Os objetivos do estudo foram: (1) testar a precisão da tomografia computadorizada na detecção de fratura radicular vertical e (2) investigar a influência do núcleo metálico fundido na detecção da fratura radicular vertical. 4 dentes com fraturas radiculares verticais foram selecionados e testados em 4 condições determinados pela presença ou ausência de núcleo bem como a localização da fratura. 2 dentes sem fratura foram utilizados como controle, um destes recebeu núcleo metálico. Esses dentes foram inseridos em uma mandíbula e submetidos ao exame tomográfico. Os resultados foram interpretados por 10 radiologistas que deveriam averiguar a presença ou ausência das fraturas. Os resultados mostraram uma inconsistência na interpretação dos resultados de fraturas, tendo sido encontrado um maior número de resultados falso-positivos (10%) e falso-negativos (53,3%) do que o diagnóstico preciso das fraturas (37,6%). Ainda pode ser observado um menor diagnóstico preciso dessas fraturas em dentes que possuíam núcleos metálicos do que em dentes que não possuíam.
The objectives were: (1)test accuracy of CT in detection of vertical root fracture and (2) investigate the influence of the metallic post in detection of vertical root fracture. Four teeth with vertical root fractures were selected and tested in four conditions determined by the presence or absence of metallic post and location of fracture. Two teeth without fracture were used as controls, one receiving metallic post. These teeth were inserted into a jaw and underwent a CT scan. The results were interpreted by ten radiologists by the presence or absence of fractures. The results showed an inconsistency in interpretation of fractures, having been found a greater number of false-positive results (10%) and false negatives (53.3%) that the accurate diagnosis of fractures (37.6%). Can still be seen less accurate diagnosis of these fractures in teeth that had metallic posts than in teeth that did not.
A fratura radicular vertical (FRV) é um evento comprometedor para o dente sendo determinante na sequência de um plano de tratamento, levando em muitos casos à perda desse elemento. O fator principal que leva à extração do elemento fraturado é a inflamação gerada pela infiltração bacteriana na região da fratura, levando à reabsorção do processo alveolar e a entrada de células de defesa nessa região1.
As FRV são difíceis de serem diagnosticadas. Diversos métodos de diagnóstico vêm sendo propostos: iluminação, sondagem, radiografias, exploração cirúrgica, microscopia ótica entre outras. As radiografias só podem revelar FRV caso o feixe esteja paralelo à linha de fratura2. Com o avanço da tecnologia a tomografia vem se tornando quotidiana na prática dental. A tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) tem se mostrado eficaz na detecção de fraturas em protótipos extraoral3,4 e na detecção de linhas de fratura se comparada à radiografia periapical4,5.
Dessa forma, os objetivos do estudo foram: (1) testar a precisão da TCFC obtida com o sistema de imagem I-CAT Cone Beam 3D (Imaging Sciences International, Hatfield, PA) na detecção de fratura radicular vertical e (2) investigar a influência do núcleo metálico fundido na detecção da fratura radicular vertical.
Materiais e métodos6 dentes humanos unirradiculares, provenientes do banco de dentes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, foram selecionados:
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4 dentes com fratura radicular vertical sendo 2 na face Vestibular e 2 na face Proximal e 2 dentes hígidos.
A fratura deveria percorrer metade da superfície radicular e não apresentar perda de substantividade ou separação. Cada dente foi inspecionado sob microscópio ótico (DF Vasconcelos MCM 3101, Brasil).
Foi selecionado um dente apresentando cada uma das condições descritas acima para receber um Núcleo Metálico Fundido (NMF). O acesso à câmara pulpar foi realizado e o canal radicular foi alargado com as brocas de Gates Glidden. O canal radicular foi preparado com brocas de Largo e modelado com resina acrílica e pinos de resina acrílica. Foram confeccionados núcleos de Duracast e cimentados com fosfato de zinco. Dessa forma foi possível simular 6 situações diferentes:
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1 Dente com FRV na face Vestibular.
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1 Dente com FRV na face Vestibular com NMF.
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1 Dente com FRV na face Proximal.
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1 Dente com FRV na face Proximal com NMF.
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1 Dente hígido.
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1 Dente com NMF.
Uma mandíbula humana foi selecionada. Os alvéolos foram confeccionados com Fresa Tronco Cônica (1019 KG Sorensen, Brasil) e os dentes foram inseridos e retidos com cera n.° 9. Cada dente recebeu uma numeração para identificação e diagnóstico do radiologista.
Submeteu-se o modelo à aquisição volumétrica da mandíbula (i-CAT, Hatfield, PA, USA). Utilizou-se uma escala de cinza de 14 bits com 6cm de FoV, voxel de 0,2mm e exposição de 36,2mAs. Foram realizadas a reconstrução multiplanar panorâmica, axial, transversal e sagital com 1mm de espessura e 1mm de espaçamento.
As imagens foram interpretadas por 10 radiologistas. Um questionário e seu respetivo modelo foram elaborados. Os laudos emitidos foram classificados de acordo com os seguintes critérios: 1- Diagnóstico Falso-negativo (quando havia uma alteração não encontrada); 2- Diagnóstico Falso-positivo (quando a alteração encontrada não existia, ou se encontrava em local diferente); e 3- Diagnóstico preciso.
ResultadosA figura 1 mostra o resultado geral de diagnósticos falso-negativos, falso-positivos e precisos incluindo dentes com e sem NMF. Já a figura 2 mostra o resultado dos diagnósticos, apresentando resultados separados de dentes que possuíam o NMF e os dentes que não possuíam. De acordo com os resultados da figura 1, pode verificar-se uma baixa incidência de diagnósticos precisos no presente estudo (37,6%). No entanto, na figura 2 é possível relacionar essa baixa taxa de diagnósticos precisos ao alto índice de diagnóstico falso-negativos (80%) e falso-positivos (12,5%) atribuídos aos dentes que possuem NMF. Somente em 7,5% dos casos de dentes que possuíam NMF foi realizado o diagnóstico corretamente. É possível verificar ainda que em 66,8% dos dentes que não possuíam NMF foi realizado o diagnóstico de forma correta.
Um correto diagnóstico, quando há suspeita de fratura radicular, depende de uma avaliação completa do histórico do caso, de um exame clínico minucioso e de uma avaliação da estrutura dentária e óssea por técnicas radiográficas adequadas4–6. O exame tomográfico pode ser um aliado no diagnóstico de FRV não só pela identificação da fratura propriamente dita, mas também pela identificação de sinais decorrentes da perda óssea inflamatória causada pelo processo. Este estudo priorizou o diagnóstico de fraturas radiculares verticais sem perda de substantividade, portanto os sinais e sintomas clínicos não puderam auxiliar no diagnóstico da presença ou ausência de fraturas. Os valores de precisão para os dentes que não possuíam NMF foram semelhantes ao de diversos outros estudos realizados in vitro6–8, mostrando uma boa efetividade da TCFC para a detecção de FRV na ausência de artefactos metálicos no interior do conduto radicular.
Em estudo clínico anterior 18 de 20 casos puderam ser diagnosticados através do exame tomográfico9. Nos 2 casos restantes o autor relata a discrepância de resultados devido à presença de artefactos metálicos, dificultando o diagnóstico. No atual estudo, tal afirmação pode ser verificada já que a presença de NMF dificultou o correto diagnóstico das FRV, podendo ser verificado um resultado preciso em apenas 7,5% dos casos. Resultados semelhantes foram observados recentemente em estudo que verificou uma maior dificuldade de detecção de fraturas horizontais em dentes que possuíam NMF10.
A presença de resultados falso-positivos (10%) encontrados neste trabalho pode provir da interpretação pelo profissional radiologista. Sabendo este ser uma pesquisa sobre fraturas dentárias a presença deste tipo de resultado pode ser decorrente desta falha de metodologia.
Infelizmente o uso clínico da tomografia ainda é muito restrito tanto pelo seu alto custo monetário quanto pelo biológico, visto que a dose de radiação é maior quando comparada a uma radiografia periapical. Além disso, o exame tomográfico não deve ser utilizado como única opção de diagnóstico frente à FRV e sim aliado a exames óticos, exames sintomatológicos, cirúrgicos, utilização de localizadores e técnicas de imagem convencionais visto que, pela sua maior sensibilidade, resultados falso-negativos podem ocorrer principalmente na presença de artefactos de imagem devido a estruturas metálicas.
Responsabilidades éticasProteção dos seres humanos e animais. Os autores declaram que os procedimentos seguidos estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica e Ética e de acordo com os da Associação Médica Mundial e da Declaração de Helsinki.
Confidencialidade dos dados. Os autores declaram ter seguido os protocolos de seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes e que todos os pacientes incluídos no estudo receberam informações suficientes e deram o seu consentimento informado por escrito para participar nesse estudo.
Direito à privacidade e consentimento escrito. Os autores declaram ter recebido consentimento escrito dos pacientes e/ ou sujeitos mencionados no artigo. O autor para correspondência deve estar na posse deste documento.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.