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Vol. 66. Núm. 1.
Páginas 3-7 (enero 2010)
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Editorial
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Reflexões críticas sobre os três erres, ou os periódicos brasileiros excluídos
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Mauricio Rocha e Silva
Autor para correspondencia
mrsilva36@hcnet.usp.br

Rocha-e-Silva M. Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo Tel.: 55 11 3069-6235
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Recentemente CLINICS propôs para debate a idéia de que o QUALIS 2010 era passível de aperfeiçoamento, através do conceito dos três erres (Remover periódicos de revisão, Reconhecer outras métricas de avaliação, Reavaliar periódicos brasileiros).1 Submetido ao debate por pares por ocasião do II Seminário Satélite para Editores Plenos (ABEC Novembro de 2010), concluiu-se que idealmente haveria que focalizar num único erre, a saber, o reconhecimento por parte da CAPES para 2013 das métricas de avaliação SCImago (cites/document) e SciELO (Impact Factor).

Já demonstramos anteriormente que o Impact Factor ISI THOMSON, única métrica reconhecida pela CAPES, é praticamente idêntico ao cites/document da SCImago. A correlação geral por amostragem entre os dois índices é maior que 0,9 e o coeficiente angular é indistinguível da unidade. A recente divulgação da coleção 2009 do SCImago Journal & Country Rank2 junta-se aos já divulgados Fatores de Impacto JCR-ISI e SciELO para aquele ano e permite o cotejo em tempo real dos três índices. Salientamos que este cotejo não se aplica a qualquer tabela QUALIS, pois a Tabela 2010 já é história e a Tabela 2013 será decidida no futuro. Em outras palavras, o cotejo que se segue, relativo ao ano 2009, é oferecido como base argumentativa adequada para reivindicar a correção de curso relativa à exclusão dos índices SCImago e SciELO.

Vamos pois ao cenário 2009 como simulação de uma hipotética tabela Qualis: na versão 2009 do Journal of Citations Report – ISI a representação brasileira saltou de 31 a 71 periódicos; já no SCImago Journal Ranking essa representação manteve-se constante em 235 periódicos. Existem, portanto 164 periódicos brasileiros (138 com impacto maior que zero) ausentes da tabela JCR-ISI. Mantida a norma Qualis aplicada em 2010, estes 138 periódicos cairiam nas categorias “sem fator de impacto”. A Figura 1 mostra a identidade entre ISI e SCImago para as 64 revistas incluídas nos dois índices: o coeficiente angular unitário e o elevado coeficiente de correlação significam que, conhecendo-se um dos índices, pode-se estimar o outro com 95% de probabilidade de errar por menos de 5%.

Figura 1.

Correlação entre fatores do impacto J. Citation Reports (ISI – Thomson) e SCImago (2009) para 64 periódicos brasileiros representados nos dois índices com valores maiores que zero. A identidade entre métricas é praticamente absoluta. O coeficiente angular indica um ângulo de 45° (significando identidade) e a correlação (R2  =  0,932; p < 0.001) é quase perfeita.

(0.02MB).

A tabela 1 exibe a relação desses 138 periódicos brasileiros com Cites/Document SCImago > zero, mas sem Fator de Impacto JCR-ISI. Ressalte-se que não são periódicos de impacto nitidamente mais baixo que os da coleção JCR-ISI. Os quatro primeiros apresentam impacto > 1.00, o que os colocaria entre os 15 melhores do Brasil. Outros dez apresentam impacto maior que 0.50, acima da mediana dos periódicos brasileiros no JCR-ISI. Todos os 138 títulos evidentemente fariam jus à classificação “com fator de impacto”.

Tabela 1.

Cento e trinta e oito periódicos brasileiros excluídos do QUALIS com Fator de Impacto SCIMAGO (simulação 2009).

Rank  Título  cites/doc scimago 
Acta Scientiarum – Agronomy  1,19 
International Braz J Urol  1,09 
Revista do Instituto de Medicina Tropical de Sao Paulo  1,08 
Brazilian Journal of Plant Physiology  1,05 
Annual Review of Biomedical Sciences  0,85 
Jornal Brasileiro de Pneumologia  0,85 
Revista Brasileira de Epidemiologia  0,73 
Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery  0,72 
Acta Ortopedica Brasileira  0,71 
10  Brazilian Journal of Biology  0,69 
11  Brazilian Dental Journal  0,67 
12  Ciencia e Saude Coletiva  0,58 
13  Materials Research  0,55 
14  Brazilian Oral Research  0,53 
15  Arquivos de Gastroenterologia  0,49 
16  Revista Brasileira de Saude Materno Infantil  0,49 
17  Acta Botanica Brasilica  0,48 
18  Phyllomedusa  0,48 
19  Acta Scientiarum - Biological Sciences  0,46 
20  Revista Brasileira de Medicina do Esporte  0,46 
21  Revista Brasileira de Botanica  0,45 
22  PRO-FONO: Revista de Actualização Cientifica  0,44 
23  Revista Brasileira de Engenharia Agricola e Ambiental  0,41 
24  Engenharia Agricola  0,40 
25  Arquivos Brasileiros de Oftalmologia  0,38 
26  Biota Neotropica  0,38 
27  Radiologia Brasileira  0,38 
28  Revista Brasileira de Otorrinolaringologia (English ed.)  0,38 
29  Revista Brasileira de Sementes  0,38 
30  Acta Amazonica  0,37 
31  Ciencia Rural  0,36 
32  Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinaria e Zootecnia  0,35 
33  Pan-American Journal of Aquatic Sciences  0,35 
34  Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetricia  0,35 
35  Acta Paulista de Enfermagem  0,34 
36  Ecletica Quimica  0,34 
37  Papeis Avulsos de Zoologia  0,33 
38  Revista Brasileira de Plantas Medicinais  0,31 
39  Bragantia  0,29 
40  Revista Arvore  0,29 
41  Revista Brasileira de Anestesiologia  0,29 
42  Revista de Psiquiatria Clinica  0,29 
43  Jornal Brasileiro de Psiquiatria  0,28 
44  Journal of Microwaves and Optoelectronics  0,27 
45  Pesquisa Operacional  0,27 
46  Scientia Forestalis/Forest Sciences  0,27 
47  Revista Brasileira de Ciencia Avicola  0,26 
48  Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia  0,26 
49  Revista de Economia Politica  0,26 
50  Ceramica  0,25 
51  Estudos Avancados  0,25 
52  Interface: Comunicação, Saude, Educação  0,25 
53  Online Brazilian Journal of Nursing  0,24 
54  Boletim de Geociencias - Petrobras  0,23 
55  HAHR - Hispanic American Historical Review  0,23 
56  Opiniao Publica  0,23 
57  Revista Brasileira de Ciencias Farmaceuticas  0,23 
58  Cadernos de Pesquisa  0,22 
59  Anais Brasileiros de Dermatologia  0,21 
60  Journal of Public Child Welfare  0,21 
61  Lundiana  0,21 
62  Revista de Ciencias Farmaceuticas Basica e Aplicada  0,21 
63  Tropical Plant Pathology  0,21 
64  Jornal Vascular Brasileiro  0,20 
65  Revista Brasileira de Enfermagem  0,20 
66  Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial  0,19 
67  Historia, Ciencias, Saude - Manguinhos  0,18 
68  Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul  0,18 
69  Geociencias  0,17 
70  Revista Brasileira de Reumatologia  0,17 
71  Ararajuba  0,16 
72  Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva  0,16 
73  Revista Brasileira de Economia  0,16 
74  Revista Brasileira de Geofisica  0,16 
75  Boletim de Ciencias Geodesicas  0,15 
76  Controle E Automação  0,15 
77  Geologia USP - Serie Cientifica  0,15 
78  Economia Aplicada  0,14 
79  Engenharia Sanitaria e Ambiental  0,14 
80  IRRIGA  0,14 
81  Psicologia e Sociedade  0,14 
82  Revista do Colegio Brasileiro de Cirurgioes  0,14 
83  Revista Gaucha de Enfermagem / EENFUFRGS  0,14 
84  Educação e Pesquisa  0,13 
85  Lua Nova - Revista de Cultura e Politica  0,13 
86  Produção  0,13 
87  Psicologia: Teoria e Pesquisa  0,13 
88  Revista de Economia e Sociologia Rural  0,13 
89  Educação e Sociedade  0,12 
90  Physis: Revista de Saude Coletiva  0,12 
91  Revista Brasileira de Ciencias Sociais  0,12 
92  Sociologias  0,12 
93  Ambiente & Sociedade  0,11 
94  Brazilian Journal of Oral Sciences  0,11 
95  Gestão e Produção  0,11 
96  Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology  0,11 
97  Psicologia em Estudo  0,11 
98  Soils and Rocks  0,11 
99  Archives of Veterinary Science  0,10 
100  Estudos Feministas  0,10 
101  Jornal Brasileiro de Reprodução Assistida  0,10 
102  Psiquiatria Biologica  0,10 
103  Anuario do Instituto de Geociencias  0,09 
104  Acta Scientiarum - Health Sciences  0,08 
105  Coluna/ Columna  0,08 
106  GED - Gastrenterologia Endoscopia Digestiva  0,08 
107  Revista de Administração Publica  0,08 
108  Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial  0,08 
109  Saude e Sociedade  0,08 
110  Summa Phytopathologica  0,08 
111  Estudos de Psicologia (Campinas)  0,07 
112  Cadernos CEDES  0,06 
113  Revista Brasileira de Coloproctologia  0,06 
114  Revista Brasileira de Educação  0,06 
115  Revista Brasileira de Estudos de População  0,06 
116  Revista Brasileira de Oftalmologia  0,06 
117  Revista de Sociologia e Politica  0,06 
118  Ensaio  0,05 
119  Estudos Ibero-Americanos  0,05 
120  Novos Estudos CEBRAP  0,05 
121  Perspectivas em Ciencia da Informação  0,05 
122  Revista Brasileira de Educação Especial  0,05 
123  Revista Brasileira de Medicina  0,05 
124  Revista de Economia Contemporanea  0,05 
125  Alea  0,04 
126  Horizontes Antropologicos  0,04 
127  International Journal of Atherosclerosis  0,04 
128  Revista Brasileira de Historia  0,04 
129  Trans/Form/Ação  0,04 
130  Cadernos Pagu  0,03 
131  Historia  0,03 
132  Medicina  0,03 
133  Psicologia Clinica  0,03 
134  Ciencia da Informação  0,02 
135  Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental  0,02 
136  Revista Neurociencias  0,02 
137  Sociedade e Estado  0,02 
138  Revista Brasileira de Gestao e Desenvolvimento Regional  0,01 

Outra correlação interessante ocorre entre SCImago e SciELO. Em primeiro lugar vale notar que existe extensa concordância: a coleção SCImago contem 235 títulos brasileiros e a coleção SciELO contem 223. As inclusões não são 100% concordante: a coleção SCImago contem 69 periódicos ausentes da coleção SciELO; reciprocamente a coleção SciELO contem 56 periódicos ausentes da coleção SCImago. Por si só esta convergência revela a consistência de qualidade dos periódicos incluídos na coleção SciELO.

É fácil intuir que, para qualquer periódico brasileiro incluído nas duas coleções, há que se esperar que o impacto SCImago seja maior que o SciELO, porque a coleção SCImago contem 18.732 periódicos, contra apenas 759 na coleção SciELO. Surpreendentemente, porém, o efeito dessa enorme desproporção entre bases de dados é menor do que o esperado, como se pode ver à figura 2: dentre os 142 periódicos brasileiros presentes nas duas coleções apenas 88 (62%) apresentam SCImago > SciELO, enquanto 45 (32%) apresentam SciELO > SCImago e nove (6%) apresentam igualdade. Esta discrepância entre o esperado e o observado merece estudo bibliométrico adicional, mas uma boa hipótese seria que artigos brasileiros citam outros artigos brasileiros com mais intensidade em virtude de um pronunciado interesse local específico. A correlação entre os impactos (Figura 3) é igualmente reveladora: o coeficiente angular (0,54) sugere que o impacto médio SciELO é apenas 40% menor que o impacto SCImago. Já o alto índice de correlação (r2  =  0.62; p <0.01) demonstra que as duas métricas avaliam o mesmo parâmetro em bases de dados muito díspares.

Figura 2.

Fatores de Impacto SCImago e SciELO (2009) para 142 periódicos brasileiros representados nos dois índices com valor maior que zero. Observe-se que quando SCImago > SciELO a diferença é frequentemente grande (como indicado pela seta vertical relativa às Memórias do Instituto Oswaldo Cruz), mas invariavelmente diminuta quando SciELO > SCImago.

(0.02MB).
Figura 3.

Correlação entre fatores do impacto SciELO e SCImago (2009) para 142 periódicos brasileiros representados nos dois índices com valor maior que zero. O coeficiente angular indica um angulo de 28° e um impacto SciELO médio 40% menor que o SCImago. A correlação significativa indica que os dois parâmetros medem a mesma coisa sobre bases de dados díspares.

(0.02MB).

Caso a CAPES reconheça o Cites/Document SCImago estará resgatada a maior parte dos periódicos brasileiros com impacto > 0. Porem a Tabela 2 mostra que, se a decisão fosse tomada neste momento restariam 35 periódicos brasileiros com impacto SciELO maior que zero mas ausentes do JCR-ISI e do SCImago. Aqui também encontramos impactos não triviais: quatro periódicos apresentam impactos maiores que a mediana da coleção ISI. Sem esquecer a forte possibilidade de que estes 35 impactos SciELO infra-estimem o que seriam seus impactos ISI ou SCImago.

Tabela 2.

Trinta e cinco periódicos brasileiros excluídos do QUALIS com Fator de Impacto SciELO (simulação 2009).

Rank  Título  IF scielo 
Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia  0,81 
Texto e Contexto Enfermagem  0,65 
Revista CEFAC  0,64 
Revista Brasileira de Educação Médica  0,58 
Ciência e Agrotecnologia  0,42 
Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior  0,28 
Revista Paulista de Pediatria  0,28 
Paidéia (Ribeirão Preto)  0,27 
RAE Electronica  0,21 
10  Revista Brasileira de Terapia Intensiva  0,21 
11  Psicologia & Sociedade  0,15 
12  Revista Estudos Feministas  0,15 
13  Economia e Sociedade  0,14 
14  Revista Brasileira de Meteorologia  0,14 
15  Ciência da Informação  0,12 
16  Psicologia Escolar e Educacional (Impresso)  0,12 
17  Educação em Revista  0,11 
18  Revista de Administração Contemporânea  0,11 
19  Revista Brasileira de Ortopedia  0,10 
20  Varia Historia  0,09 
21  Matéria (Rio de Janeiro)  0,08 
22  Psicologia USP  0,08 
23  Caderno CRH  0,07 
24  DELTA Documentacao de Estudos em Linguistica Teorica e Aplicada  0,07 
25  Ciência & Educação (Bauru)  0,06 
26  Nova Economia  0,06 
27  Religião & Sociedade  0,06 
28  Escola Anna Nery  0,05 
29  Estudos Economicos  0,05 
30  Revista Contabilidade & Finanças  0,05 
31  Sba: Controle & Automação Sociedade Brasileira de Automatica  0,05 
32  Contexto Internacional  0,04 
33  Educar em Revista  0,04 
34  Estudos de Psicologia (Natal)  0,03 
35  Interações (Campo Grande)  0,03 

Desta simulação, podemos concluir que teríamos 173 periódicos brasileiros com IMPACTO > ZERO tratados como “SEM FATOR DE IMPACTO” pelo QUALIS caso a avaliação fosse agora e caso os critérios 2010 fossem repetidos. Sabemos que esta “simulada exclusão” não é estática: quando a tabela Qualis “fechar” para a próxima avaliação muita coisa terá mudado: dentre elas, com certeza, as tabelas ISI-JCR, SCImago e SciELO, bem como (esperamos!) os critérios CAPES de avaliação. Mas defendemos a tese de que reconhecer tão somente o Fator de Impacto ISI-JCR não seria lógico. Por isso entendemos que esta simulação é a base racional para um alerta, em tempo, pela adoção de novos critérios.

NOTA: este editorial é publicado por CLINICS livre de restrições de copyright. Oferecemo-lo aos periódicos científicos brasileiros para reprodução integral ou parcial. Alternativamente sugerimos que apóiem esta idéia, em editoriais originais. Tais ações sinalizarão nossa vontade política de exercer o direito republicano de peticionar perante o poder público em defesa desta que é uma reivindicação legítima e generalizada da comunidade editorial científica brasileira.

REFERÊNCIAS
[1]
M Rocha e Silva .
Qualis 2011-2013: os três erres.
Clinics, 65 (2010), pp. 6
[2]
SCImago.
SJR — SCImago Journal & Country Rank. 2007. Retrieved January 26, 2011, from.
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