Objetivos: A síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS) é atualmente considerada um problema de saúde pública, encontrando‐se associada a complicações cardiovasculares e metabólicas. A implementação da terapia com os dispositivos médicos continuous positive airway pressure (CPAP) ou auto‐adjusting positive airway pressure (APAP) é reconhecida como a abordagem gold standard no tratamento da SAOS. Contudo, a informação disponível acerca do impacto da utilização destes dispositivos a nível da cavidade oral é escassa. Pretende‐se identificar e analisar as alterações orais a curto prazo em indivíduos com SAOS, submetidos a terapia com CPAP ou APAP.
Materiais e métodos: O estudo contou com a participação de 36 utentes, que frequentaram a Consulta do Sono no Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar de S. João, no Porto. Todos os participantes apresentavam SAOS diagnosticada e utilizavam CPAP/APAP há menos de 6 meses. O estudo incluiu o preenchimento de um questionário e a observação e registo das alterações orais detetadas em cada participante.
Resultados: O relato de alterações periodontais e de alterações associadas a bruxismo, antes do início da terapia com CPAP/APAP, foi repetidamente detetado. As queixas mais frequentes após o início do tratamento com CPAP/APAP foram: sensação de boca seca, mau sabor e hipersensibilidade dentária. Verificou‐se uma correlação estatisticamente significativa entre a média de horas de utilização de CPAP/APAP por noite, com a presença de sintomas associados a xerostomia (p=0,002).
Conclusões: Com este estudo concluiu‐se que indivíduos com SAOS que são submetidos a terapia com CPAP/APAP podem manifestar alterações orais ou sofrer exacerbação de sintomas pré‐existentes. Portanto, é fundamental que estes indivíduos recebam acompanhamento por parte de um médico dentista e que reforcem os cuidados de higiene oral, evitando o aparecimento de novas complicações orais, e controlando a progressão de alterações orais pré‐existentes.