Introdução: Os pacientes adultos são cada vez mais comuns na prática clínica de Ortodontia e, frequentemente, necessitam de reabilitação protética. Torna‐se indispensável um planeamento multidisciplinar para que o tratamento possa cumprir as necessidades individuais de cada caso. As restaurações implanto‐suportadas tornaram‐se uma solução terapêutica globalmente aceite, sendo mais conservadora que a prótese fixa convencional. Quando o volume ósseo não é suficiente para a colocação do implante, o movimento ortodôntico proporciona um meio de incremento do processo dentoalveolar, criando um leito implantar mais adequado. As reabilitações do setor antero‐superior, pelo seu impacto estético, representam um desafio. O papel da “ortodontia periodontal” na regeneração óssea, através do procedimento de extrusão ou “extração ortodôntica”, representa um meio auxiliar na melhoria dos componentes tecidulares deficitários, promovendo o aumento do volume ósseo vertical e consequentemente do tecidos moles. O objectivo deste trabalho é realçar o papel da ortodontia na melhoria e regeneração das condições tecidulares em reabilitações oclusais interdisciplinares.
Casos clínicos: Caso 1 ‐ Paciente do género masculino, 20 anos. A radiografia panorâmica revela imagem radiolúcida na região do 1.3 (ausente). Procedeu‐se à exerese total da lesão seguida da reabilitação com prótese removível acrílica para substituição do dente 1.3. Passados oito anos, decidiu‐se avaliar a viabilidade de uma reabilitação fixa implanto‐suportada. Propôs‐se um protocolo de tratamento multidisciplinar envolvendo ortodontia prévia à reabilitação, através da mesialização do 1.4 para a posição do 1.3, passando aquele a ser substituído por um implante. O objetivo da ortodontia visava não só a correção da má‐oclusão, mas também promover a regeneração óssea com finalidades reabilitadoras. Caso 2 – Paciente do género masculino, 35 anos. O motivo da consulta foi o surgimento de um espaço entre o dente 2.1 e 2.2. O exame radiográfico permitiu detetar uma lesão radiolúcida entre os dentes 2.1 e 2.2. Da sua remoção resultou em defeito ósseo comprometendo a viabilidade do 2.1. O estudo ocluso‐funcional atribuíu à má‐oclusão e à carga excessiva exercida a nível anterior um papel coadjuvante na progressão da lesão periodontal. Assim, a ortodontia foi chamada a atuar em dois tempos. Primeiro no sentido de equilibrar a má‐oclusão e, numa segunda fase, para permitir a regeneração óssea através da “extração ortodôntica”, de forma a criar um leito implantar mais adequado.
Discussão e conclusões: Vários autores defendem a importância de protocolos de tratamento interdisciplinar onde o movimento ortodôntico tem um papel relevante como auxiliar na regeneração tecidular, podendo reduzir ou eliminar defeitos ósseos, promovendo volumes ósseos e gengivais adequados. Num tratamento reabilitador, a ortodontia desempenha um papel muito importante, uma vez que o movimento dentário pode representar um meio de incremento dos volumes ósseo e gengival do próprio indivíduo mediante um método não invasivo.