metricas
covid
Buscar en
Clinics
Toda la web
Inicio Clinics O NOVO QUALIS, OU A TRAGÉDIA ANUNCIADA
Información de la revista
Vol. 64. Núm. 1.
Páginas 1-4 (enero 2009)
Compartir
Compartir
Descargar PDF
Más opciones de artículo
Vol. 64. Núm. 1.
Páginas 1-4 (enero 2009)
Editorial
Open Access
O NOVO QUALIS, OU A TRAGÉDIA ANUNCIADA
Visitas
1956
Mauricio Rocha-e-Silva
Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - São Paulo/SP, Brazil
Este artículo ha recibido

Under a Creative Commons license
Información del artículo
Texto completo
Descargar PDF
Estadísticas
Figuras (1)
Texto completo

Para marcianos recém-desembarcados, Qualis é definido pela CAPES como uma lista de veículos utilizados para a divulgação da produção intelectual dos programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado). Até recentemente estes veículos eram classificados quanto ao âmbito de circulação (Local, Nacional, Internacional) e quanto à qualidade (A, B, C), para cada área de avaliação. Serve para fundamentar o processo de avaliação do Sistema Nacional de Pós-Graduação da CAPES.

Esta classificação foi de grande importância como primeira medida de qualidade do produto da pós-graduação. Praticamente todos concordam que ela já esgotou seu ciclo de validade e deve ser substituída. O evidente crescimento em qualidade da produção científica brasileira extrapolou os limites deste metro, que perdeu seu poder discriminativo. Uma nova tabela Qualis está em vias de ser ativada. Não me sinto capacitado a avaliá-la para outras áreas, mas o produto oferecido à consideração da comunidade médica merece comentários.

As premissas em que se baseia são três. A primeira é que a distribuição de freqüência de conceitos dos programas brasileiros de pós-graduação deve ser normal, ou Gaussiana. Poder-se-ia aqui indagar como foi que se chegou à conclusão de que essa distribuição é naturalmente normal. A segunda premissa estabelece que apenas 25% dos programas podem ter conceito máximo (6 ou 7) em qualquer área de avaliação. Caso o número de programas merecedores de conceito máximo supere o limite, as normas de avaliação serão automaticamente “apertadas” para manter o limite. Igualmente, pode-se perguntar se não é absurdo mudar as regras do jogo no meio da partida para rebaixar o conceito de programas que à primeira vista pareciam excelentes.

A terceira premissa diz respeito a nova tabela Qualis para periódicos, que passa a ter sete níveis conforme a Tabela 1. Esta vale para todas as áreas do conhecimento, devendo cada área estabelecer os níveis específicos de corte de tal modo a assegurar que apenas 25% dos periódicos estejam no nível mais alto (Qualis A) e que haja maior número de periódicos A2 que A1. Embora isso não seja explícito, parece evidente que estes 25% derivam diretamente dos 25% do conceito anterior.

Tabela 1.

Nova tabela Qualis

Extrato Qualis  Genericamente  Medicina 1  Medicina 2  Medicina 3 (ainda sem decisão) 
A1  O mais elevado  FI > 4,2  FI > 3,8  FI > 3,0 
A2    4,2 ≥ FI > 3,7  3,8 ≥ FI > 2,3  3,0 ≥ FI > 1,8 
B1    3,7 ≥ FI > 1,0  2,3 ≥ FI > 1,0  1,8 ≥ FI > 0,8 
B2    FI < 1,0  FI < 1,0  FI < 0,8 
B3    PubMed, sem FI  PubMed, sem FI  PubMed, sem FI 
B4    Scielo  Scielo  Scielo 
B5    Lilacs, Latindex  Lilacs, Latindex  Lilacs, Latindex 
Com peso zero  Sem indexação  Sem indexação  Sem indexação 

Segundo www.capes.gov.br e oficio CAPES 29/7/2008.

Conhecemos já os níveis propostos para periódicos das áreas de Medicina 1 e Medicina 2, faltando bater o martelo para os da Medicina 3. A Tabela 1 exibe os valores decididos (Medicinas 1 e 2) e propostos (Medicina 3). Segundo a Comissão de Revisão do Qualis Medicina, estes valores foram calibrados para cumprir a meta de 25% de periódicos em Qualis A, com maior número de periódicos em A2 que em A1. O problema é que estas áreas compreendem sub-áreas, definidas pelo próprio sistema ISI-JCR, como “subject categories”. A redação de CLINICS fez um levantamento destas subject categories e constatou a existência de pelo menos 14 que correspondem à Medicina 1, oito à Medicina 2 e sete à Medicina 3. A Tabela 2 exibe alguns parâmetros levantados pela redação de CLINICS para estas 29 subject categories. Não podemos garantir que nossa lista é exaustiva e podem existir enganos decorrentes de um levantamento a mão. Se houver enganos tenho certeza que serão pequenos e não influenciam a análise que se segue. De qualquer modo, penitencio-me antecipadamente, se erros existirem.

Tabela 2.

Distribuição de periódicos das subject categories ISI-JCR que interessam às áreas CAPES de Medicina I, II e III pelas categorias Qualis A e B1

SUBJECT CATEGORY (ISI)  % de periódicos classificados como
ÁREA - MEDICINA I  número de periódicos  Qualis A*  Qualis A1** FI >4.2  Qualis A2** 4.2≥FI>3.7  Qualis B1 3.7≥FI>1.0 
ONCOLOGY  132  47  29  18  45 
IMMUNOLOGY  119  46  19  27  45 
ENDOCRINOLOGY  92  45  21  24  47 
HEMATOLOGY  63  43  21  22  46 
RHEUMATOLOGY  22  41  14  27  45 
CRITICAL CARE MEDICINE  19  37  16  21  47 
GASTROENTEROLOGY  50  36  20  16  58 
INFECTIOUS DISEASES  50  36  16  20  58 
CARDIAC & CARDIOVASCULAR SYSTEMS  68  31  15  16  50 
RESPIRATORY SYSTEM  34  29  15  15  59 
ALLERGY  17  29  12  18  47 
CLINICAL NEUROLOGY  146  29  13  16  49 
NEFROLOGY  26  27  15  12  58 
OPHTHALMOLOGY  45  16  11  60 
ÁREA - MEDICINA II  número de periódicos  Qualis A*  Qualis A1** FI >3.8  Qualis A2** 3.8≥FI>2.3  Qualis B1 2.3≥FI>1.0 
PSYCHIATRY  94  43  16  27  38 
RADIOLOGY  87  34  10  24  40 
PATHOLOGY  66  33  14  20  48 
DERMATOLOGY  41  22  17  56 
PEDIATRICS  78  18  14  42 
ANATOMY & MORPHOLOGY  17  18  18  53 
MEDICINE, LEGAL  16  12  63 
ÁREA - MEDICINA III  número de periódicos  Qualis A*  Qualis A1** FI >3.0  Qualis A2** 3.0≥FI>1.8  Qualis B1 1.8≥FI>0.8 
UROLOGY  27  56  19  37  30 
CARDIOVASCULAR SURGERY  43  29  14  14 
ANESTHESIOLOGY  22  41  14  27  27 
OPHTHALMOLOGY  45  36  13  22  47 
OBSTETRICS & GYNECOLOGY  60  35  10  25  60 
SURGERY  139  31  12  19  40 
ORTHOPEDICS  48  25  21  42 
OTORHINOLARYNGOLOGY  30  17  17  43 

Fonte: http://pcs.isiknowledge.com.

*

Em amarelo as subject categories com mais de 25% de periódicos Qualis A.

**

Em verde as subject categories com mais periódicos Qualis A1 que Qualis A2

A primeira observação é que quando se tomam as subject categories individualmente, as normas estabelecidas para a construção da nova tabela Qualis desabam.

Para demonstrar este colapso, comecemos pela Medicina 1. Para este conjunto, o sistema ISI-JCR reconhece a existência de pelo menos 14 subject categories. A Tabela 2 mostra que todas, exceto uma, superam os 25%. Também constatamos que três subject categories tem mais revistas A1 que A2. Em Medicina 2, três subject categories superam 25% enquanto quatro ficam abaixo. Em Medicina 3, a prevalecer a proposta, todas as subject categories, exceto duas, superariam os 25%; enquanto uma teria mais periódicos A1 que A2.

A Figura 1 mostra, para cada subject category de Medicina 1, 2 e 3 a percentagem de revistas ISI-JCR que atinge os níveis Qualis A1 a A2.

Figure 1.

Porcentagens de periódicos em cada subject category ISI que se enquadram nos Níveis Qualis A1 e A2 propostos para Medicina I, II e III

(0.27MB).

Várias conclusões são importantes.

  • Esta é a coleção mundial de revistas ISI-JCR. A distribuição heterogênea de fator de impacto pelas “subject categories”não reflete absolutamente uma diferença de qualidade entre ciências no começo ou no fim da escala. Reflete apenas uma banalidade, conhecida de todos: o Fator de Impacto não pode ser aplicado em absoluto, porque diferentes áreas do conhecimento atraem referências de modo diferenciado. Entretanto, o novo Qualis equaliza todas as subject categories dentro de cada área. Já o fazia antes a velha tabela, mas a elevação extrema dos níveis de corte, modelo Harvard, agudizou a discrepância, criando subject categories nobres e subject categories párias.

  • Com relação à regra dos 25%, vê-se logo que para as categorias à esquerda do gráfico há um excesso de revistas Qualis A e uma escassez à direita.

  • A conseqüência óbvia desta heterogeneidade dentro de cada área é que contribuições relativamente banais em subject categories à esquerda merecerão Qualis A, enquanto contribuições de alto valor em subject categories à direita, terão baixíssima chance de chegar a esse nível.

  • Quando se combina, por um lado a regra que limita a 25% os programas de excelência e, por outro, a heterogeneidade das subject categories, é fácil deduzir aquilo que no título defini como a tragédia anunciada: subject categories à esquerda povoarão os níveis mais altos de excelência excluindo as subject categories à direita. Esta colonização diferenciada não será determinada por qualidade diferenciada, mas por atração diferenciada de citações. É perfeitamente lícito supor que as novas regras estejam prestes a premiar banalidade na ponta superior. Já na outra ponta, é garantido que vamos punir qualidade. Na área de Medicina 3 há o caso extremo: um pesquisador brasileiro pode ganhar o Prêmio Nobel por uma descoberta em otorrinolaringologia e não conseguir a glória caseira de um Qualis A1!

Finalmente uma palavra a respeito dos periódicos brasileiros. Para marcianos que ainda nem desembarcaram, o Brasil é um país do quarteto BRIC, ou do sexteto BRICKT (BRIC mais Korea e Turquia). A ciência nestes países cresce mais depressa que no primeiro mundo, muito mais depressa que no resto do terceiro mundo. Todos estes países (Brasil inclusive) têm políticas oficiais agressivas de fomento aos periódicos nacionais, por entenderem que periódico autóctone de alta qualidade é imperativo de soberania e segurança. Por outro lado é fato bem conhecido que periódicos do terceiro mundo tem um viés negativo para captação de citações. Não sou ingênuo a ponto de crer que os periódicos BRICKT publicam ciência equivalente à do primeiro mundo: o que publicamos é inferior ao que aparece nos periódicos “lá de cima”! Mas isso não exclui a existência de viés: a diferença de citação é maior que a diferença de qualidade. Bem a propósito, em maio do próximo ano, sou palestrante convidado num debate do congresso anual do Council for Science Editors dos Estados Unidos: “Bridging the Geographic Science Gap: Editors’ View of Evaluating and Rating Scientific Papers. Mauricio Rocha e Silva, MD, Editor, CLINICS; Ana Marusic, MD, Croatian Medical Journal; Adrian Stanley, The Charlesworth Group. “Peer-review is the gold standard for pre-publication manuscript evaluation. How good is it? Citations are how we evaluate published science. Citations have differential properties intrinsically related to subject area, journal visibility, geographic origin, language. How do we bridge these gaps?”

Ainda não é possível quantificar com exatidão o tamanho deste viés. Esta é uma das metas da citada mesa de debate e também do Council Americano.

É pois evidente que a CAPES não deveria apoiar os periódicos brasileiros com a mão direita do financiamento e prejudicá-los com essa anunciada mão do novo Qualis. A nova tabela exclui radicalmente a totalidade das revistas brasileiras até mesmo do Qualis A2. Realisticamente, não creio que existam revistas brasileiras Qualis A1. Talvez seja o caso de repensar este caso e introduzir um fator de correção suficiente para que as nossas melhores publicações cheguem a Qualis A2. Seria um poderoso incentivo a estes periódicos e algo que os colocaria no caminho de se tornarem verdadeiros veículos de excelência internacional.

Em conclusão, parece-me que algumas das premissas precisam ser repensadas. Os níveis propostos parecem altos demais. Parece que os autores resolveram aplicar um metro tipo Harvard ao Sistema brasileiro sem se darem conta que ainda temos que crescer um bocado antes de encarar Harvard de igual para igual. A regra dos 25% parece provir de um ilusório “wishful thinking”: mas não adianta desejar ardentemente que a distribuição de freqüência de conceitos seja normal, porque a heterogênea verdade brasileira garante que essa distribuição será qualquer coisa, >menos normal. Finalmente, um pouco de patriotismo sadio nunca fez mal a ninguém (perguntem aos americanos!): algum suporte aos periódicos brasileiros é imperativo. Não estou sugerindo que se escancare a porteira: apenas que se dê aos periódicos brasileiros metas atingíveis de ambição de progresso.

Copyright © 2009. CLINICS
Descargar PDF
Opciones de artículo
es en pt

¿Es usted profesional sanitario apto para prescribir o dispensar medicamentos?

Are you a health professional able to prescribe or dispense drugs?

Você é um profissional de saúde habilitado a prescrever ou dispensar medicamentos