A evolução das metodologias usadas no diagnóstico das infecções respiratórias agudas de etiologia viral é consequência do avanço dos estudos de biologia molecular, imunologia, genética e biotecnologia. O desenvolvimento da cultura de células in vitro1 possibilitou o isolamento dos vÃrus associados à infecção respiratória aguda do trato respiratório (vÃrus respiratório sincicial, adenovÃrus e os vÃrus da parainfluenza). A descoberta da estrutura molecular dos ácidos nucléicos2 contribuiu para o desenvolvimento da genética molecular, responsável, entre outras aplicações, pelo aprimoramento do diagnóstico molecular das doenças infecciosas no fim do século XX e a revelação de novas etiologias virais envolvidas em quadros de infecção respiratória aguda nas primeiras décadas do século XXI.
Até o fim da década de 1980, o diagnóstico da infecção respiratória consistia no isolamento do vÃrus em cultura de células e sorologia. O grande desafio dos cientistas, na época, era aprimorar as metodologias diagnósticas com vistas a contemplar as estratégias oportunas de prevenção e controle da doença; ou seja, viabilizar metodologias de diagnóstico rápido e especÃfico.3
Considerando o impacto da infecção pelos vÃrus respiratórios em todas as faixas etárias, sobretudo em crianças menores de cinco anos, portadores de doenças crônicas e adultos na faixa etária de 60 anos ou mais,3,4 o diagnóstico rápido é relevante para: uso de antivirais; esclarecer a etiologia da doença respiratória; ponderar a prescrição de antibióticos; conhecer a história natural do vÃrus e sua fisiopatologia que contribui para o entendimento das possÃveis complicações que possam ocorrer em função das caracterÃsticas da infecção; avaliação de contenção da doença pela quarentena; mensurar o perÃodo de hospitalização; evitar investigações laboratoriais desnecessárias; dispensar o isolamento inoportuno de indivÃduos não infectados.5,6
O desenvolvimento dos anticorpos monoclonais na década de 19707 contribuiu para a elaboração de painel de anticorpos especÃficos para os vÃrus da influenza tipos A e B, VRS, ADV, PF 1, 2 e 3, o que permite a identificação rápida e especÃfica pela imunofluorescência direta ou indireta dos sete vÃrus respiratórios. O advento de metodologias moleculares, a partir da década de 1980,8 cujo princÃpio reside na reação em cadeia da polimerase – polimerase chain reaction (PCR) –, que permite a amplificação de alvos conservados do genoma de diferentes agentes etiológicos, revolucionou o conhecimento da epidemiologia, o diagnóstico e a pesquisa das doenças infecciosas de etiologia viral, entre outras abordagens. Atualmente, há diferentes modalidades de diagnóstico rápido e especÃfico que usam tanto o princÃpio da imunofluorescência com anticorpos monoclonais quanto os métodos moleculares na identificação simultânea de vários vÃrus.9,10
Neste fascÃculo da Revista Paulista de Pediatria, Puerari et al.11 avaliaram o desempenho de ambas as metodologias no formato que permite a identificação simultânea dos sete vÃrus respiratórios, pela imunofluorescência direta, e o diagnóstico molecular no formato nested polymerase chain reaction (nested PCR), com vistas à investigação de adenovÃrus em secreções respiratórias colhidas de crianças portadoras de cardiopatia congênita e crianças da comunidade com quadro de infecção respiratória aguda (IRA).
Essa fase da investigação não contemplou a análise de outros vÃrus respiratórios; no entanto, revelou que a metodologia molecular foi mais sensÃvel para a detecção de adenovÃrus nos diferentes grupos de crianças, quando comparada à imunofluorescência. Em função da sensibilidade na detecção de ácidos nucléicos pela nested PCR, constatada na presente avaliação, os autores recomendam a vigilância de rotina em pacientes portadores de cardiopatia congênita por métodos moleculares, tendo em vista a eficiência na detecção do agente etiológico, sobretudo a condução do fluxo diagnóstico.
Nesse contexto, o investimento em pesquisas para o desenvolvimento de antivirais para os vÃrus respiratórios não influenza e para o conhecimento da epidemiologia molecular dos diferentes vÃrus respiratórios na comunidade é de fundamental importância, uma vez que contribuirá com informações relevantes quanto à infecção de pacientes hospitalizados e portadores de doenças crônicas pelos diferentes vÃrus que acometem o trato respiratório.12
Até o presente, não há uma droga antiviral aprovada contra os adenovÃrus, reconhecidos pela sua capacidade de desenvolver quadros graves da doença, principalmente em pacientes imunossuprimidos. Estudos clÃnicos recentes avaliam a formulação oral do brincidofovir como um antiviral promissor para o tratamento de pacientes de grupos de risco infectados pelos adenovÃrus.13
A evolução das metodologias diagnósticas potencializa as pesquisas com vistas à geração de antivirais e sua intervenção oportuna e proporciona a melhoria na qualidade de vida e os consequentes avanços na área da saúde pública.
FinanciamentoO estudo não recebeu financiamento.
Conflitos de interesseA autora declara não haver conflitos de interesse.