Introdução: A abordagem de situações de retenção dentária é frequente na clínica de cirurgia oral, sendo relatado na literatura que aproximadamente 20% da população possui pelo menos um dente retido, não sendo o incisivo central um dente com prevalência de retenção assinalável. A etiologia das retenções dentárias é muito variada, nomeadamente fatores hereditários, embriológicos, disfunções endócrinas e causas locais. As complicações associadas incluem, entre outras, lesões quísticas associadas, reabsorção de dentes vizinhos, alterações no processo de erupção e comprometimento estético e funcional. O tratamento poderá ser alcançado através da exposição cirúrgica associada ou não a tração ortodôntica, translocação, transplante ou exodontia. O exame radiográfico, a par do exame clínico, é fundamental na elaboração do diagnóstico e planeamento cirúrgico‐ortodôntico, permitindo a resolução destes casos, restabelecendo a estética e a função.
Descrição do caso clínico: Paciente do sexo masculino, saudável, com 14 anos, apresentou‐se com queixa de ausência de um incisivo central. O plano de tratamento selecionado incluiu a colocação de aparatologia ortodôntica fixa, exodontia do 5.1 e exposição cirúrgica do 1.1 para tração. Foi realizada uma incisão em envelope de espessura total intrassulcular sem descargas, estendida do dente 2.1 ao 1.3, descolamento, osteotomia conservadora até à linha amelocementária, e colagem de bracket e cadeia metálica para tração. O paciente prosseguiu o tratamento ortodôntico durante 2 anos, tendo optado pela sua remoção após posicionamento adequado do 1.1 na arcada.
Discussão e conclusões: A tração de dentes retidos é um desafio que necessita uma abordagem multidisciplinar, nomeadamente ortodôntica e cirúrgica. No caso clínico em questão, o tratamento revelou‐se eficaz, visto que foram atingidos os objetivos principais: o dente ficou corretamente posicionado na arcada dentária (sem reabsorções radiculares ou outro tipo de complicações) e com restabelecimento estético e funcional.