Objetivos: 1) Observar a prevalência de lesões cervicais não cariadas (LCNC) nos doentes da Clínica Dentária Egas Moniz; 2) Determinar os seus factores etiológicos; 3)Avaliar o tipo de lesão mais comum.
Materiais e métodos: Foi efectuado um estudo transversal, observacional e descritivo através de um questionário face‐a‐face e um exame clínico intra‐oral. A amostra foi composta por 60 doentes na Clínica Dentária Egas Moniz escolhidos de forma aleatória. Foi usado o índice de desgaste dentário (IDD) proposto por Smith % 26 Knight (1984). O questionário incluiu a recolha de dados relacionados com hábitos higiénicos, alimentares, funcionais e parafuncionais, medicação, história de refluxo ou de distúrbios gástricos e ainda a autoavaliação relacionada com stress. Realizaram‐se registos fotográficos intra‐orais de todos os doentes. Foi efectuada uma análise estatística descritiva.
Resultados: A prevalência de LCNC foi de 53,3%, sendo a maioria dos doentes do sexo feminino (56,3%) e estando as lesões situadas na sua totalidade (100%) na superfície vestibular dos dentes. Quanto à sua distribuição, os dentes mais afectados foram os primeiros pré‐molares seguidos dos segundos pré‐molares e caninos. As lesões foram mais prevalentes na mandíbula e o IDD mais frequente foi o de nível 1, sendo os dentes posteriores os que apresentaram lesões mais profundas. Através da análise do questionário, não existiu um factor específico único aparente na etiologia das LCNC. 93,8% dos doentes com LCNC apresentou facetas de desgaste sendo os incisivos mais afetados. Para os 15% de doentes referindo bruxismo, a frequência com LCNC foi cerca de 3 vezes superior à dos indivíduos sem estas lesões. Dos doentes com LCNC, 65,6% apresentava mastigação unilateral e sensibilidade dentária e 40,6% consideravam‐se nervosos. Dos doentes com refluxo ou distúrbios gástricos apenas 28,6% apresentou LCNC. Apenas 10% referiu usar escova dura sendo que neste grupo houve menos doentes com LCNC (6,3%) do que sem LCNC (14,3%). Para doentes com escovagem agressiva, a percentagem de doentes com LCNC (37,5%) e sem LCNC (35,7%) foi semelhante. Para o grupo de doentes que ingeria bebidas ácidas, a percentagem de doentes com (84,4%) e sem LCNC (92,9%) não apresentou uma grande variação.
Conclusões: As LCNC foram prevalentes na maioria da amostra de indivíduos observados. Não foi evidente a individualização de um factor único causal das LCNC, sugerindo‐se uma etiologia multifactorial.