Objetivos: Individualizar e caracterizar o líquen plano eritematoso/erosivo/ulcerativo da gengiva, através de 63 casos com esta variante, dentro do grupo de 178 doentes com LPO, identificados num estudo de prevalência numa clínica dentária em Portugal, comparando os dados com a bibliografia.
Materiais e métodos: Estudo retrospetivo, observacional, transversal e comparativo por avaliação de 11.300 fichas‐clínicas, do período 2005‐2015, onde foram identificados 178 doentes com LPO, com envolvimento da gengiva em 67 casos. Efetuou‐se a análise estatística descritiva e inferencial (teste do qui‐quadrado, nível de significância de 5%).
Resultados: O LPO no nosso estudo correspondeu a 1,6% da população geral do consultório (11.300 doentes), com 75% pertencendo ao género feminino (n=133), 25% ao género masculino (n=45) e idades compreendidas entre 18‐92 anos (com uma média de 57,8 anos). O LPO envolvendo a gengiva afetou 67 doentes (38% da população com LPO), sendo 84% mulheres e 16% homens, com idades entre 21‐83 anos (média de 58,9 anos). A forma eritematosa/erosiva/ulcerativa («gengivite descamativa» [GD]) foi diagnosticada em 63 destes doentes (35,4% da população de LPO). A GD, em 41,3% dos casos, afetou ambos os maxilares e foi bilateral em cerca de 75%. O LPO eritematoso/erosivo/ulcerativo da gengiva coexistiu com outras localizações intraorais de LPO em 87,3% (55 casos), nas formas reticular (n=33), em placa (n=22) e erosivas/ulcerativas (n=38). Estes resultados, que pensamos corresponder aos primeiros dados referentes à população portuguesa com esta patologia, serão ainda discutidos face à bibliografia internacional.
Conclusões: O LPO afeta entre 1‐3% da população ocidental e maioritariamente mulheres (no nosso estudo, 1,6 e 85% respetivamente). Cerca de 35% dos nossos doentes com esta patologia apresentam formas eritematosas/erosivas/ulcerativas das gengivas (com uma proporção mulher‐homem de 3:1). O diagnóstico diferencial com situações da área da periodontologia (gengivite por placa bacteriana/periodontite) é indispensável, visto que o LPO, quando necessário, é sempre tratado com imunossupressores, ao contrário das situações referidas anteriormente. Adicionalmente, na nossa população, 12,7% das GD não apresentam LPO em nenhuma outra localização, dificultando muito o diagnóstico diferencial e podendo provocar uma incorreta abordagem terapêutica nestes doentes. Se considerarmos o eventual e discutível caráter de lesão potencialmente maligna do LPO, um correto diagnóstico torna‐se ainda mais fundamental.