema (O’Reilly, 1991), mas também pela íntima relação estabelecida entre ambos os construtos (Griva, Panitsidou & Chostelidou, 2012). Ademais, segundo Karavas (2010), o estudo da satisfação e motivação docente tem ocupado uma posição central na investigação desta área, especialmente pelo aumento das taxas de abandono da profissão (i.e., turnover) e pela importância atribuída aos fatores causadores de dissatisfaction.
A existência de um número reduzido de estudos sobre a avaliação de desempenho e o capital psicológico positivo é, igualmente, digna de realce. A avaliação de desempenho docente refere-se a um processo vital para as escolas, uma vez que a performance dos professores influencia o rendimento dos alunos (O’Pry & Schumacher, 2012), bem como faculta pistas que podem potenciar o desempenho profissional do docente (Tuytens & Devos, 2013). Contudo, este processo gera, também, conflitos entre o professor e a escola, dado que ele é encarado como uma ferramenta de punição, podendo impedir a progressão na carreira (Jesus, 2007). Relativamente ao capital psicológico positivo, este permite a redução de sintomas de mal-estar docente e promove um aumento nos níveis de motivação profissional (Cheung, Tang & Tang, 2011).
A língua inglesa foi a mais comum nos documentos selecionados, existindo igualmente um domínio das publicações efetuadas no continente europeu. Ao somarem-se, em termos percentuais, os trabalhos publicados na Europa e na América do Norte atinge-se, aproximadamente, 97%, o que pode indicar que nestas regiões se dá maior preponderância ao assunto em causa. Ainda assim, é necessário salientar que a amostra de revistas oriundas da América Latina e Caraíbas na WoS é escassa (Quevedo-Blasco & López-López, 2011) quando comparada com as publicações com origem na América do Norte e Europa, o que poderá ter enviesado alguns dos resultados obtidos. Quanto aos indicadores número de documentos (Ndoc) e número de investigadores (Nres) demonstrou-se que os Estados Unidos da América e o Canadá apresentam os valores mais elevados para estes parâmetros, assumindo-se Israel como o país mais produtivo. Os dados obtidos para a taxa média de variação interanual (TMVI) para o número de documentos (Ndoc) (0.154) e número de investigadores (Nres) (0.154) podem ser considerados diminutos.
Numa perspetiva global, pode-se verificar que o número total de estudos identificados é bastante reduzido, facto que é suportado pelos resultados da taxa média de variação interanual (TMVI). No entanto, isto pode ter acontecido porque apenas foram tidos em conta os estudos indexados na base de dados SSCI da WoS. Por exemplo, não foi considerado o estudo de Jesus et al. (2011) que avaliou a motivação de professores em Portugal e no Brasil, pois a revista onde este foi publicado não se encontra indexada nestas bases de dados. Em todo o caso, no presente, a WoS é considerada pela comunidade científica a principal base de dados, integrando as principais revistas publicadas em diversos países e em várias línguas.
Como conclusão, sugere-se que, devido à relevância da motivação docente, deveria ser-lhe dada maior ênfase por parte da investigação em psicologia, sendo publicados mais estudos em revistas indexadas nestas bases de dados e procurando-se avaliar, sempre que possível, o fluxo das publicações realizadas, bem como a sua qualidade (Navarrete-Cortes et al., 2010; Quevedo-Blasco & López-López, 2009, 2011).
Outro aspeto que traduz a necessidade de realizar mais investigações sobre a motivação docente prende-se com a diferença de publicações existente entre este tema e a motivação dos alunos, uma das áreas que tem gerado mais estudos no âmbito da educação (Atkinson, 2000; Thoonen, Sleegers, Peetsma & Oort, 2011). Ao realizar-se uma pesquisa na WoS com o intuito de comparar o número de publicações entre ambos os conceitos, selecionou-se a base de dados SSCI, os anos 2000–2013, as categorias da psicologia do JCR e utilizaram-se as palavras-chave “teacher motivation” e “student motivation”, tendo-se verificado a existência de quatro vezes mais estudos sobre a motivação dos alunos (4295) do que sobre a motivação dos professores (1012). Todavia, e tal como sugerem alguns autores (e.g., Jesus & Lens, 2005; Jepson & Forrest, 2006; Malmberg, 2006), os docentes são determinantes para: (a) a qualidade do ensino; (b) a motivação dos alunos; e (c) o desenvolvimento de sentimentos de competência por parte destes, ou seja, são os principais responsáveis pelo sucesso académico dos seus discentes. Logo, devem ser considerados um alvo primordial de investigação e intervenção, o que irá beneficiar não só o funcionamento da sala de aula, mas também a implementação de políticas educativas uma vez que os professores são os principais atores na aplicação de medidas deste cariz.
FinanciamentoEste projeto foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) através de uma bolsa de doutoramento (SFRH/BD/89588/2012) concedida a João N. Viseu.