Objetivos: Caracterizar a ocorrência de traumatismos orofaciais, numa amostra de crianças e jovens seguidos na consulta de hiperatividade do Centro de Desenvolvimento Luís Borges, do Hospital Pediátrico de Coimbra – CHUC, EPE, complementada com uma revisão da literatura atual que retrata esta problemática.
Materiais e métodos: Foram avaliados, por um observador previamente calibrado, 50 crianças e jovens, de ambos os géneros e com idades entre os 6‐17 anos de idade, com diagnóstico de perturbação de hiperatividade e défice de atenção, seguidos na consulta de hiperatividade do Centro de Desenvolvimento Luís Borges, do Hospital Pediátrico de Coimbra – CHUC, EPE, entre os meses de dezembro de 2015 e maio de 2016. Procurou‐se estudar a prevalência de traumatologia orofacial, segundo os critérios de diagnóstico da World Health Organization e cumprindo os princípios e requisitos éticos exigidos. Complementarmente, efetuou‐se uma pesquisa na PubMed/MEDLINE e EBSCOhost, limitada aos últimos 10 anos, com os termos «Attention Deficit Disorder with Hyperactivity», «Child», «Tooth injuries», «Oral health», «Oral manifestations», «Orofacial trauma», «Dental trauma», «Dental traumatology», «Dental injuries», conjugados parcelarmente através do conetor booleano «AND».
Resultados: Na revisão bibliográfica obtiveram‐se 131 referências, selecionando‐se 26, às quais se adicionaram 6 referências cruzadas, perfazendo um total de 32 referências. No estudo observacional registaram‐se traumatismos em mais de 50% da amostra, tendo sido o género masculino o mais afetado. As fraturas não complicadas foram as mais observadas, atingindo principalmente o setor ântero‐superior. Nas crianças com traumatismos, mais de 30% tinha mais do que um dente afetado. O diagnóstico precoce desta perturbação parece ser fundamental para diminuir o risco de traumatismos nestas crianças.
Conclusões: A literatura sugere que as crianças e jovens com este distúrbio de neurodesenvolvimento constituem um grupo de risco para os traumatismos orofaciais, uma vez que, associado à sintomatologia desta perturbação, estes indivíduos tendem a colocar‐se em situações perigosas, assumindo comportamentos irrefletidos e impulsivos, existindo desta forma uma maior propensão a acidentes nesta população pediátrica. Os resultados deste trabalho parecem corroborar esta informação, ainda que sejam requeridos estudos com amostras mais dilatadas e uniformização de critérios de avaliação que permitam estabelecer conclusões inequívocas.