Introdução: O penfigoide de membranas mucosas (PMM) é uma doença bolhosa que acomete as membranas mucosas com êxito cicatricial, sendo a sua prevalência mais elevada em mulheres de meia‐idade, caracterizando‐se por depósitos de IgG, IgA e/ou C3 na membrana basal da epiderme. Este trabalho teve por objetivo relatar um caso com importantes manifestações clínicas de PMM, discutindo o prognóstico de acordo com a terapêutica possível.
Descrição do caso clínico: Paciente do sexo feminino, 67 anos, procurou a Clínica de Medicina Dentária da CESPU, queixando‐se de grandes lesões na cavidade oral. Durante a anamnese relatou ter as lesões há alguns anos, tendo já sido observada em ambiente hospitalar no mesmo período, sem solução. Apresentava dor na deglutição e fonação, ardor e odor fétido. Observaram‐se erosões e ulcerações no palato, mucosa labial e jugal. A paciente referiu ainda ter lesões a nível vaginal. Optou‐se pela realização de biopsia e exames complementares de diagnóstico, confirmando‐se o diagnóstico compatível com PMM. Adotou‐se terapia medicamentosa com prednisolona 40mg, tendo a paciente sido avaliada um mês depois, apresentando melhorias significativas.
Discussão e conclusões: A paciente apresentava dor acompanhada de ulcerações rasas e extensas, com bordos planos e distintos sugerindo rutura de bolhas, levando a considerar no diagnóstico diferencial as hipóteses de PMM, pênfigo vulgar, penfigoide bolhoso, eritema multiforme, epidermólise bolhosa adquirida e gengivite crónica. O PMM afeta principalmente as membranas mucosas orais, oculares, da faringe e laringe, genitais e esofágicas, sendo que algumas formas afetam apenas uma: a bucal (gengivite erosiva). Imunologicamente, observam‐se anticorpos contra diferentes antigénios, como PB180, a subunidade alfa laminina‐5 e a subunidade beta do complexo beta‐4 alfa‐6 integrina. Histologicamente, as bolhas são subepiteliais, sem evidência de acantólise, sem distinção das de penfigoide bolhoso. O tratamento depende da gravidade da doença, mas deve incluir anti‐inflamatórios, imunossupressores, imunoglobulinas intravenosas ou tratamentos localizados, estando o seu prognóstico relacionado com a presença ou não de manifestações oculares que podem conduzir a cegueira. O presente caso revela a importância do reconhecimento das manifestações de doenças autoimunes na cavidade oral, bem como a da correta orientação terapêutica, com base em corticosteroides que controlam mas não curam definitivamente a doença.