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Inicio Revista Internacional de Andrología Validação portuguesa da Nova Escala de Satisfação Sexual
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Vol. 13. Núm. 2.
Páginas 47-53 (abril - junio 2015)
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Vol. 13. Núm. 2.
Páginas 47-53 (abril - junio 2015)
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Validação portuguesa da Nova Escala de Satisfação Sexual
Portuguese validation of the New Sexual Satisfaction Scale
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1910
Pedro Santos Pechorroa,
Autor para correspondencia
ppechorro@gmail.com

Autor para correspondência.
, Ana Isabel Almeidab, Catarina Soares Figueiredob, Patrícia Monteiro Pascoalc, Rui Xavier Vieirad, Saul Neves Jesusa
a Centro de Investigação sobre Espaço e Organizações, Universidade do Algarve, Faro, Portugal
b Instituto Universitário da Maia, Maia, Portugal
c Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade do Porto, Porto, Portugal
d Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal
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Tabela 1. Análise de componentes principais
Tabela 2. Matriz de correlações, alfas de Cronbach, médias das correlações inter‐itens e amplitudes das correlações item‐total corrigidas
Tabela 3. Validade convergente com a SSSS, validade divergente com a SBS e validade concorrente com a frequência de atividade sexual e a satisfação com vida sexual
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Resumo
Introdução

A satisfação sexual constitui atualmente um constructo essencial no campo do estudo da sexualidade humana.

Objetivo

A presente investigação teve como objetivo proceder à validação da versão portuguesa da Nova Escala de Satisfação Sexual (NSSS), instrumento bidimensional que avalia a satisfação sexual em homens e mulheres.

Material e métodos

Recorreu‐se a um total de 298 participantes de ambos os sexos, os quais preencheram o questionário com a tradução para português da NSSS.

Resultados

Foram demonstradas as principais propriedades psicométricas da validação da NSSS.

Discussão

A estrutura bidimensional original da NSSS foi replicada e obtiveram‐se valores bons a nível de consistência interna, de validade convergente e de validade concorrente.

Conclusões

As boas propriedades psicométricas encontradas justificam e reforçam a recomendação de utilização da NSSS na população portuguesa.

Palavras‐chave:
Avaliação
Satisfação Sexual
Validação
Abstract
Introduction

Sexual satisfaction is an essential construct in the study of human sexuality.

Objective

The aim of the present study was to validate the Portuguese version of the New Sexual Satisfaction Scale (NSSS), a bidimensional scale that assesses sexual satisfaction among men and women.

Material and methods

A total of 298 participants completed the Portuguese version of the NSSS.

Results

The main psychometric properties of the Portuguese version of the NSSS were assessed.

Discussion

The original bidimensional structure of the NSSS was replicated and good values were also obtained in terms of internal consistency, convergent validity, divergent validity and concurrent validity.

Conclusions

The use of the Portuguese version of the NSSS is justified and reinforced since it has sound psychometric properties.

Keywords:
Assessment
Sexual Satisfaction
Validation
Texto completo
Introdução

A satisfação sexual é um indicador de saúde sexual que representa um resultado positivo da atividade sexual associado ao bem‐estar geral1, à saúde individual2 e ao ajustamento relacional3. Devido à sua importância no ajustamento individual e relacional o estudo desta dimensão tem crescido exponencialmente nas 2 últimas décadas associando‐se a uma grande diversidade de instrumentos desenvolvidos para a sua avaliação4. Contudo, esta diversidade de medidas tem criado problemas uma vez que compromete a comparabilidade dos estudos entre si. Num trabalho de investigação recente5 que contribui para superar esta dificuldade de seleção de medidas, foram comparadas a validade e a fiabilidade de diversas medidas de avaliação da satisfação sexual em diversas amostras, tendo‐se concluído que nem todas apresentam os mesmos níveis de qualidade em termos de validade e fiabilidade.

Até recentemente considerava‐se a inexistência de problemas ou disfunções sexuais como pré‐requisito único para a aquisição de uma vida sexual satisfatória. Esta visão estava enraizada nos modelos de funcionamento sexual tradicionais que enfatizavam que a saúde e satisfação sexuais advinham do cumprimento de uma sucessão linear de etapas, com tradução fisiológica, que conduziam ao orgasmo. Esta conceptualização tem sido gradualmente abandonada uma vez que a Organização Mundial da Saúde6 considera que a satisfação sexual é um importante indicador da saúde e bem‐estar sexual dentro de uma conceptualização de saúde sexual que enfatiza os aspetos positivos da sexualidade. A satisfação sexual é o resultado de uma vida sexual saudável, é também um direito sexual e é um dos principais motivos pelo qual as pessoas têm atividade sexual7.

É nos estudos relativos ao ajustamento relacional que esta dimensão tem adquirido maior protagonismo. A satisfação sexual tem uma relação forte e bidirecional com a satisfação conjugal8 e a investigação tem demonstrado que os casais que têm uma vida sexual mais satisfatória têm maior probabilidade de se manter juntos9. Esta interligação conduziu a que alguns autores defendessem que a satisfação sexual é o «barómetro da vida conjugal»10. Esta designação apoia‐se na forte associação entre satisfação sexual e intimidade, expressão de afetos, apoio emocional, quantidade de tempo em comum, comunicação geral e sobre sexualidade, conflitos e resolução de conflitos, equidade, consideração de alternativas à relação e ao parceiro, confiança, perceção positiva do parceiro, amor e satisfação com a relação e com o parceiro11–15. A satisfação sexual tornou‐se, assim, um conceito central no estudo do ajustamento e qualidade conjugais.

Apesar do consenso relativamente à importância da satisfação sexual nas relações amorosas de compromisso, a nossa revisão da literatura revelou que as definições conceptuais da satisfação sexual, assim como as definições operacionais, são derivadas das conceções teóricas dos investigadores e os poucos modelos teóricos existentes raramente utilizam metodologias qualitativas para compreender através das significações pessoais dos participantes quais os principais temas que se associam às conceções de satisfação sexual. Existe uma enorme diversidade de medidas que avaliam este constructo utilizando indicadores díspares e bastante variáveis, o que não permite a comparação dos estudos entre si. Inicialmente as definições deste constructo foram tautológicas e as medidas utilizadas consistentes com esta abordagem eram medidas de item único e questionava‐se diretamente se as pessoas estavam satisfeitas com a sua vida sexual. Gradualmente os estudos na área diversificaram‐se e novas medidas apareceram16 com variáveis associadas à insatisfação sexual4 ou construídas a pensar especificamente na população feminina17.

Recentemente, Pascoal, Narciso e Pereira18 analisaram, junto de 760 pessoas heterossexuais em relações de compromisso e exclusividade, respostas escritas à questão: «Como define a satisfação sexual?». Este trabalhou revelou que a satisfação sexual é um constructo semelhante para homens e mulheres, caracterizado por sentimentos positivos e que não se define pela ausência de problemas ou sofrimento, mas sim pela interligação de dimensões associadas ao bem‐estar individual (e. g., prazer) com dimensões relacionais (e. g., mutualidade). Uma das implicações deste trabalho é que permite, partindo das definições de leigos, selecionar medidas de satisfação sexual que sejam consistentes com esta definição.

Uma análise de algumas medidas já disponíveis e validadas demonstra que a New Sexual Satisfaction Scale (NSSS)19,20 é aquela cujos fatores mais se aproximam da definição de satisfação sexual dada pela população portuguesa. A NSSS foi desenvolvida originalmente a partir de um modelo teórico conceptual com 5 dimensões (sensações sexuais, foco e atenção sexual, trocas sexuais, proximidade emocional e atividade sexual) e foi desenhada para que pudesse ser aplicada a ambos os géneros, a todas as orientações sexuais, idades e estruturas relacionais. O processo de construção da NSSS foi levado a cabo através de recolha de dados online em 2 países (Croácia e Estados Unidos da América) com 7 amostras distintas, 5 na Croácia e 2 nos Estados Unidos. As 5 amostras na Croácia diferiam entre si na medida em que havia 2 amostras de estudantes (n=544 e n=244, sendo esta última utilizada para efeitos de estudo da estabilidade temporal), uma amostra da comunidade (n=729), uma amostra clínica (n=54) e uma amostra de lésbicas, homossexuais e bissexuais (n=360). A amostra dos Estados Unidos era constituída por uma subamostra de estudantes (n=356) e outra subamostra recolhida na comunidade (n=212). A amostra final de ambos os países foi constituída por mais de 2.000 participantes entre os 18 e os 55 anos. As análises fatoriais exploratórias desenvolvidas na maior amostra de estudantes e também na amostra da comunidade da Croácia não confirmaram o modelo conceptual penta‐dimensional proposto à partida, mas sugeriram sim a existência de uma estrutura bidimensional constituída por uma subescala de Centração no Eu (Ego‐centered Subscale) e uma subescala de Centração no Parceiro e na Atividade Sexual (Partner‐ and Sexual Activity‐centered Subscale). A versão final da NSSS ficou constituída por 20 itens. Os resultados da NSSS apresentam boa estabilidade teste‐reteste ao fim de um mês após a primeira aplicação junto de uma amostra de estudantes croatas (n=212).

O presente trabalho refere‐se ao processo de validação da NSSS numa amostra comunitária da população portuguesa uma vez que a satisfação sexual é um indicador importante de saúde sexual que apresenta uma relação forte com a satisfação relacional e ajustamento conjugal. O seu estudo é, consequentemente, importante para a avaliação e promoção da saúde individual e relacional. A escolha desta medida é justificada pelos bons resultados psicométricos que tem apresentado em diferentes países19,20, pelos bons resultados psicométricos que tem apresentado comparativamente a outras medidas existentes5. Dado que em Portugal são raros os casos de medidas no campo da sexualidade validadas com sucesso (e. g., IIEF‐521), a escolha da NSSS pareceu‐nos particularmente adequada para fomentar o desenvolvimento da investigação em satisfação sexual.

Objetivos

A nível internacional, particularmente em Portugal, existe a necessidade de proceder à validação de instrumentos psicométricos relativos ao campo da sexualidade humana que demonstrem cumprir critérios métricos rigorosos. O objetivo do presente artigo consistiu em proceder à validação portuguesa da NSSS, replicando alguns dos procedimentos métricos utilizados na construção desta escala. Desta forma, pretende‐se fundamentar empiricamente a utilização da NSSS a nível de investigação e de prática clínica em Portugal.

Material e métodosParticipantes

A amostra normativa de conveniência da população geral foi constituída por 298 participantes (média=30,57 anos; desvio‐padrão=9,57 anos; amplitude=18‐63 anos) residentes em meio urbano. Desse total de participantes 51% eram mulheres e 49% eram homens. Em relação ao estado civil, 56,4% eram solteiros, 26,5% eram casados/em união de facto, 4,8% eram divorciados/separados e 12,3% tinham outro estado civil (e. g., viúvo) ou não responderam. Relativamente à escolaridade, 3,7% tinham o ensino básico, 17,6% o ensino secundário, 77,1% o ensino superior e 1,6% não responderam. Em termos de números de parceiros sexuais atuais, 92,6% afirmaram ter apenas um parceiro sexual, 1,6% afirmaram ter mais de um parceiro sexual e 5,8% não responderam. No que diz respeito à frequência de atividade sexual, 22,9% referiram 1‐2 vezes por mês, 61,7% referiram 1‐3 vezes por semana, 10,6% referiram 4‐6 vezes por semana, 1,1% mais de 7 vezes por semana e 3,7% não responderam.

Instrumentos

A NSSS19,20 é uma escala de 20 itens com uma estrutura fatorial bidimensional constituída por uma subescala de Centração no Eu (Subescala A: itens 1‐10) e uma subescala de Centração no Parceiro e na Atividade Sexual (Subescala B: itens 11‐20). Os itens que constituem a NSSS são ordinais de 5 pontos (de 1=Nada Satisfeito a 5=Totalmente Satisfeito). As pontuações de cada dimensão são obtidas pela soma das pontuações dos itens individuais dessa dimensão e a pontuação total da NSSS é obtida pela soma das pontuações de todos itens. A NSSS pode ser utilizada com homens e mulheres, tendo sido desenvolvida a partir de amostras comunitárias, amostras clínicas e amostras de estudantes universitários. A NSSS tem demonstrado possuir boas propriedades psicométricas a nível de validade e fiabilidade. Valores altos na pontuação da escala correspondem a níveis altos de satisfação sexual.

A Escala de Busca de Sensações Sexuais (Sexual Sensation Seeking Scale – SSSS22,23) é uma escala unidimensional com 10 itens concebida para avaliar a busca de sensações sexuais – definida como a necessidade de ter experiências sexuais novas e variadas, e de correr riscos físicos e sociais com o objetivo de aumentar as sensações sexuais. Os itens que constituem a SSSS são ordinais de 4 pontos (de 1=Discordo totalmente a 4=Concordo totalmente). A SSSS pode ser utilizada com homens e mulheres, adultos ou adolescentes, tendo sido desenvolvida a partir de amostras comunitárias, amostras clínicas e amostras escolares/universitárias. A SSSS tem demonstrado possuir boas propriedades psicométricas a nível de validade e fiabilidade. Valores altos na pontuação da escala correspondem a níveis altos de busca de sensações sexuais. A SSSS foi utilizada na presente investigação para efetuar a validade convergente, tendo a consistência interna por alfa de Cronbach obtida sido 0,74.

A Escala de Aborrecimento Sexual (Sexual Boredom Scale – SBS24) é uma medida unidimensional com 18 itens que avalia o aborrecimento sexual, i. e., a tendência de determinada pessoa em sentir‐se aborrecida com os diversos aspetos da sua vida sexual. Os itens que constituem a SBS foram originalmente formulados em formato ordinal de 7 pontos (de 1=Discordo totalmente a 7=Concordo totalmente), mas também têm sido utilizados com o formato ordinal de 5 pontos (de 1=Discordo totalmente a 5=Concordo totalmente). A SBS pode ser utilizada com homens e mulheres, tendo sido originalmente desenvolvida a partir de diversas amostras de estudantes universitários e posteriormente validada na população comunitária25. A SBS tem demonstrado possuir boas propriedades psicométricas a nível de validade e fiabilidade. Valores altos na pontuação da escala correspondem a níveis mais altos de aborrecimento sexual. A SBS foi utilizada na presente investigação para efetuar a validade divergente, tendo a consistência interna por alfa de Cronbach obtida sido 0,93.

Foi construído adicionalmente um questionário sociodemográfico através do qual se pretendeu recolher informação acerca de cada participante, nomeadamente: idade, sexo, nacionalidade, escolaridade, profissão, estado civil, duração do relacionamento atual, número de parceiros sexuais, frequência de atividade sexual (codificada como item ordinal de 5 pontos) e satisfação com vida sexual (codificada como item ordinal de 5 pontos).

Procedimentos

Foi contatado o primeiro autor da NSSS, nomeadamente Aleksandar Stulhofer, no sentido de obter permissão para se efetuar a validação portuguesa da NSSS, tendo este respondido que concedia a permissão solicitada. Inicialmente foi feita uma tradução do instrumento com a colaboração de um tradutor‐especialista, seguindo os procedimentos recomendados adequados26. Os itens foram traduzidos literalmente sempre que o seu significado em português o permitisse, mas quando tal não era possível optou‐se por uma tradução menos literal que captasse o sentido do item original. Foram de seguida feitas algumas aplicações experimentais, empregando‐se para tal um contexto de grupo de foco e um contexto individual. A partir destas aplicações evidenciou‐se a necessidade de proceder a algumas pequenas correções adicionais à tradução de forma a facilitar a leitura por parte dos participantes com níveis de escolaridade mais baixos, tendo‐se chegado assim à versão final da escala.

Através do termo de consentimento informado que precedia o questionário, todos os participantes foram informados que o objetivo era fazer a validação da NSSS para a população portuguesa, que apenas os investigadores teriam acesso às respostas dos instrumentos de avaliação e que a participação era voluntária. Informou‐se ainda que esta pesquisa tinha um carácter académico e que os investigadores não estariam interessados em resultados individuais, mas sim na análise estatística que abrangeria todas as respostas recolhidas. Recrutaram‐se os participantes constituintes da amostra normativa de conveniência da população geral em instituições de ensino superior (Instituto Universitário da Maia, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias) que incluíram alunos e funcionários. Após a recolha dos dados procedeu‐se à seleção dos questionários que cumpriam os critérios da investigação, tendo sido excluídos os que não os cumpriam. Os critérios mínimos estabelecidos na inclusão dos participantes na presente investigação foram ter nacionalidade portuguesa, ser maior de idade (18 ou mais anos de idade) e ter um relacionamento sexual há pelo menos 3 meses.

Os dados obtidos foram inseridos e tratados no software IBM SPSS v2227. Após a inserção dos dados foi recolhida uma amostra de cerca de 30% dos questionários inseridos na base de dados de forma a avaliar a qualidade de inserção, que veio a ser considerada boa dada a quase inexistência de erros de inserção. No tratamento de dados propriamente dito recorreu‐se aos procedimentos estatísticos adequados28, nomeadamente: análise de componentes principais (ACP), coeficiente alfa de Cronbach e correlações de Pearson, além de estatísticas descritivas (e. g., médias, desvios‐padrão).

Resultados

O passo inicial da validação da NSSS foi a ACP dos itens da NSSS. Dado que a NSSS é tida como uma medida bidimensional forçou‐se a extração de 2 componentes empregando rotação Varimax, tendo o teste de Kaiser‐Meyer‐Olkin (KMO) indicado um valor de 0,94 e o teste de Bartlett sido estatisticamente significativo (χ2=3.434,12; p ≤0,001)28. Os critérios do Eigenvalue e do Scree plot foram compatíveis com a existência duma estrutura bidimensional, que se veio a verificar ser responsável por 69% da variância total. Como critério de eventual exclusão de itens utilizou‐se o nível carga fatorial inferior a 0,50, tendo sido possível constatar que todos os itens cumpriram esse patamar. De salientar que o item 10 e o item 11 saturaram de forma cruzada nas dimensões opostas (ver tabela 1).

Tabela 1.

Análise de componentes principais

Itens  Fator 1  Fator 2 
1. A intensidade da minha excitação sexual  0,69   
2. A qualidade dos meus orgasmos  0,73   
3. A capacidade de me “soltar” e me entregar ao prazer sexual durante as relações  0,85   
4. A minha capacidade de me concentrar na atividade sexual  0,86   
5. A forma como eu reajo sexualmente ao(à) meu(minha) parceiro(a)  0,83   
6. O funcionamento sexual do meu corpo  0,85   
7. O meu à‐vontade emocional durante o sexo  0,82   
8. O meu humor depois da atividade sexual  0,71   
9. A frequência dos meus orgasmos  0,73   
10. O prazer que eu proporciono ao meu(minha) parceiro(a) sexual  0,58  0,53 
11. O equilíbrio entre o que eu dou e o que eu recebo durante o sexo  0,53  0,6 
12. O à‐vontade do(a) meu(minha) parceiro(a) durante o sexo    0,78 
13. A capacidade do(a) meu(minha) parceiro(a) em iniciar a atividade sexual    0,85 
14. A capacidade do(a) meu(minha) parceiro(a) em ter orgasmos    0,81 
15. A capacidade do(a) meu(minha) parceiro(a) se “soltar” e entregar ao prazer sexual    0,88 
16. A forma como o(a) meu(minha) parceiro(a) satisfaz as minhas necessidades sexuais    0,76 
17. A criatividade sexual do(a) meu(minha) parceiro(a)    0,72 
18. A disponibilidade sexual do(a) meu(minha) parceiro(a)    0,84 
19. A diversidade das minhas atividades sexuais    0,63 
20. A frequência da minha atividade sexual    0,58 
Eigenvalue  11,44  2,36 
Variância  57,20%  11,80% 

O passo seguinte consistiu em calcular a matriz de correlações, a consistência interna por alfa de Cronbach, as médias das correlações inter‐itens e as amplitudes de correlações item‐total corrigidas (ver tabela 2).

Tabela 2.

Matriz de correlações, alfas de Cronbach, médias das correlações inter‐itens e amplitudes das correlações item‐total corrigidas

  NSSS total  Subescala A  Subescala B  Alfa  MCII  ACITC 
NSSS total      0,96  0,55  0,58‐0,81 
Subescala A  0,93***    0,95  0,65  0,69‐0,85 
Subescala B  0,93***  0,72***  0,94  0,63  0,61‐0,83 

ACITC: amplitudes das correlações item‐total corrigidas; Alfa: alfa de Cronbach; MCII: médias das correlações inter‐itens; NSSS: Nova Escala de Satisfação Sexual; Subescala A: Centração no Eu; Subescala B: Centração no Parceiro e na Atividade Sexual.

***

significativo ao nível 0,001.

A validade convergente da NSSS e suas dimensões com a SSSS demonstrou correlações positivas estatisticamente significativas, enquanto a validade divergente com a SBS demonstrou correlações negativas estatisticamente significativas. A validade concorrente com os itens ordinais de frequência de atividade sexual e de satisfação com a vida sexual demonstrou correlações positivas estatisticamente significativas (ver tabela 3).

Tabela 3.

Validade convergente com a SSSS, validade divergente com a SBS e validade concorrente com a frequência de atividade sexual e a satisfação com vida sexual

  NSSS total  Subescala A  Subescala B 
SSSS  0,19*  0,21**  0,15* 
SBS  −0,43***  −0,44***  −0,37*** 
FAS  0,21**  0,17*  0,21** 
SVS  0,64***  0,55***  0,63*** 

FAS: frequência de atividade sexual; NSSS:Nova Escala de Satisfação Sexual; SBS: Escala de Aborrecimento Sexual; Subescala A: Centração no Eu; Subescala B: Centração no Parceiro e na Atividade Sexual; SSSS: Escala de Busca de Sensações Sexuais; SVS: satisfação com vida sexual.

***

significativo ao nível 0,001.

**

significativo ao nível 0,01.

*

significativo ao nível 0,05.

Discussão

O objetivo da presente investigação consistiu em validar a versão portuguesa da NSSS. O primeiro passo no processo de validação deste instrumento de avaliação da satisfação sexual foi a avaliação da estrutura fatorial da NSSS através ACP, que tem demonstrado ser uma técnica estatística robusta mesmo quando utilizada em variáveis ordinais que não obedecem a uma distribuição normal estrita. Os bons valores obtidos previamente pelos testes KMO e Bartlett indicaram a adequabilidade do cálculo da ACP28. Através dos critérios do Eigenvalue e do Scree plot corroboraram a existência da estrutura bidimensional esperada sem ser necessário proceder à exclusão de itens. Apesar de haver 2 itens que saturaram de forma cruzada nas 2 dimensões, nomeadamente o item 10 e o item 11, cada um deles teve sempre uma saturação mais elevada na dimensão a que se postulava que pertencesse29.

Relativamente à matriz de correlações entre da NSSS total e suas encontramos associações fortes sempre superiores a 0,70, que de uma forma geral são consistentes com as descritas no instrumento original19,20 e até mais fortes. No que diz respeito à fiabilidade através do alfa de Cronbach verificou‐se que obtivemos valores bastante bons e semelhantes aos reportados pelos autores da escala original, sempre acima de 0,9429. No que diz respeito às médias das correlações inter‐itens para escala total e suas dimensões, obtiveram‐se valores excessivamente elevados (acima de 0,50) que poderão indiciar alguma redundância na homogeneidade dos itens30. Em termos das amplitudes de correlações item‐total corrigidas obtiveram‐se bons resultados dado que estas estiveram sempre acima de 0,30 quer considerando as dimensões isoladamente quer considerando a escala total31.

Relativamente à validade convergente da NSSS e suas dimensões efetuada com a SSSS obtiveram‐se correlações positivas estatisticamente significativas e tendencialmente moderadas; tais correlações já seriam expectáveis dado que teoricamente existe uma sobreposição considerável entre os constructos de satisfação sexual e de busca de sensações sexuais29. Na validade divergente os resultados evidenciaram também bons valores dado terem‐se comprovado as correlações negativas estatisticamente significativas esperadas com a SBS devido aos constructos medidos serem conceptualmente diferentes. Na validade concorrente da NSSS com as variáveis frequência de atividade sexual e satisfação com vida sexual obtiveram‐se as correlações positivas estatisticamente significativas e tendencialmente moderadas a altas que eram esperadas32.

Em termos dos resultados obtidos pela presente investigação devemos salientar algumas limitações. O facto de termos utilizado uma amostra de conveniência exclusivamente urbana e com um nível de escolaridade superior originará alguma falta de representatividade dos nossos participantes face à população a nível nacional. Relativamente aos procedimentos técnicos de análise das propriedades psicométricas da NSSS, futuramente poder‐se‐á continuar o processo através de outros procedimentos complementares (e. g., estabilidade temporal, validade de grupos conhecidos)32.

Conclusões

É possível concluir que processo de validação da NSSS para a população portuguesa se revelou satisfatório dado que foi possível demonstrar a existência de propriedades psicométricas adequadas muito semelhantes às da escala original. Os investigadores e especialistas na área da sexualidade humana têm agora à sua disposição um instrumento de autorresposta breve devidamente validado para avaliar a satisfação sexual em homens e mulheres portugueses.

Responsabilidaes éticasProteção de pessoas e animais

Os autores declaram que os procedimentos seguidos estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica e Ética e de acordo com os da Associação Médica Mundial e da Declaração de Helsinki.

Confidencialidade dos dados

Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro de trabalho acerca da publicação dos dados de pacientes.

Direito à privacidade e consentimento escrito

Os autores declaram ter recebido consentimento escrito dos pacientes e/ou sujeitos mencionados no artigo. O autor para correspondência deve estar na posse deste documento.

Financiamento

A presente investigação foi parcialmente financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) de Portugal.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de intereses.

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