Introdução: A cárie precoce de infância constitui, pela sua elevada prevalência e incidência, um grave problema de saúde pública. A adoção precoce de comportamentos apropriados de higiene oral e de alimentação constitui a chave da prevenção desta doença, permitindo o seu controlo. O jardim-de-infância pode ser um local estratégico para a promoção da saúde oral e ter um papel relevante através da implementação de projetos educativos que incluam a visita regular de um técnico de saúde oral à escola, a escovagem supervisionada dos dentes com pasta fluoretada e a realização de uma alimentação saudável e pobre em alimentos cariogénicos.
Objetivos: O objetivo deste trabalho foi descrever alguns dos comportamentos relacionados com a cárie nos jardins-de-infância do Distrito de Lisboa: acompanhamento realizado por um profissional de saúde, hábitos de higiene oral e barreiras para a sua implementação e hábitos alimentares.
Materiais e métodos: Estudo observacional e transversal, incluindo 25 jardins-de-infância do Distrito de Lisboa, selecionados aleatoriamente e estratificados por concelho e tipo de escola (pública, instituição particular de solidariedade social – IPSS – e privada). A recolha de dados foi realizada através de um questionário aplicado aos educadores das salas selecionadas. Foi realizada a análise descritiva das variáveis.
Resultados: Cerca de 52,0% dos Jardins de Infância já tinham sido visitados por um técnico de saúde oral, sendo estas visitas com uma frequência anual em 61,0% dos casos e em mais do que uma vez por ano em 31,0%. As principais actividades desenvolvidas pelo técnico de saúde oral foram as ações de educação sobre higiene oral e alimentação, a observação da boca e dentes e o apoio na implementação da escovagem dos dentes na escola. Das escolas participantes apenas 4 escolas públicas (16%) realizavam escovagem dentária na instituição. As principais barreiras para a realização desta actividade foram a não permissão da escovagem nas escolas (56%), a inexistência de condições físicas nas instalações (28%) e a falta de pessoal auxiliar (28%). O consumo de leite com chocolate (34,8%) e de bolachas (17,5%) verificou-se frequente.
Conclusões: Nos jardins-de-infância do Distrito de Lisboa, apesar de já estarem implementadas algumas medidas de promoção da saúde oral, verificou-se que ainda é necessária alguma intervenção por parte das equipas de saúde oral, em especial no que diz respeito à escovagem supervisionada e à correção de alguns hábitos alimentares, sobretudo entre as refeições. Estas medidas preventivas potenciam um ambiente favorável à promoção da saúde oral podendo levar à aquisição precoce de bons comportamentos de saúde e à redução da prevalência e da gravidade da cárie precoce da infância.