Introdução: A decisão de extrair dentes permanentes para resolver problemas de falta de espaço das arcadas dentárias é um desafio para o ortodontista. Por vezes, não é claro se o plano de tratamento deverá evitar extrações dentárias ou se deverá incluir extração de pré‐molares, sendo que alguns pacientes não são candidatos ideais para nenhuma das 2 opções. Nestes casos, a extração de um incisivo mandibular pode ser uma abordagem terapêutica a considerar.
Descrição do caso clínico: Paciente do sexo feminino, 37 anos, cujas principais queixas são a estética e dificuldades de higienização na região do dente 42. No exame objetivo extraoral registou‐se uma face biprotrusa, perfil ligeiramente convexo e incompetência labial. No exame intraoral observou‐se apinhamento dentário ântero‐inferior e incisivos superiores de forma triangular. A análise de modelos revelou uma discrepância dentomaxilar inferior assinalável e uma discrepância dentodentária de Bolton com excesso mandibular inferior. Foi proposto à paciente um tratamento com 4 extrações dos primeiros pré‐molares, mas esta referiu preferir uma alternativa mais conservadora. Foi‐lhe então proposto extrair um incisivo inferior. Realizou‐se o tratamento ortodôntico com aparatologia fixa multi‐brackets, prescrição Roth slot 0,18 e procedeu‐se à exodontia do dente 42. O tratamento ortodôntico terminou após se obter classe I molar e canina e um perfil facial harmonioso.
Discussão: Esta opção terapêutica é mais indicada em pacientes com dentição permanente, discrepância dentodentária com excesso mandibular não inferior a 4mm, apinhamento ântero‐inferior leve a moderado e má‐oclusão classe I ou classe IIIborderline. Nesta paciente, o apinhamento ântero‐inferior e a discrepância de Bolton com excesso mandibular inferior foram indicações para o tratamento com extração de um incisivo inferior. Adicionalmente, a forma triangular dos incisivos superiores conduziria à formação de triângulos negros após o alinhamento dentário, pelo que seria sempre necessário efetuar desgastes interproximais. Estes desgastes permitiram uma diminuição do overjet.
Conclusões: A extração de um incisivo mandibular é uma opção terapêutica válida e a considerar, desde que o paciente apresente as características dentárias, esqueléticas e faciais apropriadas. É ainda importante adequar as diversas modalidades de tratamento às expectativas do paciente que, neste caso, pretendeu uma abordagem mais conservadora à extração dos 4 pré‐molares.