Introdução: Cistos odontogénicos são caracterizados por uma cavidade patológica revestida por tecido epitelial com origem na embriogénese dentária. O revestimento epitelial é característico em cada tipo de cisto e representa um dos parâmetros de diferenciação histológica entre lesões. A Organização Mundial de Saúde, em 1992, classificou os cistos odontogénicos em cistos de desenvolvimento (odontogénicos ou não odontogénicos) e cistos inflamatórios. Em 2005, numa atualização, foram incluídos os queratocistos odontogénicos como tumores benignos. Os cistos inflamatórios são lesões que provêm de uma infeção dos canais radiculares, decorrente de um processo de cárie ou de um traumatismo que provoca alterações pulpares. Evoluem a partir de um granuloma periapical preexistente ou por indução dos restos epiteliais de Malassez. Os cistos radiculares ou periapicais são as lesões císticas inflamatórias mais frequentemente encontradas. A partir do relato de um caso clínico, evidencia‐se a importância de um tratamento interdisciplinar conservador, em que foi possível preservar as peças dentárias envolvidas num cisto odontogénico e cujo prognóstico era reservado.
Caso clínico: Paciente JA, com 13 anos, do género masculino, seguido desde os 5 anos numa clínica privada, apresentando enorme suscetibilidade à cárie e com vários dentes decíduos tratados. Foi submetido aos 8 anos a uma primeira fase de tratamento ortodôntico com o objetivo de corrigir uma hipoplasia da maxila, mediante a utilização de um disjuntor em leque. Num controlo de rotina, através de uma radiografia panorâmica, detetou‐se uma lesão extensa radiolúcida no quarto quadrante, envolvendo os gérmens dos dentes 4.4 e 4.5. O paciente foi operado com anestesia geral, procedendo‐se à exérese total da lesão, assim como, à remoção do 8.4 e 8.5. No sentido de preservar os gérmens dos dentes 4.4 e 4.5 que se encontravam soltos, estes foram reimplantados, recorrendo à utilização de espuma de fibrina, para auxiliar a respetiva estabilização. O relatório histopatológico da peça confirmou tratar‐se de um cisto odontogénico, com provável etiopatogenia inflamatória. Seis meses após a exérese da lesão iniciou‐se o processo de nivelamento e alinhamento dos dentes 4.4 e 4.5 e um ano após o início desta fase de tratamento ortodônticos, os dentes estão praticamente alinhados e mantêm a vitalidade pulpar. Os controlos radiográficos confirmam a recuperação da loca óssea com neoformação de osso alveolar.
Discussão e conclusões: O sucesso da resolução da extensa lesão cística deve‐se à cooperação interdisciplinar da cirurgia oral e da ortodontia. A manutenção da vitalidade dos dentes reimplantados, o posicionamento na arcada relativamente aos restantes dentes e a recuperação tridimensional do processo dentoalveolar da área lesada prognosticam um futuro promissor, não só em termos funcionais mas também de longevidade para estas peças dentárias.