Objetivos: O bruxismo na infância é de ocorrência frequente e o seu diagnóstico suscita várias questões clínicas. Os objetivos deste estudo foram verificar, através de um estudo piloto, uma possível relação entre o bruxismo e o perfil comportamental das crianças e os seus hábitos de sono. De forma a complementar o estudo pretendeu‐se igualmente determinar o grau de percepção dos pais acerca do hábitos do bruxismo dos filhos.
Materiais e métodos: Aplicaram‐se três questionários, preenchidos pelos pais, a 23 crianças (idades 6‐10 anos, selecionadas através de critérios de inclusão pré‐definidos): “Questionário de Maciel”, “Questionário de hábitos do sono em crianças” (CSHQ) e “Questionário do comportamento para idades entre os 6 e os 18 anos” (CBCL). Foram prestados esclarecimentos acerca da essência do estudo e do preenchimento dos questionários. O exame clínico levado a cabo por um operador experiente e calibrado visou observar a eventual existência de facetas de desgaste e o seu grau de severidade. Todos os requisitos éticos foram cumpridos. Para o registo e análise dos dados recorreu‐se ao Microsoft Excel®, SPSS®, aplicando‐se os testes Qui‐quadrado e exato de Fisher, com valores de p<0,05 considerados significativos para um IC de 95%.
Resultados: De acordo com o “Questionário de Maciel” 71,4% das crianças não apresentavam bruxismo e 28,6% aparentavam bruxismo leve no grupo de controlo. No grupo de estudo 66,7% não apresentavam bruxismo e 33,3% apenas bruxismo leve. Ambos os grupos evidenciaram a mesma tendência para bruxismo quando aplicado o “Questionário de Maciel” (p>0,05). Através do CSHQ concluiu‐se que, em ambos os grupos, todas as crianças apresentavam um distúrbio do sono, sem diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (p>0,05). De acordo com o CBCL não se constataram, da mesma forma, diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos relativamente a ansiedade/depressão, problemas de atenção e queixas somáticas (p>0,05).
Conclusões: Apesar das limitações do estudo, ambos os grupos apresentaram tendências similares para o bruxismo quando aplicado o “Questionário de Maciel”. O CSHQ parece ser duvidoso em termos de especificidade e sensibilidade, sendo importante o complemento com informações adicionais da criança. Não se detectaram diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos no respeitante a problemas de atenção, queixas somáticas e ansiedade/depressão, podendo apenas observar‐se uma tendência para distúrbios de atenção em crianças com bruxismo.