Introdução: A Ortopedia Funcional dos Maxilares existe à mais de um século e todos os seus autores, sempre tiveram como objetivo principal a obtenção de novos padrões funcionais para uma determinada má‐oclusão, através de uma aparatologia que, de forma geral, provoque alterações dos reflexos neuromusculares levando o Sistema Estomatognático a um estado de equilíbrio, estética e excelência funcional. O ponto de partida num tratamento ortopédico funcional é a correta excitação neural da dinâmica de uma determinada região do Sistema Estomatognático, primordialmente modificando a postura e posição da mandíbula, atuando sobre o tónus neuromuscular, que é um dos principais moduladores do crescimento ósseo. A articulação temporo‐mandibular não é uma estrutura imutável, mas uma articulação capaz de se adaptar às alterações funcionais. Posições inconvenientes do côndilo devem ser modificadas para nova condição fisiológica, como forma de prevenção de futuras disfunções temporo‐mandibulares. Wilma Simões preconizou a existência de vários tipos de mudança de postura terapêutica mandibular, induzindo movimentos de rotação e/ ou translação. Os aparelhos ortopédicos funcionais alteram a relação maxilo‐mandibular, obtendo como resposta o aumento do comprimento suplementar da mandibula e relações músculo‐esqueléticas mais estáveis.
Caso clínico: Será apresentado um caso clínico de um paciente do sexo masculino de 10 anos de idade com uma má‐oclusão de classe II esquelética e dentária, com retrognatismo mandibular. Foi efetuada uma mudança de postura terapêutica mandibular de translação no sentido sagital. Foi tratado com aparelho ortopédico funcional denominado Pistas Indiretas Planas Compostas, preconizado pelo professor Pedro Planas de Espanha. Este tipo de aparelho tem a vantagem de ser um aparelho confortável, não causar dor e permitir uma boa higiene. Tem a desvantagem de depender da colaboração do paciente. Serão apresentadas fotografias extra‐orais e intra‐orais e a análise cefalométrica antes e após o tratamento, bem como as fotografias do aparelho utilizado.
Discussão e conclusões: Diversos autores mostraram que os fatores biomecânicos podiam modular o crescimento mandibular no sentido de estimulá‐lo ou inibi‐lo. Sendo a cartilagem condilar de origem secundária, forças mecânicas são capazes de estimular e inibir a osteogênese, provocando mudanças na função mandibular que resulta numa resposta adaptativa. Os estudos de Stöckli e Willert (1971), McNamara e Carlson (1979), McNamara, Woodside, Metaxas e Alatuna (1987), Rabie et al. (2001), Rabie e Hagg (2003), Rabie, Wong e Tsai(2003) comprovam essa adaptação. Também estudos histológicos identificam crescimento cartilaginoso, seguido de deposição óssea. No caso clínico apresentado podemos verificar clínica e cefalométricamente uma mudança na postura e posição da mandibula, que melhora a relação musculo‐esquelética, o perfil, e a função do paciente. Os aparelhos ortopédicos funcionais auxiliam na correção de anomalias ortopédicas e funcionais, através da mudança de postura terapêutica mandibular, estímulam o crescimento e desenvolvimento, interceptam a má‐oclusão num estado precoce, conduzindo o sistema estomamatognático a um equilíbrio funcional e prevenindo futuras disfunções temporo‐mandibular.