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Vol. 13. Núm. 4.
Páginas 131-137 (octubre - diciembre 2015)
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Vol. 13. Núm. 4.
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A masturbação em homens jovens portugueses
Masturbation among young Portuguese males
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Henrique Pereira
Universidade da Beira Interior e Unidade de Investigação em Psicologia e Saúde, Covilhã, Portugal
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Tablas (8)
Tabela 1. Dados sociodemográficos (n=2020)
Tabela 2. Resultados para o número de vezes que se masturba por semana (n=2020)
Tabela 3. Resultados para a comparação do número médio de vezes que se masturba entre grupos (n=2020)
Tabela 4. Resultados para a idade média de início da atividade masturbatória comparativamente entre grupos (n=2020)
Tabela 5. Resultados para o modo como se sente quando se masturba, comparativamente entre grupo (n=2020)
Tabela 6. Resultados para a situação em que mais lhe apetece masturbar‐se (n=2020)
Tabela 7. Resultados para a altura do dia em que mais lhe apetece masturbar‐se (n=2020)
Tabela 8. Resultados para a masturbação mútua (n=2020)
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Resumo
Introdução

A masturbação masculina tem sido vista como um comportamento tabu não havendo pesquisa sistematizada em Portugal acerca deste tema.

Objetivos

Avaliar as práticas masturbatórias num grupo de homens jovens em Portugal, assim como comparar diferenças nessas práticas entre grupos particulares (idade, início da vida sexual ou orientação sexual).

Material e método

Participaram no estudo 2.020 homens jovens (média de idades=20,60, desvio padrão [DP]=2,73) que preencheram um questionário sociodemográfico e um questionário de práticas masturbatórias, medidas estas que foram disseminadas através da internet.

Resultados

A esmagadora maioria dos homens já tinha iniciado a sua vida sexual (81,3%) e identificaram‐se como heterossexuais (91,6%). Os resultados indicam que, em média, os homens masturbaram‐se 3,69 vezes por semana (DP=3,05), sendo que apenas 10,9% diz nunca se masturbar. Encontraram‐se diferenças significativas (F=2,743; p=0,047) entre orientações sexuais, sendo os homens homossexuais aqueles que se masturbam mais vezes. A idade da primeira vez que se masturbaram foi de 12,95 anos (DP=2,01, variando entre os 5 e os 18 anos). A maioria dos homens (35,4%) diz masturbar‐se quando se excita com pornografia e 60,4% dizem apetecer‐lhes masturbarem‐se antes de adormecer. Verificou‐se que a maioria dos homens responderam que não praticam masturbação mútua sem tocar na(o) parceira(o) (61,7%), mas 59,2% dos homens dizem que a praticam tocando na(o) parceira(o).

Conclusões

Os técnicos devem reconhecer que os homens jovens se masturbam de forma ampla e devem discutir a masturbação como uma atividade integradora e normativa do desenvolvimento humano e sexual.

Palavras‐chave:
Masturbação
Homens jovens
Portugal
Abstract
Introduction

Male masturbation has been seen as taboo behavior, and there is a lack of systematic research in Portugal regarding this topic.

Purpose

The purpose of this research was to evaluate the masturbatory practices of a group of young men in Portugal, as well as to compare differences in these practices between particular groups (age, onset of sexual activity or sexual orientation).

Materials and methods

A sample of 2020 young men (mean age=20.60, standard deviation [SD]=2.73) who completed a sociodemographic questionnaire and a questionnaire of masturbatory practices participated, and these measurements were disseminated on the internet.

Results

The vast majority of men had already started their sexual life (81.3%) and identified themselves as heterosexual (91.6%). The results indicate that on average, men masturbated 3.69 times per week (SD=3.05), whereas only 10.9% said that they never masturbated. Significant differences (F=2.743, p=0.047) were found between sexual orientations; gay men masturbated more often. The age of the first time they masturbated was 12.95 years (SD=2.01, ranging from 5 to 18 years). Most men (35.4%) said that they masturbated when aroused by pornography and 60.4% said they felt like masturbating before sleeping. It was found that the majority of men said they do not practice mutual masturbation touching their partner (61.7%), and 59.2% of men claimed that they did touch their partner.

Conclusions

Professionals should recognize that young men masturbate broadly and should discuss masturbation as an integrative activity of human and sexual development.

Keywords:
Masturbation
Young males
Portugal
Texto completo
Introdução

A masturbação masculina tem sido vista como um comportamento tabu para muitas pessoas na nossa sociedade. Durante séculos foi condenada pela cultura judaico‐cristã por se separar do objetivo central preconizado por ela: a reprodução. No século XIX produziram‐se posturas pseudocientíficas na Medicina e na Psiquiatria, atribuindo‐lhe a responsabilidade de muitas patologias, incluindo a depressão ou a psicose1, fazendo com que, na sociedade ocidental, tivéssemos assistido à associação da masturbação a sentimentos de culpabilidade sexual e atitudes sexuais mais negativas que, por sua vez, poderão ter influenciado o modo como foi estudada. De facto, só depois dos trabalhos de Kinsey2 é que foi possível determinar que 92% dos homens se tinham masturbado, iniciando um novo marco no modo de entender a masturbação como um fenómeno normativo. Estudos mais recentes colocam a percentagem de masturbação no último ano à volta dos 60% para os homens adultos3,4.

Ao mesmo tempo, nas últimas décadas, foi possível assistir a uma mudança radical no modo como as ciências sociais e biomédicas encararam e utilizaram a masturbação, por exemplo, como técnica útil na terapia sexual de algumas disfunções, mas sobretudo na validação da masturbação como atividade de acesso ao prazer sexual, ou seja, validando o autoerotismo como fonte de bem‐estar nos domínios físico, psicológico e social.

Apesar destas mudanças, ainda é notória a presença de mitos, crenças erróneas e atitudes negativas face à masturbação, assim como falta de informação acerca da mesma5, ou dificuldades em relatar que se pratica6. Ao mesmo tempo, não é possível dissociar a prática da masturbação de uma intensa atividade psicológica, sob a forma de fantasias sexuais, especialmente na juventude, encontrando aqui um caráter normalizador da exploração de desejo sexual nesta faixa etária, num contexto histórico‐social muito particular em que vivemos, com o advento da utilização da internet e do acesso generalizado à pornografia7.

A masturbação não envolve quaisquer riscos de gravidez ou infeções sexualmente transmissíveis e pode ter benefícios para a saúde sexual e emocional, tendo sido associada a experiências sexuais positivas na idade adulta quando praticada na infância e adolescência8, assim como a uma autoimagem positiva9. No que diz respeito à prática da masturbação entre adolescentes e jovens adultos, verifica‐se que é quase universal entre homens, sendo a idade do primeiro episódio aos 13 anos para 53% dos rapazes10, sendo também muito comum entre os adolescentes que têm um relacionamento significativo11. Ainda assim, os jovens parecem estar particularmente expostos às visões negativas que a sociedade constrói à sua volta e, infelizmente, os programas de educação sexual tendem a não incluir o tópico da masturbação como um tema de trabalho12, enquanto os pais tendem a ter muitas dificuldades na discussão com os seus filhos adolescentes, sendo um tema muito pouco debatido13.

Robbins et al.14 avaliaram a prevalência, frequência e associação da masturbação entre adolescentes e jovens, tendo verificado que 80% dos rapazes mais velhos se tinham masturbado no mês anterior, estando também associada ao comportamento sexual com parceiro assim como à utilização de preservativos. Todavia, não existem estudos que focalizem no estudo das práticas masturbatórias em homens adultos jovens em Portugal nem que procurem explorar eventuais determinantes psicossociais (idade, orientação sexual ou início da vida sexual) destas práticas. Assim, para preencher esta lacuna, levou‐se a cabo a presente investigação.

Materiais e métodos

Participaram neste estudo 2.020 homens jovens que colaboraram voluntariamente no preenchimento de um questionário disponibilizado numa página online construída para o efeito, após terem sido informados sobre os objetivos da investigação. Os critérios de inclusão para a participação no estudo foram: (1) serem homens; (2) terem entre 16‐30 anos de idade à data do preenchimento do questionário; e (3) serem portugueses. O recrutamento realizou‐se através de 2 métodos principais: (1) disseminação do site do questionário através redes sociais informais; e (2) pela internet, através de mailing lists.

A tabela 1 mostra que, em média, os homens tinham 20,60 anos de idade (desvio padrão [DP]=2,73), a maioria eram estudantes (77,6%) e diferenciados no que diz respeito à escolaridade, sendo que a maioria disse ter frequência universitária (43,9%) ou o 12.° ano (30,4%). Em relação ao meio geográfico de proveniência, verificou‐se que a maioria dos homens (73,3%) vive em meio urbano (grande ou pequeno). Relativamente à orientação sexual, a esmagadora maioria (91,6%) diz ser heterossexual. Finalmente, 81,3% dos homens diz já ter iniciado a sua vida sexual, tendo a idade média da primeira relação sexual sido os 16,54 anos (DP=1,66).

Tabela 1.

Dados sociodemográficos (n=2020)

  M (DP) 
Idade
16‐20  1151  57  20,60 (2,73) 
21‐30  869  43   
Ocupação
Estudante  1567  77,6   
Desempregado  113  5,6   
Trabalhador por conta de outrem  236  11,7   
Trabalhador por conta própria  66  3,3   
Trabalhador temporário  38  1,9   
Escolaridade
Até 9 anos de escolaridade  141  7,0   
Até 12 anos de escolaridade  614  30,4   
Frequência universitária  888  43,9   
Licenciatura  245  12,1   
Mestrado  114  5,6   
Outra  18  0,9   
Local de residência
Grande cidade  739  36,6   
Pequena cidade  739  36,6   
Grande meio rural  267  13,2   
Pequeno meio rural  275  13,6   
Orientação sexual
Heterossexual  1850  91,6   
Homossexual  85  4,2   
Bissexual  85  4,2   
Início da vida sexual
Sim  1642  81,3   
Não  378  18,7   
Idade da primeira relação sexual      16,54 (1,66) 
InstrumentosCaracterísticas demográficas

O questionário sociodemográfico avaliou questões como a idade, a ocupação profissional, o nível de escolaridade, o local de residência, a orientação sexual e o início da atividade sexual. O estudo foi desenhado apenas para homens, pelo que não se incluíram medidas acerca do género sexual. Para facilitar a análise da informação demográfica, as variáveis foram agrupadas em diferentes categorias.

Masturbação

O questionário de avaliação das práticas masturbatórias teve como objetivo recolher dados específicos acerca do modo como os homens recrutados se comportam a este respeito. Era constituído por 7 questões assim organizadas: (1) Em média, quantas vezes se masturba por semana?; (2) Com que idade começou a masturbar‐se?; (3) Como se sente quando se masturba? (satisfeito, culpabilizado, aliviado, envergonhado, preocupado, ansioso/tenso ou outro); (3) Em que situação mais lhe apetece masturbar‐se? (quando se excita com ideias românticas; quando se excita com pornografia, quando está triste, quando está tenso, outra situação); (4) Em que altura do dia mais lhe apetece masturbar‐se? (de manhã ao acordar, durante a manhã, à hora de almoço, durante a tarde, à hora de jantar, durante o serão ou antes de adormecer); (5) Normalmente utiliza algum tipo de acessórios ou brinquedos sexuais para ajudar na masturbação? (Sim ou Não); (6) Alguma vez se masturbou conjuntamente com outra pessoa ou com mais do que uma pessoa, sem tocar nos genitais da(s) outra(s) pessoa(s)? (Sim ou Não); e (7) Alguma vez se masturbou conjuntamente com outra pessoa ou com mais do que uma pessoa, tocando nos genitais da(s) outra(s) pessoa(s)? (Sim ou Não).

Resultados

Relativamente à frequência da masturbação, conforme foi avaliada pela resposta à pergunta «Em média, quantas vezes se masturba por semana?», verificou‐se que apenas 10,9% dos participantes indicou não se masturbar (0 vezes), sendo que a maioria (quase 20%) respondeu masturbar‐se 3 vezes por semana (média=3,69, DP=3,05). Treze vírgula nove por cento e 9% dos homens dizem masturbar‐se 5 e 4 vezes por semana, respetivamente (ver tabela 2).

Tabela 2.

Resultados para o número de vezes que se masturba por semana (n=2020)

  Média (DP) 
Quantas vezes      3,69 (3,05) 
221  10,9   
271  13,4   
301  14,9   
391  19,4   
181  9,0   
281  13,9   
21  1,0   
161  8,0   
20  1,0   
40  2,0   
10  91  4,5   
11 ou mais  41   

Do estabelecimento de grupos de comparação para a frequência da masturbação verificaram‐se diferenças estatisticamente significativas (F=2,743; p=0,047) entre orientações sexuais que nos indicam que são os homens homossexuais aqueles que se masturbam mais vezes por semana (ver tabela 3). Também se verificou que são os homens que ainda não iniciaram a sua vida sexual e também os mais novos aqueles que se masturbam mais vezes semanalmente, ainda que estas diferenças não sejam estatisticamente significativas.

Tabela 3.

Resultados para a comparação do número médio de vezes que se masturba entre grupos (n=2020)

  Média  Desvio‐padrão  F/t(df) 
Orientação sexual
Heterossexual  3,65  3,069  2.743  0,047* 
Homossexual  5,88  2,850     
Bissexual  2,56  1,878     
Início da vida sexual
Sim  3,60  3,138  ‐0,880 (199)  0,380 
Não  4,08  2,634     
Idade
16‐20  3,84  3,274  1.195 (193)  0,234 
21‐30  3,32  2,561     

Relativamente à idade da primeira masturbação, conforme foi avaliada pela resposta à pergunta «Com que idade começou a masturbar‐se?», verificou‐se que a média obtida foi de 12,95 anos (DP=2,01, variando entre os 5 e os 18 anos). Quando comparada a idade da primeira masturbação entre orientações sexuais, verificou‐se que foram os homens homossexuais aqueles que se masturbaram mais cedo pela primeira vez (F=5,581; p=0,004). Em relação ao início da vida sexual e a idade não se encontraram diferenças estatisticamente significativas (ver tabela 4).

Tabela 4.

Resultados para a idade média de início da atividade masturbatória comparativamente entre grupos (n=2020)

  Mean  Std. Deviation  F/t(df) 
Orientação sexual
Heterossexual  12,73  2,70  5.581  0,004* 
Homossexual  10,33  4,89     
Bissexual  10,11  6,13     
Início da vida sexual
Sim  12,57  2,77  0,666 (196)  0,506 
Não  12,18  4,41     
Idade
16‐20  12,26  3,43  –1,262 (190)  0,209 
21‐30  12,84  2,69     

A tabela 5 apresenta os resultados para a pergunta «Como se sente quando se masturba?», tendo‐se verificado que a maioria dos homens diz sentir‐se satisfeito (62,1%) ou aliviado (26,9%) e, ao mesmo tempo, não se verificaram quaisquer diferenças estatisticamente entre os grupos de comparação.

Tabela 5.

Resultados para o modo como se sente quando se masturba, comparativamente entre grupo (n=2020)

Satisfeito  Culpabilizado (%)  Aliviado (%)  Envergonhado (%)  Preocupado (%)  Outro (%)  χ2/(df) (%)   
Orientação sexual
Heterossexual  56,4  0,5  25,1  0,9  0,9  7,6  3.817 (10)  0,955 
Homossexual  3,3    0,9           
Bissexual  2,4    0,9      0,9     
Total  62,10  0,50  26,90  0,90  0,90  8,50     
Início da vida sexual
Sim  50,7  0,5  21,3  0,5  0,9  8,1  4,302 (5)  0,507 
Não  11,4    5,7  0,5    0,5     
Total  62,10  0,50  27,00  1,00  0,90  8,60     
Idade
16‐20  34,8    16,7  1,0  0,5  3,9  4.570 (5)  0,471 
21‐30  27,0  0,5  10,3    0,5  49     
Total  61,80  0,005  27,00  1,00  1,00  8,80     

Relativamente à pergunta «Em que situação mais lhe apetece masturbar‐se?», conforme se pode ver na tabela 6 a maioria dos homens (35,4%) diz masturbar‐se quando se excita com pornografia, seguindo‐se da excitação com ideias românticas ou outras circunstâncias (26,7%).

Tabela 6.

Resultados para a situação em que mais lhe apetece masturbar‐se (n=2020)

 
Quando se excita com ideias românticas  539  26,7 
Quando se excita com pornografia  716  35,4 
Quando está triste  20  1,0 
Quando está tenso  206  10,2 
Outro  539  26,7 

Já para a pergunta «Em que altura do dia mais lhe apetece masturbar‐se?», verificou‐se que a maioria dos homens diz apetecer‐lhe masturbar‐se antes de adormecer (60,4%), durante a tarde (13,9%) ou durante o serão (13,4%) (ver tabela 7).

Tabela 7.

Resultados para a altura do dia em que mais lhe apetece masturbar‐se (n=2020)

 
De manhã ao acordar  159  7,9 
Durante a manhã  51  2,5 
À hora de almoço  20  1,0 
Durante a tarde  280  13,9 
À hora de jantar  20  1,0 
Durante o serão  270  13,4 
Antes de adormecer  1220  60,4 

Relativamente à pergunta «Alguma vez se masturbou conjuntamente com outra pessoa ou com mais do que uma pessoa, sem tocar nos genitais da(s) outra(s) pessoa(s)?», verificou‐se que a maioria dos homens responderam que não (61,7%), mas à pergunta «Alguma vez se masturbou conjuntamente com outra pessoa ou com mais do que uma pessoa, tocando nos genitais da(s) outra(s) pessoa(s)?» os resultados já indicam que 59,2% dos homens disseram que sim (ver tabela 8).

Tabela 8.

Resultados para a masturbação mútua (n=2020)

  Masturbação mútua sem toqueMasturbação mútua com toque
 
Sim  774  38,3  1.195  59,2 
Não  1.246  61,7  825  40,8 
Discussão

O presente estudo avaliou as práticas masturbatórias em homens jovens adultos portugueses, contribuindo assim para o preenchimento de uma lacuna relativa à pesquisa em Portugal nesta temática. Os resultados obtidos sugerem que a masturbação é uma prática amplamente difundida entre os homens, apesar da invisibilidade a que está sujeita no contexto histórico‐cultural atual. Por um lado, a masturbação tem sido entendida como um comportamento de «substituição» para os homens, algo que possam fazer na ausência de circunstâncias mais favoráveis à ocorrência de sexo «regular», quando os participantes deste estudo afirmaram fazê‐lo sobretudo quando vêm pornografia. Por outro lado, tal como nos indicam outros estudos3,4,15,16, o facto de terem formação académica parece estar mais associado à maior frequência.

Fica claro que, ao contrário da crença popular, os homens dizem sentir‐se satisfeitos e aliviados com a masturbação, levando a aceitar a ideia dos benefícios emocionais desta prática ou, eventualmente, possam utilizar a masturbação como uma espécie de automedicação para mediar o stress, a tensão ou a depressão a que estejam sujeitos17.

O facto de se terem encontrado algumas diferenças significativas entre diferentes orientações sexuais, no sentido de demonstrar que os homens homossexuais se masturbam mais do que os heterossexuais, poderá também ser um indicar desta tendência, na medida em que os homens homossexuais poderão estar mais sujeitos ao stress próprio de se pertencer a uma minoria sexual que ainda acarreta muita negatividade18.

Tal como confirmado por outros estudos19,20 fica demonstrado que a masturbação está associada a uma vivência positiva da sexualidade humana, ainda que não capture os efeitos positivos de uma interação mais relacional, embora também tenha ficado claro que muitos destes homens praticam a masturbação mútua como uma forma de expressão sexual nas suas relações íntimas.

Comparativamente a outros estudos3 a frequência masturbatória parece ser mais elevada em Portugal. Apesar das medidas não serem totalmente comparáveis e o efeito da desejabilidade social poder ter tido algum impacto, fica claro que estes jovens homens utilizam a masturbação como um meio sem risco de saúde pública para a satisfação do desejo sexual.

A estimulação por via da pornografia assume uma nova realidade social no século XXI e a respetiva universalização do acesso à internet, com o consequente confinar da masturbação à via solitária, o que poderá acarretar um problema social associado a uma certa desumanização das relações sociais em geral. Trata‐se de um problema social que merece a nossa atenção na investigação futura nesta área, que carece mais investimento e atenção, na medida em que a masturbação descreve um ato banal, frequente e sem complicações para os jovens homens, ainda que persista o tabu a ela associado. Em suma, os cuidadores, técnicos de saúde e outros técnicos devem reconhecer que os jovens homens se masturbam amplamente e devem discutir a masturbação como uma atividade integral e normal do desenvolvimento sexual.

Responsabilidades éticasDireito à privacidade e consentimento escrito

Os autores declaram ter recebido consentimento escrito dos pacientes e/ou sujeitos mencionados no artigo. O autor para correspondência deve estar na posse deste documento.

Confidencialidade dos dados

Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.

Proteção de pessoas e animais

Os autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

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