Analisar os efeitos do destreinamento na composição corporal e nas capacidades de salto vertical e na velocidade.
MétodoVinte e dois jogadores sub17 (16.4±0.4 anos; 70.0±7.1kg; 175.9±6.9cm) foram submetidos à avaliação antropométrica, de saltos verticais sem (SVSC) e com contramovimento (SVCC), e de velocidade linear, antes e após 2 semanas de destreinamento.
ResultadosHouve aumento significante na gordura corporal (p<0.001) e, apesar da redução da velocidade não ser significante (p>0.05), houve 2.24% de aumento no tempo de 0‐5m (ES=0.78) e de 0.97% no tempo de 0‐20m (ES=0.41). Adicionalmente, houve tendência de aumento para o SVCC (p=0.056).
ConclusãoDuas semanas de destreinamento provocaram alterações significantes na composição corporal e na capacidade da velocidade motora e na distância de 0‐5m em jovens futebolistas.
To analyze the effects of detraining on body composition, vertical jumping and speed abilities.
MethodsTwenty two under‐17 soccer players (16.4±0.4 years; 70.0±7.1kg; 175.9±6.9cm) were evaluated before and after two weeks of detraining. Anthropometric measurements, countermovement (CMJ) and squat jumps (SJ) and sprint speed tests were performed.
ResultsThere was a significant increase in body fat (p<0.001) and despite the fact that the decrease in the speed was no significant (p>0.05), an increase of 2.24% in the 0‐5m time (ES=0.78) and 0.97% in the 0‐20m time (ES=0.41) were observed. In addition, there was an upward trend in the SJ (p=0.056).
ConclusionTwo weeks of detraining resulted in significant alterations of the body composition and in speed performance (from 0 to 5m) in young elite soccer players.
Analizar los efectos del desentrenamiento sobre el salto vertical, la velocidad de desplazamiento y la composición corporal en futbolistas jóvenes.
MétodoVeintidós jugadores (16.4±0.4 años, 70.0±7.1kg, 175.9±6.9cm) se sometieron a evaluaciones de composición corporal, saltos verticales y velocidad (carreras de 20 metros), antes y después de 2 semanas de desentrenamiento.
ResultadosSe encontraron aumentos significativos en el porcentaje de grasa corporal (p<0.001) y a pesar de que la disminución de la velocidad no fue significativa (p>0.05), hubo una reducción del 2.24% (ES=0.78) y del 0.97% (ES=0.41) en los tiempos en 5 y 20m, respectivamente. Igualmente, se observó una tendencia al aumento del salto sin contramovimiento (p=0.056).
ConclusiónDos semanas de desentrenamiento produjeron alteraciones significativas en la composición corporal y en la velocidad (entre 0‐5m) de los jóvenes futbolistas.
No futebol, o desempenho competitivo depende da interação de diferentes fatores como composição corporal, potência muscular e velocidade máxima atingida pelos jogadores em curtas distâncias (velocidade de sprint)1. Esses fatores podem oscilar ao longo da temporada que, usualmente, se divide em 3 períodos: pré‐temporada, período competitivo e período de transição. A pré‐temporada corresponde ao tempo existente entre a volta das férias e o primeiro jogo oficial do campeonato (início de temporada). Durante esse período, com o intuito de maximizar as adaptações biológicas decorrentes do treinamento sistemático, é comum priorizar a preparação física. Logo na sequência, o período competitivo visa, prioritariamente, manter ou potencializar a forma física adquirida durante a pré‐temporada, enquanto que, após o período de transição (período de férias), espera‐se uma redução no desempenho físico global, devido à ausência dos treinamentos físicos e/ou técnicos específicos2.
Já está bem estabelecido que as variações de volume e intensidade de treinamento, que ocorrem durante toda a temporada competitiva, são essenciais para a manutenção do desempenho dos futebolistas3. Por outro lado, as fases exaustivas de treinamento aliadas aos curtos períodos de recuperação parecem estar diretamente associadas à fadiga acumulada e a uma maior incidência das lesões musculoesqueléticas4. Além disso, foi reportado que os períodos de destreinamento de curto (≤4 semanas) ou longo prazo (>4 semanas)5 são capazes de reduzir o desempenho das capacidades de força, potência muscular e velocidade, prejudicando o rendimento esportivo6,7.
Com a intenção de preservar a integridade dos jovens atletas e não expô‐los a uma alta demanda de treinamento e competição, algumas entidades que regulamentam o futebol elaboram o calendário competitivo das categorias de base com uma menor frequência semanal de competições (geralmente, uma partida por semana). Outro aspecto comum na organização desses campeonatos é a suspensão das competições nos períodos dos recessos escolares, permitindo que os jovens atletas descansem e se recuperem adequadamente. Contudo, se por um lado, esse período de recuperação contribui para preservar a integridade dos jovens atletas (que possuem dose‐resposta de treino diferente)8, por outro, pode provocar aumento do percentual de gordura, declínio na velocidade dos processos bioquímicos para obtenção de energia, e queda de desempenho físico e de rendimento competitivo5.
Os prejuízos causados pelo destreinamento em diferentes modalidades estão bem descritos na literatura6,7. Em futebolistas adultos, estudos prévios demonstraram que 3 semanas de destreinamento foram suficientes para aumentar o percentual de gordura corporal (%GC) de 9.6±2.5% para 12.6±3.3% (≈30%) e diminuir o desempenho da velocidade com aumento do tempo dos 50m de 7.1±0.5s para 7.6±0.5s (≈7%)9. Amigo et al.10 reportaram que períodos mais prolongados de destreinamento (6‐8 semanas) em jovens futebolistas também foram capazes de reduzir a área de secção transversa das fibras musculares do tipo I e tipo II, e também a atividade das enzimas creatina quinase, citrato sintase, fosfofrutoquinase, lactato desidrogenase e aspartato aminotransferase, as quais exercem papel fundamental na ressíntese de ATP durante atividades de alta intensidade.
Apesar dos resultados supracitados, os efeitos do destreinamento sobre a aptidão física específica de jovens futebolistas de elite ainda não estão bem documentados. No melhor de nosso conhecimento, apenas 2 estudos analisaram o efeito do destreinamento em jovens futebolistas5,10. No entanto, em nenhuma dessas investigações as amostras foram constituídas por atletas de elite. Assim, enquanto Melchiori et al.5 verificaram reduções de 22.7% no consumo de oxigênio (VO2) na velocidade do limiar aeróbio, de 25.8% no VO2 na velocidade do limiar anaeróbio e de 21.2% no VO2 máximo. Amigo et al.10 demonstraram, após 8 semanas de destreinamento, reduções na área de secção transversa das fibras musculares e na atividade das enzimas creatina quinase, citrato sintase, fosfofrutoquinase, lactato desidrogenase e aspartato aminotransferase. Adicionalmente, os autores avaliaram os efeitos do destreinamento apenas nas alterações da aptidão aeróbia, na estrutura muscular (área da secção transversa das fibras tipo I e tipo II do músculo vastolateral) e na diminuição das atividades enzimáticas (creatinequinase, citratosintase, fosfofrutoquinase, lactato desidrogenase e da aspartato aminotransferase)5,10. Desse modo, os efeitos de 2 semanas de destreinamento nas capacidades de potência muscular e velocidade cíclica em jovens futebolistas de elite ainda carecem de investigação científica.
Portanto, o objetivo desse estudo foi investigar os efeitos do destreinamento de curto prazo na composição corporal, na altura do salto vertical (SV) e na velocidade linear de jogadores sub17 da elite do futebol brasileiro. Hipotetizamos que um período de destreinamento de 2 semanas estaria associado a um aumento do %GC em jovens futebolistas de elite e, além disso, provocaria reduções significantes em suas capacidades físicas.
MétodoSujeitosA amostra foi selecionada por conveniência e foi composta de 22 futebolistas da categoria sub17 (idade: 16.4±0.4 anos; massa corporal: 70.0±7.1kg; estatura: 175.9±6.9cm). Nos 3 meses que antecederam o estudo, nenhum atleta utilizou suplementos alimentares, anti‐inflamatórios ou outros medicamentos que pudessem afetar o desempenho físico. Desse modo, todos os atletas estavam em plenas condições de saúde e sem lesão prévia clinicamente diagnosticada nos últimos 6 meses. Vale destacar que, no ano do estudo, essa equipa sagrou‐se campeã brasileira sub17, tendo, inclusive, alguns dos seus atletas convocados para compor a seleção nacional da categoria.
O presente trabalho foi aprovado pelo comitê de ética da Universidade Estadual de Londrina (processo 220/2010, CAAE registro n. 0202.0.0268.000‐10) e seguiu todas as normas de estudos com seres humanos, conforme as recomendações do CNS 96/96 da Associação Médica Mundial e a Declaração de Helsinki11.
Delineamento experimentalA rotina desses atletas era constituída de, aproximadamente, 2 horas diárias de treinamento, 5 vezes por semana, sempre com um jogo aos sábados. As sessões de treinamento eram compostas por treino físico (2 vezes na semana, 30‐45min), treino técnico‐tático (2 vezes na semana, ≈60‐80min) e métodos de recuperação ativos (uma vez na semana, sessão de 30‐45min de alongamento e/ou hidroginástica). Os atletas foram avaliados antes (PRÉ) e após (PÓS) 2 semanas de destreinamento, durante a pausa do Campeonato Paulista de 2013 que ocorreu entre a 14.a e a 15.a rodadas do campeonato (i.e.; entre os dias 13‐27 de julho do referido ano). Durante esse período os atletas foram orientados a não realizar nenhum tipo de treinamento e não participaram de atividades competitivas ou recreativas.
As seguintes avaliações foram realizadas:
Nível de atividade física (AF): para verificar o nível de AF praticado durante o recesso, os atletas responderam um recordatório semanal de AF12.
Antropometria: a avaliação antropométrica foi realizada durante a primeira sessão experimental por um avaliador com experiência de 5 anos. As medidas da massa corporal, estatura e as dobras cutâneas foram realizadas de acordo com a padronização de Lohman13. O erro técnico da medida, obtido de acordo com sugestão de Perini et al.14, foi de 5.1% (aceitável). O coeficiente de correlação intraclasse (ICC) para as medidas de dobras cutâneas foi de 0.87‐0.91. A densidade corporal foi estimada a partir das equações de Faulkner15 e a composição corporal foi estimada pela equação de Siri16.
Avaliação neuromuscular: após avaliação antropométrica os atletas realizaram aquecimento geral conforme o programa FIFA 11+17 elaborado pelo Centro de Investigação Científica e de Avaliação Médica da FIFA (F‐MARC). Esse programa é constituído de 15 exercícios que devem ser realizados em 3 etapas progressivas, assim determinadas: i) corrida com velocidade reduzida e combinada com alongamentos ativos; ii) exercícios de força para o centro de equilíbrio do corpo (core), para os membros inferiores e de pliometria e agilidade com 3 níveis de dificuldade crescentes; e iii) corrida em velocidade moderada/alta combinada com movimentos de mudança de direção. O FIFA 11+ tem‐se mostrado apropriado para melhorar o desempenho físico18 e também efetivo para prevenção de lesões de jovens atletas19,20. Após o aquecimento, um intervalo de recuperação de 10min foi concedido aos atletas que, em seguida, realizaram os testes de SV e de velocidade linear.
A capacidade de SV foi medida por uma plataforma de contato (Smartspeed System, Fusion Sport, Austrália), por meio da medida da altura dos saltos verticais com e sem contramovimento (SVCC e SVSC, respectivamente), conforme recomendações previamente descritas21. O tempo de voo foi obtido a partir da equação de Bosco et al.21 e a potência absoluta e relativa foi calculada pela equação proposta por Sayers et al.22.
Todos os atletas eram devidamente familiarizados com a execução de ambos os tipos de saltos. Cada atleta realizou 3 tentativas de cada tipo de salto (i.e.; SVSC e SVCC), com intervalo de 15s entre cada tentativa e 2min de intervalo entre cada tipo de salto. Os atletas foram instruídos a saltar o mais alto possível. Para análise estatística foi considerado o melhor resultado do SVSC e do SVCC. Os ICCs do SVSC e do SVCC foram de, respectivamente, 0.97 e 0.98.
A velocidade linear foi mensurada pelo teste de 20m (T‐20m). Células fotoelétricas (Smartspeed–Fusion, Austrália) foram posicionadas no ponto inicial (0), 5, 10 e 20m. Os atletas se posicionaram no ponto inicial e foram instruídos a realizar o percurso o mais rapidamente possível. Cada atleta realizou 3 tentativas, com um intervalo de 3min entre cada tentativa. O melhor resultado foi considerado para análise. O erro de medida do equipamento é menor que 0.03s em 30m23. Os ICCs dos tempos para as distâncias de 0‐5, 0‐10 e 0‐20m foram de 0.91, 0.95 e 0.97, respectivamente.
Análise estatísticaA normalidade dos dados foi verificada pelo teste de Shapiro‐Wilk. Os dados foram apresentados em média e desvio‐padrão. Conforme a distribuição dos dados, aplicou‐se o test t pareado de Student (distribuição paramétrica) ou o teste de Wilcoxon (distribuição não paramétrica). Para verificação da influência do destreinamento entre os momentos PRÉ e PÓS, foi calculado o delta percentual (Δ%) por meio da equação: Δ%=[momento PÓSx100)/(momento PRÉ)‐100]. O nível de significância adotado foi de p<0.05. Para essas análises utilizou‐se o programa STATISTICA 6.0. O tamanho do efeito (effect size [TE]) também foi calculado conforme a sugestão de Cohen24, onde 0.2=efeito pequeno, 0.5=efeito moderado e 0.8=efeito grande. Adicionalmente, para verificar a chance percentual de o destreinamento ter sido benéfico (efeito positivo ao destreinamento) ou prejudicial (efeito negativo ao destreinamento), foi aplicado o modelo de análise da inferência prática baseada em magnitudes. Para cálculo da análise da inferência prática baseada em magnitudes, no caso dos dados com distribuição não‐normal, aplicou‐se uma transformação por logaritmo natural. A mínima mudança percentual detectável foi calculada multiplicando‐se o desvio‐padrão inicial baseado no tamanho de efeito por 0.20. A chance de o destreinamento ser considerado positivo, nulo ou negativo foi calculada e avaliada qualitativamente da seguinte forma:<1% trivial (quase certamente não); 1‐5% muito improvável; 5‐25% improvável; 25‐75% possível; 75‐95% provável; 95‐99% muito provável e>99% quase certamente sim. Se os valores negativos e positivos apresentassem resultados>5%, a inferência era considerada inconclusiva25,26. Essa análise foi realizada por meio das planilhas disponíveis em: http://sportsci.org/2006/wghcontrial.htm27.
ResultadosNão houve diferença significante no tempo de prática de AF entre a 1.ª e a 2.ª semana (103±31min vs. 94±22min, respectivamente; p>0.05).
Os resultados antropométricos e da composição corporal estão descritos na tabela 1.
Média e desvio‐padrão dos dados antropométricos e da composição corporal de atletas de futebol sub17 (n=22)
Pré | Pós | Δ% | p | d | % chance | Inferência qualitativa | |||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
X | DP | X | DP | ||||||||
Massa corporal (kg) | 69.92 | ± | 6.33 | 70.01 | ± | 7.00 | 0.13 | 0.7868 | 0.01 | 00/100/00 | Trivial |
Estatura (cm) | 175.92 | ± | 6.88 | 175.91 | ± | 6.89 | –0.01 | 0.8162 | 0.00 | 00/100/00 | Trivial |
IMC | 22.59 | ± | 1.56 | 22.61 | ± | 1.76 | 0.09 | 0.8188 | 0.02 | 00/99/01 | Trivial |
DC tríceps (mm) | 6.27 | ± | 1.23 | 6.48 | ± | 1.32 | 3.35 | 0.3120 | 0.17 | 02/58/40 | Possível |
DC subescapular (mm) | 8.96 | ± | 1.26 | 9.28 | ± | 1.37* | 3.57 | 0.0294 | 0.26 | 00/32/68 | Possível |
DC suprailíaca (mm)† | 9.82 | ± | 2.65 | 10.87 | ± | 2.88* | 10.69 | 0.0010 | 0.40 | 00/02/98 | Muito provável |
DC abdominal (mm) † | 9.99 | ± | 4.08 | 10.56 | ± | 4.10* | 5.71 | 0.0084 | 0.14 | 00/71/29 | Possível |
ΣDC (mm) † | 35.04 | ± | 8.06 | 37.19 | ± | 7.97* | 6.14 | 0.0005 | 0.27 | 00/05/95 | Provável |
% de gordura† | 11.14 | ± | 1.23 | 11.47 | ± | 1.22* | 2.96 | 0.0005 | 0.27 | 00/10/90 | Provável |
Massa gorda (kg)† | 7.81 | ± | 1.27 | 8.07 | ± | 1.43* | 3.33 | 0.0002 | 0.20 | 00/66/34 | Possível |
Massa magra (kg) | 62.10 | ± | 5.46 | 61.94 | ± | 5.86 | –0.26 | 0.5397 | ‐0.03 | 00/100/00 | Trivial |
d: tamanho do efeito (effect size); DC: dobra cutânea; DP:desvio padrão; IMC: índice de massa corpórea; p: test t de Student ou Wilcoxon; X: média; Δ%: percentual; Σ: somatória.
Na tabela 2 encontram‐se os resultados de desempenho físico de potência de membros inferiores e de velocidade.
Média e desvio‐padrão de variáveis dos testes de desempenho físico de atletas de futebol sub17 (n=22)
Pré | Pós | Δ% | p | d | % chance | Inferência qualitativa | |||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
X | DP | X | DP | ||||||||
SVSC (cm) | 35.31 | ± | 3.35 | 36.10 | ± | 3.56 | 2.22 | 0.0564 | 0.23 | 00/40/60 | Possível |
SVCC (cm)† | 36.62 | ± | 3.51 | 36.49 | ± | 3.40 | ‐0.35 | 0.7313 | 0.04 | 08/90/02 | Trivial |
TV‐SVSC (ms) | 536.33 | ± | 25.32 | 542.22 | ± | 26.45 | 1.10 | 0.0572 | 0.23 | 00/40/60 | Possível |
TV‐SVCC (ms) | 546.17 | ± | 25.60 | 545.22 | ± | 25.18 | ‐0.17 | 0.7368 | ‐0.04 | 08/90/02 | Trivial |
PP‐SVSC (W) | 3255.61 | ± | 327.96 | 3307.30 | ± | 326.93 | 1.59 | 0.0863 | 0.16 | 00/68/32 | Possível |
PP‐SVCC (W) | 3334.90 | ± | 297.29 | 3331.11 | ± | 332.51 | ‐0.11 | 0.8937 | ‐0.01 | 03/96/01 | Trivial |
PR‐SVSC (W.kg−1) | 46.62 | ± | 3.11 | 47.35 | ± | 3.31 | 1.58 | 0.0572 | 0.24 | 00/39/61 | Possível |
PR‐SVCC (W.kg−1)† | 47.80 | ± | 3.30 | 47.68 | ± | 3.13 | ‐0.25 | 0.6165 | ‐0.04 | 06/93/01 | Trivial |
Tempo 0‐5m (s) | 1.07 | ± | 4.68 | 1.10 | ± | 0.04* | 2.80 | 0.0374 | 0.78 | 01/05/94 | Provável |
Tempo 0‐10m (s) | 1.81 | ± | 0.04 | 1.82 | ± | 0.09 | 0.55 | 0.4941 | 0.27 | 08/45/47 | Inconclusivo |
Tempo 0‐20m (s) | 3.10 | ± | 0.05 | 3.13 | ± | 0.12 | 0.97 | 0.1327 | 0.41 | 01/27/72 | Possível |
d:tamanho do efeito (effect size); DP:desvio padrão; SVCC:salto vertical com contra movimento; SVSC:salto vertical sem contramovimento; PP:potência de pico; PR:potência relativa TV:tempo de voo; % = delta percentual.
O principal achado desse trabalho foi que, após um período de 2 semanas de destreinamento, atletas jovens da elite do futebol brasileiro apresentaram aumento de 6.14% na somatória das dobras cutâneas, de 2.94% no %GC e de 3.3% na massa gorda, com concomitante redução de 2.24% na velocidade de 5m e 0.97% na velocidade de 20m.
O nível de AF durante o recesso dos jogadores ficou abaixo da recomendação internacional para manutenção da aptidão física28 e, mesmo com a limitação do tempo total de AF a não indicar a qualidade com que uma dada tarefa é realizada, ainda assim foi constatado que os atletas realmente reduziram a carga de trabalho físico em relação ao período de treinamento e assegura a possibilidade de alcançar o objetivo do trabalho.
Quanto à composição corporal, estudos prévios demonstraram variação do %GC entre 7.6‐16.2%29. Embora os valores de %GC encontrados no presente estudo estivessem dentro dessa faixa, variando em aproximadamente 3.0% entre os momentos PRÉ e PÓS, esses resultados foram superiores aos reportados em futebolistas profissionais da primeira divisão espanhola (%GC=8.6±0.9%)30 e também em jogadores profissionais da primeira divisão da Grécia (%GC≈9%)31. Por outro lado, os achados do presente estudo foram similares aos descritos em outros estudos, que verificaram %GC de 11.8±2.0% em atletas profissionais sub1932, de 12.6%±2.3% em jogadores sub16, 13.0±5.0% no sub15 e 12.5±2.6% no sub1433. De fato, a massa corpórea de jogadores pode variar de acordo com a posição do jogador, o seu nível competitivo e até mesmo pelo período da temporada9. Assim, apesar das limitações metodológicas das dobras cutâneas, como, por exemplo, dificuldade de comparar resultados de estudos que utilizaram equações diferentes; menor precisão de estimativa em relação às medidas indiretas e também experiência dos avaliadores34, essas limitações não comprometeram os resultados do presente estudo já que, além do mesmo avaliador, houve manutenção de todos os procedimentos entre os momentos PRÉ e PÓS. Desse modo, o aumento significante do %GC no momento PÓS em relação ao PRÉ está de acordo com um estudo anterior que descreveu aumento superior a 11% no %GC após um período de 6 semanas de destreinamento31. Esse resultado sugere que os atletas investigados nesse estudo reduziram o dispêndio energético e/ou aumentaram o consumo calórico durante o período de destreinamento, o que pode ter acarretado em alteração do balanço energético, e modificação significante da composição corporal do grupo.
O aumento do %GC e da redução da velocidade após 2 semanas de destreinamento corroboram com resultados de estudos prévios, que demonstraram associação inversa entre a quantidade relativa de GC e o desempenho físico. Sporis et al.35, por exemplo, encontraram correlação inversa entre o %GC e a velocidade de 0‐5m (r=‐0.86), o SVSC (r=‐0.78) e o SVCC (r=‐0.92).
Os valores de SVSC e SVCC (≈36cm) encontrados no presente estudo ficaram abaixo dos reportados em jogadores profissionais da primeira divisão da Grécia, que apresentaram resultados de aproximadamente 40cm no SVSC e de 42cm no SVCC32, e também aos valores reportados em futebolistas das seleções italianas sub17, sub20 e sub21 que saltaram no SVSC e no SVCC, respectivamente, 37.3±4.7cm e 40.9±5.1cm; 38.0±4.9cm e 40.2±4.7cm e 37.0±3.9cm 40.3±4.3cm36. Os resultados de SV encontrados no presente estudo também foram inferiores aos apresentados por atletas sub17 da seleção chinesa e sub19 da seleção da Tunísia que atingiram, respectivamente, valores médios de SVSC próximos de 39 e 51cm32,37. Na elite da Islândia, os jogadores obtiveram marcas próximas a 38cm no SVSC e a 39.4cm no SVCC34. Em jogadores sub19 da elite portuguesa, Rebelo et al.39 reportaram alturas em torno de 38.3cm no SVSC e de 39.5cm no SVCC, enquanto a elite do futebol espanhol apresentou valores de SVCC próximos de 44cm40. Apesar dos menores valores de SV encontrados no presente trabalho em relação aos trabalhos citados anteriormente, esses resultados foram semelhantes aos reportados em atletas sub19 de nível regional da Espanha, que apresentam valores médios de SVCC próximos a 36cm41.
De fato, a altura do SV tem sido amplamente utilizada para avaliar a potência muscular nos membros inferiores sendo para alguns autores, inclusive, uma ferramenta capaz de discriminar jogadores de distintos níveis competitivos32,38. Contudo, essa medida parece variar bastante quando se analisam estudos realizados com futebolistas de diferentes níveis competitivos ou de distintas faixas etárias. Entre os fatores que podem explicar, ainda que parcialmente, as diferenças encontradas no SV de futebolistas destacam‐se os aspectos genéticos42, o tipo/estado de treinamento físico dos atletas43 e também a motivação dos jogadores para a realização dos testes41,44. Além desses fatores, ao comparar resultados de diferentes estudos também se deve considerar o protocolo de teste de SV utilizado em cada estudo1, o tipo de aquecimento prévio executado45,46 e até mesmo o equipamento utilizado na mensuração da altura dos saltos46. No presente estudo, pelo fato de as medidas terem sido realizadas com os mesmos equipamentos e os testes terem sido executados sempre nas mesmas condições nos momentos PRÉ e PÓS, parece que nenhum desses fatores influenciou negativamente as análises. Assim, os achados do presente trabalho parecem não apresentar viés de interpretação quanto aos fatores de confusão e trazem informações práticas importantes, não somente por caracterizar a altura de saltos de jovens jogadores da elite do futebol brasileiro, mas também por demonstrar pela primeira vez que um período de destreinamento de 15 dias não foi suficiente para promover alterações significantes no desempenho do SV (p>0.05). Ainda assim, a inferência qualitativa foi capaz de demonstrar um possível aumento no desempenho do SVSC (% de chance 00/40/60), demonstrando que o rendimento nesse salto pode ser potencializado pelo destreinamento. Entretanto, estudos futuros devem investigar se a magnitude desses efeitos pode ou não ser influenciada por períodos maiores ou menores de destreino, tentando estabelecer um período ótimo para essas adaptações.
A velocidade também tem sido considerada uma variável com capacidade de discriminar o desempenho competitivo no futebol, pois é a ação motora que ocorre com maior frequência antes de um gol47–51. Haugen et al.52, por exemplo, num estudo populacional realizado com atletas noruegueses, reportaram que jogadores da seleção e da primeira divisão eram mais rápidos do que jogadores da segunda divisão (1.0 e 1.4%, respectivamente; p<0.05) e também do que juniores da seleção nacional (1.7 e 2.2%, respectivamente). Segundo Stolen et al.1, jogadores de futebol devem levar em média 1.05, 1.84 e 3.08s para percorrer, respectivamente, 5, 10 e 20m. Esses valores aproximam‐se aos encontrados no presente estudo, porém, o tempo obtido pela nossa amostra na distância de 0‐5m foi superior aos descritos em jogadores profissionais do futebol espanhol (0.99±0.05s)53, mas assemelharam‐se aos encontrados em jogadores sub17 estrangeiros que atuam na Bélgica (1.07±0.07s)54 e também aos chineses da seleção nacional sub1737. Adicionalmente, os futebolistas avaliados no presente trabalho foram mais velozes do que jogadores da primeira divisão da Croácia (1.44±0.5s)35 e juniores tunisianos (2.16±0.5s55 e 1.4±0.15s49). Quanto à velocidade de 0‐10m expressa em unidade de tempo, os resultados encontrados no presente estudo foram superiores aos reportados em jogadores brasileiros juniores (1.71±0.14s) e adultos (1.74±0.11s) da primeira divisão do futebol paranaense56, da primeira divisão de Portugal (1.69±0.03s)57 e da primeira divisão da Inglaterra (1.75±0.08s)58; assemelharam‐se ainda aos encontrados em jogadores da primeira divisão da França (1.82±0.08s)59, da Inglaterra (1.83±0.08s)60, da Noruega (1.82±0.30s)61, sub17 estrangeiros que atuam na Bélgica (1.81±0.08s)54 e inferior aos encontrados em jogadores da primeira divisão da Croácia (2.27±0.4s)35, a futebolistas amadores espanhóis sub2162 (1.92±0.06s) e também aos chineses da seleção nacional sub17 (1.85±0.07s)37. Em relação ao tempo para a distância de 0‐20m, os resultados encontrados no presente estudo foram superiores aos encontrados por Wisloff et al.61 em jogadores noruegueses da elite (3.00±0.30s) e futebolistas brasileiros que atuam na primeira divisão paranaense (2.97±0.07s). O tempo de 0‐10m encontrado no presente trabalho também se assemelhou aos reportados em jogadores sub17 estrangeiros que atuam na Bélgica (3.12±0.12s)54, aos de futebolistas da seleção sub17 da China (3.18±0.11s)37 e ainda foram inferiores aos encontrados em jogadores croatas (3.38±0.7s)35 e espanhóis amadores sub21 (3.22±0.09s)62.
Quanto a influência do destreinamento na capacidade neuromuscular de jogadores de futebol, os resultados do presente estudo corroboram com estudos prévios que fizeram análise estatística quantitativa e demonstraram que curtos períodos de destreinamento não foram suficientes para provocar alterações metabólicas e/ou morfológicas que resultassem em queda de desempenho de velocidade, força e/ou potência7,63–66. Nesse sentido, seria plausível supor que o treinamento concorrente, comumente adotado no futebol, pudesse ocasionar reduções dos possíveis ganhos em variáveis de desempenho associados à força/velocidade/potência. Assim, quando os altos volumes de exercício aeróbio são suprimidos durante o destreinamento, eles podem anular as perdas do desempenho neuromuscular devido à retirada do efeito concorrente do treinamento67. Alguns autores, inclusive, têm sugerido que a capacidade da potência neuromuscular pode se manter inalterada mesmo após períodos de destreinamento de 90 dias6,68,69. De fato, os efeitos do destreinamento de curto e longo prazo já estão bem descritos na literatura6,7. No entanto, o conhecimento sobre os possíveis prejuízos causados pelo destreinamento no desempenho físico de jovens jogadores de futebol é limitado. Pelo menos até onde sabemos, descrevemos pela primeira vez os efeitos de 2 semanas de destreinamento na potência muscular e na velocidade de jovens jogadores da elite do futebol brasileiro, pois os estudos que verificaram o efeito do destreinamento em jovens jogadores de futebol reportam redução da capacidade e potência aeróbica após 6 semanas de destreinamento5 e redução na área de secção transversa e da atividade enzimática após 8 semanas de destreinamento10. No entanto, nenhum dos estudos citados avaliou potência e velocidade, o que impossibilita extrapolações em relação aos achados do presente estudo.
Sumarizando, os achados do presente trabalho sugerem que, apesar do aumento significante no %GC de jovens futebolistas de elite, 2 semanas de destreinamento não foram suficientes para produzir reduções significantes nos desempenhos de potência muscular e velocidade cíclica nesses atletas. Com isso, mesmo com algumas limitações do presente trabalho, os seus resultados trazem informações importantes para a área, especialmente pela inclusão das análises de TE e da inferência qualitativa que permitem determinar a magnitude do efeito de um determinado tratamento, podendo auxiliar os profissionais do esporte na interpretação e na aplicação desses resultados em questões que envolvem ajustes morfofuncionais de jovens atletas após intervenções de treinamento ou destreinamento e que são uma realidade das categorias menores do futebol brasileiro. Desse modo, os achados apresentados provocam reflexões acerca de alguns conceitos pré‐concebidos no futebol, como por exemplo, a ideia de que a pré ou a intertemporada devam concentrar altas cargas de trabalho físico com objetivo de se recuperar a forma física, supostamente, perdida durante as férias/recesso.
Conflito de interessesOs autores declaram não haver conflito de interesses.