Introdução: A prevalência de dentes supranumerários na dentição decídua é de cerca de 0,2‐1,9%, sendo o sexo masculino afetado cerca de 2 vezes mais que o feminino. A fusão dentária é uma anomalia de forma rara que envolve frequentemente dentes supranumerários, resultando num difícil diagnóstico diferencial com a geminação dentária. As complicações decorrentes da existência de dentes supranumerários estão habitualmente relacionadas com alterações no padrão normal de erupção dentária, aglomeração de dentes, reabsorção de dentes adjacentes, formação de quistos dentígeros, ossificação do espaço pericoronal, reabsorção coronária e problemas estéticos.
Descrição do caso clínico: Criança do sexo masculino, de raça caucasiana, com 7 anos de idade, surgiu na consulta de odontopediatria acompanhada pelos pais, cuja preocupação se centrava nas cáries existentes nos incisivos superiores. Ao exame clínico, verificou‐se a presença de 2 incisivos laterais supranumerários decíduos. Os dentes 51 e o dente supranumerário contíguo apresentavam lesões de cárie extensas e no dente 62 observou‐se uma fratura coronária. Após realização de uma radiografia panorâmica e radiografias periapicais, detetou‐se uma fusão entre o dente supranumerário e o dente 51, observando‐se ainda 2 incisivos laterais supranumerários permanentes. Foi realizada uma tomografia axial computadorizada de forma a aferir a posição dos dentes supranumerários permanentes e para programar a melhor abordagem cirúrgica. A cirurgia foi realizada em consultório sob sedação profunda, administrada e monitorizada por uma equipa médica de anestesiologia. Os 4 supranumerários foram extraídos, juntamente com os dentes 51, 61 e 62. O paciente tem sido controlado periodicamente para avaliar a erupção espontânea dos dentes 12, 11, 21 e 22.
Discussão e conclusões: O diagnóstico precoce de dentes supranumerários é muito importante para prevenir complicações e estabelecer a melhor altura para a intervenção. A remoção cirúrgica de supranumerários inclusos na região anterior da maxila é recomendada durante a dentição mista, para que a força eruptiva dos incisivos permanentes permita a sua erupção espontânea na cavidade oral. O controlo clínico e radiográfico é essencial para monitorizar a evolução da erupção dentária. Quando os dentes não erupcionam naturalmente é recomendada a sua exposição cirúrgica e tração ortodôntica.