Introdução: A calcificação pulpar distrófica (CPD) define-se como uma resposta pulpar ao trauma caraterizada pela deposição de tecido duro no espaço pulpar. O mecanismo exato pelo qual ocorre permanece relativamente desconhecido, sendo evidente a existência de alterações neurovasculares e formação de dentina terciária pelos odontoblastos. Clinicamente, caracteriza-se por uma diminuição da translucidez e alteração da cor do dente devido à dentina depositada. Radiograficamente, visualiza-se uma obliteração total ou parcial do espaço pulpar. A literatura refere uma relação direta entre a gravidade do traumatismo e a ocorrência de CPD (3-7% na concussão, 8-11% na subluxação, 9-45% na luxação) e que apenas 1-16% das CPD desenvolvem necrose pulpar. O tratamento deve ser progressivo e minimamente invasivo, com base em técnicas de branqueamento e/ou restaurações adesivas conservadoras. O tratamento endodôntico não deve ser opção sem que ocorra sintomatologia ou patologia periradicular. O objetivo deste trabalho é apresentar um caso clínico devidamente documentado de um paciente com um processo evolutivo de CPD pós-traumática ao longo de 7,5 anos.
Caso clínico: Paciente jovem vítima de acidente desportivo do qual resultou subluxação dos dentes 11 e 21. Paralelamente o dente 11 sofreu uma fratura coronária de esmalte e dentina, desenvolvendo necrose pulpar e consequente patologia apical. O dente 21 sofreu uma fractura e várias fissuras de esmalte, iniciando um processo de CPD, de evolução lenta, desenvolvendo com os anos uma coloração coronária acinzentada, sem qualquer sintomatologia ou imagem radiográfica de patologia apical. O plano de tratamento passou por tratamento endodôntico, cirurgia apical e restauração em resina composta do dente 11, branqueamento externo e restauração em resina composta do dente 21. Foram efetuados controlos clínicos e radiográficos regulares ao longo de 7,5 anos de evolução.
Discussão e Conclusões: Apesar da escassez de literatura com nível de evidência científica muito elevado relativamente a esta temática, pode-se assumir, com alguma relatividade que:
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As características clínicas e radiográficas permitem um bom diagnóstico de CPD.
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Abordagens terapêuticas conservadoras e progressivas, complementadas com controlos clínicos e radiográficos frequentes, permitem a otimização e a manutenção dos resultados estéticos e funcionais, sem os riscos e custos adicionais inerentes ao tratamento endodôntico.